Muitos são os motivos que nos levam a entrar em redes sociais, e entre tantos, a vaidade tem seu lugar de destaque, parecendo funcionar feito fermento, catalisando seus efeitos e resultados.
Se não tivéssemos vaidade, o que seria dos filtros e ajustes tecnológicos nas fotos? Tem gente que faz tanto ajuste que é humanamente impossível reconhecer o amigo ou conhecido. Fazemos parte das redes sociais, quase sempre por puro prazer, ainda que para alguns seja uma tortura, e quem disse que não há prazer na dor?
Por vezes ficamos distante delas, outras vezes entramos para registro e ficamos lá em silêncio, observando o filme que passa na nossa timeline, afinal o silêncio, nem sempre é consentimento, pode ser apenas proteção de tanto ruído.
Do outro lado nosso silêncio aborrece alguns, com o argumento que em silêncio não interagimos, o que para tantos não faz sentido, pois se não postamos nada que faça ruído porque estamos ali então? O que acaba virando uma ditadura comportamental de muitos perfis.
Estimular o ruído de forma incessante, nessa sociedade que parece ter pavor do silêncio, tem virado regra, pois pra esses o barulho é um estímulo.
Como disse o pesquisador Breton “O silêncio é uma forma de resistência. Somos um espírito que habita um corpo e não o contrário. E só com silêncio acessamos essa fonte espiritual que está em nós. O ruído da pós-verdade não nos deixa sair do fluxo incessante de estímulos, e cada vez nos atolamos mais.”
Em meio a celulares viciantes, que são lidos na rua, nas praças, nas filas, e acredite em carros em movimento por motoristas irresponsáveis, virou vício, estar de olho na tela, não importando a inconveniência do lugar e do horário.
Em meio a uma sociedade de fluxo informacional intenso e desmedido, reside na velocidade das redes sociais, dos aplicativos, parte da nossa inquietude, onde quem não curte, não responde ou não interage parece ser indiferente.
Criamos assim o conceito da indiferença digital, onde o tempo de resposta mudou para uma conveniência de aflitos, onde tudo nos deixa inquietos, uma inquietude prejudicial a saúde e as relações humanas.
Quem já não escutou um parente reclamar que não curtimos suas publicações? Como se a simples curtida fosse efemeramente um sinal de afeto ou concordância?
Logo, dentro desse padrão estético relacional, acabamos por compartilhar o que não lemos e assim aceitamos a sedução do conteúdo e da imagem como verdade, pois ela nos conforta no momento de angústia, nos iludindo com o que eu chamo de curtidas protocolares, o que antigamente poderia ser resumido na frase: “rir pra não perder o amigo”.
E pra ter mais curtidas, não nos faltam recursos ofertados pelos aplicativos, na ditadura da aceitação digital, como o propósito de consumir e ser consumido, na frugalidade de likes conseguidas com fotos manipuladas por novos softwares e filtros em que diminuímos as bochechas do rosto, damos uma “emagrecidinha” na barriga ou iluminamos o rosto com um blush mágico, fazem-nos acreditar naquela persona digital que criamos. E logo estamos presos nas bolhas da pós-verdade, dando início a um ciclo vicioso
A tecnologia parece ter criado um fosso entre os que a dominam a mídia social com todos os seus recursos e os que não dominam (os novos excluídos), nessa nova ditadura das redes. E assim majoritariamente buscam ser jovens, alegres, sociáveis. É óbvio que isso é histórico e também inerente ao ser humano. Não faltam casos do Rei Sol a Cleópatra que banhava-se em leite para manter a pele jovem, leite que escravos tinham que trazer para seu deleite ou Maria Antonieta, no século XV na França, que não economizava em festas que duravam dias, enquanto os franceses morriam de pestes e fome.
O que as redes sociais fizeram foi aumentar a escalada da vaidade e os recursos disponíveis e assim ganharam voz para falar com todos, os conectados que o algoritmo deixar. Tudo virou vitrine, de bom ou de mal gosto, na sociedade que funda seu pacto através de uma Constituição que defende em seus Princípios Fundamentais já no Art. 1° a Dignidade Humana, e que por sinal, “por onde ela anda depois de tantos filtros e truques? ‘, na certa enredada em nossa vaidade, onde muitas vezes parecemos um avatar de nós mesmos.