John Urry (1946-2016) foi um sociólogo britânico, professor da Lancaster University. Ele é conhecido por seu trabalho nos campos da sociologia do turismo e da mobilidade.
Ele escreveu livros sobre muitos outros aspectos da sociedade moderna, incluindo a transição do 'capitalismo organizado', a sociologia da natureza e o ambientalismo e a teoria social em geral.
Urry é membro da Royal Society of Arts, acadêmico fundador da UK Academy of Learned Societies for the Social Sciences e professor visitante nos departamentos de geografia de Bristol e Roskilde.
Nascido em Londres e educado na Haberdashers' Aske's Boys School, Urry obteve seus primeiros diplomas no Christ's College, em Cambridge, em 1967, um "double first" B.A. e M.A. em Economia, antes de obter seu Ph.D. em Sociologia pela mesma instituição em 1972. Ingressou no departamento de Sociologia da Lancaster University como professor em 1970, tornando-se chefe de departamento em 1983 e professor em 1985. Seus interesses de pesquisa originais estavam na sociologia do poder e da revolução e isso resultou na publicação de "Grupos de referência e a teoria da revolução" (1973) e "Poder na Grã-Bretanha" (1973).
Os primeiros trabalhos em Lancaster foram na área da teoria social e da filosofia das ciências sociais. Isso resultou na "Teoria Social como Ciência", escrita em conjunto (1975, 1982), que estabeleceu as principais características da filosofia realista da ciência. O confronto crítico com várias tradições marxistas, do estruturalismo althusseriano, da teoria do Estado alemã e do neogramsciano, resultou em "A Anatomia das Sociedades Capitalistas" (1981).
Em Sociology Beyond Societies: Mobilities for the Twenty-First Century Urry busca examinar as dinâmicas de mobilidade e as consequências dessas dinâmicas na contemporaneidade. Propõe uma "sociologia das mobilidades, questionando o conceito corrente de sociedade adotado no desenvolvimento do discurso sociológico, rompendo com o que chama de sociologia do social como sociedade ao ponto de questionar a existência da sociedade, se amparado na famosa frase de Margaret Tatcher Não existe sociedade. Com as mobilidades em questão o objeto histórico da sociologia se torna o ocidente, concentrado nas sociedades individuais e no generalismo de tais sociedades, com o desenvolvimento de redes e fluxos globais transformando as estruturas endógenas dessas sociedades. Desse modo Urry propõe uma nova agenda para a sociologia baseada em uma fase pós-social.
A previsão do autor é de que haveria, no futuro, a utilização do conceito de sociedade por parte de forças nacionais com fins em moderar, controlar e regular as redes e fluxos que cruzem suas fronteiras. Também aponta para a mudança do social como sociedade para o social como mobilidade.
A questão central na pesquisa de Urry parece perpassar pelas novas formas de se interpretar a sociologia considerando as mobilidades.
O que seria uma sociologia das mobilidades?
Como as mobilidades transformam a percepção do social tratado pela sociologia?
Quais as novas questões inerentes à interpretação de uma sociedade intimamente afetada e mesmo constituída pelo movimento?
O primeiro capítulo de Sociology Beyond Societies: Mobilities for the Twenty-First Century trata justamente do conceito das Societies. Urry apresenta a linha da sociedade como um conceito que nunca foi chave na sociologia, ao mesmo tempo em que argumenta que as sociedades são entidades poderosas e que a globalização (...) mina a própria base da sociologia como uma disciplina separada que perde seu conceito central de sociedade, então a sociologia sem nada para colocar em seu lugar deve murchar na videira..
O autor trata de conceituações específicas de sociedade segundo algumas perspectivas, como:
Teoria crítica - sociedade como formas de consciência alienada reproduzidas pelas instituições da sociedade de massa.
Etnometodologia - sociedade como a ordem frágil exibida pelos métodos do senso comum usados pelos membros no raciocínio prático.
Feminismo - sociedade como o sistema limitado de relações sociais dentro do qual os interesses dos homens dominam os das mulheres.
Interacionismo - sociedade como a ordem social precária negociada e renegociada entre os atores.
Marxismo - sociedade como a estrutura do relações entre a base econômica e as superestruturas políticas e ideológicas.
Teoria dos sistemas - sociedade como uma rede autopoiética de autorregulação e recursividade. As comunicações se distinguem organizacionalmente de seu ambiente.
Weberianismo - sociedade como as relações entre ordens sociais específicas e dos agrupamentos sociais desigualmente distribuídos presentes dentro de cada ordem.
Os estudos de John Urry nos fornecem uma tentativa interessante de combinar uma apreciação sociológica da teoria de sistemas complexos, como por exemplo as tratadas por Luhman e Cilliers com a teoria ator-rede. Nessa tradição de construtivismo radical autores como Latour argumentam que as redes de equipamentos tecnológicos, mapeamentos mentais e seres humanos integram elementos bastante heterogêneos. Essa integração dá novos significados aos elementos, e essa transformação de significado pode então ser considerada como uma tradução. Urry tratou de maneira importante em seus estudos sobre a mobilidade os conceitos redes, fluxos e scapes. Scapes pode ser considerado uma noção generalizada de paisagens. As redes podem ser estabilizadas em cenários específicos, mas os cenários podem ser desestabilizados e às vezes globalizados por fluxos.
Ao trata do (de pessoas, coisas, informações e ideias) Urry discorre sobre temas centrais para a vida das pessoas e para a maioria das organizações. Das guerras do petróleo às mensagens de texto em celulares; das expansões dos aeroportos ao declínio das atividades físicas; do tráfico de escravos ao terrorismo global; do aquecimento global ao teletrabalho, questões de mobilidade estão no centro das agendas acadêmicas e políticas ao redor do mundo. Esses tópicos são importantes elementos para se tratar de um 'novo paradigma das mobilidades' para as ciências sociais. Em sua obra, Urry descreve vários desses tópicos e, em seguida, analisa suas implicações para a desigualdade social, para as redes sociais, para a natureza dos lugares e para futuros alternativos de mobilidade.
Hipóteses do autor O fragmento da obra de Urry aqui tratado levanta como hipóteses principais:
Se as mobilidades na contemporaneidade têm afetado as sociedades, têm também, por consequência, transformado o objeto de estudo da sociologia. As mobilidades em grande escala envolvendo diversas tecnologias e objetos problematizam os poderes da sociedade.
O trabalho de John Urry alvo deste guia de leitura nos serve tanto para um questionamento sobre os conceitos das mais diversas correntes sobre sociedades, apresentando uma visão resumida perspectiva desses distintos pensamentos, como para que possamos compreender os efeitos cada vez mais notáveis dos fluxos migratórios de pessoas, de informações e tecnologias nos objetos dos estudos sociológicos.
Em tempos de movimento constante mesmo quando estamos fisicamente parados, as questões postas pelo autor relativas às mobilidades nos parecem de fato urgentes e importantes. A rede mundial de computadores, o teletrabalho, o Ensino a Distância e as viagens (físicas ou virtuais) cada vez mais curtas, ou as tecnologias, epidemias, ideias ou comunicações, cada vez mais globalmente interligadas não deixam dúvidas sobre a importância da questão central posta por Urry: haveríamos de nos debruçar sobre uma sociologia das mobilidades?
Referências Bibliográficas
LEYDESDORFF, L. May There Be A Socionomy Beyond Sociology? SCIPOLICY--The Journal of Science and Health Policy 2(1) . 2002. Disponível em <https://www.leydesdorff.net/socionomy/>. Acessado em Fev. de 2022.
URRY, John. Chapter I, Societies In: Sociology Beyond Societies: Mobilities for the Twenty-First Century. Front Cover, 1999.