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Os conflitos escolares, vertentes e contribuições analíticas: a tecnologia na formação é uma solução?

Agenda 30/03/2022 às 01:16

 INTRODUÇÃO

 

            O presente artigo tem como objetivo buscar definições aos aspectos de conflitos no âmbito escolar, nas quais chama atenção, violência, incivilidades e bullying. Com vistas a elucidar possíveis ambiguidades e, sobretudo, imprecisões conceituais, a fim de propor análise dessas mesmas categorias, ao mesmo tempo em que pretende proporcionar contribuições para se pensar a aplicabilidade ou a eficácia da mediação de conflitos escolares através do uso de tecnologias.

Neste trata-se sobre a tecnologia como aspecto necessário. A educação pública tem investido em políticas públicas educacionais para a melhoria da qualidade do ensino público, porém ainda não estão atendendo a amplitude das demandas existentes dentro das escolas. Por essas problemáticas e outros desafios no âmbito educacional surge à necessidade de compreender quais Políticas públicas educacionais estão voltadas na formação e os meios que estas facilitam para o combate aos aspectos de violência.

Pretende-se a partir da pesquisa, analisar a violência escolar e os conflitos escolares, a partir de fatores intra e extramuros, em contextos como a rede municipal e a rede privada de instituições de ensino. Fazendo um estudo longitudinal realizado em escolas da rede municipal, mediante observação de campo, notas de cunho etnográfico e aplicação de entrevistas semi-estruturadas com profissionais (diretoras, coordenadoras pedagógicas, professoras e profissionais de apoio) que atuam nas instituições e estudantes, analisando os comportamentos de jovens, matriculados instituições de ensino, na seleção de suas famílias de escolas da rede municipal e no sistema de matrículas por parte do próprio Poder Público.

Do levantamento de dados preliminares, constituídos por matérias jornalísticas e produções científicas (artigos e livros), passando pelo estudo de campo, até a análise dos dados coletados na própria pesquisa. Possibilitará a análise assim sobre a sociabilidade dos jovens matriculados nas escolas da rede municipal da cidade, tendências, entre os jovens, de segregarem outros jovens visto o processo cultural. Nesta perspectiva a realização desta pesquisa enquanto relevância pedagógica ganha força quanto às inquietações quando se diz respeito ao uso das tecnologias como recurso norteador e inovador no espaço escolar assim se fazem necessário indagar como as tecnologias são instrumento facilitado do processo, sendo usados com clareza. Sendo assim, existe a necessidade de averiguar como gestores, coordenadores e docentes empregam a tecnologias na construção de novas metodologias auxiliando e conscientizando da fundamental importância dos meios tecnológicos para o desenvolvimento social.

Os tipos de conflitos e violências ocorridas no interior das escolas, tendo em vista as colhidas de percepções que será feita vai contribuir para a formulação de uma política pública de mediação de conflitos em ambiente escolar, considerando os mais diversos fatores e a perspectiva de se desjudicializar questões da seara pedagógica, num cenário em que, atualmente, existem aproximadamente 81 milhões de processos judiciais no Brasil, mobilizando a atuação estatal desde a primeira instância (Juizados Especiais e Varas estaduais, federais e do trabalho) até a última (Superior Tribunal de Justiça, Tribunal Superior do Trabalho, Tribunal Superior Eleitoral e Superior Tribunal Militar).

Aqui está em jogo conhecer os tipos de conflitos e violências observados nas escolas, a utilização das tecnologias como meio de amenizar os conflitos, e em que medida seria possível à implementação de uma política pública que pudesse envolver tanto o poder público como instituições de mediação de conflitos. Entretanto, para que isso ocorra, é importante que se estabeleça as diferenciações possíveis entre conflitos, incivilidades, violência e bullying. Razão pela qual este trabalho se vale de um método de análise que, partindo de uma pesquisa qualitativa, exploratória e bibliográfica, privilegia um estudo teórico sobre tais categorias à luz do aporte teórico.

O objeto de trabalho consiste em definir as categorias de violências no âmbito escolar, e a utilização de tecnologias e qual influência esta possui nesse aspecto. Após, numa segunda parte, procura-se compreender em que medida a mediação de conflitos pode ou não ser aplicada no âmbito escolar, em cada caso específico.

O presente artigo tem como objetivo buscar definições aos aspectos de violência no âmbito escolar, nas quais chama atenção conflitos, incivilidades e bullying. Com vistas a elucidar possíveis ambiguidades e, sobretudo, imprecisões conceituais, a fim de propor análise dessas mesmas categorias, ao mesmo tempo em que pretende proporcionar contribuições para se pensar a aplicabilidade ou a eficácia da mediação de conflitos escolares através do uso de tecnologias.

A presente pesquisa se vale de um método de análise que, partindo de uma pesquisa qualitativa, exploratória e bibliográfica, privilegia um estudo teórico sobre tais categorias à luz do aporte teórico. Constituindo-se de um procedimento sistemático para a edificação do conhecimento e geração de novas informações, podendo também desenvolver alguma informação através de dados já existentes, servindo essencialmente tanto para o sujeito e o grupo de indivíduos que a realiza, quanto para a coletividade na qual esta se amplia.

É usada para estabelecer ou confirmar fatos, reafirmar os resultados de trabalhos anteriores, resolver problemas novos ou já existentes, apoiar teoremas e desenvolvimento de novas teorias. Um projeto de pesquisa também pode ser uma expansão do trabalho passado no campo. Para testar a validade de instrumentos, procedimentos ou experiências, a pesquisa pode replicar elementos de projetos anteriores, ou o projeto como um todo. Os principais objetivos da pesquisa básica (em oposição à pesquisa aplicada) são documentação, descoberta, interpretação, ou a pesquisa e desenvolvimento de métodos e sistemas para o avanço do conhecimento do ser humano. (FORTE, 2006, p. 36)

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Para o desenvolvimento da pesquisa se utilizará o método dedutivo, que se constitui na modalidade de raciocínio lógico que faz uso da dedução para obter uma conclusão a respeito de determinadas premissas. No raciocínio dedutivo se caracteriza por apresentar conclusão que deve ser verdadeiras caso todas as premissas sejam verdadeiras e se o raciocínio respeitar uma forma lógica válida. Partindo de princípios reconhecidos como verdadeiro, a pesquisa estabelece relações com uma segunda proposição para, a partir de raciocínio lógico, chegar à verdade daquilo que propõe.

Composto também pelo método tipológico, que apresenta certas semelhanças com o método comparativo e compara fenômenos sociais complexos, a pesquisa tende a cria tipos ou modelos ideais construídos a partir da análise de aspectos essenciais do fenômeno.

O DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE E SUAS ESPECIFICIDADES - IMPACTOS PARA A SOCIEDADE

         O ser humano, ao longo do seu desenvolvimento, produz conhecimentos e o sistematiza, modificando e alterando aquilo que é necessário à sua sobrevivência. Suas ações não são somente biologicamente determinadas dão-se também pela apropriação das experiências e dos conhecimentos produzidos e transmitidos de geração a geração. O conhecimento humano nas suas diferentes formas senso comum, científico, filosófico, estético etc. está entrelaçado numa rede de concepções de mundo e de vida Brito e Purificação (2011, p.36).

         O desenvolvimento da ciência se associou ao desenvolvimento tecnológico, isto é, a tecnologia é a aplicação do conhecimento científico para se obter um resultado prático. Em seu processo de produzir ciência, o homem a organizou em áreas que podem ser classificadas em duas grandes dimensões: pura versus aplicada (que trata do desenvolvimento de teorias e da aplicação de teorias às necessidades humanas) e natural versus social (que é o estudo do mundo natural, do comportamento humano e da sociedade).

         O avanço tecnológico nas últimas décadas garantiu novas formas de uso das TICs para a produção e propagação de informações, a interação e comunicação em tempo real, ou seja, no momento em que o fato acontece. Surgiram, então, as novas tecnologias de informação e comunicação, as NTICs. Nessa categoria é possível ainda considerar a televisão e, mais recentemente, as redes digitais, a internet. Com a banalização do uso dessas tecnologias, o adjetivo novas vai sendo esquecido e todas são chamadas de TICs, independentemente de suas características.

         Cada uma, no entanto, tem suas especificidades Kenski(2015, p.124). Segundo Brito e Purificação (2011) o uso das tecnologias educacionais foi caracterizado com base em dois pontos de vista: o primeiro vinculado à utilização dos meios pelos meios, e o segundo como uma fórmula para atender aos problemas educacionais. O segundo ponto de vista foi amplamente difundido no Brasil até meados dos anos 1980, quando a tecnologia educacional era entendida fundamentalmente como a relação entre a tecnologia e a educação, que se concretizava em um conjunto dinâmico e aberto de princípios e processos de ação educativa, resultantes da aplicação do conhecimento científico e organizados para a solução ou encaminhamento de soluções para problemas educacionais.

         Ainda na década de 1980, sob a denominação de novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC), as tecnologias educacionais foram utilizadas como instrumentos de apoio e interatividade com outros meios. No que diz respeito à inclusão digital vale ressaltar que atualmente a tecnologia de informação e comunicação tem expandido na sociedade e tem têm chegado às salas de aula, portanto tornar o cidadão incluído no mundo digital, dando a ele direito de acesso a informação. Para melhor enfatizar o conceito de inclusão, Teixeira define:

 [...] Assim, propõe-se o alargamento do conceito de inclusão digital para uma dimensão reticular, caracterizando-o como um processo horizontal que deve acontecer a partir do interior dos grupos com vista ao desenvolvimento de cultura de rede, numa perspectiva que considere processos de interação, de construção de identidade, de ampliação da cultura e de valorização da diversidade, para a partir de uma postura de criação de conteúdos próprios e de exercício da cidadania, possibilitar a quebra do ciclo de produção, consumo e dependência tecnocultural. (TEIXEIRA, 2010, p. 39).

         A escola e principalmente a sala de aula é o lugar fundamental para os educandos ampliarem seu universo no processo ensino aprendizagem, pois é o espaço propicio para que a aprendizagem aconteça. Em seu estudo sobre a mediação de conflito escolar, Chrispino e Chrispino (2011) abordam como a massificação da educação contribuiu para o crescimento de conflitos na escola, apresentando um quadro comparativo entre as escolas americanas, na década de 1940 e na década de 1990.

         No tocante às escolas norte-americanas na década de 1940, os autores citam como problemas criados pelos alunos: falar em ocasiões inapropriadas, mascar chicletes, fazer barulhos, correr nos corredores, furar filas, desrespeitar as normas sobre o modo de se vestir e causar desordem Chrispino; Chrispino (2011, p.106).  Após, em relação à década de 1990, os mesmos autores fazem menção aos seguintes problemas: abuso de drogas, abuso de álcool, gravidez, suicídio, estupro, roubo e assalto.

         Entre os tipos de problemas escolares levantados por Chrispino e Chrispino (2011), cuja responsabilidade é atribuída aos alunos, interessa considerar os problemas do primeiro tipo (aqueles da década de 1940), nas escolas norte-americanas, como aquilo que Charlot (2002) define como incivilidades, tendo como fundamento a percepção de que se tratam de condutas que violam as normas de boa convivência. Percebe-se que as condutas elencadas no estudo de Chrispino e Chrispino (2011), concernentes à escola norte-americana na década de 1940, estão dentro do espectro daquilo que a escola sociológica francesa classifica como incivilidades.

Por incivilidade se entenderá uma grande gama de fatos indo da indelicadeza, má criação das crianças ao vandalismo. As incivilidades mais inofensivas parecem ameaças contra a ordem estabelecida, transgredindo os códigos elementares da vida em sociedade, o código de boas maneiras. Elas podem ser da ordem do barulho, sujeira, impolidez, tudo que causa desordem. Não são necessariamente comportamentos ilegais em seu sentido jurídico, mas infrações à ordem estabelecida, encontradas na vida cotidiana (DEBARBIEUX, 2001, p. 163).

         Enquanto isso, as outras condutas estupro, roubo e assalto são tipificadas como violência, não somente pela a escola francesa de sociologia, com contribuições no campo da educação Charlot (2002, p.83), mas também em outras perspectivas teóricas, tais como das culturas norte-americana Mayer; Jimerson (2019) Olweus (1993), europeia, para além da francesa Debarbieux; Blaya (2002), e brasileira Abramovay (2002). De uma maneira geral, mesmo não sendo uma questão nova, a violência na escola tem assumido novas formas.

         No entanto, mesmo diante da dificuldade em se definir a violência em ambiente escolar, sua necessidade decorre dos próprios tipos vivenciados no cotidiano, cujas causas e implicações podem ser distintas, inclusive no que pertence à mediação de conflitos escolares. Desse modo, seguindo a tipologia escolhida por Charlot (2002), e considerada por mim, em outro trabalho Segal (2014), a violência escolar pode ser classificada em: violência da escola, violência à escola e violência na escola.

         Com relação à violência da escola, trata-se de uma violência institucional, simbólica, à medida que os jovens, das mais diversas culturas, identidades e origens socioeconômicas, são submetidos à exposição pública do erro Luckesi (1999), às normas padronizadoras e à inculcação de valores e conteúdos definidos pela cultura da classe dominante, mesmo sem considerar a distância entre a cultura da escola e a cultura social dos alunos Bourdieu; Passeron (2012). Se por um lado, a educação consiste em meio de desenvolvimento de valores e culturais das gerações mais jovens pelas mais velhas Durkheim (2014) com vistas inclusive às capacidades sociais e intelectuais Dadoun (1998) em pese as criticas cabíveis pela dominação hierárquica e a mera especialização para o trabalho Morin ( 2008) , por outro, a escola se torna local da violência simbólica quando aplica medidas disciplinares de forma arbitrária por parte de seus gestores Abramovay; Rua ( 2002).

         Mas, se a escola pode ser tornar local de violência, isso também implica na compreensão de movimentos de resistência, mesmo inconscientes, por parte dos seus alunos, razão pela qual a violência à escola, a qual deve ser analisada junto com a violência da escola Charlot (2002), podendo assumir as formas de violência anômica por ocasião de vandalismos e até agressão aos educadores ou de violência banal mediante recusas silenciosas a demandas específicas, ironias etc, Maffesoli (1987, 2001).

         Como terceira categoria analítica de violência escolar, tem-se a violência na escola, motivada por relações de poder envolvendo jovens, inclusive no interior das instituições educacionais. Podem referir-se a tensões entre jovens moradores de territórios controlados por grupos rivais de narcotraficantes que, tomados por um ethos guerreiro(ELIAS,1996, p.33), levam tal animosidade para espaços intramuros escolares Abramovay; Rua (2002) ou mesmo a conflitos exacerbados entre jovens, pelas mais diversas causas: mal-entendidos, ciúme, dívidas monetárias, danos a materiais, ofensa verbais etc. Quanto a este tipo de violência, aliás, cabe analisá-la sob três aspectos: casos isolados de violência, casos reiterados de violência e casos de violência tidos como brincadeira entre escolares.

 CONCLUSÃO

A educação pública brasileira vem enfrentando grandes desafios políticos, sociais econômicos e familiares. E com os avanços tecnológicos consideráveis, cresce cada vez mais a necessidade de investimento educacional. Em suma, recomendam-se novas abordagens acerca do assunto de modo a ampliar a discussão, fomentando assim políticas públicas mais efetivas.

Originário de estudos científicos sobre violência escolar e mediação de conflitos, bem como a partir de algumas pesquisas de campo, o presente trabalho em seu foco nas definições de conflitos, com o intuito inicial de elucidar possíveis imprecisões conceituais que pudessem afetar tanto reflexões teóricas como a realização de ações no campo da mediação de conflitos. A escola, naquilo que lhe cabe, é necessária participar de um projeto coletivo de transformação social, ao lado de tantas outras instituições, e a presente pesquisa ao final representará a reflexão acerca de conflitos, o uso da tecnologia e eventuais políticas públicas que podem ajudar a combater este atual e ao mesmo tempo antigo problema no âmbito escolar.

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Sobre o autor
Igor Labre de Oliveira Barros

Foi Assessor Jurídico - NACOM - PRESIDÊNCIA/CORREGEDORIA do Tribunal de Justiça do Tocantins. Foi colaborador na Comissão Constituição e Justiça CCJ AL/TO. Foi colaborador da 1° Turma Recursal TJTO 3° Gabinete. Escritor. Mestrando em Agroenergia Digital 4.0. Foi Aluno Especial do Mestrado em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos; Disc. Políticas Públicas Ambientais e Sustentabilidade ESMAT/TJTO. Bacharel em Direito CEULP\ULBRA Palmas.Foi Estagiário credenciado pela OAB/TO. Técnico Federal em Agroindústria IFTO. Foi Diretor de Novas Gerações - Rotary. Foi Pesquisador do PROICT. Foi Monitor de Direito Constitucional e Direito Administrativo no Curso de Direito CEULP\ULBRA. Foi Membro do GEDA Grupo de Estudos de Direito Administrativo. Foi Membro LADIFA Liga de Direito de Família. Palmas TO, e-mail: igor.labre@hotmail.com

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