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Doutor peludo e médica “tuiteira”: Precisamos falar sobre eles.

Agenda 15/06/2022 às 11:06

Condutas como estas são uma ofensa à honra de todos os médicos, e precisam ser combatidas com rigor. Pela própria classe, e pela sociedade.

          Nos últimos dias, dois casos absurdos chamaram a atenção na mídia, por terem médicos como protagonistas.  O primeiro foi o da médica tuiteira, que no último domingo utilizou as redes sociais para ofender um paciente que procurou a emergência com uma infecção urinária, em seu plantão noturno. Esta não foi a primeira vez que a jovem utilizou as redes sociais para e ofender pacientes, sendo algo bastante comum. O caso está sendo investigado pelo CRM-PR, onde a médica é inscrita há menos de 1 ano. A jovem foi afastada pela prefeitura na última segunda.

         O segundo caso é ainda mais absurdo: O doutor peludo, médico infectologista que atende em consultórios particulares na região nobre de Brasília/DF, compartilhava em suas redes sociais fotos e vídeos pornográficos supostamente gravados durante seus plantões, com colegas de trabalho e pacientes. Nas imagens, o médico aparecia sempre de jaleco e estetoscópio. Na última terça, o administrador da principal clínica informou o desligamento do médico, e o CRM-DF investiga o caso.

        Confesso que hesitei por um momento antes de escrever sobre estes casos. Pois senti vergonha. Imaginei este nobre espaço sendo diminuído, de conteúdos técnicos e construtivos, a um mero portal de fofocas e banalidades. Mas após refletir aceitei o tema, pois me senti na obrigação de escrever sobre ele.

        Casos como estes ganham um grande alcance justamente por terem médicos como atores. E este foi o motivo de minha hesitação. Por que dar ainda mais holofotes a casos tão absurdos, que degradam a imagem da mais nobre das profissões? Ora, justamente para desconstruir a absurda lógica desta última frase.

        Temos mais de 500 mil médicos no Brasil. E a (péssima) conduta de dois infelizes, não macula o trabalho de tantos outros que praticam o melhor da medicina, todos os dias. Criticar com firmeza casos como estes é agir em defesa da medicina, e de toda a classe médica. Ignorar e normalizar estes absurdos sim, pode acabar manchando a todos.

        O último post da médica tuiteira teve mais de 200 mil curtidas, e 20 mil comentários. Não foi o primeiro, e todos as anteriores tiveram um enorme alcance. A conduta do doutor peludo já vinha sendo divulgada nas redes sociais há meses, com milhares de visualizações e curtidas. É algo a ser estudado pela ciência, pessoas que colocam a busca incessante de likes em primeiro lugar, antes mesmo da própria dignidade.

        Mas cabe uma reflexão: Por que estas condutas não foram denunciadas antes aos conselhos regionais, por qualquer médico que as visualizou? Pois esperar a mídia o fazer, gera exatamente este tipo de convulsão acerca de toda a classe profissional.

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        Casos absurdos envolvendo médicos, sempre terão um grande alcance. E isto ocorre justamente por conta da visão de nobreza, empatia e altruísmo que a sociedade possui acerca dos médicos. Não se trata de uma profissão comum, e para exercê-la, são necessárias mais soft skills do que em qualquer outro ofício.

        É exatamente este status social que atrai tantos despreparados à medicina (aliado ao bom retorno financeiro). E estes fatores, somados à proliferação das faculdades de medicina, a baixa qualidade de ensino e uma enormidade de outros fenômenos, como o das redes sociais (e todos os impactos que elas trazem à sociedade), faz com que tenhamos em meio aos mais de 500 mil médicos no brasil, uma crescente legião de pessoas medíocres, sem a mínima vocação para exercer a medicina.

        Pois antes de ser médico, é preciso ser humano, mostrando um mínimo de respeito e empatia diante do sofrimento alheio. Esta é a essência da medicina, conforme suas origens no juramento de Hipócrates. Condutas como estas, divulgadas de forma massiva nos últimos dias, são uma ofensa à honra de todos os médicos do Brasil e do mundo, e precisam ser combatidas com rigor pela própria classe.

       Uma simples infecção urinária (ou cistite) não tratada pode evoluir para o trato urinário superior, levando a um quadro de sepse (infecção generalizada) e óbito. Por isso, o tratamento deve ocorrer o mais cedo possível. Algo que qualquer médico iniciante deveria saber.

       Praticar sexo grupal e desprotegido em um consultório, pode causar a infecção de diversos outros profissionais e pacientes que por lá passam, causando a proliferação de doenças graves. E a divulgação destes atos, sobretudo por um médico, estimula a mesma prática na sociedade. Algo que qualquer infectologista deveria saber.

       Estamos mesmo falando de médicos?

 

       Renato Assis é advogado, especialista em Direito Médico e Odontológico há 15 anos, e conselheiro jurídico e científico da ANADEM. É fundador e CEO do escritório que leva seu nome, sediado em Belo Horizonte/MG e atuante em todo o país. renato@renatoassis.com.br

Sobre o autor
Renato Assis

Advogado inscrito na OAB dos estados de BA, ES, MG, PR, SP e RJ; Professor de Direito e empresário; Graduado em Direito pela Universidade FUMEC-MG; Especialista em Direito Processual pela PUC-MG; Especialista em Direito Médico pela Universidade de Araraquara/SP; MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas/RJ; Especialista em Direito Ambiental e Minerário pela PUC/MG; Professor do curso de Direito Médico e Odontológico da UCA (Universidade Corporativa da ANADEM); Autor do livro “Direito Processual e o Constitucionalismo Democrático Brasileiro” – 2009; Autor do livro “Socorro Mútuo: Como a Proteção Veicular revolucionou o mercado de Proteção Patrimonial e de Seguros do Brasil” – 2019; Conselheiro Jurídico e Científico da ANADEM – Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética; Acadêmico Efetivo e Vitalício na área de Ciências Jurídicas da ALACH – Academia Latino-Americana de Ciências Humanas; Membro da AIDA – Associação Internacional de Direito do Seguro; Membro da WAML – World Association for Medical Law; Presidente da Unidade Brasil da ASOLADEME – Associación Latinoamericana de Derecho Médico.

Informações sobre o texto

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