O maior problema do mundo é que, quem pode pensar, ou sabe pensar, ou, ainda, não se recusa a pensar, queda-se no comodismo na inércia intelectual e se mantém silente diante das maiores atrocidades e dos mais pérfidos atos de desrespeito aos direitos fundamentais.
Dizia o grande Ruy Barbosa: "Qual é, dos trabalhos, o mais árduo, o mais severo, o mais consuntivo, o que às energias fisiológicas nada acrescenta, em troco do que lhes subtrai? O trabalho cerebral".
Eis uma realidade dita por Ruy Barbosa e que nos remete à outra: onde estão os nossos intelectuais? Deveras, o esforço cerebral, a arte de pensar, subtrai da alma energias incalculáveis. Quantos tormentos rondam a alma de quem pensa. Sim, isso mesmo. Porque pensar não é apenas e simplesmente jogar um monte de ideias no papel ou ao vento. Não.
Necessário é analisar estas ideias, achar sua coesão e coerência. Os filósofos têm dito que o esforço do pensamento é como o esforço do parto. Para parir uma ideia o cérebro tem que estar grávido. Fecundo de ideias e pensamentos. Mas, para que haja esta fecundidade, o pensador deve se abeberar nos fatos, absorvendo-os e observando-os ao longe sem julgamentos e/ou pressuposições. Em um mundo de tantas informações e Fake News não é fácil se deixar seduzir pelos encantos das ideias fáceis e rasas, totalmente destituídas de fundamento. Pergunte-se: quando foi a última vez em que preferiu ler um livro do que se fiar comodamente aos encantos das informações dúbias das redes sociais?
E, depois de absorvê-los, deve condensá-los, decantá-los, filtrá-los e transformá-los em um conjunto cognoscível, ou seja, num condensado possível de ser entendido, compreendido por todos quantos o lerem, o virem e o pensarem.
Ocorre que, vivemos num país que tem dispensado pouca atenção aos intelectuais que possui. Não há incentivo, não há preocupação, não há fomento às pesquisas. Não basta apenas a exibição de comerciais na televisão dizendo Eu sou brasileiro e não desisto nunca. Tal frase, em verdade, chega às raias das frases prontas, com o escopo de controlar a massa.
Sinceramente, penso que é preciso mais do que isso. O brasileiro realmente não desiste de lutar constantemente para sobreviver e para honrar o nome de seu país. Mas, será que o país vem honrando este esforço que todos os dias os brasileiros fazem? Eis a questão. Em épocas de períodos eleitorais é quando fica mais claro com o que, realmente, nossos políticos estão (pre)ocupados.
Não basta apenas o programa bolsa escola, pois é preciso que haja, verdadeiramente, escola de qualidade para todos. Não basta apenas o programa fome zero, mas é preciso, além disso, que se dê condições do povo trabalhar dignamente, com um salário igualmente digno, que lhe dê a satisfação do trabalho bem feito, valorizado, reconhecido. Não se nega que nossa população, extremamente pobre e espoliada, necessite de ajuda financeira por meio de programas sociais. O que seria desnecessário se não houve tantos desvios de verbas e corrupção, posto que, estes valores poderiam ser convertidos em inventivos aos empresários e empreendedores e, assim, haveria a possibilidade de pagamento de salários dignos aos trabalhadores.
Ademais, uma das reformas mais necessárias em nosso país, a tributária, por conveniência de uns, e comodismo de outros, nunca sai do papel. Simplesmente não há interesse em se votar a redução da carga tributária, que ainda beneficia inúmeros marajás em nosso país.
Um tapinha nas costas por parte dos patrões também não é suficiente, pois o verdadeiro reconhecimento vem do olho no olho, da gratidão sincera, que muitas vezes não pode ser externada por gestos, mas que pode ser sentida por aquele a quem se está agradecendo.
Estes pequenos gestos é que fazem a diferença. Em quantas oportunidades não foi lá fora que um patrício nosso obteve reconhecimento pelo trabalho que realizou, posto que, em seu país referido apoio restou ausente. Certamente em grande número de casos. Os intelectuais sempre são criticados em sua terra pátria. Principalmente quando se negam a servir os interesses de grupos minoritários, preocupados apenas consigo e seus correligionários. Algo triste e lamentável.
E nem poderia ser diferente, pois, o intelectual, pensa e, ao pensar, detecta os erros e enganos existentes, mostrando qual o caminho correto a ser percorrido, ou, pelo menos, o que também é tão ou mais importante, fomentando a discussão, o debate dialético, enfim, o fim da inércia intelectual.
E isso incomoda quem detém o poder. Aliás, sempre foi assim. É fato histórico que todo intelectual tende a incomodar. Foi assim, é assim e sempre será assim. Muitos foram mortos por falarem demais. E muitos ainda serão. Notadamente aqueles que se colocam contra os interesses partidários dos que estiverem no poder, sugando as veias financeiras do dinheiro público, e colocando o contribuinte no mais lamentável estado de anemia existencial.
A revisão deste texto, a terceira para se dizer a verdade, mostra-se, a nosso ver, de fundamental importância nestas eleições do ano de 2.022.
Discursos teratológicos, tautológicos, alarmistas, apocalípticos, de ódio, de mentiras, enfim, de grupos partidários acéfalos na aparência, mas que conhecem, em profundidade, a arte de persuadir e enganar. Apela-se para as emoções, o que, em nosso país, sempre deu muito certo, vez que nossa população pensa com a bílis e não com o cérebro. Explora-se, ao máximo, o desespero pós-pandêmico. E as pessoas caem candidamente. O que nos leva a conclusão de que, de fato, o povo tem o governante que merece. Espero que isso mude.
Hoje, antes do segundo turno das eleições de 2.022, programada para o dia 30 de outubro, ainda ouvimos alcunhas como pai dos pobres, salvador da pátria, defensor da família, destruidor de valores tradicionais e seculares, aquele que trará a fome, aquele que salvará da forme, dentre tantos outros. Há séculos, o mesmo. No final, ainda ganha relevo e eficácia o tradicional e infalível tática do Império Romano: panem et circenses (Frase com que o poeta satírico Juvenal critica os que, na Roma antiga, pediam trigo no Fórum e espetáculos gratuitos no circo, ou seja, aqueles que se contentavam com comida e diversão grátis, sem questionarem o desempenho dos governantes, que, dessa forma, garantiam o apoio da população. Fonte: Juvenal, Sátiras, X, 81. Disponível em: <https://dicionario.priberam.org/panem%20et%20circenses>. Acesso em: 26 out 2022).
Até picanha e cerveja estão sendo prometidas como símbolo da volta ao poder aquisitivo da classe mais pobre! Uma prova cabal da política do panem et circenses. Mas, comer picanha e tomar cerveja significa que a população não ser espoliada de outra forma?!
De outro lado, garantir que a população se arme não é, nem de longe, símbolo de liberdade e prosperidade. Como uma pessoa que mal paga suas contas irá adquirir uma arma? Só se pelos meios ilícitos! Ademais, incentivar uma população com baixíssimo nível educacional e uma sociedade extremamente violenta, com inúmeros casos cotidianos de violência doméstica, é, sinceramente, dar um tiro pela culatra.
Pelo exposto, como visto, sobejam bizarrices e promessas canhestras de políticos totalmente despreparados como o maior cargo do Poder Executivo de nosso país: a Presidência da República.
Que nosso país aprenda a valorizar sua maior riqueza: seu povo. Um povo que sonha, que luta, que não tem medo de pegar no serviço pesado, um povo humilde, mas, ao mesmo tempo, solidário, um povo poderoso, pois tem solidariedade. Um povo que todos os dias se faz artista ao aprender a sublime arte de viver.
Estas singelas linhas tem a humilde pretensão de levar seus leitores e leitoras à reflexão. Apenas isso.
Ademais, tenham uma incerteza: pior do que está, dá sim para ficar!.
Por enquanto, infelizmente, ainda devemos nos conduzir pela triste máxima: votemos no menos pior.
Até a próxima revisão.