Mossad: um compilado sobre o serviço de inteligência de Israel

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Um breve compilado sobre a origem, fatos e missões mais importantes envolvendo o melhor serviço de inteligência do mundo, a Mossad

Sempre se fala acerca de serviços de inteligência ao redor do mundo, o quanto as missões executadas surpreendem pela capacidade dos agentes e como estes executam tais missões. Não diferente dos demais o Mossad é muito conhecido pela efetividade de suas missões, a capacidade superior de seus agentes e como seus serviços impactam nações transformando-o em um dos serviços de inteligência mais eficientes do mundo. A criação da Mossad não se relaciona a um evento fixo que objetificou sua existência, mas sim, através de eventos anteriores que levaram a se criar o grupo de inteligência de Israel.  

Discute-se a origem da Mossad a partir de dois eventos históricos, as ações de espionagem pelo grupo conhecido como Hagan e a Jewish Brigade Group. Haganá, se traduz como defesa, uma operação paramilitar composta de judeus entres os anos 30 e 40, essa organização é antecedente até mesmo as forças de Defesa de Israel e atuava no território da Palestina, tinha como principal objetivo conseguir informações sobre organizações antissionistas, uma figura muito importante nesse momento foi Ezra Danin, um agricultor que auxiliou na obtenção de informações importantes de figuras e grupos que participavam dessas organizações. Danin, futuramente dentro da Haganá, fundou a Shai, uma unidade que se especializava em espionagem, muitos membros da Shai futuramente se tornarão membros da Mossad.  

A Jewish Brigade Group, era uma unidade de judeus de bandeira hebraica do exército inglês que atuou fortemente na ocupação da Itália e na luta contra a Alemanha nazista e seus aliados, e que auxiliou o êxodo de refugiados que se encontravam na Europa para a Palestina, muitos dos membros dessa unidade ainda possuíam familiares nas mãos das forças alemãs. Após o fim da segunda guerra mundial, os membros da brigada tentavam transferir de forma ilegal os judeus para o território da Palestina por encontrar restrições britânicas impostas sobre aquele local, criando passagens secretas entre a Europa e a palestina com o intuito de dar fuga aos judeus. Levando em consideração as imagens de violência contra os judeus vistas durante suas missões e nas tentativas de encontrarem seus familiares, membros da brigada se juntaram com um mesmo sentimento de revolta para se vingarem daqueles que cometeram tais atrocidades com a comunidade judaica.  

Movidos por esse sentimento de vingança  com o auxílio de serviços de inteligência britânico e norte-americano foram feitas listas de antigos membros da SS e Gestapo, alguns dos membros anteriores da Haganá e da Jewish Brigade Group agora eram conhecidos como Vingadores e se deslocavam a fim de encontrar as pessoas responsáveis pelo sofrimento judeu. Prendia-se os membros listados os executando de maneira discreta a beira de rios e lagos, com o intuito de não se deixar rastros e exterminar o maior número possível de assassinos nazistas.  

Um tempo depois, foi-se descoberta a coexistência de outros grupos que possuíam o mesmo desejo de vingança em comum, dessa forma, ao se juntarem por um propósito maior, deram origem a um grupo ainda mais significante de Vingadores. Agora esse grupo se dividia em dois propósitos, o primeiro sendo a identificação de judeus pelo território da Europa transferindo-os para a Palestina e o segundo era de se vingar. A vingança deveria ter o mesmo impacto que o de 6 milhões de mortos durante a segunda guerra, logo não se pouparia nenhuma pessoa responsável pela morte de tantas outras.  

Durante seu percurso, os Vingadores possuíam missões significativas que demonstravam tamanho empenho em suas atividades de vingança, uma delas foi o envenenamento por arsênico de pães que eram fornecidos para prisioneiros nazistas que estavam sob prisão nas mãos de tropas norte-americanas. Os agentes se infiltraram como padeiros na única padaria que fornecia alimentos que não eram de origem norte americana, e em 13 de Abril de 1946 (curiosamente, domingo de páscoa) envenenaram cerca de 3 mil pães pincelando-os com arsênico, deixando muitos doentes e um número não muito específico de mortos.  

Todos os aspectos citados até o momento remontam antes mesmo da criação do Estado de Israel, que se deu no ano de 1948, e da própria Mossad, entretanto os eventos foram de suma importância tanto para a criação do Estado quanto do serviço de Inteligência. Mossad foi criado em 13 de dezembro de 1949 pelo então primeiro ministro de Israel David Ben-Gurion, e oficializada em 1951. Sua primeira missão oficial seria a Operação Garibaldi, que se deu pelo sequestro de um dos membros da SS, Adolf Eichman. Eichman foi encontrado na Argentina, sequestrado e enviado para julgamento em Israel pelos seus crimes de guerra, o desafio se deu para a descoberta da real identidade do criminoso e de como retirá-lo do país latino.  

Após o sucesso da Operação Garibaldi, Ben-Gurion ordenou ao Mumuneh(Direitor da Mossad) Meir Amit a criação de uma unidade dentro da Mossad apelidada de Kidon (Baioneta), esta seria uma vertente que estaria submetida as ordens do primeiro Ministro, seus membros também eram conhecidos por kidon, e se encarregavam de sequestros e assassinatos. Amit expôs também a base de atuações dessa unidade: Não haverá matanças de líderes políticos; estes devem ser tratados através de meios políticos. Não se matará a família dos terroristas; se seus membros se puserem no caminho, não será problema nosso. Cada execução tem de ser autorizada pelo então primeiro-ministro. E tudo deve ser feito segundo o regulamento. É necessário redigir uma ata da decisão tomada. Tudo limpo e claro. Nossas ações não devem ser vistas como crimes patrocinados pelo Estado, mas sim como a última ação judicial que o Estado pode oferecer. Não devemos ser diferentes do carrasco ou de qualquer executor legalmente nomeado. 

Outra unidade importante surgida dentro da Mossad foi o Comitê X, criada sob o governo da Primeira Ministra Golda Meir e o Memuneh Zvi Zamir. Tanto o Comitê X quanto Kidon eram estruturas secretas e até mesmo membros do poder Israelense desconheciam a existência dessas unidades. Anos depois, a existência destas foi exposta em um jornal. É importante salientar que a maioria, se não todas, as decisões acerca de missões e execuções exercidas pela Mossad precisam passar pela aprovação do primeiro ministro israelense que esteja no poder, logo tem-se a própria responsabilização do Estado de Israel sobre o rumo das missões e resultados destas.  

A Mossad também é muito conhecida pelas figuras de seus agentes, muitos deles sendo apontados pelo sucesso das missões aos quais trabalharam e pelo efetivo serviço prestado. Um desses agentes foi Eli Cohen, que chegou a ser cogitado ao cargo de vice-ministro da Defesa da Síria. Cohen é memorado por conseguir íntimas relações com figuras do poder, se passou por um filho de empresário que tinha a vontade de construir e dar seguimento aos negócios do pai na Síria. Kamal Amin Ta'abet, era esse o nome pelo qual Cohen era conhecido, as relações de poder ao qual o espião se envolveu foram de suma importância para fatos ocorridos na disputa entre Síria e Israel. Infelizmente, Cohen foi descoberto, enforcado em praça pública e sua família luta até hoje para reaver o seu corpo e enviá-lo de volta a Israel.  

A Mossad, durante toda a sua história possui diversas missões, uma delas foi a de encontrar os responsáveis pelo Massacre do Setembro Negro nas Olímpiadas de Munique de 1972, o responsável pela morte de 11 atletas israelenses. Ali Hassan Salameh era o líder do grupo palestino Setembro Negro que deu fim a vida dos atletas. Com tais fatos perpetuados, Zvi Zamir o diretor da Mossad, resolveu ativar a unidade Kidon a fim de se vingar dos responsáveis por aquele ataque, o grupo Setembro negro seria o próximo alvo da Mossad na missão conhecida como Ira de Deus. A Kidon desenvolveu suas atividades através de diversas formas diferentes de se executar os 35 responsáveis pelo ataque.  

Entretanto, um serviço como a Mossad também demonstrou estar suscetível a erros, e uma das missões relacionadas ao ataque do Setembro Negro foi a que expos uma dessas falhas. A missão era conhecida como Operação príncipe vermelho uma vertente que tinha o objetivo de finalizar a Operação Ira de Deus, seu alvo era o diretor supremo do Setembro Negro Ali Hassan Salameh, entretanto houve um erro e a pessoa ao qual eles acreditavam ser Salameh era na verdade Ahmed Bouchiki, um garçom de apenas 30 anos, executado a tiros enquanto este voltava para casa com a esposa. O assassinato de uma pessoa através de um erro colocou a prova a credibilidade do serviço de inteligência israelense, transformando a morte de Ali Hassan Salameh em uma questão de honra. Em 1979, após uma outra tentativa de finalizar a missão, Salameh é morto enquanto passava com o seu veículo por um carro estacionado que explodiu aos comandos de agentes do Mossad, pondo fim a mais uma das vinganças.  

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Um outro evento muito importante é a atuação da Mossad relacionado ao programa nuclear Iraniano, ao qual foram identificadas diversas atividades e operações exercidas pela Mossad voltados ao programa. Além de cyber ataques a morte de cientistas ligados ao programa nuclear levanta o questionamento acerca das atividades exercidas pelo serviço de inteligência e consequentemente dos reais objetivos de Israel com a ocorrência desses eventos. As atividades da Mossad relacionadas a este assunto são identificadas a vários anos, demonstrando o interesse de Israel em saber quais são as reais finalidades do Irã no desenvolvimento de armas nucleares. Desde os eventos de obtenção de documentos secretos, explosões misteriosas e até mortes de personagens chave do programa nuclear, pergunta-se quais são os objetivos diplomáticos de tais ações tanto do Irã no desenvolvimento de armas, quando da Mossad ao tentar impedir isso. 

Ao longo dos anos os serviços da Mossad se baseavam no princípio da proteção e garantia da soberania do Estado de Israel, com o tempo os feitos do serviço de inteligência variaram dos dois primeiros princípios comuns, que eram o de reestabelecer um novo local para os judeus e de se vingar dos criminosos de guerra. Por estar submetido ao Estado de Israel e boa parte de suas missões terem de receber o aval do primeiro Ministro(a), muitas vezes nascem dúvidas acerca das missões executadas pelo serviço de inteligência, isso se dá pelo fato de que além de querer estabelecer um dos princípios do Direito Internacional Público de Soberania Estatal sobre a nação israelense, algumas dessas missões também passam a impressão de estarem colocando em risco a Soberania Estatal de outros países ao exercer a autoridade do serviço dentro dos territórios diferentes dos de Israel.  

Importante salientar que os eventos citados neste artigo são apenas alguns dos muitos outros que a Mossad foi responsável ao longo de sua história. É inegável o poder de aprimoramento que essa agência desenvolveu ao longo dos anos e das missões, além disso demonstra o poder de uma nação a partir do momento que ela possui uma ferramenta tão forte como um Serviço de Inteligência bem desenvolvido, aprimorado e eficiente, não negando claro, as falhas eventualmente identificadas. Ainda que a Mossad esteja sob os olhos do primeiro Ministro(a) de Israel no que tange suas atividades não é difícil negar, tendo em vista tamanho poder do serviço de Inteligência, a frase: Muitos países tem serviços de inteligência, mas só um serviço tem um país..  


Referências

FRATTINI, Eric. Mossad, os carrascos do Kidon: a história do temível grupo de operações especiais de Israel. Trad. Alessandra Miranda de Sá. 1ª ed. São Paulo: Seoman, 2014. 

GHIVELDER, Zevi. Eli Cohen, o espião mestre. Revista eletrônica MORACHÁ, Edição 49; Jun 2005. Disponível em: http://www.morasha.com.br/biografias/eli-cohen-o-espiao-mestre.html 

WALLACE, Arturo. A Implacável guerra secreta contra o programa nuclear do Irã. BBC News; Dez 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-55485951 

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Sobre as autoras
Lorena Daphiny Dias Dutra

Estudante de Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Julia Neves de Oliveira

Estudante da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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