Emilly Christine Xavier Turrão[1]
Joisiara da Silva Gomes[2]
Francine Pereira Fontainha de Carvalho[3]
Bernardo Goytacazes de Araujo[4]
ÁREA DE CONHECIMENTO: Ciências Sociais e Aplicadas
RESUMO
O presente artigo analisa as barreiras que influenciam a carreira profissional das mulheres negras dentro das empresas brasileiras, de forma a contribuir na construção de novos caminhos e atitudes. A discussão, no mercado de trabalho, demonstra que essas mulheres tiveram que lidar com a desqualificação de seu trabalho, assédio, preconceito, bem como a sobrecarga de dupla jornada. Duras conquistas alcançadas e melhores oportunidades de trabalho, fizeram com que mulheres pudessem competir por melhores cargos, ainda que não de forma igualitária. Sendo assim, as barreiras de gênero, e raciais, influenciam as carreiras femininas. Para tanto, estruturou-se a presente pesquisa em três objetivos específicos: 1) trazer o contexto histórico do trabalho feminino no Brasil; 2) contextualizar as relações de gênero com no meio ambiente de trabalho; 3) abordar desafios na carreira profissional feminina. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, mormente na doutrina e referencial teórico, levantado previamente acerca da temática em questão, após seleção. Também foi realizada análise qualitativa dos dados levantados em banco de dados oficiais para a presente discussão e obtenção de uma resposta à problemática suscitada, por meio do método dedutivo. Dentre os principais resultados destaca-se a influência do ambiente familiar na carreira feminina, inclusive de forma determinante para suas profissões. Observou-se que discriminação por gênero e raça, assim como o assédio, são práticas recorrentes dentro das empresas, de forma a submeter as mulheres a situações constrangedoras e desmotivantes. Outrossim, as empresas devem ter preparo para formular estratégias para atende-las frente à sociedade e aos mercados.
PALAVRAS-CHAVE: mulheres negras; relações de trabalho; carreira.
1. INTRODUÇÃO
A presença do gênero feminino no mercado de trabalho ainda que de forma promissora, depara-se com obstáculos que refletem a sociedade patriarcal, racista e sexista que originou as presentes relações sociais existentes, hoje, em nossa sociedade. (ANDRADE et al.,2015). Assim, busca-se analisar as principais barreiras que influenciam a carreira profissional das mulheres negras dentro das empresas brasileiras, propiciando meios de análise para tomada de novas decisões, propiciando novos caminhos.
Nesse viés, como problemática levantada para a pesquisa, indagou-se em que medida as barreiras de gênero e racial impostas, influenciaram nas carreiras femininas, assim como quais objetivos específicos abordados no contexto histórico do trabalho feminino no Brasil, permitisse contextualizar as relações de emprego e renda. (BIROLI, 2018). Os desafios na carreira profissional feminina estão postos, assim como as condicionantes do ambiente de trabalho, entretanto há meios de se atenuar as disparidades e melhorar as condições existentes.
No que tange a problematização, a estrutura da presente pesquisa, constatou que a mulher negra esteve presente na história como uma força de trabalho. No que se refere às mulheres de classe média, essas passaram a ocupar empregos de professoras, enfermeiras ou parteiras, até que, com o passar do tempo, essas mãos-de-obra femininas começaram a ser utilizadas no início da industrialização (DORNELAS et al., 2016). No segundo momento foram contextualizadas as relações de gênero no trabalho, tendo em vista a importância de estudos voltados para as questões de gênero, bem como, a compreensão de que tal temática na contemporaneidade é relevante para que se realize a interseccionalidade entre gênero e as relações de trabalho.
E como discussão, recorremos a alguns fatores que podem influenciar a área profissional da mulher, e, outros os quais podem prejudicar as atuações na empresa, como o machismo, racismo, sexismo, discriminação de gênero e assédio, os quais têm origem cultural e quando são reproduzidos na rotina da mulher, atuam como barreiras para sua ascensão empresarial e na carreira em geral (MONTEIRO, 2018).
Em relação aos resultados considerou-se que o ambiente familiar tem grande influência na carreira feminina, certas vezes, até determinante para suas escolhas profissionais. No mais, as empresas devem ter preparo para formular estratégias e atender às necessidades desse grupo frente aos desafios trazidos pelo mercado e impostos pela sociedade.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2. 1 Trabalho feminino no Brasil
Para que se possa compreender a pertinência da presente pesquisa, cabe, primeiramente, conceituar de forma sucinta, o trabalho feminino brasileiro, no qual se destaca, a priori, que a mulher negra esteve presente na história como uma força de trabalho., No momento que seguiu-se à abolição da escravatura, as mulheres brancas também passaram a exercer trabalhos, precipuamente àqueles que outrora eram realizados pelas negras dentro de suas casas e os deveres de cuidado. Para tanto, são profícuos os clássicos Casa Grande & Senzala do autor Gilberto Freyre (2004), da década de 30 e a obra Raízes do Brasil de Sergio Buarque de Holanda (1995), que contribuem para a compreensão dos motivos que levaram a pessoa negra à categoria de grupo vulnerável, revelando como o processo de escravidão, sua posterior abolição formal e a falta de inclusão social relegaram a população negra à pobreza e à marginalização.
Freyre (2004) trouxe um panorama complexo sobre as ambíguas relações sociais na colônia, com o mérito de desenvolver um trabalho que em seu capítulo IV O negro escravo na vida sexual e familiar do brasileiro e em sua continuação (cap. V), produz um ensaio sociológico sobre o espaço privado, normalmente relegado dentro das grandes narrativas. Na obra fica nítido que a sociedade se constituiu tendo a escravidão como pilar, contribuindo para a compreensão do mito da miscigenação e da inexistência do racismo. A estereotipização da mulher negra e sua hiper sexualização na formação cultural do Brasil, ainda presente nos discursos dominantes, bem como, a iniciação sexual dos filhos dos senhores era realizada com escravas africanas ou indígenas e, não necessariamente, por mulheres negras, deixando claro o elemento norteador econômico de exploração de escravos e não de raça (FREYRE, 2004), o que hoje também se denomina, dominação hegemônica.
O nascimento de crianças oriundas de mulheres negras, advindas de estupros, não se deve, de forma alguma, relacionar-se ao aumento do apetite sexual das mulheres negras, como é amplamente difundido, já que, nas palavras do autor: não há escravidão sem depravação sexual: ela é própria essência do regime (FREYRE, 2004). Ressalta-se que a mestiçagem, que aqui se praticava há muito tempo, corrigiu a distância social que, de outra forma, teria permanecido enorme entre a casa-grande e a mata tropical; entre a casa-grande e a senzala [...] e que as figuras femininas da índia, da negra-mina e mais tarde da mulata e da cabocla contribuiriam para a democratização do Brasil, pois se tornaram senhorias, concubinas e, às vezes, até esposas, direitos legítimos de senhores brancos (FREYRE, 2004).
Posteriormente, no que se refere às mulheres de classe média, num período pós-escravidão (formal), essas passaram a ocupar empregos de professoras, enfermeiras ou parteiras, até que, com o passar do tempo, essas mãos-de-obra femininas começaram a ser utilizadas no início da industrialização, com o surgimento das primeiras fábricas, mormente, as mais pobres, que representavam, conforme Camila Daniel (2011), aproximadamente 76% do trabalho assalariado atuante nas fábricas na década de 70. Nesse mesmo período, o perfil demonstrando pelas trabalhadoras mudou de uma maioria solteira e sem filhos para um percentual considerável de mulheres casadas e mães, e, na década de 90,houve uma queda brusca na taxa de fecundidade, ocasionando a diminuição do tamanho da família e uma maior expectativa de vida feminina e um crescimento do número de mulheres atuando como chefes de família, podendo ser vislumbrado (HIRATA, 2002).
2.2 Relações de gênero no trabalho
É relevante realizar a interseccionalidade gênero e relações de trabalho para que dessa forma, se possa compreender a dimensão das demandas de lutas históricas às quais homens e mulheres estão sujeitos, especialmente, o público feminino.
A pesquisa traz esse recorte para demonstrar o foco que essas discussões trazem quando se refere ao debate acerca da condição subalterna que as mulheres vivenciaram ao longo dos tempos, pois, segundo o entendimento de Robles (2019), a própria história revela que, de um modo geral, as mulheres sempre estiveram, por diversas vezes, excluídas da seara do espaço público.
Em verdade, tais diferenças são traçadas dentro das relações que se constroem no decorrer dia a dia, do ensinamento de cada cultura, ou seja, essas disparidades se manifestam em razão dos homens e das mulheres vivenciarem experiências e processos de socialização diferentes e/ou serem moldados agir de determinadas maneiras diferentes. Ademais, Alves (2013) preleciona que a determinação de um modelo ideal de família no qual reafirmava-se o espaço privado, doméstico, como natural às mulheres, determinado pelas necessidades da maternidade e realização das capacidades de trabalho femininas, somado a um discurso médico que procurava nas diferenças biológicas, tudo isso para comprovar que a mulher era mais frágil e inferior em relação ao homem.
O que se pode inferir é que a fragilidade, então propagada pelo ambiente social, como sendo uma característica própria do sexo feminino se faz reafirmada quando se vislumbra a submissão do feminino ao masculino. Sendo que, diversos fatores acabam por contribuir, significativamente, para a propagação e reforço dessa crença de que o homem é superior à mulher, mormente, o fator cultural. Pois, essas visões são construídas socialmente e repassadas de geração em geração, não fazendo parte da essência feminina ou masculina como muitos podem afirmar, inclusive muitas mulheres (SAFFIOTI, 2004).
Existem dois princípios que tem por finalidade a organização da divisão sexual do trabalho, um seria o princípio da separação, que aduz existir a separação de trabalho de homem e trabalho de mulher. Outro princípio é o da hierarquização, onde o trabalho desempenhado por um homem tem maior valor que aquele trabalho que foi realizado uma mulher, podendo tais princípios ser aplicados dentro de qualquer sociedade (HIRATA, 2002).
Luana Pinheiro (2008), leciona que o rendimento médio da ocupação no labor de mercado demonstrou que as desigualdades de gênero, em razão das diferenças educacionais e da segregação do sexo feminino, as quais perduraram por muito tempo, fez com que estas ficassem em postos de trabalho considerados menos qualificados e, consequentemente, com menores rendimentos do que os homens. Os dados existentes no Brasil, contemporaneamente, demonstram que, ainda que as mulheres detenham mais estudo que os homens, elas ainda ocupam menos os cargos de poder e recebem menos (ALVARENGA, 2022)
Para Alves (2013), esses baixos salários, que são recebidos pelas mulheres (20,5% a menos), possuem explicação nas interpretações históricas, tendo em vista que os ganhos que os homens recebem seriam calculados de modo a garantir a manutenção e sobrevivência sua e da reprodução da família, porque no passado, este era o provedor do sustento familiar e os salários das mulheres seriam definidos como receitas adicionais ao salário do homem, sendo valores entendidos como satisfatórios para o seu sustento próprio e da família.
O trabalho doméstico não era levado em conta nas discussões a respeito da reprodução das futuras gerações; consequentemente, era difícil para elas conseguirem ganhar a vida sozinhas ou produzirem algum montante econômico expressivo. Contavam também para diminuir os salários das mulheres - os argumentos de que elas eram menos produtivas do que os homens, pois não trabalhavam tão arduamente quanto eles; além do mais, o que produziam importava em um menor valor econômico (ALVES, 2013). Hirata (2002) aduz que o patriarcado exerceu grande influência em cunho decisivo para a formação da sociedade brasileira, pois, tal influência chegou até a seara econômica, política e moral.
Nesse contexto de perpetração da submissão e da violência vivenciada por muitas mulheres que podem ser atreladas ao contexto cultura e as instituições, na visão de Cavedon et al. (2005) a mulher ainda tem gravado em seu inconsciente o papel que lhe foi atribuído por décadas e sente-se culpada se não consegue equilibrar os seus papéis de mulher, mãe e profissional. A independência no âmbito do simbólico ainda não ocorreu.
Não obstante o ocorrido em relação à mudança de pensamento, bem como, da atitude com relação aos papéis gênero, outrora, atrelados aos homens e as mulheres, ainda se verifica uma grande desvalorização do trabalho que as mulheres desempenham e o esgotamento físico e mental resultante de uma sobrecarga em face de uma dupla ou tripla jornada de trabalho é uma realidade que merece maior atenção (CAVEDON et al., 2005).
Ainda na atualidade, o trabalho doméstico destina-se única e exclusivamente às mulheres, o que inclusive, faz com que elas tenham uma sobrecarga de trabalho ocasionando, por conseguinte, pela busca do mercado de trabalho, ou seja, por oportunidades que sejam mais flexíveis e possibilitem essa vivencia entre esses dois mundos (público e privado). A abertura do próprio negócio ou trabalhar de forma autônoma, por vezes, advém do imperativo da flexibilidade, mas, no que se refere a divisão sexual do trabalho é notória a desigualdade de gênero, pois são relações desiguais, assimétricas e antagônicas. A flexibilização pode reforçar as formas mais estereotipada das relações sociais de sexo (HIRATA, 2002), pois, desde a infância, meninos e meninas são moldados e formados para desempenharem papéis diferenciados, tendo os marcadores (estereótipos) de gênero bem reforçados no dia a dia.
Diversas brincadeiras, ainda que, tidas como inocentes, mas que demonstram nitidamente esta diferenciação, são efetivadas quando, por exemplo, carros e armas são brinquedos destinados aos meninos, ao passo que panelinhas e bonecas representam brinquedos femininos tais brincadeiras e brinquedos reforçam os estereótipos. Para Alves (2013), as brincadeiras dos meninos são tipicamente mais agressivas enquanto as das meninas são mais pacíficas, e sobre isso Robles (2019) afirma que se está pré-moldando o ser frágil e dócil que o feminino tem que ser. As diversões demonstram aparentar ser uma forma inicial dos meninos e meninas internalizarem quais seus papéis dentro das relações sociais por meio do que lhes é ou não permitido (SAFFIOTI, 2004).
Ademais, Teixeira (2022), afirma que ainda que tenhamos tido algum avanço, com as mulheres conquistando direitos e ocupando espaços importantes, essa posição de submissão permanece presente, não apenas nas relações afetivas, mas principalmente nas relações de trabalho. Por conta da conquista dos espaços de formação e profissionalização, a dificuldade em continuar rotulando a mulher como ser incapaz e incompetente profissionalmente é cada vez maior, tendo em vista que esta conquista se deu exatamente pela produção, pela capacidade. Não foi um espaço concedido, foi um espaço conquistado.
Robles (2019) afirma, por exemplo, que a tendência de romantização do ser feminino não contribui em nada na tentativa de superação dos estereótipos historicamente convencionados aos homens e mulheres. Com isso, a independência, seja financeira, psicológica e/ou moral, atua como o principal fator que leva as mulheres em busca da obtenção por mais e maiores espaços dentro da sociedade. Entretanto, a constatação de ações discriminatórias, bem como, de desigualdades existentes na sociedade, fez com que as mulheres passassem a ocupar espaços anteriormente ocupados tão somente por homens. E nesse ínterim é que se faz importante a discussão acerca dos desafios enfrentados por elas dentro desse ambiente, criado por homens e para homens.
Mas quando se encontram nesses ambientes laborais, enfrentam barreiras e até práticas tidas como brincadeiras e por consequência, naturalizadas que são o assédio moral e comumente em face das mulheres, o assédio sexual onde [...]. ainda subsiste a imagem da mulher como objeto de satisfação do desejo, sendo este o ponto fraco e o terreno confortável para o assédio, em especial, no ambiente profissional (TEIXEIRA, 2022).
Ainda que as lutas dos movimentos feministas contra as desigualdades de gênero, na busca da valorização da mulher de forma a equiparar os seus direitos aos dos homens nas searas políticas e sociais, pareçam um longo caminho a percorrer, é de grande valia para a autonomia feminina - nos tempos atuais e para a diminuição de episódios de submissão e de práticas de violências contra a mulher - entender que o assédio não é uma brincadeira, mas um ato violento que terá suas consequências melhores explanadas nos tópicos seguintes.
2. 3 Desafios na carreira profissional feminina
É possível compreender fatores que podem influenciar a área profissional da mulher, uma vez que, alguns podem prejudicar suas atuações dentro da empresa, impactando negativamente. Fatores como o machismo, racismo, sexismo, discriminação de gênero, assédio têm origem cultural e quando são reproduzidos na rotina da mulher, atuam como barreiras para sua ascensão empresarial e na carreira em geral. Ademais, fatores como maternidade e a dupla jornada, que são atribuídos à mulher, também as afetam. A educação é um forte indicador quando analisados os casos de mulheres bem-sucedidas no trabalho, bem como, o apoio familiar, de colegas e superiores também se mostram efetivos no crescimento profissional da mulher.
2. 4 Tempo e jornada de trabalho
Desde o seu início no mercado de trabalho, foi imposto para a mulher a dupla jornada da vida profissional e familiar, que são jornadas trabalho cansativas que ocupam boa parte do tempo que poderia ser usado para fins pessoais. Esse tempo virou inimigo da mulher que, no decorrer das décadas, foi obrigada a se (re)organizar visando ter uma vida com mais qualidade. O trabalho doméstico, raramente é dividido com os homens, e retira um tempo significativo (BRUSCHINI et al.,2004). Esses, em sua pesquisa aduzem que há relatos de mulheres que abdicaram de cargos em melhor nível hierárquico em razão do tempo que teriam para cuidar das responsabilidades do lar.
2.5 Maternidade
O assunto maternidade dificilmente não se faz presente quando se fala de gênero feminino e carreira, e, mesmo para aquelas que não têm (nem querem) filhos, a discriminação é presente, pois são mulheres. A possibilidade de engravidar e precisar se ausentar do trabalho é um temor compartilhado pelos empregadores que pensam duas vezes antes de contratar mão-de-obra feminina.
Andrade e Carvalho Neto (2015), mencionam que é fato a mulher enfrentar o encargo do estereótipo da maternidade e do papel de reprodutora, acima do produtivo, e, na seara legislativa, acerca da proteção da mulher em seu período de maternidade, o art. 7º, XVIII da Constituição Federal (BRASIL, 1988), traz a garantia da licença-maternidade de pelo menos 120 dias nas organizações privadas e 180 dias no serviço público federal. E, o pai, apenas 5 dias de licença após o nascimento, impondo praticamente toda a responsabilidade à mãe. Já o art. 10, II, "b da CRFB (BRASIL, 1988) traz a estabilidade, impedindo a dispensa sem justa causa desde a confirmação da gravidez. Nunes (2016) explica que filhos menores de 10 anos, reduzem a probabilidade de a mulher procurar trabalho, enquanto que maiores de 12 anos permitem que uma parcela maior voltar à vida profissional.
2. 6 Assédio moral e sexual
A prática do assédio moral dentro das relações de trabalho pode ser entendida como comportamentos repetitivos, práticas hostis que são dirigidas a um ou mais trabalhadores com o intuito consciente ou inconsciente, de causar danos à integridade psíquica e/ou física para a pessoa que está sendo violentada (HIRIGOYEN, 2006). Essa minimização dos gastos é visivelmente percebida através das terceirizações acompanhadas da precarização das condições de trabalho, junto aos baixos salários e jornadas laborais longas.
Barreto (2000) destaca que as maneiras novas de sistematizar o ambiente de trabalho e sua produção ocasionam diversas situações incertas ao trabalhador, dentre elas se tem uma possível quebra dos direitos sociais, assim como um crescimento dentro do setor informal e ocasiona uma precariedade empregatícia e um aumento de subempregos elevando o índice desemprego e de miséria.
A prática do assédio não é ocasionada tão somente pelo fomento das disputas entres as partes trabalhadoras, mas também em razão, como foi abordado em tópico anterior, por uma questão cultural do patriarcado, demonstrando que aquele espaço não pertence para os corpos femininos e impondo sua supremacia masculina (HIRATA, 2002).
2.7 Discriminação de gênero
Quanto a este fator influenciador, é nítido que a discriminação de gênero está enraizada nos discursos machistas, resultando, no âmbito profissional, na desqualificação do trabalho feminino. Nesse sentido, Bruschini e Puppin (2004) destacam que as mulheres executivas padecem de maiores cobranças e são muito mais questionadas, chegando a ser questionada sobre suas capacidades de realizarem tarefas objetivas, vez que suas capacidades afetivas interfeririam negativamente nos resultados.
2.8 Raça
A raça ou etnia se faz como um fator de peso no desenvolvimento da carreira feminina. Se para mulheres, no geral, a ascensão no mercado já possui inúmeras barreiras que dificultam sua evolução profissional, quando se trata de negras, o cenário é ainda mais dificultoso. Embora as hierarquias de classe e raça incidam na definição de quem tem acesso aos espaços de poder, a divisão sexual do trabalho e as formas da construção do feminino a ela relacionadas fazem com que as mulheres tenham chances relativamente menores do que os homens de ocupar posições na política institucional e de dar expressão política, do debate público, a perspectivas, necessidades e interesses relacionados à sua posição social (BIROLI, 2018).
A assimetria do mercado de trabalho é acentuada quando se refere ao fator raça, pois, uma mulher negra ou parda no Brasil ganha em média 44% de um homem branco e 58,6% de uma mulher branca, portanto, a insegurança no emprego é melhor analisada intersetorialmente, concernente ao entendimento do título Estatísticas de Gênero e Indicadores sociais das mulheres no Brasil publicado no site do IBGE (2019). As mulheres negras são duplamente desfavorecidas em um declínio contínuo de renda.
Na pirâmide renda e sem acesso a postos de trabalho, escolaridade e profissionalização são as mulheres negras, acompanhadas dos filhos, que compõem a faixa mais empobrecida da população (BIROLI, 2018). O sistema se beneficia com a manutenção de tais condições, pois mantém a disposição a mão de obra mais barata Pressionado pela polícia, de um lado, e pelas péssimas condições de vida, de outro, o negro oferece sua força de trabalho a qualquer preço no mercado de trabalho (GONZÁLEZ et al.,1982).
3. METODOLOGIA
Houve um aprofundamento nos princípios processuais exposto na Constituição Federal (BRASIL,1988) com a finalidade de demostrar a responsabilidade sobre a mulher em razão da maternidade, a pesquisa e de forma qualitativa, com levantamento de informações em banco de dados oficiais numa discussão teórico-jurídica, com base bibliográfica realizada principalmente na doutrina, na internet e referencial teórico, utilizando para tanto, o método dedutivo. Desde modo utilizou-se o método de abordagem dedutivo para o presente estudo em razão de ele partir dos princípios elementares e indiscutíveis, em outras palavras, ele parte de uma lógica, a fim de chegar a uma conclusão de cunho formal (LAKATOS et al., 2006). No mais, de modo geral, a presente pesquisa é composta por levantamento bibliográfico; análise de entrevistas que foram realizadas com pessoas que tenham experiências práticas com a problemática suscitada e análise de modelos que tenham semelhança.
Deste modo a pesquisa traçou pensamento entre o período de 2004 a 2022, mostrando que desde muito tempo os desafios da mulher no mercado de trabalho e uma luta constante, fazendo um equilíbrio entre o ambiente familiar e a carreira, seja uma jornada dupla, entre todos os outros obstáculos, como pelo gênero e raça.
Por tudo exposto, tem-se como finalidade a técnica explicativa, tendo uma análise de dados qualitativa já que se buscou entender, no formato textual, desafios na carreira profissional feminina.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Como resultados principais se consideraram que o ambiente familiar tem grande influência na carreira feminina, certas vezes, até determinante para suas escolhas profissionais. A discriminação interseccional gênero e raça, assim como o assédio são práticas recorrentes dentro das empresas públicas e privadas, de forma a submeter essas mulheres a situações, deveras, constrangedoras e desmotivadoras. Ademais, a discriminação interseccional gênero e raça, assim como o assédio são práticas recorrentes dentro das empresas públicas e privadas, de forma a submeter essas mulheres às situações, deveras, constrangedoras e desmotivadoras. E, as empresas devem ter preparo para formular estratégias para atender as necessidades desse rupo frente aos desafios trazidos pelo mercado e impostos pela sociedade.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalmente, em relação à situação da vulnerabilidade do gênero feminino, deve-se ressaltar que não é uma realidade atual, mas uma herança histórica e patriarcal do Brasil, principalmente, pelo viés de autonomia, seja ele, político e/ou social, demonstrando o status quo da mulher como não detentora de capacidade para dispor e/ou atuar em seus direitos patrimoniais, isto é, houve a submissão da mulher às vontades do homem, fosse ele seu pai ou, posteriormente, seu marido. A maternidade trouxe uma remodelação das suas preferências profissionais em prol do seu papel materno e familiar, e para aquelas que não têm filhos, a realidade da dupla-jornada é uma questão presente, mesmo que em menor proporção. As mulheres, mormente as negras, acabam ocupando postos de trabalhos que remuneram menos e, em média, ainda que, trabalhem nas mesmas funções/caros que os homens, precisam conciliar as atividades profissionais e as responsabilidades familiares e domésticas. Destaca-se que o ambiente familiar tem grande influência na carreira feminina, certas vezes, até determinante para suas escolhas profissionais. A discriminação interseccional gênero e raça, assim como o assédio são práticas recorrentes dentro das empresas públicas e privadas, de forma a submeter essas mulheres às situações deveras constrangedoras e desmotivadoras. No mais, considera-se que as empresas devem ter preparo para formular estratégias para atender as necessidades desse grupo frente aos desafios trazidos pelo mercado e impostos pela sociedade.
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