Tribunal da internet: a cultura do cancelamento

12/12/2022 às 11:48
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A cultura do cancelamento na internet tem como objetivo destruir uma pessoa por suas práticas reprováveis, gerando debates sobre intolerância e justiça social.

O cancelamento não é novidade na sociedade. Julgar e condenar alguém por uma atitude considerada errada tem sido a norma desde os tempos antigos. Independentemente da posição social. Como tal, adquiriu-se diferentes nomes ao longo dos séculos, mas nunca perdeu sua essência de massacrar e culpar os outros pelos erros.

Agora, com o advento da internet, ficou mais fácil e óbvio considerando a possibilidade de os internautas permanecerem anônimos ao postar qualquer tipo de comportamento ofensivo. Existem várias razões pelas quais alguém pode se tornar um trending topic (assunto mais comentado) na internet e ser cancelado. Vale destacar que, temas principalmente como racismo, preconceito de classe social, xenofobia, machismo e LGBTfobia tem sido majoritariamente os assuntos que geram cancelamento em massa. Também pode acontecer por motivos banais, como falar mal de uma pessoa famosa, expor uma simples opinião ou fazer algo que as pessoas desaprovam.

No mundo moderno, com a presença cada vez maior da tecnologia e o crescimento exponencial das redes sociais, o cancelamento de uma pessoa está diretamente relacionado ao seu comportamento, às vezes por uma ação ou falta dela. O ato de cancelar uma pessoa se tornou uma prática em muitas redes sociais nos últimos anos, sendo que a 'cultura do cancelamento' foi eleita o termo do ano de 2019 pelo Dicionário Macquarie, que anualmente selecionam as palavras e expressões que melhor caracterizam o ato comportamental de uma pessoa e buscam determinadas definições.

Nas redes sociais como o Twitter, vemos várias celebridades ou influenciadores sendo "cancelados", ou seja, alguém ou um grupo de pessoas são excluídos da sociedade, não existem mais em suas vidas, não existem mais, por conta de determinada atitude, o cancelamento funciona, em tese, como uma punição devida. Às vezes isso é temporário e às vezes a pessoa cancelada precisa mudar, pelo menos externamente ou comercialmente, para que seja aceita novamente.

Há pessoas que postam deliberadamente comentários desnecessários na internet, seja para chamar a atenção ou para expressar seus pensamentos, e também há pessoas que se opõem à ideia de desconstrução social, e seus ideais interiores parecem nunca entrar na modernidade. Em ambos os casos, a internet serviu a um grande tipo de justiça e surgiu uma nova forma de justiça social: a cultura do cancelamento.

A cultura do cancelamento é um fenômeno moderno em que uma pessoa ou grupo é expulso de uma posição influente ou de prestígio. A título de exemplo, uma pessoa pode ser fotografada ou gravada fazendo algo que disse em público e soa mal, por alguma atitude impopular, ou até mesmo ser cancelada por algo que pode ter postado nas redes sociais anos atrás. A referida cultura tem por objetivo destruir uma pessoa, simplesmente por conta de uma determinada pratica considerada reprovável.

Pode-se destacar que, algumas pessoas vivenciam isso de maneira diferente e não conseguem ver seus erros até serem rejeitados online, então essa punição é uma forma de educação. Cancelamentos desse tipo provocam debates sobre racismo, preconceito contra certas classes sociais, xenofobia, homofobia e outras formas de intolerância. Há casos, a maioria dos quais são devido a conflitos de opiniões e ideias, onde discute-se haver um "certo ou errado", ou não: longe disso.

É comum observar esse debate nas redes sociais, principalmente porque a internet se tornou um espaço propício para o debate de causas importantes e um espaço para manifestações. Em um ambiente online, no entanto, as manifestações contra irregularidades percebidas muitas vezes se transformam em linchamentos virtuais dos responsáveis pela conduta, tanto como forma de punição quanto como forma de alcançar a justiça social. Como todos são falíveis, inúmeras pessoas foram canceladas no ambiente digital. Deve-se notar que o racismo está se tornando cada vez menos tolerado, as piadas sobre velhos hábitos das mulheres não são mais engraçadas e várias redes sociais estão reprimindo o bullying online.

Todavia, mais recentemente, o tema sobre a cultura do cancelamento voltou à tona na 21ª edição do reality show mais famoso do Brasil, o Big Brother Brasil, em que convidados de destaque chegaram na Casa Mais Vigiada do Brasil com medo de serem cancelados. No entanto, esse medo pareceu diminuir rapidamente, pois alguns participantes praticaram o ato de cancelar uns aos outros, gerando discussões nas redes sociais. Devido à indignação do público, o pessoal da produção teve que intervir de forma velada, por brincadeira, tiveram que dizer quem na casa tinha o perfil cancelador. Fato é que, é mais fácil cancelar do que ser cancelado. Apontar o dedo é mais cômodo e agradável, onde ao expor os erros alheios oculta-se seus próprios erros.

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Sobre o autor
Wagner Muniz

Mestrando em Direito Público e Evolução Social (PPGD/UNESA/RJ), Intercambista na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos (USA). Espec. em Ciências Criminais e Direito Internacional (UniAmérica/PR), Graduando em Gestão Pública (FGV), Bacharel em Direito (Estácio, campus Cabo Frio/RJ), Voluntário no UNICEF BRASIL, atuou como Estagiário da Justiça Federal (TRF-2, SJRJ), Palestrante, Ativista Social pela Educação, Informação e Participação Sociopolítica Juvenil, Influenciador Digital e Mobilizador Social. Wagner é morador de São Pedro da Aldeia - RJ e atua em prol da Defesa dos Direitos Humanos de Crianças, Adolescentes e Jovens. Possui experiência ampla na área de Direito Público, com ênfase em Direito Penal, Processo Penal, Execução Penal, Direitos Humanos, Constitucional e Internacional. Também possui experiência com atuações em Direito Eleitoral, Jornalismo, Comunicação, Marketing, Planejamento de Campanha, Criação de Imagem e Discurso Político, Gestão Pública e Ciência Política. Esteve como Monitor em Direito Penal e Processo Penal e Direito Público, também, como Padrinho Veterano do Curso de Direito (2020-2022) da Universidade Estácio de Sá, campus Cabo Frio-RJ.

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Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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