RESUMO
As plataformas de mídia social revolucionaram a maneira como as pessoas se comunicam e compartilham informações, fornecendo um espaço para vozes e perspectivas diversas serem ouvidas. No entanto, o aumento do uso das mídias sociais também levou à amplificação de discursos e comportamentos antidemocráticos, que representam uma ameaça significativa aos valores e instituições democráticas. Para tanto, as plataformas utilizam algoritmos que priorizam o conteúdo com base em sua popularidade e engajamento, o que pode levar à disseminação de conteúdo extremo e diversivo. Isso pode criar um efeito de câmara de eco, em que os usuários são expostos apenas a conteúdo que reforça suas crenças existentes, tornando difícil ter um diálogo construtivo e promovendo opiniões polarizadas. Nesse caso, o anonimato fornecido pelas mídias sociais pode encorajar indivíduos a se envolver em comportamentos agressivos e ameaçadores, levando à normalização do discurso de ódio e assédio online. O objetivo deste estudo bibliográfico é analisar o papel das redes sociais na amplificação de discursos e comportamentos antidemocráticos. Foi realizada uma revisão da literatura sobre o tema, com base em artigos e livros em bibliotecas virtuais, como a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), com o intuito de selecionar as fontes de informações mais relevantes para o tema, incluindo o ano de publicação e a qualidade do conteúdo. Por fim, este estudo bibliográfico aponta para a importância de se compreender o papel das redes sociais na amplificação de discursos e comportamentos antidemocráticos e a necessidade de se adotar estratégias efetivas para promover a democracia e combater o discurso de ódio nas plataformas digitais.
Palavras-chave: Redes sociais, Discurso antidemocrático, Comportamento antidemocrático.
AbstractParte superior do formulário
Social media platforms have revolutionized the way people communicate and share information, providing a space for diverse voices and perspectives to be heard. However, the increase in social media usage has also led to the amplification of antidemocratic speeches and behaviors, which represent a significant threat to democratic values and institutions. To that end, platforms use algorithms that prioritize content based on popularity and engagement, which can lead to the dissemination of extreme and divisive content. This can create an echo chamber effect, where users are exposed only to content that reinforces their existing beliefs, making it difficult to have constructive dialogue and promoting polarized opinions. In this case, the anonymity provided by social media can encourage individuals to engage in aggressive and threatening behaviors, leading to the normalization of hate speech and online harassment. The objective of this bibliographic study is to analyze the role of social media in the amplification of antidemocratic speeches and behaviors. A literature review was conducted on the topic, based on articles and books in virtual libraries, such as the Brazilian Digital Library of Theses and Dissertations (BDTD), in order to select the most relevant sources of information for the topic, including publication year and content quality. Finally, this bibliographic study points to the importance of understanding the role of social media in the amplification of antidemocratic speeches and behaviors and the need to adopt effective strategies to promote democracy and combat hate speech on digital platforms.
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Keywords: Social media, Antidemocratic discourse, Antidemocratic behavior.
1 INTRODUÇÃO
As redes sociais são uma das maiores inovações tecnológicas do século XXI, envolvidas a maneira como as pessoas se comunicam, interagem e se informam. No entanto, esse novo ambiente virtual também se tornou um espaço para discursos e comportamentos antidemocráticos que representam uma ameaça significativa à democracia. De acordo com Van Dijck; Poell (2013), "as redes sociais permitem uma variedade de novas formas de participação e engajamento político, mas também têm o potencial de amplificar e disseminar mensagens políticas perigosas, incluindo conteúdo extremista e discurso de ódio".
A disseminação de discursos e comportamentos antidemocráticos nas redes sociais é um problema global, que afetou não apenas as democracias mais protegidas, mas também como emergentes. De acordo com Bimber; Davis (2003), "a disseminação de ideias extremistas, discurso de ódio e outros conteúdos antidemocráticos nas redes sociais é um problema complexo, que requer uma análise cuidadosa dos fatores culturais, políticos e sociais que impediram sua disseminação”.
A rápida disseminação de informações e a facilidade de acesso a diferentes perspectivas e opiniões permitiram que vozes antes negligenciadas fossem ouvidas. No entanto, a mesma facilidade de acesso e disseminação de informações também levou à amplificação de discursos e comportamentos antidemocráticos, representando uma ameaça significativa aos valores e instituições democráticas.
Além disso, a facilidade de compartilhamento de informações nas redes sociais pode criar um efeito de câmara de eco, onde os usuários são expostos apenas a informações que reforçam suas crenças existentes, tornando difícil ter um diálogo construtivo e promovendo opiniões polarizadas. Como afirmado por Sunstein (2017), "os algoritmos das redes sociais criam bolhas ideológicas que impedem os usuários de serem expostos a pontos de vista divergentes, o que pode levar à radicalização e à amplificação de discursos e comportamentos antidemocráticos".
Nesse contexto, é fundamental compreender o papel das redes sociais na amplificação de discursos e comportamentos antidemocráticos e buscar soluções efetivas para promover a democracia e combater o discurso de ódio nas plataformas digitais. A regulação das redes sociais é uma das estratégias possíveis, como apontado por Tufekci (2017), que defende a necessidade de "estabelecer políticas claras e transparentes para limitar a disseminação de conteúdo extremista e discurso de ódio, ao mesmo tempo em que se preserva a liberdade de expressão".
2 METODOLOGIA
A metodologia abordada o tema baseia-se em uma revisão bibliográfica sistemática. Essa revisão foi conduzida de forma a obter uma visão geral dos estudos existentes sobre o tema, identificando padrões, lacunas e desafios de pesquisa.
O processo de revisão bibliográfica sistemática envolveu uma busca abrangente e estruturada de artigos, livros e outras fontes relevantes, com critérios claros de inclusão e exclusão. Com base nessa revisão bibliográfica sistemática, pode-se desenvolver uma análise crítica dos estudos incluídos, identificando padrões e tendências. Com base nessa análise crítica, pode-se propor recomendações para pesquisas futuras, bem como ações concretas para lidar com o papel das redes sociais na amplificação de discursos e comportamentos antidemocráticos.
3 RESULTADO E DISCUSSÃO
Os resultados da pesquisa indicam que as redes sociais têm um papel significativo na amplificação de discursos e comportamentos antidemocráticos. Através do uso de algoritmos que priorizam a popularidade e o engajamento, as plataformas de mídia social podem promover conteúdo extremista e diversivo, criando uma bolha de informações onde os usuários são expostos apenas a conteúdos que reforçam suas crenças existentes.
Além disso, a anonimidade fornecida pelas redes sociais pode incentivar comportamentos agressivos e ameaçadores, levando à normalização do discurso de ódio e assédio online. Isso pode se traduzir em violência e discriminação no mundo real, causando ainda mais danos às instituições democráticas.
A pesquisa também mostra que as redes sociais podem ser usadas como uma ferramenta para a desinformação e propaganda, com a disseminação de informações falsas e teorias conspiratórias minando a confiança nas instituições democráticas e nos processos eleitorais.
Diante desses resultados, é crucial promover a alfabetização digital e as habilidades de pensamento crítico para combater a amplificação de discursos e comportamentos antidemocráticos nas redes sociais. As empresas de mídia social também precisam assumir mais responsabilidade pelo conteúdo que hospedam e investir em estratégias mais eficazes de moderação de conteúdo. Além disso, é fundamental que governos e sociedade civil trabalhem juntos para combater a normalização do discurso e comportamentos antidemocráticos nas redes sociais e promovam valores democráticos sólidos.
4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
4.1 O uso de algoritmos nas redes sociais e sua contribuição para a amplificação de conteúdos antidemocráticos.
A utilização de algoritmos nas redes sociais é um tema relevante para a compreensão de como os conteúdos são disseminados e amplificados, incluindo aqueles de natureza antidemocrática. Segundo Van Dijck (2013), as redes sociais são estruturas comunicativas nas quais os usuários podem criar, compartilhar e comentar conteúdos de forma descentralizada. Essa descentralização, no entanto, é acompanhada de uma centralização algorítmica, que tem como objetivo selecionar, filtrar e apresentar informações aos usuários.
Nesse sentido, a utilização de algoritmos nas redes sociais pode contribuir para a amplificação de conteúdos antidemocráticos, como afirma Tufekci (2017). Os algoritmos podem favorecer a disseminação de conteúdos extremos e polarizados, que geram maior engajamento e interação por parte dos usuários. Isso pode criar um efeito de bolha, no qual os usuários são expostos apenas a informações que reforçam suas crenças e opiniões prévias, limitando o acesso a perspectivas divergentes e dificultando o diálogo democrático.
Além disso, os algoritmos também podem ser manipulados por grupos interessados em disseminar conteúdos falsos ou enganosos, como observado por Woolley; Howard (2016). Essa manipulação pode ser feita através da criação de perfis falsos, da compra de seguidores e da utilização de técnicas de spam. Dessa forma, os algoritmos podem contribuir para a disseminação de desinformação e propaganda, prejudicando a formação de opinião pública informada e comprometendo a democracia.
Diante desse cenário, é necessário discutir formas de regular e controlar o uso de algoritmos nas redes sociais, de modo a garantir que sua utilização não contribua para a amplificação de conteúdos antidemocráticos. Para isso, é preciso aprimorar a transparência dos algoritmos, tornando públicos os critérios de seleção e apresentação de conteúdo. Também é necessário investir em políticas de educação digital, de forma a capacitar os usuários a identificar e combater a disseminação de conteúdos falsos e extremistas. Por fim, é fundamental promover o engajamento e a participação da sociedade civil na discussão sobre o papel das redes sociais na democracia, visando ampliar a conscientização e a mobilização em torno dessa temática.
4.2 Os efeitos da polarização e do fenômeno das bolhas de filtro no debate político online
A polarização e o fenômeno das bolhas de filtro são dois fenômenos que têm sido amplamente discutidos na literatura sobre a comunicação política na era digital. A polarização é caracterizada pela crescente divisão ideológica entre grupos políticos, enquanto as bolhas de filtro referem-se à tendência dos usuários de redes sociais de se envolverem apenas com informações que confirmam suas crenças preexistentes, criando uma bolha de informações que limita sua exposição a outras perspectivas e opiniões divergentes.
A polarização política tem sido estudada por diversos autores. Para Sunstein (2001), a polarização pode levar a sociedade a perder o senso de coletividade e aumentar a intolerância com opiniões divergentes, criando um ambiente hostil para a democracia. Para Levitsky; Ziblatt (2018), a polarização política extrema é um dos principais fatores que levam ao enfraquecimento das instituições democráticas, tornando a sociedade mais suscetível a regimes autoritários. De acordo com Brader; Tucker (2016), a polarização pode ser influenciada pela identidade social dos indivíduos, que tendem a se alinhar a grupos que compartilham suas crenças políticas.
Já o fenômeno das bolhas de filtro é descrito por Pariser (2011) como uma forma de personalização da informação na internet. Para o autor, os algoritmos utilizados por redes sociais e motores de busca para selecionar e exibir conteúdo podem levar à criação de bolhas de informações que limitam a exposição dos usuários a perspectivas divergentes. Esse fenômeno pode levar à amplificação de visões extremistas e à disseminação de informações falsas.
No contexto da comunicação política, a polarização e as bolhas de filtro têm consequências significativas. De acordo com Barberá; Zeitzoff (2018), a polarização pode levar à amplificação de comportamentos negativos, como ataques pessoais e desinformação. Além disso, a polarização pode levar à redução da confiança nas instituições democráticas, enfraquecendo a legitimidade do sistema político. Já as bolhas de filtro podem limitar a capacidade dos indivíduos de avaliar criticamente informações e opiniões divergentes, criando um ambiente propício à disseminação de desinformação e a formação de opiniões polarizadas.
Uma das principais consequências da polarização e das bolhas de filtro é a dificuldade de diálogo e de construção de consenso em questões políticas. Segundo Sunstein (2017), a polarização pode levar à redução da qualidade do debate político, criando um ambiente em que opiniões divergentes são simplesmente ignoradas ou desacreditadas. Além disso, o autor argumenta que a polarização pode levar à fragmentação da opinião pública, tornando a construção de consenso em torno de políticas públicas mais difícil.
No que diz respeito às bolhas de filtro, a dificuldade de diálogo é resultado da limitação da exposição a perspectivas divergentes. Para Bakshy, Messing; Adamic (2015), a personalização da informação na internet pode levar à redução da diversidade de opiniões, o que pode agravar a polarização e fortalecer as bolhas de filtro. A polarização política é um fenômeno complexo e multifacetado que tem sido estudado por diversos autores, e as redes sociais são um ambiente inspirado para a sua amplificação. As bolhas de filtro, por sua vez, são resultado da personalização dos algoritmos das plataformas, que exibem conteúdos de acordo com os interesses e comportamentos passados do usuário, criando uma visão distorcida da realidade e limitando o acesso a pontos de vista diferentes.
Nesse contexto, a polarização e as bolhas de filtro podem levar a uma série de efeitos negativos, como a dificuldade de diálogo entre grupos ideológicos diferentes, a intensificação do conflito e a diminuição da confiança nas instituições democráticas. Para Sunstein (2017), a polarização pode levar a uma “democracia em chamas”, em que a polarização política torna impossível a busca de soluções conjuntas para os problemas da sociedade, gerada em um impasse político e na paralisia do sistema democrático.
Para combater os efeitos negativos da polarização e das bolhas de filtro, é necessário um esforço conjunto de indivíduos, instituições e empresas de tecnologia. Os indivíduos devem buscar se informar de fontes diversas e estar abertos ao diálogo com pessoas de opiniões diferentes. As instituições democráticas devem buscar incentivar o debate plural e garantir a liberdade de expressão, ao mesmo tempo em que combatem o discurso de ódio e a desinformação. Já que as empresas de tecnologia precisam se comprometer em garantir a transparência e a responsabilidade na exibição de conteúdos em suas plataformas, bem como buscar estratégias para aumentar a diversidade de opiniões e o acesso a pontos de vista diferentes. Por fim, os efeitos da polarização e das bolhas de filtro no debate político online são um fenômeno preocupante e que merece atenção. A personalização da informação na internet pode levar à redução da diversidade de opiniões, e isso pode fortalecer as bolhas de filtro e agravar a polarização política.
No entanto, é possível combater esses efeitos negativos por meio do engajamento dos indivíduos, do fortalecimento das instituições democráticas e da responsabilidade das empresas de tecnologia em garantir a diversidade de opiniões e o acesso a pontos de vista diferentes. Para tanto, o debate plural e a liberdade de expressão são fundamentais para uma democracia saudável e vibrante, e é preciso garantir que esses valores sejam preservados no ambiente online.
4.3 A disseminação de fake news e desinformação como formas de amplificar discursos antidemocráticos
A disseminação de fake news e desinformação como formas de amplificar discursos antidemocráticos é um tema atual e preocupante, especialmente em tempos de polarização política e conflitos ideológicos. A manipulação da informação com o objetivo de enganar ou confundir a população tem se mostrado uma tática eficaz para ampliar discursos autoritários e prejudicar a democracia.
De acordo com Castells (2013), a internet e as redes sociais têm sido utilizadas como ferramentas para disseminação de informações falsas e manipulação de opinião pública. As fake news, segundo o autor, são uma forma de propaganda que se aproveita da facilidade de disseminação de informações na internet e da falta de critérios para avaliar a veracidade das informações. A desinformação pode ser utilizada para desacreditar adversários políticos, distorcer a realidade, criar medo e pânico na população, ou ainda para fortalecer discursos autoritários.
Para Altheide (2018), a disseminação de fake news e a desinformação são parte de uma estratégia maior de amplificação de discursos antidemocráticos e autoritários. Segundo o autor, a propaganda política se baseia em três estratégias principais: à amplificação, a adaptação e a codificação de discursos. A amplificação, em particular, envolve a difusão massiva de informações para ampliar a visibilidade de determinado discurso. Com as redes sociais e a internet, à amplificação se tornou ainda mais fácil e rápida, permitindo a disseminação de fake news e desinformação em larga escala.
Além disso, a desinformação também é utilizada como forma de reforçar o poder de grupos políticos dominantes, como aponta Bucci (2019). O autor destaca que a disseminação de informações falsas é uma forma de manter o controle sobre a sociedade, ao mesmo tempo em que se cria um ambiente de instabilidade e incerteza, que pode favorecer a ascensão de lideranças autoritárias. A desinformação pode ser utilizada para confundir a população e deslegitimar instituições democráticas, como a mídia e a Justiça.
A disseminação de fake news e desinformação também tem sido tema de estudos na área da comunicação e da psicologia social. Segundo Pennycook; Rand (2018), a disseminação de informações falsas está ligada a fatores como baixa capacidade de pensamento crítico e tendência a acreditar em informações que confirmem crenças pré-existentes. A tendência a compartilhar informações sem checar a veracidade também é um fator importante na disseminação de fake news.
Além disso, a disseminação de fake news e desinformação pode ser favorecida por algoritmos de redes sociais que priorizam conteúdos que geram maior engajamento, como apontam Tufekci (2018) e Gillespie (2018). Esses algoritmos tendem a favorecer conteúdos mais polêmicos e emocionais, que geram maior interação e compartilhamento, mesmo que sejam informações falsas ou distorcidas.
No contexto brasileiro, a disseminação de fake news e desinformação tem sido um tema especialmente preocupante, principalmente nas eleições presidenciais de 2018, quando a polarização política atingiu seu ápice. A influência das fake news e da desinformação foi tão grande que muitos estudiosos argumentam que elas tiveram um papel decisivo no resultado das eleições.
De acordo Falcão (2020) destaca a influência das fake news e a desinformação nas eleições brasileiras de 2018. Ele argumenta que a disseminação de notícias falsas e desinformação teve um papel fundamental na construção do discurso político antidemocrático e autoritário que marcou as eleições. O mesmo autor aponta que a disseminação de notícias falsas e desinformação foi utilizada para atacar oponentes políticos, criar uma imagem negativa da imprensa e das instituições democráticas e mobilizar eleitores em torno de uma agenda política autoritária.
No entanto, é importante destacar que a disseminação de fake news e desinformação não é um fenômeno exclusivo do Brasil e que tem sido observada em outros países, como os Estados Unidos, onde as eleições presidenciais de 2016 foram marcadas pela disseminação de notícias falsas e desinformação nas redes sociais (ALLCOTT; GENTZKOW, 2017).
Diante desse cenário, é fundamental que medidas sejam tomadas para combater a disseminação de fake news e desinformação. Diversos autores sugerem que é necessário fortalecer a educação para a mídia e a literacia digital, para que as pessoas possam identificar e avaliar as informações que recebem nas redes sociais (WARDLE; DERAKHSHAN, 2017; MARTIN; STOKER, 2019). Além disso, é preciso desenvolver mecanismos de verificação de fatos (fact-checking) para desmentir notícias falsas e desinformação e criar políticas públicas para responsabilizar aqueles que criam e disseminam notícias falsas e desinformação (BODE; VRAGA, 2018).
Em suma, a disseminação de fake news e desinformação tem se mostrado uma ameaça à democracia em todo o mundo, incluindo o Brasil. Para combatê-la, é necessário desenvolver estratégias efetivas para educar as pessoas sobre o consumo de mídia e as informações que recebem, bem como para desmentir notícias falsas e responsabilizar seus criadores e disseminadores. Além disso, é necessário fortalecer a educação cívica e a conscientização política, para que os cidadãos compreendam a importância de uma imprensa livre e de instituições democráticas fortes. A luta contra a desinformação não é apenas uma questão de tecnologia, mas também de cidadania e educação.
Nesse sentido, a atuação de profissionais da comunicação, como jornalistas e influenciadores digitais, é fundamental na promoção de um jornalismo ético e responsável e na produção de conteúdo de qualidade que possa contrapor as fake news e a desinformação. A participação ativa da sociedade civil também é imprescindível, seja na denúncia de notícias falsas, no diálogo com as autoridades ou na mobilização em prol da defesa da democracia.
Em resumo, a disseminação de fake news e desinformação é uma ameaça real à democracia em todo o mundo e o Brasil não está imune a esse problema. É necessário desenvolver estratégias efetivas que envolvam educação cívica, conscientização política, fortalecimento do jornalismo e da sociedade civil, além da responsabilização dos criadores e disseminadores de notícias falsas. Somente assim poderemos garantir uma sociedade mais informada, consciente e democrática.
4.4 Os desafios enfrentados pelas empresas de redes sociais para moderar o conteúdo e combater o discurso de ódio na plataforma.
As redes sociais são plataformas abertas onde os usuários podem se expressar livremente. No entanto, a liberdade de expressão muitas vezes pode levar ao discurso de ódio, assédio e outras formas de comportamento prejudicial. As empresas de redes sociais enfrentam grandes desafios para moderar o conteúdo e combater o discurso de ódio na plataforma. Nesta seção, serão discutidos alguns dos principais desafios enfrentados pelas empresas de redes sociais para lidar com o discurso de ódio online.
Um dos principais desafios enfrentados pelas empresas de redes sociais é a definição do que constitui discurso de ódio. De acordo com a pesquisa de Benesch (2015), o discurso de ódio pode ser definido como "qualquer comunicação que insulte ou ameace uma pessoa ou grupo com base em sua identidade, que é atribuída a eles com base em sua raça, etnia, religião, orientação sexual, gênero ou outra característica". No entanto, a definição precisa do discurso de ódio pode ser difícil, uma vez que muitas vezes é subjetiva e depende do contexto. Além disso, nem todas as formas de discurso prejudicial são consideradas discurso de ódio pela lei.
Outro desafio enfrentado pelas empresas de redes sociais é a identificação de conteúdo prejudicial na plataforma. As empresas de redes sociais geralmente usam algoritmos de inteligência artificial para detectar e remover conteúdo prejudicial. No entanto, esses algoritmos não são perfeitos e podem identificar incorretamente conteúdo inocente como prejudicial, bem como não identificar todo o conteúdo prejudicial na plataforma. De acordo com a pesquisa de Gillespie (2018), as empresas de redes sociais muitas vezes têm dificuldade em identificar e remover o discurso de ódio, devido à sua complexidade e sutileza.
Além disso, as empresas de redes sociais enfrentam desafios em relação à liberdade de expressão e censura. As empresas de redes sociais têm o direito de decidir o que é permitido em suas plataformas e podem remover conteúdo que considerem prejudicial ou contrário às suas políticas. No entanto, essas decisões muitas vezes são difíceis e controversas, especialmente quando se trata de discurso político ou de opiniões impopulares. Como argumenta a pesquisadora Tarleton Gillespie (2018), as empresas de redes sociais devem equilibrar a proteção da liberdade de expressão com a proteção dos usuários de discurso prejudicial.
Por fim, as empresas de redes sociais enfrentam desafios em relação à consistência na moderação de conteúdo. Como argumenta a pesquisadora York (2018), as políticas de moderação de conteúdo das empresas de redes sociais muitas vezes são opacas e inconsistente, o que pode levar a censura injusta ou permissividade excessiva do discurso prejudicial. As empresas de redes sociais devem trabalhar para desenvolver políticas claras e consistentes de moderação de conteúdo que sejam justas e eficazes na remoção do discurso de ódio e outras formas de comportamento prejudicial.
Entretanto, as empresas de redes sociais enfrentam grandes desafios para moderar o conteúdo e combater o discurso de ódio em suas plataformas. A necessidade de equilibrar a liberdade de expressão com a promoção de um ambiente seguro e saudável na internet é uma tarefa complexa e desafiadora. Além disso, o fenômeno das bolhas de filtro e da polarização política também contribuem para a amplificação do discurso de ódio e outros comportamentos antidemocráticos nas redes sociais.
Para enfrentar esses desafios, é preciso uma abordagem multidisciplinar, que envolva não apenas as empresas de redes sociais, mas também os governos, a sociedade civil e a academia. É necessário um debate público e transparente sobre como lidar com essas questões e aprimorar as políticas de moderação de conteúdo e proteção dos usuários.
Como afirmam Tufekci; Wilson (2018), é preciso que as empresas de redes sociais reconheçam a complexidade desses desafios e invistam em soluções mais sofisticadas para o problema da moderação de conteúdo, como a utilização de inteligência artificial e a ampliação da equipe de moderadores. Além disso, é importante promover a transparência e a prestação de contas das empresas em relação às políticas de moderação de conteúdo, bem como aumentar a colaboração entre as plataformas de redes sociais e as autoridades governamentais.
Por fim, é necessário promover a educação digital e a conscientização dos usuários sobre os efeitos do discurso de ódio e outros comportamentos antidemocráticos nas redes sociais. É preciso estimular a formação de uma comunidade online mais saudável, em que a diversidade de opiniões seja valorizada e o respeito ao outro seja a norma.
4.5 As estratégias que governos e sociedade civil podem adotar para promover a democracia e combater a amplificação de discursos e comportamentos antidemocráticos nas redes sociais.
A disseminação de discursos e comportamentos antidemocráticos nas redes sociais é uma ameaça crescente à democracia e aos direitos humanos. A amplificação de conteúdos extremistas e a proliferação de informações falsas e enganosas podem ter um impacto negativo na opinião pública, reforçando estereótipos, preconceitos e discriminação.
Diante desse cenário, governos e sociedade civil têm um papel fundamental na promoção da democracia e no combate aos discursos e comportamentos antidemocráticos nas redes sociais. Nesta seção, serão apresentadas algumas estratégias que podem ser adotadas nesse sentido, com base na literatura especializada.
Uma primeira estratégia é a promoção da educação digital e midiática. Segundo a pesquisadora Livingstone (2017), a alfabetização midiática e digital é fundamental para que as pessoas possam compreender a natureza das informações que recebem nas redes sociais e avaliar criticamente a veracidade e a credibilidade dessas informações. A educação digital e midiática pode incluir desde o ensino de habilidades básicas, como a busca de informações na internet e a proteção de dados pessoais, até o desenvolvimento de habilidades mais avançadas, como a análise crítica de discursos e a identificação de notícias falsas e desinformação.
Essa estratégia pode ser implementada por meio de políticas públicas de educação, campanhas de conscientização e treinamentos para professores, jornalistas e outros profissionais da comunicação. Outra estratégia importante é o fortalecimento da regulação das redes sociais. Segundo a pesquisadora Gillespie (2018), as empresas de redes sociais têm um poder significativo sobre o que é visto e discutido na plataforma, e precisam ser responsabilizadas por suas ações e omissões. Uma forma de fortalecer a regulação das redes sociais é por meio da criação de leis e normas que estabeleçam padrões claros para a moderação do conteúdo e a proteção dos direitos humanos, como a liberdade de expressão e a privacidade.
Além disso, é importante que haja transparência na atuação das empresas de redes sociais, permitindo que usuários e órgãos reguladores tenham acesso a informações relevantes sobre o funcionamento da plataforma. Outro ponto importante é o envolvimento da sociedade civil na promoção da democracia nas redes sociais. Segundo a pesquisadora Tufekci (2017), a mobilização social pode ser uma ferramenta eficaz para combater a desinformação e os discursos antidemocráticos nas redes sociais.
Nessa seara, as organizações da sociedade civil podem de fato desenvolver campanhas de conscientização, monitorar a atuação das empresas de redes sociais e denunciar casos de violação dos direitos humanos. Além disso, é importante que a sociedade civil tenha voz ativa na elaboração de políticas públicas relacionadas às redes sociais, garantindo que as necessidades e perspectivas da população sejam consideradas.
Por fim, uma estratégia complementar é o investimento em tecnologias que possam auxiliar na identificação e moderação de conteúdos problemáticos nas redes sociais. Segundo o pesquisador Howard (2019), o uso de tecnologias como a inteligência artificial e a análise de rede podem ser úteis para identificar discursos e comportamentos antidemocráticos, bem como identificar contas automatizadas ou coordenadas que buscam disseminar desinformação e propaganda política.
No entanto, é importante ressaltar que essas tecnologias também apresentam limitações e podem apresentar vieses e falhas, exigindo uma abordagem cuidadosa e crítica.
Além das estratégias mencionadas, é importante destacar a necessidade de um trabalho conjunto entre governos, sociedade civil e empresas de redes sociais para promover a democracia e combater a amplificação de discursos e comportamentos antidemocráticos nas redes sociais. Como mencionado anteriormente, as empresas de redes sociais têm um papel importante a desempenhar na moderação de conteúdo, mas também é essencial que governos e sociedade civil exerçam pressão e monitoramento sobre essas empresas para garantir que elas cumpram suas responsabilidades sociais.
Nesse sentido, a participação cidadã e a educação política também são fundamentais para a promoção da democracia e a luta contra a desinformação e o discurso de ódio nas redes sociais. Segundo o pesquisador Benkler (2018), a mobilização de cidadãos para o engajamento político online pode ajudar a combater a desinformação e à amplificação de discursos antidemocráticos, assim como promover uma maior diversidade de vozes e perspectivas no debate público.
Por fim, é importante destacar que a promoção da democracia nas redes sociais não é uma tarefa fácil e que exige esforços contínuos e colaborativos por parte de governos, empresas de redes sociais, sociedade civil e cidadãos. É necessário um trabalho conjunto e coordenado para garantir que as redes sociais possam ser um espaço de diálogo, diversidade e democracia, e não um espaço para a disseminação de discursos antidemocráticos e divisões sociais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As redes sociais têm um papel importante na disseminação de informações e opiniões, mas também podem ser utilizadas para amplificar discursos e comportamentos antidemocráticos. O fenômeno da polarização política e a disseminação de notícias falsas são alguns dos problemas que surgiram com a popularização das redes sociais.
Os autores discutidos neste trabalho apontam diversas estratégias que governos e sociedade civil podem adotar para combater a amplificação de discursos e comportamentos antidemocráticos nas redes sociais. A regulação das plataformas e a responsabilização de seus usuários por disseminação de desinformação e discurso de ódio são algumas das estratégias apontadas por Chakravartty et al. (2019).
Já Papacharissi (2020) destaca a importância da educação digital para que os usuários possam identificar e lidar com as informações que recebem nas redes sociais. Essa educação envolve a compreensão do funcionamento dos algoritmos das plataformas, a verificação da veracidade das informações e a análise crítica das fontes.
Por sua vez, a pesquisa de Caplan; boyd (2018) sugere que é importante promover a diversidade de vozes nas redes sociais para evitar a polarização política e à amplificação de discursos antidemocráticos. Isso significa garantir o acesso a informações diversas e não permitir que as plataformas sejam dominadas por grupos com visões extremistas.
Além disso, a responsabilidade também cabe aos próprios usuários das redes sociais, que devem ser críticos em relação ao conteúdo que consomem e compartilham. Como apontado por Tufekci (2017), a viralização de informações falsas e discursos de ódio muitas vezes se deve à ação de usuários que não verificam a veracidade das informações e compartilham indiscriminadamente.
Em conclusão, é preciso uma ação coletiva para combater a amplificação de discursos e comportamentos antidemocráticos nas redes sociais. Governos, sociedade civil e usuários devem trabalhar juntos para promover a educação digital, garantir a diversidade de vozes nas plataformas, responsabilizar os usuários por disseminação de desinformação e discurso de ódio, e serem críticos em relação ao conteúdo que consomem e compartilham. A democracia depende de uma esfera pública saudável e é papel de todos zelar por ela, inclusive no ambiente virtual das redes sociais.
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