Um sonho - ser criminalista

29/01/2024 às 13:24
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Um dia sonhei em vestir uma beca preta e entrar no Plenário do Tribunal do Júri. Sonhei em fazer alegações orais, réplica e tréplica. No início era tudo um sonho, embasado em filmes, novelas e séries. Um roteiro preordenado.

O tempo foi passando e a vontade aumentando. Nesse capítulo, cursava Pedagogia, mas meu coração pulsava pela área jurídica. Não foi à toa que me tornei Pedagoga defendendo a inserção do Pedagogo no Tribunal do Júri, um trabalho que rendeu a nota dez e muitas citações, me fazendo ver qual era meu caminho. O sonho tornava a crescer, mais seria possível? 

Não custaria tentar, prestei vestibular para Direito e fui aprovada. Ali nascia a apaixonada pelas alíneas, incisos, parágrafos e artigos. A apaixonada pela construção do Direito. Pela magia das leis, das jurisprudências. A apaixonada pelo Direito Penal, pelos casos midiáticos e emblemáticos.

Cinco anos se passaram e a agora, bacharela em direito, se tornava a Criminalista e a processualista que no dia a dia é a bela, a moleca, a sonhadora, a determinada, a focada. Mas quando se trata de crimes dolosos, vira a fera, de opinião firme e embasada, a apaixonada que busca conhecimento, que estuda, que se foca.

A paixão move meu caminho e sou completamente apaixonada pelo Direito. Direito do depende, do estudo árduo, das rimas e do refrão. Direito da Constituição, do Código Penal, do Código de Processo Penal, das leis extravagantes. Direito dos sonhos, dos roteiros enigmáticos.

 Sempre sonhei ser, Criminalista. A minha história já trouxe o Direito em meu DNA, em minhas veias corre o Direito Penal.

Direito Penal, da queixa crime, da Resposta à Acusação, dos memorias. Direito Penal da justiça.

Por entre preâmbulos, o destino se incumbiu de me levar a esse caminho, difícil, porém prazeroso. Um ramo do direito, apaixonante, mas que exige foco, entrega, determinação. Um ramo lastreado em sustentação oral, audiência de instrução, interrogatório, diligências, acompanhamento de deflagração de uma operação, mandado de prisão, mandado de busca e apreensão, impetração de habeas corpus, relaxamento de prisão, audiência de custódia… Aff.... Parece uma maratona. Mas é a vida real, que toma forma em eletrizantes passadas.

E nos tornamos atletas de elite em busca de acompanhar, defender, desvendar fatos obscuros, achar meios para pleitear a defesa. Defesa está embasada em preliminares e mérito. Essa é nossa função, não defender o erro, o crime, mas sim defender a justiça. E é essa sede que me deixa inquieta em busca da justiça dos injustiçados.

Meu sonho é de que as regras do jogo sejam respeitadas, indúbio pro reo ou indúbio pró societate. É uma luta diária para que as leis sejam respeitadas e não burladas a todo momento. A Constituição Federal e as leis penais e processuais penais do país devem ser respeitadas pelo poder judiciário.

O Direito Penal tem que ser movido a paixão, pois nessa seara não existe rotina.  O dia ou a noite de um criminalista é completamente imprevisível, basta uma ligação de um cliente em potencial ou uma operação policial que investiga e prende algumas pessoas, um novo caso e a agenda se desorganiza repentinamente e nela que se tem que encontrar buracos de tempo para se reorganizar rapidamente, e fatalmente alguns compromissos urgentes ficam ameaçados.

E se você parar para pensar, isso é o que nos torna diferentes, essa dinâmica, essa absurda imprevisibilidade do que pode acontecer de novo, além do que já está agendado é o que nos motiva a sermos cada vez mais compenetrados, focados e por consequência nos tornarmos melhores profissionais.

Assim, não há muitas horas para pensar e relaxar, a energia tem que estar em alta novamente, o próximo compromisso ou caso é totalmente particular, é tudo novo de novo. Por mais incrível e desgastante que possa parecer quem experimenta essa adrenalina e entende o que é ser criminalista, por amor, por vocação, não pensará em trocar de área, pois acima de tudo somos personalíssimos.

Uma coisa eu aprendi e sempre levo ao pé da letra…o tempo de Deus é diferente do tempo dos homens. Como é! Não existe nada melhor nessa vida do que o sorriso daqueles que nos procuram despidos de fé e com lágrimas nos olhos, enrolado no emaranhado de culpa, de ameaça, de desespero. Acreditam sermos heróis de história em quadrinho, acreditam no que somos, no que podemos escrever de diferente em sua história. Só quem convive com isso é capaz de entender a paixão pela área criminal. Esse roteiro, sempre novo de levar e encarar a vida.  Por isso que amo tanto essa profissão indispensável na vida do ser humano que é o DIREITO PENAL!

Sobre a autora
Sandra Mara Dobjenski

Advogada, pesquisadora Direito Penal e Processual penal e a relação com a mídia nos casos de grande repercussão. Especialista em Direito Penal, Criminologia, Processo Penal e Direito Penal Econômico - UNINTER.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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