INTRODUÇÃO
Brasão Bandeira
Camutanga, lema; Et Profectus Libero (Liberdade e Progresso).
Este pequeno Artigo é dedicado à todos e todas que fizeram e fazem parte da história de 60 anos de emancipação de nossa Cidade. Que Deus abençoe.
O presente trabalho não tem maiores pretensões ou ambições, é apenas um apanhado de memorias que tenho sobre as eleições municipais desde 1992 em Camutanga-PE, quando tinha apenas cinco anos de idade.
Não se trata de um trabalho cientifico ou histórico, e nem tem a pretensão de ser isso, como dito, é apenas um conjunto de fatos e memorias numa perspectiva local.
Algumas eleições, como a de 1992, tenho parcas lembranças, que mais parecem flashes, um emaranhado de informações soltas, mas o que não quer dizer que não sejam importantes e que não tenham marcado minha vida.
Faço aqui, uma espécie de quebra cabeças entre as memorias que tenho e o que ouvi falar posteriormente tanto por parte de minha família, que desde sempre esteve ativamente ligada à politica local , como por parte de populares.
Já a partir de 2000, as lembranças são bem mais claras , e delas participei de forma muito forte como pequeno militante e em 2004 já como eleitor.
Cada região, cada cidade tem características próprias, o que não seria diferente nesta região agrícola de nosso país, que também tem forte influência da cana de açúcar.
Não caberá aqui estender para outras eleições, das quais não tenho a mais remota lembrança, me prendendo apenas as eleições que efetivamente tenho alguma lembrança, por mais remotas que sejam.
Falarei de atores políticos, candidatos, causos, brigas, o caráter econômico, o uso da máquina pública como ferramenta de manutenção do poder. O perfil popular, ou não, dos candidatos. Suas armas e estratégias, tudo isso de maneira clara e objetiva, com uma linguagem mais simples possível.
Mesmo não sendo o cerne do trabalho, tentarei fazer um apanhado sobre a situação social em capitulo próprio, suas características econômicas, o poder da monocultura e suas consequência para a região.
Breve Contexto Histórico
Camutanga é um município brasileiro do estado de Pernambuco. O município é formado apenas pelo distrito sede, engenho São Francisco, engenho Santo Antônio, engenho Paraíso e pelo povoado da Usina Central Olho d’Água.
O nome do município é de origem indígena e significa uma espécie de Vespa, maribondo ou Papagaio de várias cores. Seus primeiros habitantes também chamavam a região de Caanga que quer dizer casa de marimbondos.
Em 1911 a povoação de Ferreiros era sede do distrito de Ferreiros e pertencia ao município de Itambé. Posteriormente a sede do distrito foi transferido para Camutanga. Em 1933 o distrito passa a chamar-se Camutanga. Em 1963, o distrito de Camutanga, passou a constituir município autônomo, com a sua sede elevada à categoria de cidade, de acordo com a Lei Estadual nº 4.940, de 20 de dezembro. A instalação do município ocorreu em 8 de março de 1964.
Localiza-se a uma latitude 07º24’25‖ sul e a uma longitude 35º16’28‖ oeste, estando a uma altitude de 98 metros. Sua população estimada em 2010 era de 8.147 habitantes. Possui uma área de 38,869 km2.
O povo camutanguense é bastante religioso, tendo como orientação principal a religião cristã, dividida entre a Igreja Católica, (que agrega o maior número de fiéis), seguido da Assembleia de Deus, Igreja Batista, Igreja Presbiteriana, Congregação Cristã do Brasil, Adventista do Sétimo Dia, Universal do Reino de Deus, entre outras menos expressivas em número de adeptos. Também existem seguidores do Espiritismo cardecista e do Candomblé, cuja referência nesse seguimento é o senhor Manoel Ferreira, do Alto Santa Teresinha. (http://camutanga.pe.gov.br/site/?page_id=36)
Capitulo 1 . Considerações sobre Política.
Política, do grego πολιτικός / politikos, é um ato pelo qual o cidadão das polis (cidades),participavam das questões Públicas na Grécia antiga.
É um ato louvável, honroso e importante. Participar da vida pública, dos interesses coletivos, das decisões que afetam diretamente a vida de cada indivíduo.
Aliás, o próprio termo candidato tem sua raiz etimológica no termo “cândido”, puro, incorruptível, pessoas que teriam seu perfil ético e moral acima de qualquer suspeita.
Segundo a filosofa Marilena Chauí a origem da política vem de:
Quando se afirma que os gregos e romanos inventaram a política, o que se diz é que desfizeram aquelas características da autoridade e do poder. Embora, no começo, gregos e romanos tivessem conhecido a organização econômico social de tipo despótico ou patriarcal, um conjunto de medidas foram tomadas pelos primeiros dirigentes – os legisladores – de modo a impedir a concentração dos poderes e da autoridade nas mãos de um rei, senhor da terra, da justiça e das armas, representante da divindade. (CHAUÍ, 2000)
Logo, segundo a autora, política é um meio pelo qual cidadãos livres, se reúnem através de pactos, de discussões acerca de assuntos públicos para melhoria do bem comum e de certa forma diminuição ―limitação‖ do poder do soberano.
Já em sua Obra Política uma brevíssima introdução, o cientista político Kenneth Minogue assim destaca:
Em nosso tempo, observou Thomas Mann, ―o destino do homem encontra seu significado em termos políticos‖. Isso sem dúvida é verdade para um monte de chatos nas universidades que acham não ser possível desfrutar de um poema ou conduzir um caso amoroso sem, ao mesmo tempo, fazer uma declaração política. (Minogue, 2008)
Ainda na mesma obra o autor preceitua que:
A política, entre os gregos antigos, era uma nova maneira de pensar, sentir e, acima de tudo, se relacionar com os outros. Os cidadãos tinham riqueza, beleza e inteligência diversas, mas como cidadãos eram iguais. Isso porque os cidadãos eram racionais e a única relação adequada entre seres racionais é a da persuasão. (Minogue, 2008)
Na mesma obra o citado autor preceitua que:
Sendo em grande parte conversa, a política deve dramatizar-se. Um rei é, em certo sentido, apenas um ser humano entre outros. A ordem civil numa monarquia requer que dramatizemos o que é ser rei—e essa é a razão das coroas, tronos, cedros, guardas de honra, insígnias reais e outros símbolos, alguns dos quais usados por presidentes e primeiros-ministros em nossos tempos igualitários. Muito da expressão política é metafórico. (Minogue, 2008)
Politica é arte, é ajuste de interesses entre diversos atores individuais em busca de um consenso coletivo, é nela em que atores, cidadãos fazem conceções em prol do todo.
Já segundo entendimento do mestre Konde Comparato em sua obra Ética, fazendo releitura da obra de Maquiavel, o citado autor pondera que:
No capitulo XVIII ele volta ao assunto que ocupa um lugar central em sua concepção de ação política. “Nas ações dos homens, e máxime dos príncipes, contra as quais não se pode recorrer a nenhum tribunal, o que importa são as finalidades. Procure, pois, o príncipe vencer e manter o Estado; os meios serão sempre julgados honrosos e por todos louvados; porque o vulgo só se prende às aparências e não à realidade; que não há no mundo senão o vulgo; a minoria é sempre vencida, quando não tem no que se apoiar. (Comparato, 2006)
A política é, em parcas palavras, um meio de se atingir interesses comuns, ou seja, da comunidade, embora, a politicagem seja a marca mais presente em uma sociedade que sofre com os ranços históricos e sociais, ficando presos a cabrestos, muitas vezes da própria Máquina Pública, através de distribuição de cargos e outras benesses que visam tão somente a perpetuação de determinado grupo nos membros do poder público.
1.1 Emancipação Local, Camutanga como Cidade.
Camutanga era distrito de Itambé, até 1964, ano em que conquistou sua emancipação política através da lei Estadual n° 4.940.
Insta observar que neste mesmo ano, mais precisamente no dia 1ª de Abril, o Brasil sofreria o golpe civil militar que duraria até 1985.
Mas o nosso foco neste pequeno estudo não será nem a Ditadura, nem a formação do Município, o foco aqui, como dito na parte preambular será fazer um apanhado das memorias que tive das eleições locais. Logo, muitos fatos históricos ficarão de fora.
1.2 Aspectos Sociais e Econômicos.
Camutanga é uma cidade pobre, com atividade principal em torno da monocultura da Cana de açúcar, não só em Camutanga, mas em toda região da Mata o que mais vemos são enormes áreas de terra cobertas por canaviais, os chamados ―desertos verdes‖, assim conhecidos por não ter muitas indústrias e por ter outras atividades agrícolas em menor quantidade.
O município conta com um comercio que ainda tem pouca força, sendo em sua grande maioria tomada por pequenas lojas, mercadinhos, padarias, e micro ou pequenas empresas.
1.3. Principais nomes políticos da cidade.
Camutanga, como a maioria das cidades do interior, tem como cerne das disputas eleitorais, praticamente os mesmos grupos. Grupos que vão se revezando no poder. Logo, desde sua elevação a categoria de Cidade, poucos nomes se destacaram nos pleitos.
Alguns nomes são mais proeminentes que outros, é importante observar, que durante o período de Ditadura Militar apenas dois partidos podiam participar, a ARENA que era o partido da situação, ou seja, a favor da Ditadura, e o MDB, que fazia uma oposição tímida ao regime. Os demais partidos viviam na clandestinidade.
Desde 1964 tivemos como prefeitos:
Júlio Porfirio, Edjar Cabral, José Rogerio, Lucio Correia, Seu Pereira, Luiz Gonzaga da Paz, *Antônio Bezerra, Armando Pimentel, José Trigueiro.
Embora não tenha sido prefeito, é importante citar como uma importante figura política de nossa cidade Pedro de Albuquerque Uchôa, um dos principais líderes de nossa cidade antes mesmo de ser elevada a categoria de cidade.
Camutanga tem o seu coronelismo, mas nas de acordo com a concepção tradicional dessa figura ou dessa prática.
Outras vezes, o chefe municipal, depois de haver construído, herdado ou consolidado a liderança, já se tornou um absenteísta. Só volta ao feudo político de tempos em tempos, para descansar, visitar pessoas da família ou, mais frequentemente, para fins partidários. (LEAL, 2012)
Pelo pouco número de Prefeitos, eleitos e reeleitos, fica claro a polarização política na cidade, com poucas mudanças na ordem, o que ficará muito mais claro nos capítulos subsequentes, mas Camutanga não teve necessariamente coronéis, proprietários de terras mandando na política local, embora gozassem de alguma influência.
Qualquer que seja, entretanto, o chefe municipal, o elemento primário desse tipo de liderança é o ―coronel‖, que comanda discricionariamente um lote considerável de votos de cabresto. A força eleitoral empresta-lhe prestígio político, natural coroamento de sua privilegiada situação econômica e social de dono de terras. Dentro da esfera própria de influência, o
―coronel‖ como que resume em sua pessoa, sem substituí-las, importantes instituições sociais. Exerce, por exemplo, uma ampla jurisdição sobre seus dependentes, compondo rixas e desavenças e proferindo, às vezes, verdadeiros arbitramentos, que os interessados respeitam. Também se enfeixam em suas mãos, com ou sem caráter oficial, extensas funções
policiais, de que frequentemente se desincumbe com a sua pura ascendência social, mas que eventualmente pode tornar efetivas com o auxílio de empregados, agregados ou capangas. (Leal, 2012)
O coronelismo em Camutanga nunca fora centrado na figura propriamente dita de um coronel , ou coroné, como popularmente conhecido, mas de pessoas de algum prestígio junto aos mais bem situados ou às massas.
Capitulo 2. As eleições de 1992, Bezerra x Correia.
Antes de iniciar, um pequeno resumo sobre meu tio Lúcio:
Meu tio, assim como minha mãe, é natural de Sapé no Estado da Paraíba. Filho de agricultores, saiu ainda cedo de casa para trabalhar, e depois de trabalhar em pedreiras, acabou parando em Camutanga e casando com Maria da Glória (Glorinha).
Foi prefeito por duas vezes, elegeu dois sucessores e foi vice um mandato. Além de ter sido vereador.
A história de política de meu tio é daquelas improváveis, como pessoa simples, foi prefeito tendo que lutar contra famílias tradicionais de Camutanga, e contra o poder da Usina.
Sobre as minhas lembranças dele, as que tenho ele já na era mais prefeito, mas nem por isso deixava de ser um político de destaque e sabedoria. Lembro do terraço em L de sua casa no centro da cidade, as portas da casa quase sempre abertas, pessoas circulando, entre estes muitos senhores de idade, que nutriam por ele uma admiração. Pessoas entusiasmadas, ou seja, a casa nunca estava vazia. Em períodos de eleição a coisa de intensificava, tio, um homem alto e moreno, de voz grave, chamando os amigos de companheiros e muita habilidade nessa arte do possível chamada política .
Sobre as eleições de 1992.
Lembro de forma muito clara as músicas entoadas pelos curandeiros da cidade. Claro, na época não tinha muita noção de tudo aquilo, para mim era tudo festa. Carros de som com pouca equipagem, locutores ensandecidos, cornetas em cima de carros, tudo muito simples, artesanal , mas com uma vibração enorme, as pessoas compravam a briga de fato, e quanto menor a cidade, mais acirrada a disputa.
Também parecia meio brega, e é de fato, as eleições municipais tem pouco de profissional e muito de amador, a organização na maioria das vezes fica a cargo dos correligionários.
Bandeiras feitas à mão, camisas com cheiro forte de tinta para tecido, feitas em telas. Recordo-me que naquela época 1990, para ser mais especifico, minha mãe tinha ficado no lado antagônico ao do meu tio Lucio Correia nas eleições para Governador e Deputado, em apoio ao grupo de Luiz Gonzaga, que anos antes tinha rompido com meu tio, que tinha sido seu antecessor.
Também lembro que existia certa amizade entre meus pais e o candidato em 1992 da situação, Antônio Bezerra, que tinha sido no passado aliado político do meu tio Lucio.
Mas em 1992, minha mãe e meu pai acabaram ficando do lado do meu tio, contra o candidato da situação Antônio Bezerra, o Antônio de Ciço. Figura única de nossa política. O mesmo tinha um problema de gagueira, de discursos muito acalorados, com um “ri-ri-ri” nas falas, mas que apesar do jeito marrento, às vezes até intransigente, era querido pelo povo, principalmente pelas camadas mais simples da cidade que o tratavam com enorme respeito e admiração.
O perfil do Antônio de ciço era controverso, mesclava um homem carismático e querido pelo povo com um jeito rude, podendo ser confundido às vezes como autoritário.
Eu na minha mais absoluta ingenuidade, tinha certo medo da figura do mesmo, coisa de criança que ouve adulto falar e não entende nada. Mas depois compreendi que o mesmo era apenas um ator político, e como tal tinha suas contradições, virtudes e defeitos, e que faz parte na história de nossa cidade. O mesmo é conhecido até hoje como alguém que falava a linguagem do povo, que amava brincadeiras, que não tinha medo de ser julgado pelo seu jeito.
Retornando ao tema da musicalidade, as eleições tinham um tempero especial no passado, cirandas antes das enormes passeatas, e nas passeatas o som marcante do frevo, orquestras de frevo que faziam a festa dos eleitores em direção ao local do comício. Era a pernambucanidade nas ruas. Parecia carnaval fora de época.
Nos comícios o gosto do amendoim torrado, o cheiro das laranjas e um som distante dos discursos dos candidatos, não existiam muitos recursos como hoje, era tudo feito na marra mesmo, na base do improviso, politica em estado puro, artesanal. É importante lembrar que não fazia muito tempo que o país tinha se redemocratizado, muita coisa ainda estava em transição, e também não se gozava de aparatos tecnológicos como hoje, os atores políticos tinham muito mais de verdade e menos marketing pra conquistar o povo, a conquista do voto se dava no porta a porta, no contato físico entre as pessoas.
Não me recordo dos discursos dos candidatos da Situação, mas lembro das vibrações dos meus pais e dos meus irmãos nos comícios de Lucio e Zé Rogerio, que no passado tinham sido rivais políticos MBD e ARENA respectivamente, agora compunham a chapa Prefeito e Vice.
Lembro dos cirandeiros Caetano e Joquinha, lembro também de algumas tiradas musicais dos mesmos, que eram entoadas tanto na concentração para saída das passeatas, como nos comícios.
“Que Prefeitura Bonita, cheia de porta e janela, quem fez ela foi seu Lucio, vamos leva- lo de volta pra ela”
“Lucio Correia você vale ouro, Maria da Glória, você vale prata(...)”
Quem precisa de jingle políticos quando se tem a coisa mais importante que é a criatividade do povo? Marqueteiros naquela época não teriam espaço.
As eleições, pós redemocratização, tinham muita coisa de amadora, e o próprio povo fazia sua publicidade, como dava e com os recursos que tinham nas mãos, chapinhas ou colinhas, papel picado, bandeirões na cor do partido, chaveiros, camisas, bonés.
Mas lembro perfeitamente que a eleição naquele ano foi toda assim, polarizada. Existia um certo favoritismo por parte do meu Tio Lucio Correia, mas em Camutanga não cabem prognósticos antecipados , e apostar antes de abertas as urnas nunca é um bom negócio,
Lembro de uma caminhonete D20 Chevrolet do meu tio, de um carro de som, não sei a marca, mas de cor vermelha, que rodava pra frente e pra trás, os cabos eleitorais quase todos muito simples, o cheiro de batida de laranja, bebida popular feira com pitu e com laranja ou limão.
As brigas eram frequentes, os cabo eleitorais mais acalorados tomavam partido de forma literal e muitas vezes acabavam indo para as vias de fato. Alguns senhores de mais idade, que apoiavam meu tio Lúcio eram chamados de “xiitas”.
Marca muito os comícios na zona Rural, embora, daquele ano tenha poucas lembranças. As eleições correram dentro da normalidade, e é bom lembrar que não existiam as urnas eletrônicas como existem hoje. Tudo era feito de forma quase artesanal. Lembro das chapas, das colinhas, tanto para prefeito, como para vereadores. Era engraçado, e podia levantar sim suspeitas de fraudes, embora nunca tenham sido provadas.
Quem corria por fora, naquele pleito, era Severino Barbosa (Pelado), mas tenho poucas lembranças sobre a sua campanha, como disse, as eleições tendem a polarizar, geralmente em torno de duas candidaturas.
É bom lembrar, que no mesmo ano, o Brasil tinha passado por uma ruptura institucional, Fernando Collor de Mello, o ―caçador de marajás‖, tinha renunciado ao mandato de Presidente do País, depois da abertura do processo de impeachment, depois de acusações de corrupção e forte pressão popular.
2.1 O dia da Eleição
Foram as primeiras eleições no Brasil com a possibilidade de segundo turno. O primeiro aconteceu no dia 03 de Outubro de 1992, um dia depois de meu aniversário de seis anos. Lembro pouco do dia, mas a atmosfera contagiava a todos, inclusive crianças como eu.
Lembro que a apuração era feita de forma manual. Encerradas as eleições, as urnas eram lacradas e levadas até o Município de Itambé, onde fica a Vara Eleitoral, e a contagem dos votos era feita num ginásio daquela cidade.
O clima era extremamente tenso, lembro que depois de aberta as urnas e iniciada a apuração, as atualizações eram dadas pelo rádio.
Estávamos na casa do meu Tio Lucio, Candidato da Oposição pelo PMDB, lembro do azulejo de uma das paredes, um balanço no terraço, um entra e saí de pessoas muito grande.
Houve uma queda de energia, pelo que lembro, antes disso meu Tio estava na frente na contagem dos votos, e depois de retomada a apuração o Candidato da Situação Antônio Bezerra (PDT) tomou a dianteira.
No final, o Candidato da Situação Antônio Bezerra (PDT) se sagrou vitorioso, por uma diferença ínfima de 23 votos.
Na casa do meu tio, um chororô tomou conta, era como se alguém tivesse morrido mesmo, sem exageros, não entendia muita coisa, só que nosso ―time‖ tinha perdido.
Começava no ano seguinte o mandato no Prefeito Antônio Bezerra da Silva, que viria a falecer numa sexta chuvosa num acidente trágico no início de 1999.
Eleições 1992 - 1º turno - Candidatos a Prefeito em CAMUTANGA
Nº |
Candidato |
Partido |
Situação |
12 |
ANTONIO BEZERRA DA SILVA |
PDT |
Eleito |
15 |
LUCIO CORREIA DA SILVA |
PMDB |
Não eleito |
25 |
SEVERINO BARBOSA
DE ANDRADE |
PFL |
Não
eleito |
Eleições 1992 - 1º turno -
Candidatos a Vereador em CAMUTANGA
Nº |
Candidato |
Partido |
Situação |
15602 |
ANTONIO JOSE BELO |
PMDB |
Eleito |
15605 |
ANTONIO NOGUEIRA BORGES |
PMDB |
Eleito |
12612 |
ERACLIDES PEREIRA DA SILVA |
PDT |
Eleito |
25618 |
JOSE BARBOSA DE PONTES |
PFL |
Eleito |
12610 |
JOSE TRIGUEIRO DA SILVA |
PDT |
Eleito |
15611 |
LENILDO PEREIRA CORREIA DA SILVA |
PMDB |
Eleito |
12611 |
MANOEL PORFIRIO DE QUEIROZ |
PDT |
Eleito |
12620 |
SEVERINO LOPES DO NASCIMENTO |
PDT |
Eleito |
25617 |
SILVANESIO BARBOSA DE ANDRADE |
PFL |
Eleito |
Capitulo 3. 1996 As Eleições das reviravoltas.
O ano de 1996 ficara marcado para mim como o ano em que os Mamonas Assassinas morreram. Lembro também de ter sido um ano marcado por outras tragédias. Explosão em shopping, avião da TAM caindo em casas nos arredores do aeroporto de Congonhas etc.
As eleições de 1996 eram uma espécie de continuação das eleições de 1992, com duas pessoas muito fortes, primeiro o candidato de oposição Lucio Correia, que já tinha sido prefeito duas vezes, e que já tinha elegido dois candidatos, ou seja, era a principal força oposicionista.
De outro lado um vereador e ex-presidente da Câmara Municipal, José Trigueiro, candidato da Situação, e correndo por fora estava o também ex-prefeito Luiz Gonzaga que tinha rompido com o então Prefeito Antônio Bezerra, por questões pessoais.
O clima era duro, tenso, pesado. O prefeito na época tinha atrasado salários e isso trazia um certo descontentamento por parte de algumas pessoas, principalmente os funcionários. Mas apesar de tudo isso, era a força predominante, e seu candidato um dos favoritos.
Talvez um dos fatores mais importantes naquele ano foi a saída do então candidato Lucio Correia, que, caso não tivesse os direitos políticos cassados naquele ano, seria, muito provavelmente o prefeito eleito. Mas suas contas foram rejeitadas e com isso ficou fora do pleito, tendo que lançar sua Esposa Maria Da Glória como Candidata a prefeita e João Leite como Vice.
Na Chapa da situação encabeçava José Trigueiro e o vice Severino Andrade (pelado), Correndo muito por fora estava o ex-prefeito Luiz Gonzaga e Getúlio Cavalcanti, candidato a prefeito e vice respectivamente.
As passeatas da situação eram estrondosas, tomavam as ruas de canto a canto, eu mesmo como menino ficava espantado com os tamanhos das passeatas.
A tom lúdico dos eventos eram um espetáculo a parte, dependendo do lado que você está. As provocações ganham ares de ameaça e as diferenças políticas se tornam problemas pessoais.
Antônio de Ciço como sempre, com discursos acalorados e de certa forma engraçados, e o velho “ri-ri-ri” de sempre.
3.1 Músicas e showmícios.
Um dos maiores castigos para mim naquele ano, era justamente, ficar de fora de qualquer ato político eleitoral de minha Tia Glorinha, os atos políticos moviam a cidade de tal forma que tudo parecia festa, e quando se é criança a coisa fica acentuada.
Eu parava para picar revistas velhas, livros velhos, jornais para tentar contribuir com o abrilhantamento das passeatas e comícios.
Lembro perfeitamente, como se fosse ontem, das músicas mais tocadas naquele ano. Magníficos no início de carreira, cavalo de pau e Mastruz com Leite já veteranas, calango Aceso com seu “fonforonfonfon”. São coisas que marcam de fato, que te remetem a estas situações, é o Tchan (risos) lembranças afetivas da infância. Uma música em particular não saiu nunca mais da minha cabeça (Pague meu Dinheiro), repetida diariamente numa certa rural amarela de Luiz Gonzaga em referência aos atrasos dos salários dos servidores do município.
Por outro lado, na voz de Antônio Trigueiro, irmão do Candidato da situação, fez uma versão da mesma música acima citada, uma parodia “eu voto é em Trigueiro”. Esta, propagada por uma outra Rural de cor Verde, do falecido Antônio Bezerra.
Apesar da pouca experiência de Maria da Glória, suas passeatas eram grandes e significativas, nada como as passeatas “treme terra” de Trigueiro, mas ainda assim grandes, ainda mais levando-se em consideração a desvantagem de estar fora do poder e ter entrado para compor chapa no lugar do seu esposo.
Já as de Luiz Gonzaga, eram mais contidas , fazia questão de observar cada uma das passeatas , mas participava ativamente de cada ato de minha Tia Glorinha, cada passeata, cada entrega de chapinha, tudo ao som de batuqueiros e orquestras de frevo.
Lembro de alguns showmícios, permitidos na época, os do meu tio quase sempre bandas modestas , uma delas lembro até hoje forró bodó. Eu acompanhava cada comício, e cada showmício, é importante lembrar que eu tinha apenas nove anos na época da eleição, mas me engajava como um adulto.
Lembro-me das provocações, dos desentendimentos, e lembro de outro fato, na época torcíamos também por uma senhorinha que já tinha sido prefeita na maior cidade do país, São Paulo, Erundina pelo PT, lembro que minha mãe dizia “vai ser ela lá e Glorinha aqui”. Em São Paulo acabou Ganhando Pita, apoiado por Maluf.
A casa do meu tio estava sempre cheia de correligionários, lembro do cheiro etílico e cítrico das batidas de laranja com cachaça. As Camisas eram feitas de maneira artesanal, assim como as faixas e bandeiras, um cheiro muito forte de tinta de tecido.
Simplesmente tudo era muito contagiante e cómico. Os jacares em referência ao 15 do PMDB, a referência aos “boca pretas”, como eram conhecidos os correligionários do PMDB na época da Ditadura Militar.
3.2 Reta Final e Showmício do ano.
Tudo levava a crer, apesar de algumas denúncias de abuso de poder por parte do então prefeito Antônio Bezzerra , que o Prefeito seria de fato José Trigueiro, inclusive meus pais, mesmo fies eleitores de tia Glorinha, já davam como certo esse cenário. Da parte de nossa família , por uma questão de coerência, existia certa torcida para que caso Maria da Glória não saísse vitoriosa, José Trigueiro fosse eleito.
Veio a cartada do então prefeito Antônio Bezerra. Em 1996 existia uma banda de forró, que estava estourada em todo o nordeste, “Anjos e Demônios”. Seria como contratar hoje Wesley Safadão, por exemplo.
Cartazes, pasmem, foram colocados inclusive nas escolas, lembro que na Escola Pedro Tavares, Escola Estadual, um destes foi retirado.
Era a força da máquina pública contra os poucos recursos das outras candidaturas. Lembro que nos últimos dias, antes do pleito, a tarde saímos, eu e meus primos, com a militância entregando chapinhas, jogando nas casas, nos terraços.
No comício do meu tio já não tinha tanta gente, visto que todos estavam na expectativa do showmício do candidato da situação. Era um evento de repercussão regional.
Mas me recordo de uma coisa meio confusa, meu tio pedindo de forma velada apoio para o então candidato Luiz Gonzaga. Quer dizer, como assim? Então estamos perdidos? Fui dar uma olhada no showmício do candidato Trigueiro, simplesmente uma multidão.
Outro fator que talvez tenha interferido decisivamente naquela eleição, é que o Prefeito Antônio Bezerra, atrasou mais uma vez os salários às vésperas da eleição, criando um clima de receio e desconfiança.
3.3 Dia da eleição e apuração dos votos.
No dia da votação, como era de costume, fui até a casa do meu tio Lucio, a atmosfera era de “já perdemos”, mas eu criança achava que não, tínhamos total condição de ganhar, pobre ingênuo!
Lembro que depois de encerradas as votações, as urnas foram levadas para Itambé, não me recordo ao certo quanto tempo durou, lembro que não foi no mesmo dia.
Lembro que enfim, numa tarde, saiu o resultado, o novo Prefeito era Luiz Gonzaga da Paz, ganhara por apenas 48 votos de vantagem.
Minha mãe ficou “desolada”, votou na minha tia, mas nao esperava que o candidato Luiz Gonzaga ganhasse, eu não entendia nada direito, mas percebi que a vida da minha mãe seria de mais dura ou recrudescimento político, coisa comum na época entre os prefeitos e adversários.
Fui até a rua onde moravam “frente a frente”, os principais adversários políticos naquela época, Antônio Bezerra e Luiz Gonzaga, vi um carro amarelo parado em direção a casa do então Prefeito Antônio Bezerra, com músicas de chacota e então tivemos a real dimensão do ocorrido.
Como alguém que estava visivelmente atrás, que fazia passeatas pequenas, estava enfim eleito, a ficha caiu quando vimos meu tio e meus primos se confraternizando com os vencedores.
Meu tio abriu praticamente mão de tentar disputar a eleição para dar apoio a Luiz Gonzaga. Mesmo assim, minha tia Glorinha naquele ano, teve uma boa votação, o que demonstrou que se não fosse a retirada do meu tio do pleito, ele com certeza entraria pra ganhar.
Foi uma das maiores reviravoltas políticas que já vi aqui no município. Nossa família minha mãe, meu pai, e meus irmãos ficaram visivelmente decepcionados, pois a torcida era para que, caso nossa tia não fosse eleita, José Trigueiro ganhasse aquelas eleições. Inclusive meu irmão mais velho escancarou essa preferencia junto ao meu primo Ronaldo.
Mas meu tio, talvez por questões pragmáticas, abriu mão do pleito e se aliou a Luizinho. Lembro que na Rádio Princesa Serrana, o locutor de Trigueiro, Elias Pereira, filho do ex- prefeito Severino Pereira, dizia que a oposição tinha se unido no propósito de derrubar Antônio Bezerra e seu Candidato.
Luizinho comandou a Prefeitura até 2000, José Trigueiro voltaria a disputar outras quatro eleições, e Antônio Bezerra da Silva, faleceu num dia chuvoso no início de 1999, num terrível acidente de carro, deixando toda a cidade desolada. Lembro até hoje a comoção por parte de minha mãe, a tristeza das pessoas, a multidão descendo o alto Santa Terezinha em Direção ao local do acidente, o velório , cortejo e sepultamento uma multidão acompanhava o corpo do ex-prefeito. (Triste lembrança)
Eleições 1996 - 1º turno -
Candidatos a Prefeito em CAMUTANGA
Nº |
Candidato |
Partido |
Coligação |
Situação |
12 |
JOSE TRIGUEIRO DA SILVA |
PDT |
Não eleito |
|
40 |
LUIZ GONZAGA DA PAZ |
PSB |
Eleito |
|
15 |
MARIA DA GLORIA DA SILVA |
PMDB |
Não eleito |
Eleições 1996 - 1º turno - Candidatos a Vereador em CAMUTANGA
Nº |
Candidato |
Partido |
Coligação |
Situação |
|||
25601 |
ADALBERTO BATISTA CHAVES |
PFL |
Não eleito |
||||
14603 |
ALUISIO XAVIER DE LIMA |
PTB |
Suplente |
||||
40609 |
ANA KARLA CORREIA DA PAZ |
PSB |
Suplente |
||||
40606 |
ANTONIO ALVES DA SILVA |
PSB |
Suplente |
||||
15601 |
ANTONIO DAMIAO DA SILVA |
PMDB |
Suplente |
||||
12602 |
ANTONIO JOSE BELO |
PDT |
Eleito |
||||
15603 |
ANTONIO LUIZ DE PONTES |
PMDB |
Eleito por média |
||||
14605 |
ANTONIO NOGUEIRA BORGES |
PTB |
Suplente |
||||
14604 |
ANTONIO TRIGUEIRO DA SILVA |
PTB |
Suplente |
||||
22602 |
CLARICE ALMEIDA DE SOUZA |
PL |
Suplente |
||||
40602 |
DOMICIO MARTINIANO DA SILVA |
PSB |
Eleito |
||||
12601 |
ERACLIDES PEREIRA DA SILVA |
PDT |
Eleito |
||||
15609 |
FLAVIO EPITACIO DA SILVA |
PMDB |
Suplente |
||||
12607 |
GERALDO SALUSTIANO DE PONTES |
PDT |
Suplente |
||||
40610 |
GILBERTO SUARES DA PAZ |
PSB |
Suplente |
||||
15610 |
GIOVANI TARGINO DA SILVA |
PMDB |
Suplente |
||||
11601 |
ISAIAS FRANCISCO DA SILVA |
PPB |
Não eleito |
||||
40601 |
JOSE AMERICO DE SOUZA CAVALCANTI |
PSB |
Suplente |
||||
12609 |
JOSE BARBOSA DE PONTES |
PDT |
Suplente |
||||
40604 |
JOSE BERNARDO BARBOSA |
PSB |
Suplente |
||||
14608 |
JOSE FELIX DO NASCIMENTO |
PTB |
Suplente |
||||
40611 |
JOSE FERNANDO DO NASCIMENTO |
PSB |
Suplente |
||||
15605 |
JOSE MARIA CHAVES |
PMDB |
Suplente |
||||
14602 |
JOSE MARIO CHAVES PEIXOTO |
PTB |
Suplente |
||||
15607 |
JOSE PAULO DA SILVA |
PMDB |
Suplente |
||||
12605 |
JOSE PEREIRA DA SILVA FILHO |
PDT |
Suplente |
||||
12606 |
JOSE SEVERINO ALEXANDRE |
PDT |
Suplente |
||||
15611 |
LENILDO PEREIRA CORREIA DA SILVA |
PMDB |
Eleito |
||||
40608 |
LUIZ MARINE MARTINS DO NASCIMENTO |
PSB |
Eleito |
||||
15604 |
MANOEL MODESTO DA CRUZ GOUVEIA |
PMDB |
Suplente |
||||
12611 |
MANOEL PORFIRIO DE QUEIROZ |
PDT |
Eleito |
||||
25602 |
MARIA DARC SOUZA QUEIROZ |
PFL |
Não eleito |
||||
12604 |
MARIA DAS NEVES ANDRADE VIEIRA |
PDT |
Suplente |
||||
15606 |
MARLENE SANTOS DE SOUZA NASCIMENTO |
PMDB |
Suplente |
||||
45604 |
NATANAEL SALES DE QUEIROZ |
PSDB |
Não eleito |
||||
12608 |
SEVERINA DAMIANA DA SILVA VIEIRA |
PDT |
Suplente |
||||
12610 |
SEVERINO LOPES DO NASCIMENTO |
PDT |
Eleito por média |
||||
40612 |
SEVERINO PORFIRIO DE QUEIROZ |
PSB |
Suplente |
||||
15608 |
SEVERINO SERAFIM DE SOUZA |
PMDB |
Suplente |
||||
14601 |
SILVANISIO BARBOSA DE ANDRADE |
PTB |
Eleito |
||||
45605 |
SIMONE DE MATOS BARBOSA |
PSDB |
Não eleito |
||||
12603 |
TANIA MARIA SOUZA CHAVES |
PDT |
Suplente |
||||
Capitulo 4. Eleições dos Ajustes, começa a “Era Pimentel”.
Anos 2000, começo de uma nova era, promessas não compridas, crise do Real, promessas apocalípticas do fim do mundo, etc.
O mundo não acabou como previa Nostradamus, o Brasil continuava a amargar recessões, mas a vida dos brasileiros seguia.
Naquele ano, o Prefeito Luiz Gonzaga, força quase que absoluta em nossa cidade, tinha Inaugurado o GONZAGÃO, uma casa de festejos.
Era o ano das músicas da Bahia, eu detestava. (risos) Em Camutanga, o então prefeito também tinha inaugurado algumas casas na região do Clube municipal.
Não me recordo quando exatamente as articulações começaram a ocorrer. Minha mãe trabalhava no Francisco Pereira, um grupo escolar entre o Mutirão e a Rua nova.
Lembro que numa época do ano, não sei ao certo em que período, José Trigueiro veio até nossa casa para falar com minha mãe. Não lembro o teor da conversa, só lembro que tinha a ver com as futuras eleições.
Pois bem, minha mãe, ao que parece, ficou declinada a apoiar José Trigueiro naquele pleito, mas dependia ainda da decisão do meu Tio para fechar com o mesmo.
Dois anos antes, minha mãe tinha apoiado o candidato Labanca junto com meu tio para Deputado e Jarbas para Governador.
No decorrer de todo o ano, existia um clima em favor de Trigueiro e Lucio como vice, mas eis que apareceu um nome até então conhecido apenas como comerciante, dono de dois pequenos mercadinhos, um deles o mercadinho Rocha, dele e de sua Esposa Zilma Albuquerque.
Ele seria o nome do então prefeito Luiz Gonzaga, e Trigueiro costurava alianças nos bastidores com o fim de cooptar apoio e força política.
Trigueiro amargava a derrota em 1996, por poucos votos, mas ainda tinha a seu favor a preferencia das camadas mais simples da cidade. As eleições de Trigueiro a partir daquele ano, seriam mais modestas, feitas pelos correligionários, pelos amigos que entavam na briga de verdade junto a ele e o PDT.
4.1 Experiência e Juventude
Lúcio Correia, político veterano, calejado, prefeito duas vezes, aliado de políticos como João Ferreira Lima, o Senador Marco Freire, Miguel Arraes, Jarbas Vasconcelos, Sergio Guerra, entre outros, membro histórico do MDB e depois PMDB da região.
Político mais que tarimbado, era enfim o nome para ocupar a vaga de Vice junto com o Jovem Armando Pimentel.
Lembro que Armando mal sabia falar, era tímido, não contagiava com seus discursos, mas era bem articulado nas conversas olho no olho, no porta a porta.
Neste mesmo ano despontava como Coordenador de campanhas o Jovem Ricardo Godoy. Também me recordo que neste mesmo ano começava uma “nova moda” no município, as passeatas de vereadores, isto com a entrada na política de um vendedor de carros, negociador, Lula Veículos.
Naquele ano a disputa entre os vereadores ficou quase concentrada em duas figuras, de um lado Lula Veículos e do outro Lenildo Correia.
Era um Fla x Flu.
Os comícios eram grandes atos, a entrada de Lucio Correia na chapa junto a Armando tinha dado um novo fôlego, um upgrade na campanha de Armando, mas também havia uma atmosfera de algo novo na figura de Armando Pimentel, pois o mesmo era um jovem e promissor comerciante.
Pois bem, Armando ia fazendo sua parte, conversas pessoais com as pessoas, e nos comícios era conduzido por duas lideranças, Lucio Correia e Luiz Gonzaga, além dos discursos ácidos de Lenildo Correia, Antonio Belo e tantos outros .
A juventude abraçou de certa forma a figura de Armando, entre os jovens a maioria declinava apoio ao mesmo.
Neste ano ainda eram permitidos os showmícios, mas não lembro de ter participado de um destes. Eu tinha apenas 14 anos e era relativamente recluso.
4.2 Dia da eleição, uso das urnas eletrônicas.
Os anos 2000, era a o início da era da modernidade tecnológica, as urnas eletrônicas já usadas em outras cidades, principalmente nos grandes centros, era novidade em Camutanga naquele ano.
O uso das urnas eletrônicas prometiam acelerar as votações e principalmente, a apuração e proclamação dos resultados.
O dia inteiro foi de intensa movimentação, como era de praxe, brigas, discursões, provocações, suspeitas de boca de urna. Era o PSDB x PDT, o primeiro ainda forte nas cidades menores e também o partido do presidente na época Fernando Henrique Cardoso, o segundo ainda com os sonhos trabalhistas de seu fundador Leonel Brizola.
No decorrer daquele dia, o clima era de medo entre os dois lados, pois Camutanga já tinha dado mostras que apostar não era um bom negócio.
A partir das 16h fomos até o colégio Monsenhor Júlio Maria, é uma espécie de “Apoteose” para as apurações, por ser o colégio com maior número de eleitores aptos e urnas e por ser geralmente o último a ter a apuração feita.
Tudo foi muito rápido, muito rápido mesmo, antes mesmo das 18h já sabíamos do resultado.
Armando se sagrara Prefeito de nosso Município pela primeira vez, com uma diferença inferior à 300 votos, a festa tomava conta da cidade, aliás, era uma promessa de inovação que tinha ganhado as eleições.
Lembro que no mesmo ano, um outro candidato por quem tinha torcido muito tinha ganhado as eleições em Recife, João Paulo pelo PT.
Mas em Camutanga começavam as chacotas, cria-se a pecha de ―Zé Tira Fino‖ em referência ao Candidato do PDT José Trigueiro.
Getúlio Cavalcanti, que também tinha sido candidato pelo PFL , teve pouquíssimos votos.
Armando Assumiu a Prefeitura no dia 01 de Janeiro de 2001, com uma grandiosa festa, com direito a pirotecnia nunca vista no município, era o inicio de uma “era”.
Eleições 2000 - 1º turno - Candidatos a Prefeito em CAMUTANGA
Nº |
Candidato |
Partido |
Coligação |
Situação |
45 |
ARMANDO |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
Eleito |
25 |
GETULIO |
PFL |
|
Não eleito |
12 |
TRIGUEIRO |
PDT |
FRENTE DE LIBERTAÇÃO DE CAMUTANGA |
Não eleito |
Eleições 2000 - 1º turno - Candidatos a Vereador em CAMUTANGA
Nº |
Candidato |
Partido |
Coligação |
Situação |
||
12606 |
ALEXANDRE |
PDT |
|
Suplente |
||
45602 |
ANTONIO BELO |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
Eleito |
||
14123 |
AUREA BEZERRA |
PTB |
|
Suplente |
||
12311 |
BARATA |
PDT |
|
Suplente |
||
45610 |
BIU MANTA |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
Suplente |
||
12301 |
CLEIDE |
PDT |
|
Suplente |
||
45645 |
DARC |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
Suplente |
||
45123 |
DOMICIO |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
Suplente |
||
11602 |
EDGAR LAMBU |
PPB |
|
Suplente |
||
12369 |
ERACLIDES |
PDT |
|
Suplente |
||
11211 |
FERNANDO DE VUNDA |
PPB |
|
Eleito |
||
45612 |
GIOVANI |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
Suplente |
||
11223 |
IRMÃO DOIA |
PPB |
|
Suplente |
||
11111 |
ISAIAS |
PPB |
|
Suplente |
||
12111 |
JONADABE |
PDT |
|
Suplente |
||
11609 |
JOSE BARBOSA |
PPB |
|
Suplente |
||
45611 |
JOSUÉ DE
MACAPARANA |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
Suplente |
||
15123 |
LENILDO CORREIA |
PMDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
Eleito |
||
45632 |
LULA DA GRADE |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
Suplente |
||
12612 |
LULA VEICULO |
PDT |
|
Eleito |
||
12345 |
MANOEL
GUAXININ |
PDT |
|
Suplente |
||
11604 |
MANOEL LOPES |
PPB |
|
Suplente |
|||
12312 |
MANOEL PORFIRIO |
PDT |
|
Eleito por média |
|||
14569 |
MASSILON |
PTB |
|
Suplente |
|||
12789 |
NENO PROFESSOR |
PDT |
|
Eleito |
|||
12331 |
NÔVA |
PDT |
|
Suplente |
|||
11112 |
OSVALDO SALES |
PPB |
|
Suplente |
|||
11610 |
RAFAEL FERNANDES |
PPB |
|
Suplente |
|||
45666 |
RICARDO |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
Suplente |
|||
12300 |
ROSANA |
PDT |
|
Suplente |
|||
12313 |
RUTH ENFERMEIRA |
PDT |
|
Suplente |
|||
14580 |
SERGIO DO ONIBUS |
PTB |
|
Suplente |
|||
45689 |
SEVERINO BARBOSA |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
Suplente |
|||
14780 |
TOINHO TRIGUEIRO |
PTB |
|
Eleito |
|||
15678 |
TONHO DA VENDA |
PMDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
Eleito |
|||
45678 |
ZAQUEU EVANGELISTA |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
Eleito |
|||
14789 |
ZÉ MÁRIO |
PTB |
Suplente |
||||
15411 |
ZÉ ROJÃO |
PMDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
Suplente |
|||
Capitulo 5. Eleições 2004, alianças inusitadas, “bota pra També”
De todas as eleições, talvez na minha memória a mais engraçada tenha sido a de 2004. Mas antes, é importante voltarmos um ou dois anos antes.
Luiz Gonzaga havia rompido com o seu sucessor pouco tempo depois do mesmo assumir a prefeitura, e claro, começaram as conversações entre o ex-prefeito e a figura mais forte da oposição, José Trigueiro. João Leite, que havia sido candidato à vice com Trigueiro em 2000, estava inclinado a ficar com Armando, enfim, uma salada mista.
Meu tio Lucio Rompeu com Armando, rompimento este com base em muito ressentimento.
Minha mãe, no entanto, escolheu não romper com o então Prefeito Armando, com quem, na época tinha uma boa relação política, ao contrário disso, pediu sua desfiliação do PMDB e se filiara no PSDB com pretensões de se candidatar a vereadora pela primeira vez.
Até então, Camutanga só tinha tido uma vereadora, e naquele ano duas candidatas vinham com muita força, minha mãe que tinha desempenhado um excelente trabalho na Unidade Mista de Saúde , lhe rendendo inclusive o título de mulher destaque naquele ano e Elvira Leal, esposa de um engenheiro na Usina Olho d’água.
As eleições tinham começado já um ano antes, discussões acaloradas na Câmara no ano de 2003, contagiavam todos e envenenavam muitos, as reuniões de 2003 serviam de atos preparatórios para 2004, com carros de som dos dois lados na porta da Câmara, a justiça teve que intervir e proibir.
O “bota pra també” em referência ao Prefeito Armando se tornou um dos maiores bordões daquele ano.
Sem dúvida, Armando tinha feito um bom trabalho, sua gestão de 2001 até então tinha sido positiva, o mesmo tinha dado um ar novo ao município, isso é inegável. Principalmente na Saúde e nas festividades, festas enormes nunca vistas na cidade.
5.1 Um milhão contra um tostão.
As eleições de Trigueiro, depois de 1996, foram eleições muito modestas, geralmente os próprios eleitores faziam a campanha, faziam vaquinhas para arrecadar fundos para a campanha.
Do outro Lado tinha um Armando fortalecido pela boa gestão e tinha a máquina pública nas mãos.
Trigueiro tinha se unido à um dos seus grandes adversários políticos, Luizinho, e tinha ganhado o apoio de Lucio Correia, era de fato um “trio parada dura” ou um “triunvirato”. Essa união fora também motivo de controvérsias, de críticas duras por parte da situação.
As eleições começaram oficialmente em julho daquele ano, com músicas criativas de Américo ―satirizando‖ a união de Trigueiro e Luizinho, versos como:
“Mas o Povo tá desconfiado de Luiz ... e José Tira Fino”.
Ou ainda,
“Aí seu José e seu Luiz como é que anda essa história de você e seus traidores, quase que vocês se fuzilaram e vem com essa união nojenta traindo seus eleitores” .
Hoje em dia, músicas que com certeza seriam proibidas pela justiça eleitoral pelo tom agressivo.
Ou músicas como as de Dedé Rios:
“espera amigo, espera, espera quatro anos de novo, com esse pibite pibite você não vai enganar o povo”
Ou as músicas de Tony Sales:
“É Armando que o povo quer, 45 o povo quer”.
Do outro lado, o bota pra També, cantada com a força e entusiasmo de Toinho Trigueiro davam o tom da campanha de oposição.
“Bota pra també, em Camutanga só dá 12 de José”
Os Showmícios eram um caso à parte, eu na época ia para os dois, pois mesmo sendo partidário de Armando, e da minha mãe, eu tinha um bom trânsito com muitas pessoas da oposição.
Neste mesmo ano, fui ameaçado por telefone, claro, que tudo não passava de pressões psicológicas, na época nem fiquei tão assustado.
A campanha de José Trigueiro era bem organizada, e os eleitores eram entusiasmados, principalmente os mais humildes.
A campanha foi toda nesse ritmo, chacotas, polarização. Mas a opinião pública parecia declinada à um certo favoritismo de Armado.
5.2 Campanha de Minha Mãe, Mais uma Correia no páreo.
Minha mãe, desde que chegara em Camutanga em meados dos anos 70, tinha apoiado o meu tio Lucio e seu grupo, com um pequeno ponto fora da curva em 1990, na eleição de deputado, mas em todas as eleições municipais a mesma marcou posição ao lado do meu tio.
Desde que Lenildo, sobrinho de minha mãe se lançou como candidato a vereador a primeira vez em 1982, minha mãe o acompanhava, fazendo campanha para o mesmo e como cabo eleitoral ativa.
Mas com o rompimento prematuro de Lenildo com Armado e posteriormente do meu tio com o mesmo, minha mãe decidiu marcar posição pela primeira vez em oposição a posição da família na cidade.
Não só se desfilou do PMDB, partido ao qual era filiada faziam anos, como se lançara candidata à vereadora pela força que tinha conquistado como funcionária, nos diversos setores por onde tinha passado. Ela viu, percebeu que o seu momento era aquele e aceitou o desafio de ser mais uma mulher a fazer parte da história da casa Pedro de Albuquerque Uchoa.
Sua campanha contou com apoio de vários amigos e com a orientação de um jovem coordenador da Campanha de Armando Pimentel, Ricardo Godoy.
A família abraçou a causa, entrou na luta e fez a campanha. Suas passeatas e o número de adeptos superava inclusive nossa expectativa.
Cada passeata, cada comício, a cada dia o nome dela crescia, e o que não passava de uma certa aventura no início, começou a parecer uma grande realidade no decorrer da campanha.
Imagine para mim o tamanho do orgulho, meu primeiro voto, literalmente, posto que se vota primeiro para o legislativo, seria na minha mãe, numa mulher, numa pessoa que tinha vencido vários obstáculos até chegar ali. Meu coração não cabia de tanto orgulho.
Lembro que as figuras que mais ajudaram naquela eleição, além do já citado Ricardo Godoy e toda a família Godoy, tinha a ajuda do meu ―primo irmão‖ Ronaldo, o amigo Zinho, entre outros amigos e amigas que tinham trabalhado com ela na Unidade Mista de Saúde e irmãos da igreja em que ela é membra.
Seu número, mais simples impossível 45.123, o final dessa história será contada mais adiante.
5.3 Semana da Eleição.
Lembro como se fosse hoje, a semana que precedia as eleições o clima continuava sendo o mesmo, de enorme expectativa, de um clima de medo por parte dos dois lados e estratégias distintas faziam parte do cenário.
Trigueiro e Luizinho partiram para o apelo emocional, por terem de fato menos recursos faziam questão de dizer em alto e bom som que eram os candidatos azarões, que contavam com a ajuda popular para colocar o ―forasteiro pra També‖, ou Itambé-PE, terra natal de Armando. Era a batalha do um milhão contra um tostão, dos que não tem nada, contra a força da máquina Pública e econômica.
Pelo outro lado, Armado apelava para sua boa gestão, os grandes eventos, a Saúde que tinha sido renovada, as obras que tinham sido iniciadas, algumas que já tinham sido concluídas, apelava para o modelo de gestão que ele tinha estabelecido e as pesquisas apontavam uma vitória por parte do mesmo.
No último showmício, uma quinta feira dia 30 de setembro, uma coisa foi engraçada, o comício de Armando, atual prefeito foi feito na Travessa na Avenida Getúlio Vargas, próximo à pracinha Maria da Glória. Já o do candidato da oposição foi realizado na Avenida Moises Correia, mas o da oposição era muito mais organizado, pasmem. Bandeiras com as cores da cidade e do PDT enfeitavam a Av. Moises Correia, o palanque bem montado, o som de qualidade superior, e uma banda na época de mais projeção no cenário Estadual.
Aquilo de certa forma deu um pouco de receio durante os outros três dias, pois tudo em cidades menores tem um peso psicológico muito grande e acaba afetando imaginário dos eleitores. Na sexta antevéspera da eleição, o clima era tenso, lembro que eu tinha que ter certas cautelas para sair de casa, por causa das ameaças que tinha recebido. Os carros passavam todo momento, as pessoas nem se olhavam direito dependendo do lado escolhido.
5.3 Dia da Eleição.
Como sempre, o dia da eleição é carregado de um clima diferente e carregado de tensão, são dois lados, a polarização é enorme.
Eram duas cores predominantes, o vermelho que representava os eleitores de Trigueiro do PDT e o amarelo que representava os eleitores de Armando Pimentel PSDB.
As pessoas gritavam nas ruas palavras de ordem, mesmo que fosse proibido este tipo de manifestação.
O clima era de "praça de guerra", as pessoas não se olhavam, não se cumprimentavam, o receio de a qualquer momento ter algum tipo de conflito era iminente.
O dia cheio dessa carga, mas pela manifestação das ruas, o candidato à reeleição tinha uma leve vantagem.
Antes das 17h as pessoas já se concentravam nos principais colégios, ansiosos pela apuração do resultado.
As motos subiam e desciam as ladeiras, as pessoas se “fuzilavam” pelo olhar, a tensão aumentava, para mim existiam dois resultados importantes, da minha mãe e do Prefeito.
Depois de muito alvoroço, fomos até a Praça Getúlio Vargas, o resultado final dava a vitória, a reeleição a Armando Pimentel, e minha mãe estava entre os nove vereadores eleitos.
A euforia foi grande, por parte das pessoas, como é de costume, a parte perdedora recolhe os cacos e vai para casa a fim de se recuperar da frustração.
A comemoração durou durante toda a semana, se estendeu até dezembro com a festa da vitória com Calcinha Preta, que na época estava no auge.
Em 2005, Armando tomou posse pela segunda vez como prefeito de Camutanga, e minha mãe tomava posse para o seu primeiro mandato
Eleições 2004 - 1º turno - Resultado da Votação para
Prefeito em CAMUTANGA
Nº |
Candidato |
Partido |
Coligação |
Votos |
Situação |
45 |
ARMANDO PIMENTEL Armando Pimentel da Rocha |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
2.919 |
Eleito |
JOÃO CHAVES LEITE |
PTB |
||||
12 |
TRIGUEIRO
José Trigueiro da Silva |
PDT |
COLIGAÇÃO UNIDOS POR CAMUTANGA |
2.617 |
Não eleito |
46 |
LUIZ GONZAGA DA PAZ |
PDT |
Eleições 2004 - 1º turno - Resultado da Votação para Vereador em CAMUTANGA
Nº |
Candidato |
Partido |
Coligação |
Votos |
Situação |
45666 |
RICARDO ALMEIDA José Ricardo de Almeida |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
420 |
Eleito |
12223 |
TONHO DA VENDA Antonio Luiz de Pontes |
PDT |
401 |
Eleito |
|
12580 |
TOINHO TRIGUEIRO Antonio |
PDT |
377 |
Eleito |
Trigueiro da Silva
45612 |
LULA VEÍCULOS Luiz Carlos Pereira de Melo |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
364 |
Eleito |
43333 |
EUVIRA LEAL
Elvira Marques Duarte Leal |
PV |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
342 |
Eleito |
45123 |
IRMÃ LÚCIA
Lucia Aparecida Correia Vieira |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
330 |
Eleito |
12222 |
LENILDO
Lenildo Pereira Correia da Silva |
PDT |
|
324 |
Eleito |
43111 |
FERNANDO DE VUNDA Jose Fernando do Nascimento |
PV |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
312 |
Eleito |
45678 |
ZAQUEL EVANGELISTA Zaquel Evangelista de Messias |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
287 |
Eleito por média |
12365 |
SAMUEL DE NEMERCIO Samuel Vidal da Rocha |
PDT |
|
260 |
Suplente |
45111 |
MANOEL PORFIRIO Manoel Porfirio de Queiroz |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
223 |
Suplente |
45602 |
ANTONIO BELO
Antonio Jose Belo |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
217 |
Suplente |
45789 |
NENO PROFESSOR Renildo Barbosa de Pontes |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
176 |
Suplente |
12369 |
ALREA
Alriedina |
PDT |
|
165 |
Suplente |
Fernando de Souza |
|||||
12123 |
FABIANO EPITÁCIO Fabiano Epitácio da Silva |
PDT |
122 |
Suplente |
|
45610 |
PELADO
Severino Barbosa de Andrade |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
114 |
Suplente |
12345 |
ERACLIDES
Eraclides Pereira da Silva |
PDT |
111 |
Suplente |
|
13567 |
JAQUES
Jaques Luiz da Silva |
PT |
98 |
Não eleito |
|
45611 |
JOSUÉ DE MACAPARANA José Paulo da Silva |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
62 |
Suplente |
13123 |
EDIMILSON POLICIAL |
PT |
57 |
Não eleito |
|
50 |
Edimilson Ursulino de Amaral |
|||||
12121 |
RUTH
Ruth Dias da Silva |
PDT |
56 |
Suplente |
|
43222 |
MANOEL LOPES Manoel Lopes da Silva |
PV |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
54 |
Suplente |
43678 |
ISAIAS
Isaias Francisco da Silva |
PV |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
52 |
Suplente |
14444 |
ROBERTINHO
José Serafim Gomes |
PTB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
47 |
Suplente |
12355 |
IRMÃO PAULO
Paulo Belmiro de Oliveira |
PDT |
39 |
Suplente |
|
12612 |
DÃO BRASILIANO |
PDT |
38 |
Suplente |
João Brasiliano da Silva |
|||||
13613 |
ADEMAR PAULO Ademar Paulo da Silva |
PT |
28 |
Não eleito |
|
45645 |
D´ARC
Maria D´arc Souza Queiroz |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
25 |
Suplente |
13413 |
TEMPERO
José Eliezer da Silva |
PT |
24 |
Não eleito |
|
12342 |
ISAQUE
Severino Eleno da Silva |
PDT |
19 |
Suplente |
|
13456 |
BOLIVAR
José Bolivar de Melo Coutinho |
PT |
16 |
Não eleito |
|
13780 |
CACÁ DE ZÉ PRETO José Carlos |
PT |
13 |
Não eleito |
Barbosa de Andrade |
|||||
13113 |
JOCÉLIO
Jocélio Ribamar Gomes |
PT |
9 |
Não eleito |
|
45555 |
CAULA
Marluce Maria de Souza |
PSDB |
FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
8 |
Suplente |
13654 |
DAMIÃO
Antonio Damião da Silva |
PT |
5 |
Não eleito |
|
12610 |
ANJINHA
Ângela Maria de Araújo Torres Gouveia |
PDT |
3 |
Suplente |
|
13131 |
BIU GOMES
Severino Nunes de Almeida |
PT |
1 |
Não eleito |
|
13690 |
DULCINETE
Dulcinete de Araújo Silva |
PT |
0 |
Não eleito |
|
53 |
12112 |
PAIZINHA Maria da Paz Silva Andrade |
PDT |
0 |
Suplente |
Capitulo 6 . 2008, o ano da consagração de Trigueiro.
Antes de iniciar esta história, é necessário voltar dois anos antes, nas eleições para governador e presidente. Eduardo Campos corria muito por fora em 2006, praticamente nenhuma liderança apostava nele, mas em Camutanga Trigueiro comprou a candidatura do mesmo e o apoiou contra todos os prognósticos.
No final Eduardo acabou indo para o segundo turno contra Mendonça e foi conduzido para o palácio do Campo das Princesas.
No município a vitória de Eduardo foi acachapante, e deu novo fôlego ao grupo de Trigueiro, que a partir dali cresceu bastante, acertou nas alianças e no método de fazer política.
Pela primeira vez Trigueiro saia candidato pelo PSB, partido de Eduardo Campos, do outro lado o candidato escolhido era João Leite pelo PTB, isso era virtual, a eleição estava desenhada desde 2006, faltavam detalhes, o mover de peça no tabuleiro chamado política, e cada movimentação pode ser determinante numa eleição.
Ricardo Godoy era cogitado para ser o candidato a vice de João Leite, isso tinha se desenhado, acordado entre o então prefeito Armando e ele, mas no grupo havia uma resistência, um grupo de dissidentes, pessoas que não aceitavam esse cenário, a favor estava minha mãe, Lucia Correia, que tinha pelo mesmo grande respeito e consideração.
Mas depois de uma reunião entre alguns correligionários e lideranças da situação, foi decretado que o candidato a vice seria Fernando de Vunda.
Todo o desenho da eleição se desfez, isso porque naquela altura do campeonato qualquer distorção poderia significar perder um pleito.
Ficamos muito chateados, pois o melhor cenário, pelo menos teoricamente, era com Ricardo na chapa como vice, titubeamos, ficamos contra o que por pouco não custou a eleição de minha mãe.
A estratégia que usamos foi a de que era necessário naquele momento apoiar o Candidato de situação, João Leite, muito mais por uma certa lealdade que ainda nutríamos por Armando, sabíamos dos riscos, sabíamos que por baixo dos panos, nos bastidores fariam o possível para que minha mãe não se reelegesse, isso era fato inconteste. Mas fomos à luta, redefinimos as metas, as prioridades e naquele momento prevaleceu na campanha de minha mãe o pragmatismo político.
Por outro lado era visível o crescimento da campanha de oposição. Trigueiro junto a Adilson estabeleciam o combate no campo certo, dividiam o grupo oponente e levavam ao povo um discurso muito mais inteligível.
A massa atraída pela promessa de mudança e mais participação popular passaram a entender que valeria apena colocar um filho de Camutanga para administrar a cidade, embora João Leite também fosse.
João Leite tinha a seu favor o apoio do prefeito e mais condições econômicas, mas o grupo era desunido, faltava um centro de unidade, Armando não parecia tão empolgado como nas outras eleições.
Lenildo tinha rompido com Trigueiro praticamente às vésperas das eleições, mas nada que trouxesse maior impacto no grupo.
6.1 Ricardo Godoy Rompe com o Grupo de Situação.
Ricardo tinha sido coordenador nas eleições anteriores de Armando, em 2000 e em 2004, seu nome despontava como um dos favoritos para compor a chapa junto com João Leite. No entanto, depois de sentir-se traído pelo grupo , e de ver chacotas dentro do próprio grupo, o mesmo decidiu romper de forma traumática com Armando e consequentemente com todo o grupo de situação.
Ricardo parte para coordenar a campanha de Trigueiro, a campanha ganha novo fôlego e novo ingrediente.
Ricardo não era só um soldado da PMPE, era um estrategista e conhecedor de várias pessoas no munícipio.
O grupo de Trigueiro era mais coeso, mais unido por um ideal, a campanha de João Leite era fragmentada, com problemas que saltavam aos olhos.
Faltava liderança e apelo popular, o que sobrava a Trigueiro.
Trigueiro tinha poucos recursos, isso era notório, uma Kombi que era puxada por cordas, era o seu carro de som inclusive, mas apesar desses detalhes os militantes faziam a diferença com entusiasmo.
A de João não faltavam recursos, mas sintonia, estratégia e cooperação entre os diferentes candidatos.
6.2 José Mucio e a frase mais infeliz da campanha.
Em um dos últimos comícios daquele ano, na Avenida Agamenon Magalhães, a presença do então Ministro dos relações Institucionais de Lula era aguardada com ansiedade.
Lembro que ficamos aguardando por horas a chegada do mesmo, cansaço, desmotivação, era a síntese daquela campanha.
Enfim, quase meia noite, o então Ministro José Mucio chegou ao som de aplausos e agitação dos eleitores que aguardavam.
Lembro que o mesmo fez um belo discurso, falou de Lula que era praticamente unanimidade em 2008, mas num momento de descuido proferiu a seguinte frase: “nossos adversários são como urubus, que esperam a coisa apodrecer para se alimentar”, ponto, essa frase foi veementemente repudiada pelos opositores, que viram nela não uma infeliz metáfora, mas uma ofensa à oposição e ao povo de Camutanga.
6.3 comício de Trigueiro com Eduardo Campos
Não me recordo de outro comício que tenha movimentado tanto o imaginário das pessoas como o da presença de Eduardo Campos.
Na Época Eduardo gozava de um enorme prestigio não só no Estado, mas em todo o país, era um dos mais bem quistos aliados de Lula, e que tinha um tato político invejável.
O comício dele reuniu milhares de pessoas na praça Getúlio Vargas, um ato enorme, que dava a verdadeira dimensão daquela campanha de Trigueiro. Nós da situação ficamos assustados com aquilo, não era só a presença de Eduardo, mas a ânsia de muitas pessoas em mudar o status quo.
Eduardo fez um discurso que enalteceu as qualidades de Trigueiro e deixou muito claro que seu candidato era ele e que aquele era o seu palanque.
6.4 Últimos comícios, votação e resultado.
Foram realizados duas passeatas no mesmo dia, a de João Leite saiu da Santa Cruz e a de Trigueiro da rua nova.
Não cheguei a ver a de Trigueiro, ouvi comentários que davam conta de que tinha sido mais um grande ato.
Já a de João Leite, para um candidato de situação, quando a mesma entrou na Pedro de Albuquerque eu percebi que seria difícil reverter o quadro que indicava que Trigueiro se sagraria Prefeito.
No dia da eleição o clima era tenso como sempre, pela manhã as camisas vermelhas que era a cor da campanha de João Leite dominavam as praças, as ruas, sinal de que a situação poderia vencer e Trigueiro ficaria no quase mais uma vez.
Depois do almoço o clima ficou morno, quase frio, as pessoas pareciam dispersas, havia uma concentração maior na Praça Getúlio Vargas.
Só depois das 15h houve um fato que guardo até hoje, estávamos na praça, muitas pessoas de vermelho, mas de forma inesperada pessoas vestindo camisas amarelas, cor da campanha de Trigueiro, começaram a surgir de vários lugares, de várias ruas em direção a praça. A praça ficou amarela de uma hora para a outra.
Fui para casa tomar um banho, e de cinco e meia da tarde o resultado final dava a vitória a José Trigueiro que vinha tentando desde 1996.
A cidade ficou tomada por pessoas que pareciam atônitas, sem entender, por um lado o choro de quem perdeu, do outro a desconfiança de quem tinha tentado tantas vezes.
O resultado de minha mãe não tinha saído, tudo indicava que ela não fosse chegar, o que não era uma novidade frente à tudo que a mesma tinha sofrido dentro do grupo, inclusive sendo sabotada por algumas pessoas.
Mas o resultado foi outro, ela ficou em 8ª lugar, ocupando pela segunda vez uma das vagas no legislativo municipal.
Sergio de vunda, irmão de Fernando, teve uma ótima votação, mas seus votos foram cassados, pois o mesmo tinha se afastado da condição de presidente de associação em tempo não hábil.
A ficha dos correligionários de Trigueiro só caiu, se é que caiu, dias depois, a festa tomou conta de Camutanga, era a vez do povo, o que se tornaria slogan do Governo Trigueiro.
Minha mãe rompeu com o grupo de Armando, por se achar sem espaço dentro do grupo e compôs a base de apoio a Trigueiro de 2009 a 2013.
Eleições 2008 - 1 º turno - Resultado da Votação para Prefeito em CAMUTANGA
Nº |
Candidato |
Partido / Coligação |
Votos |
Situação |
||
40 |
Trigueiro
Jose Trigueiro da Silva |
PSB / UNIDOS
CAMUTANGA |
POR |
3.063 |
Eleito |
|
Vice: Adilson Pontes da Silva |
PT / UNIDOS CAMUTANGA |
POR |
||||
14 |
João
Joao Chaves Leite |
Leite |
PTB |
2.610 |
Não
eleito |
|
Vice: José Fernando Nascimento |
do |
PTB |
Eleições 2008 - 1 º turno - Resultado da Votação para Vereador em CAMUTANGA
Nº |
Candidato |
Partido / Coligação |
Votos |
Situação |
||||
40200 |
Toinho Trigueiro Antonio Trigueiro da Silva |
PSB / UNIDOS POR CAMUTANGA |
464 |
Eleito |
||||
45612 |
Lula Veiculos Luiz Carlos Pereira de Melo |
PSDB / FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
434 |
Eleito |
||||
40223 |
Tonho da Venda
Antonio Luiz de Pontes |
PSB / UNIDOS POR CAMUTANGA |
416 |
Eleito |
||||
40000 |
Galego Epitacio
Fabiano Epitacio da Silva |
PSB / UNIDOS POR CAMUTANGA |
405 |
Eleito |
||||
13456 |
Paulo Cabelo Verde
Paulo Miguel Marinho |
PT / UNIDOS POR CAMUTANGA |
386 |
Eleito |
||||
14444 |
Lenildo Correia Lenildo Pereira Correia da Silva |
PTB / FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
316 |
Eleito |
||||
45555 |
Silvio Pimentel
Silvio Luiz Pimentel |
PSDB / FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
315 |
Eleito |
||||
45123 |
Irmã Lúcia Lucia Aparecida Correia Vieira |
PSDB / FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
275 |
Eleito |
||||
40111 |
Fabiano de Mércia Fabiano Rosas de Carvalho |
PSB / UNIDOS POR CAMUTANGA |
220 |
Suplente |
45666 |
Ricardo Almeida
José Ricardo de Almeida |
PSDB / FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
196 |
Média |
40123 |
Afranio
Jose Afranio Souto da Rocha |
PSB / UNIDOS POR CAMUTANGA |
183 |
Suplente |
14777 |
Elvira Leal
Elvira Marques Duarte Leal |
PTB / FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
172 |
Suplente |
45678 |
Zaquel Evangelista Zaquel Evangelista de Messias |
PSDB / FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
170 |
Suplente |
40456 |
Bão
Joao Trigueiro da Silva |
PSB / UNIDOS POR CAMUTANGA |
150 |
Suplente |
14123 |
Janielle Barbosa Janielle Barbosa de Oliveira |
PTB / FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
126 |
Suplente |
14563 |
Samuel de Memercio Samuel Vidal de Andrade Rocha |
PTB / FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
117 |
Suplente |
14181 |
Zé Mário
José Mário Chaves Peixoto |
PTB / FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
106 |
Suplente |
14613 |
Cal da Usina
José Carlos Gomes |
PTB / FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
90 |
Suplente |
14555 |
Hamilton Cavalcanti Hamilton Andrade Chaves Cavalcanti |
PTB / FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
80 |
Suplente |
13333 |
Osvaldo
Osvaldo Pedro de Sales |
PT / UNIDOS POR CAMUTANGA |
35 |
Suplente |
12333 |
Bau
Sebastiao Francisco da Silva |
PDT / UNIDOS POR CAMUTANGA |
30 |
Suplente |
45333 |
Marizene
Marizene Cosmo de Carvalho |
PSDB / FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
30 |
Suplente |
12345 |
Manoel Guaxinin
Manoel Alves do Nascimento |
PDT / UNIDOS POR CAMUTANGA |
23 |
Suplente |
40112 |
Seu Inacio
Inacio Jose da Silva |
PSB / UNIDOS POR CAMUTANGA |
13 |
Suplente |
45611 |
Josuel de Macaparana
José Paulo da Silva |
PSDB / FRENTE POPULAR UNIDOS POR CAMUTANGA |
10 |
Suplente |
40610 |
Tonton
Jose Carlos da Silva Oliveira |
PSB / UNIDOS POR CAMUTANGA |
8 |
Suplente |
13123 |
Menininha
Maria Jose da Silva |
PT / UNIDOS POR CAMUTANGA |
3 |
Suplente |
12112 |
Cleide de Jonata Cleide da Silva Andrade de Alburquerque |
PDT / UNIDOS POR CAMUTANGA |
1 |
Suplente |
12686 |
Paizinha
Maria da Paz Silva Andrade |
PDT / UNIDOS POR CAMUTANGA |
0 |
Suplente |
Capitulo 7. 2012, a volta de Armando.
As eleições para governador, senador presidente e deputados é basicamente um termômetro das eleições municipais. Nela vai se desenhando os rumos das eleições nos anos seguintes e põe a prova a gestão.
Uma das oposições mais rígidas feitas a um prefeito foi feita por Armando e os vereadores oposicionistas entre 2009 e 2013, as vezes até desproporcional.
Trigueiro tinha assumido a prefeitura no afã de dar uma resposta rápida a setores da sociedade, entre eles os professores que receberam um aumento considerável, a casa dos estudantes em João Pessoa-PB para atender alunos de nossa cidade que ali faziam faculdade e a distribuição de cestas básicas à famílias em situação de vulnerabilidade.
A gestão de Trigueiro, apesar dos percalços e de falhas pontuais apresentava certa aprovação.
Mas política é um jogo, uma arte, em que toda cautela é pouca.
Já nas eleições de deputado daquele pleito, o candidato de Trigueiro não teve a votação esperada, e a oposição na soma entre os candidatos ultrapassou Trigueiro no número de votos.
A gestão começou a perder o curso nas eleições para presidência da Câmara para o biênio de 2011 e 2012, tudo caminhava para a reeleição de Toinho Trigueiro, mas articulações de bastidores, através de acertos Armando acabou convencendo Galego Epitácio a concorrer junto com Paulo Cabelo Verde, estes vereadores eleitos pelo grupo de Trigueiro em 2008.
Foi um baque, com a Câmara nas mãos do grupo de Armando, Trigueiro teria sérias dificuldades durante os dois anos seguintes . A situação começou a enfraquecer de tal forma que os projetos eram barrados trancando a administração, mas ainda assim existia a esperança de que as distorções seriam corrigidas a tempo.
O ultimo ano da gestão, em 2012, foi extremamente complicado para o grupo de situação, o governo perdia o rumo e a oposição pressionava não só na câmara, mas em todos os setores.
7.1 convenção, Ricardo Godoy candidato à Vice e rompimento de Adilson.
Adilson, que na época era vice, não teve o prestigio e o reconhecimento que esperava do grupo , ficou praticamente isolado, e Ricardo era quase unanimidade no grupo, depois de muita discussão, foi fechado questão e Ricardo seria o vice de Trigueiro naquele ano. Adilson rompe com o grupo e fecha apoio à Armando e Lenildo, este último, que mesmo não sendo unanimidade no grupo de Armando tinha a seu favor um histórico de vitórias como vereador, sete no total, e tinha um tato político.
7.2 inicio das eleições.
Armando trazia consigo um currículo e apoio de alguns políticos importantes e bem situados na região, tinha a seu favor a fragmentação do grupo de situação, um excelente trabalho de marketing que resgatava o discurso de "gestor empreendedor" o "tocador de obras. Trigueiro apesar de medidas assistencialistas , tinha perdido apoio de várias pessoas, de vários amigos, eleitores históricos de seu grupo.
Participei das eleições como coordenador da juventude, e era visível a discrepância econômica e organizacional entre as campanhas.
Nossa campanha começou com a iniciativa de algumas pessoas de fazê-la , arregaçar as mangas e partir pra organizar, mas era difícil fazer campanha sem material necessário, por exemplo, folders para distribuir, a militância era desanimada, visivelmente enfraquecida, não existia palavra de incentivo que mudasse.
Até mesmo o diretório, a organização do mesmo dependeu do desprendimento de várias pessoas, que como eu, levantaram as mangas e foram limpar, enfeitar, ajeitar, dar um novo ar.
Por várias vezes tive o desprazer de sair às ruas e ver os militantes perguntando "o que vamos fazer?", não tínhamos sequer algo novo para levar para os eleitores. Era tudo uma bagunça sem tamanho, desestimulo total.
No porta a porta, eu me atrevia a bater palmas, mas salvo exceções, era recebido com rispidez por várias pessoas, aquilo não parecia ser um bom sinal.
As bandeiras colocadas nas casas, vermelhas de Armando e Amarela de Trigueiro, tornou-se um evento à parte, todo dia bandeiras eram retiradas das casas e davam espaço a bandeiras diferentes, todo dia era um "troca troca".
As passeatas de Armando eram aparentemente maiores, mas algumas passeatas de Trigueiro davam um folego novo, pelo menos não desanimava.
Mas mesmo no poder, nosso grupo parecia ser engolido por Armando, eles contavam com uma estrutura de campanha muito maior, nós ficávamos dando braçadas contra a correnteza.
A campanha de minha mãe era feita na conscientização, no convencimento, contando com cada amigo que espontaneamente aderiam à sua campanha sem nada em troca.
Ricardo se desdobrava em mil, coordenador, candidato, representante, ele ia escavando saídas e buscando alternativas, na verdade só sentia alguma confiança quando conversava com o mesmo.
Foi uma das primeiras eleições em que participei que tinha 60% de certeza que não ganharíamos o pleito, por tudo que vinha se desenhando.
A campanha foi toda feita em cima de erros de Trigueiro, Armando repetia constantemente em discursos estes erros e explorava, dando a impressão que a gestão tinha sido uma catástrofe. Por outro lado prometia a ampliação dos programas realizados por Trigueiro, tais como a casa do estudante, as cestas básicas e a construção de casas populares para o povo do alto santa Terezinha. Isso cativava o povo, isso enchia de mais esperança, Trigueiro não explorava suas virtudes, ao invés disso focava no nome de Armando, o que era um erro estratégico.
Mas a campanha caminhava dentro da normalidade para os padrões acirrados de Camutanga.
7.3 Duas pedras e uma derrota acachapante.
Na véspera das eleições, dia 06 de outubro, uma pesquisa feita a pedido de Trigueiro tinha vindo com um erro crasso, motivo pelo qual a juíza da 27ª vara eleitoral mandou retirar e suspender sua divulgação. Só depois foi liberado a sua divulgação no porta a porta.
Recordo que estávamos na praça Getúlio Vargas, o clima era o de sempre, vaia vem, vaia vai. Palavras de ordem, nada atípico. No alto santa Terezinha o grupo de Armando fazia o porta a porta, sai junto a outros quatro jovens pelas ruas da cidade entregando panfletos, quando voltamos ao diretório a militância tinha ido em direção ao Alto santa Terezinha, o que percebi como erro, mas subi a fim de pedir para descerem.
Ao chegar no alto, vi uma pequena aglomeração de pessoas de amarelo, e mais a baixo uma aglomeração de pessoas de vermelho. Ao que começamos a vaiar, e mais uma vez,
vaia vem e vaia vai, vi um pequeno corre corre, e depois absoluto silêncio. Nada mais foi dito, nada mais foi falado, tudo ficou escuro e silencioso.
Descemos e ao chegar em cassa recebi a noticia que Armando tinha levado uma pedrada na cabeça e que uma de suas militantes teria levado uma no rosto.
Fui acusado de incitar as pessoas, enfim, mas pulando toda essa parte de delegacia, o fato é que naquele momento percebi que Armando se utilizaria daquilo para ganhar apoio, para sensibilizar a população, aliás, nem precisava ele se mexer, aquilo afetou o emocional do povo.
No dia da eleição, com uma faixa na cabeça o prefeito era afagado, acalentado pelas pessoas e muitas olhavam para o mesmo com olhar de dó. A nós cabia o olhar de desprezo, de raiva, pessoas que simplesmente nos fuzilavam.
Armando com aquilo conseguiu aumentar quiçá a diferença que já tinha contra Trigueiro, ganhou o pleito com 802 votos de diferença, a maior da história de Camutanga, vitória acachapante, que interrompeu as pretensões futuras de José Trigueiro, que ainda assim conseguiu eleger seu irmão Antônio Trigueiro. Juntaram-se os cacos, Ricardo torna-se o centro gravitacional, a liderança natural da oposição, Armando se sagrava prefeito de Camutanga pela 3ª vez, desta vez com muito mais apoio popular e com a habilidade politica que já lhe era dispensada.
1º turno - Resultado da Votação para o cargo de Prefeito em Camutanga |
|
||||||||||||||||
Nº |
Candidato |
Partido/Coligação |
Votos |
Situação |
|
||||||||||||
12 |
Armando |
3.417 |
Deferido / Eleito |
|
|||||||||||||
Pimentel |
|
||||||||||||||||
Armando |
PDT / Coligação Unidos |
|
|||||||||||||||
Pimentel |
da |
para Reconstruir |
|
||||||||||||||
Rocha |
Camutanga |
|
|||||||||||||||
Vice: |
Lenildo |
|
|||||||||||||||
Pereira |
Correia |
|
|||||||||||||||
da Silva |
|
||||||||||||||||
40 |
Trigueiro |
2.615 |
|
||||||||||||||
Jose Trigueiro da |
|
||||||||||||||||
Silva |
PSB / Frente Popular Em |
Deferido |
/ Não |
|
|||||||||||||
Vice: Ricardo |
Defesa de Nosso Povo |
eleito |
|
||||||||||||||
Alexandre Cabral |
|
||||||||||||||||
de Godoi |
|
||||||||||||||||
|
1º turno - Resultado da Votação para o cargo de Vereador em Camutanga |
|
|||||||||||||||
|
Nº |
Candidato |
Partido/Coligação |
Votos |
Situação |
|
|||||||||||
|
55555 |
Silvio Pimentel Silvio Luiz Pimentel |
PSD / Coligação Unidos para Reconstruir Camutanga |
567 |
Deferido por QP |
/ Eleito |
|
||||||||||
|
12333 |
Zilma Zilma Albuquerque Martins Rocha |
de
da |
PDT / Coligação Unidos para Reconstruir Camutanga |
534 |
Deferido por QP |
/ Eleito |
|
|||||||||
|
12222 |
Fernando de Vunda José Fernando do Nascimento |
PDT / Coligação Unidos para Reconstruir Camutanga |
439 |
Deferido por QP |
/ Eleito |
|
||||||||||
|
45612 |
Lula Veiculos
Luiz Carlos Pereira de Melo |
PSDB / Frente Popular Em Defesa de Nosso Povo |
400 |
Deferido por QP |
/ Eleito |
|
||||||||||
|
40200 |
Toinho Trigueiro Antonio |
PSB / Frente Popular Em Defesa de Nosso Povo |
385 |
Deferido por QP |
/ Eleito |
|
||||||||||
|
1º turno - Resultado da Votação para o cargo de Vereador em Camutanga |
||||||||||||||||
|
Nº |
Candidato |
Partido/Coligação |
Votos |
Situação |
||||||||||||
|
|
Trigueiro da Silva |
|
|
|
||||||||||||
|
40111 |
Bala Antonio Francisco Lacerda |
PSB / Frente Popular Em Defesa de Nosso Povo |
356 |
Deferido por QP |
/ Eleito |
|||||||||||
|
14123 |
João Leite
João Chaves Leite |
PTB / Coligação Unidos para Reconstruir Camutanga |
351 |
Deferido por QP |
/ Eleito |
|||||||||||
|
45678 |
Irma Lucia Lucia Aparecida Correia Vieira |
PSDB / Frente Popular Em Defesa de Nosso Povo |
321 |
Deferido por QP |
/ Eleito |
|||||||||||
|
40222 |
Tonho da Venda Antonio Luiz de Pontes |
PSB / Frente Popular Em Defesa de Nosso Povo |
318 |
Deferido / Suplente |
||||||||||||
|
55000 |
Galego Epitácio Fabiano Epitácio da Silva |
PSD
Unidos |
/ Coligação para |
283 |
Deferido / Suplente |
|||||||||||
1º turno - Resultado da Votação para o cargo de Vereador em Camutanga | ||||
Nº |
Candidato |
Partido/Coligação |
Votos |
Situação |
|
|
Reconstruir Camutanga |
|
|
55444 |
Ricardo Almeida José Ricardo de Almeida |
PSD / Coligação Unidos para Reconstruir Camutanga |
283 |
Deferido / Eleito por média |
40333 |
Sergio
Sergio Murilo do Nascimento |
PSB / Frente Popular Em Defesa de Nosso Povo |
184 |
Deferido / Suplente |
12365 |
Samuel de Nemercio Samuel Vidal de Andrade Rocha |
PDT / Coligação Unidos para Reconstruir Camutanga |
179 |
Deferido / Suplente |
19678 |
Aguinaldo Barateiro Aguinaldo Jose da Silva |
PTN / Frente Popular Em Defesa de Nosso Povo |
178 |
Deferido / Suplente |
1º turno - Resultado da Votação para o cargo de Vereador em Camutanga | ||||
Nº |
Candidato |
Partido/Coligação |
Votos |
Situação |
19999 |
Diego Trigueiro Diego Alves Monteiro da Silva |
PTN / Frente Popular Em Defesa de Nosso Povo |
175 |
Deferido / Suplente |
12345 |
Zinho
José Severino da Silva |
PDT / Coligação Unidos para Reconstruir Camutanga |
160 |
Deferido / Suplente |
22222 |
Carlos Marone Carlos Antonio Araujo da Silva |
PR / Frente Popular Em Defesa de Nosso Povo |
155 |
Deferido / Suplente |
13131 |
Adilson Pontes Adilson Pontes da Silva |
PT / Coligação Unidos para Reconstruir Camutanga |
152 |
Deferido / Suplente |
12123 |
Miriam Pereira
Miriam Pereira Cabral da Silva |
PDT / Coligação Unidos para Reconstruir Camutanga |
86 |
Deferido / Suplente |
1º turno - Resultado da Votação para o cargo de Vereador em Camutanga | ||||
Nº |
Candidato |
Partido/Coligação |
Votos |
Situação |
36444 |
Josilene
Josilene Pereira da Silva |
PTC / Frente Popular Em Defesa de Nosso Povo |
70 |
Deferido / Suplente |
13456 |
Paulo Cabelo Verde Paulo Miguel Marinho |
PT / Coligação Unidos para Reconstruir Camutanga |
60 |
Deferido / Suplente |
40040 |
Ruth Enfermeira Ruth Dias Silva de Paula |
PSB / Frente Popular Em Defesa de Nosso Povo |
51 |
Deferido / Suplente |
40000 |
Fabiano de Mércia Fabiano Rosas de Carvalho |
PSB / Frente Popular Em Defesa de Nosso Povo |
22 |
Deferido / Suplente |
12000 |
Professor Alexandre Alexandre José de Melo Coutinho |
PDT / Coligação Unidos para Reconstruir Camutanga |
19 |
Deferido / Suplente |
1º turno - Resultado da Votação para o cargo de Vereador em Camutanga | ||||
Nº |
Candidato |
Partido/Coligação |
Votos |
Situação |
13333 |
Biju
Daniel Borba da Silva Junior |
PT / Coligação Unidos para Reconstruir Camutanga |
18 |
Deferido / Suplente |
40100 |
Marluce
Marluce Maria de Santana |
PSB / Frente Popular Em Defesa de Nosso Povo |
9 |
Deferido / Suplente |
13113 |
Brother
Roberto Manoel de Araújo |
PT / Coligação Unidos para Reconstruir Camutanga |
3 |
Deferido / Suplente |
55123 |
Gordinha
Maria Luciene Ferreira de Paula |
PSD / Coligação Unidos para Reconstruir Camutanga |
0 |
Deferido / Suplente |
8. Antes de 2016, considerações sobre 2014.
2014 fora um ano em que o Brasil recebeu a Copa do Mundo, amargamos os 1x7 contra a Alemanha, engolimos a seco na verdade. Some-se a isto um cenário político rachado, Dilma desgastada, a mídia quase todo contra a mesma, um Aécio com discurso moralizador, um acidente trágico que interrompeu a campanha de Eduardo Campos que pleiteava o Palácio da Alvorada, Marina que viu sua eleição ir do Ápice ao derretimento com um discurso pueril e pouco concreto. Mas depois de uma eleição apertada Dilma ganhou em segundo turno de Aécio Neves.
Em Camutanga, Armando tinha quase que o controle da situação, apoiou dois candidatos, um habilidoso estrategista, Guilherme Uchôa para a ALEPE e o novato Marinaldo Rosendo para a Câmara Federal.
É sabido que as eleições de deputado servem como termômetro nas pequenas cidades, Ricardo com uma Vereadora e outros correligionários era o azarão, apoiava Henrique Queiroz de 09 mandatos para a ALEPE e Augusto Coutinho para a Câmara Federal .
Apesar de ter conseguido aglutinar apoio aos seus deputados, Ricardo não conseguiu vencer a força política do Prefeito, que deu votação maior aos seus candidatos. Mesmo assim Ricardo e seu grupo tinham superado suas expectativas e deram uma votação acima do projetado e do esperado.
Trigueiro, junto com Lula Veiculo e seu Irmão Toinho Trigueiro deram uma votação muito aquém para alguém que há pouco tempo era prefeito da cidade, dando ao seu candidato Antônio Moraes poucos votos.
Ricardo consolidava-se como a segunda força política da cidade e Armando como político a ser batido.
8. 2016, Doda de Vice para Prefeito.
Doda é um conhecido comerciante de Camaragibe, filho de agricultores de Salgadinho o mesmo tem fazendas na divisa entre Camutanga-PE e Itabaiana-PB, e sempre acompanhou com entusiasmo a política local.
Talvez jamais tenha se imaginado como político, mas essa vontade aumentou, o que lhe fez procurar Ricardo e convida-lo para compor uma futura chapa encabeçada por ele.
Ricardo que já vinha construindo uma agenda com amigos negou a oferta, mas convidou o mesmo para ser seu vice nas eleições de 2016.
Fechado o acordo, Doda foi apresentado ao grupo, e logo cativou os correligionários, foi quase automático.
Durante mais da metade do ano de 2016 era fato consumado, Ricardo Prefeito e Doda Vice, mas fatores técnicos detectados através de pesquisas de opinião acabaram fazendo Ricardo pesar o destino do grupo.
Ricardo amargava uma certa rejeição, e mesmo com mais pontos à frente de Doda naquele momento, pelas projeções seria derrotado por Armando, por outro lado Doda tinha pouquíssima rejeição, e mais musculatura para enfrentar o pleito.
Quase às vésperas das convenções ficou definido, Doda como Candidato a Prefeito e Ricardo a Vice, mas essa eleição está longe de ter esse fato como protagonista.
8.3 Conhece o teu “inimigo” e em 100 guerras sairás vitorioso.
Sun Tsu nos trezes manuais elaborados há milênios atrás, já dizia que devemos conhecer nosso inimigo, ter cautela, analisar a conjuntura.
É necessário conhecer o campo em que estamos disputando, ou seja, conhecer os eleitores, suas demandas, suas preferencias, até mesmo a roupa que eles desejam que os candidatos vistam. Além de que é imperioso conhecer o adversário, sua força e sua fraqueza. Conhece-lo a fundo, e conhecer, obvio, a si mesmo.
Conheça a si mesmo e ao inimigo e, em cem batalhas, você nunca correrá perigo.
Conheça a si mesmo, mas desconheça seu inimigo, e sias chances de ganhar e perder são iguais.
Desconheça e si mesmo e ao inimigo e você sempre correrá perigo. (Sun Tzu, 2010)
Armando é, como se diz na gíria, "macaco velho", foram três eleições vencidas, apenas uma derrota em 2008 com um sucessor, e um bom relacionamento político com autoridades públicas no Estado, inclusive o Governador.
Armando nunca esteve para brincadeira. Doda por outro lado, é um comerciante habilidoso, bem situado, mas que ainda estava engatinhando na política.
No entanto, o nome de Doda "pegou", como dizem as pessoas, e nas pesquisas aparecia como preferido entre as pessoas entrevistadas.
Talvez o que tenha faltado é a cautela necessária para manter a dianteira, aqui não falo como cientista político, não sou presunçoso, falo como eleitor, como cabo eleitoral, como alguém que viu uma eleição quase ganha, fugir por entre os dedos.
O general que compreende a guerra é ministro do povo e o protetor da nação‖ (Sun Tzu, 2010)
Mas já é dito, quase não é 100%, e na política seguro morreu de velho, nunca é demais prevenir, pois depois de aberta às urnas não há como voltar no tempo.
Armando é astuto, sabe e soube usar as peças do tabuleiro ao seu favor, isso ficou claro como o sol, mas ficará mais claro a seguir.
8.4 A onda azul vs o Arrastão do 40.
A Campanha de Doda crescia, saltava aos olhos, as passeatas superavam as expectativas, as passeatas, aliás, é uma medida da situação do candidato, quanto mais gente colocar nas ruas, maior será a possibilidade daquilo se reverter em votos. Doda só era Candidato a prefeito há menos de 30 dias. Por outro lado, as passeatas de Armando não assustavam, pelo menos da percepção de quem está na oposição. A situação tem por obrigação que colocar muita gente, e as passeatas não que fossem pequenas, mas não juntavam a multidão esperada.
Resido na Rua santa Cruz, a maioria das passeatas do candidato da situação saiam do inicio da cidade, quase em frente da nossa casa, não houve uma passeata que assustasse (do ponto de vista da oposição) . Para alguém que estava no poder e com o poder, era obrigação colocar muita gente, o que acontecia, mas de forma tímida.
Tudo caminhava para o desfecho que esperávamos, Doda prefeito, isso era nítido, no dia a dia, no porta a porta, no entusiasmo da juventude, mas detalhes são decisivos numa eleição em cidades pequenas.
8.5 O asfalto e o panelaço
A semana da eleição foi marcada por vários fatos que concatenaram-se até o dia da eleição.
Na sexta feira dia 23 de outubro daquele ano, o secretário de transporte do Estado Sebastião Oliveira, em visita a cidade num ato publico do prefeito e candidato Armando, disse em alto e bom som que na semana seguinte estariam chegando as maquinas para asfaltar as principais ruas da cidade.
Na semana seguinte as tais maquinas chegaram, com direito a fogos, locutor pelas ruas e o escambal, pirotecnia, muito barulho, muita propaganda, atrelando inclusive os feitos aos candidatos Armando e Lenildo.
O fato é que foi o primeiro sinal de que a coisa poderia mudar de plano.
Nós da oposição, crentes de que o resultado das pesquisas e o retrato das ruas refletiria nas urnas, mas aquela semana estava só começando.
Na quarta feira, dia 28 de setembro, seria a ultima passeata do nosso grupo, tudo organizado, estávamos entusiasmados demais.
Fui até Recife resolver questões pessoais, voltei às 15h, passei primeiro na casa de minha mãe que estava se organizando para o movimento da noite e fui para casa na rua Santa Cruz descansar, reabastecer para voltar ao pique de reta final de eleição.
Foi quando encontrei uma pequena aglomeração de pessoas, algo por volta de 300 pessoas vestindo azul, algumas pessoas de cavalo à frente, um paredão de som parado, e uma senhora do lado de fora de um ecoesposte dando voz de prisão ao referido condutor do paredão.
Primeiro tentei manter a calma e a serenidade, depois caiu a ficha do que se tratava.
Vi que o condutor do paredão não parou e foi embora, a promotora que era a referida senhora do ecoesporte revoltada, com aquela "desobediência", momento em que fomos até o cartório da cidade junto com ela e lá tivemos a noticia de que a mesma iria requerer da Juíza eleitoral o cancelamento do evento na parte da noite.
Imaginem só, palanque montado, paredão alugado, presença confirmada do Vice Governador e de um deputado federal que estava sedento para "debulhar" o prefeito, expectativa de multidão nas ruas, tudo isso desmanchado em minutos.
Depois de muita revolta, de recorrer ao TRE-PE, foi organizado um "panelaço", o povo nas ruas espontaneamente para dar uma resposta à situação, que naquela hora já gozava da cara da oposição.
Para além da expectativa, o povo encheu de tal modo as ruas, que não lembro de outro evento do mesmo porte em Camutanga.
O azul predominante, um gosto de “já ganhou”, mas Sun Tzu também nos ensina a ter cautela.
O bom guerreiro atrai o inimigo para si e nunca inicia o combate (Sun Tzu, 2010)
A noite estava longe de acabar, e o enredo daquela eleição longe de ter um final.
8.6 Tiros no portão.
Tinha acabado de chegar em casa, ainda estava entusiasmado com a festa nas ruas, mas certo de que aquilo seria considerado uma afronta pela justiça.
Estava num dilema, feliz pela quantidade de gente nas ruas, mas receoso com a repercussão jurídica.
Sentei e fiquei assistindo, de repente ouvi “pipocos” ecoarem na rua. Fiquei assustado, mas saí até o terraço para ver se via alguma coisa ou alguém, NADA, o que se seguiu foi o mais absoluto silêncio.
Mas dentro de mim tinha uma má impressão que aquilo pudesse ter sido algo mais grave. No dia seguinte vi numa reportagem na Globo que o prefeito e candidato a reeleição teria sido vítima de um atentado, saí e vi algumas senhoras consternadas, uma fita de isolamento, alguns policiais. Percebi que aquilo seria utilizado pela campanha da situação.
Antes mesmo do imaginado o Prefeito fez questão de atribuir os tiros no portão à oposição. Eu não via sentido nisso, e alguns fatos continuam sem resposta até hoje. Por exemplo, quem foram as pessoas que atiraram? O porquê dos tiros? Continua um mistério.
O fato é que aquele fato, por mais bizarro que aparente ser, e é, trouxe consequências ao grupo de oposição.
8.7 Policia Federal.
Não lembro de outra eleição em que a força policial tenha sido tão presente quanto em 2016. A cidade parecia estar sitiada, e para algum desavisado visitante, aparentava que a cidade estava sob domínio de alguma facção criminosa(risos).
Numa sexta feira dia 30 de setembro de 2016, fui até Itambé resolver questão do partido e da coligação, quando recebi ligação que dava conta que a Policia Federal estava na casa dos candidatos Doda e Ricardo apreendendo documentos.
Ao chegar na casa de Doda, vi muita coisa revirada, duas promotoras, uma delegada, alguns agentes da PF, policias militares, e um clima de tensão nunca visto. Papeis na mesa, listas, notas, fiquei assustado de verdade, mas meu maior medo era que aquilo fosse usado como arma política pela situação para influenciar nas eleições, e foi,
à noite os jornais de Pernambuco davam conta da operação e das apreensões.
No Sábado, para fechar com chave de ouro, Doda Fora preso em flagrante por portar cerca de onze mil reais em seu carro, só fora liberado mediante fiança na parte da noite, a situação espalhou que o mesmo não poderia mais concorrer ao pleito, e claro, o povo teme perder em qualquer situação.
8.8 Dia da eleição
O clima não era muito diferente das outras eleições, o que mudava é que aparentemente a oposição estava na frente sendo seguida pela situação. Mesmo com os acontecimentos dos dias anteriores, o clima entre os eleitores era tranquilo, com exceção de um ou outro evento isolado.
Doda enfrentou a mão firme do Estado, pouco se locomoveu na cidade, talvez até mesmo uma falha de cada um de nós que estávamos dando assistência, mas nem na hipótese mais remota acreditava que o Prefeito fosse reverter o quadro desfavorável.
Doda perdeu por 35 votos, exatamente isso, eu fiquei sem acreditar por alguns dias, meses, ou até hoje, uma eleição que estava nas mãos, se desfez no ar. Por detalhes, por excesso de confiança, por picuinhas internas. Armando dividiu e conquistou, usou sua experiência em seu favor e ganhou, por pouco, mais ganhou.
Para a oposição restou lamentar, juntar os cacos e fazer oposição durante os anos que se seguiram. Esse foi um dos capítulos mais emocionantes da politica local, sem nenhum exagero, uma das eleições mais polarizadas e tensas e ficará registrada nos anais da historia da cidade.
Candidatos / Prefeito Eleito de Camutanga 1°
PSB ELEITO
50.28%
3,103 VOTOS
2°
PR 49.72%
3,068 VOTOS
SEÇÕES: 23 de 23 VOTOS BRANCOS: 56 VOTOS NULOS: 181
Candidatos a Vereador de Camutanga
Vagas para Vereador: 9
1°
PR ELEITO 9.89%
610 VOTOS
2°
PROS ELEITO 8.63%
532 VOTOS
3°
PDT ELEITO 8.61%
531 VOTOS
4°
PDT
ELEITO
8.37%
516 VOTOS
5°
PR ELEITO 5.58%
344 VOTOS
6°
PSB ELEITO 5.58%
344 VOTOS
7°
PROS ELEITO 5.27%
325 VOTOS
8°
PMDB ELEITO 5.00%
308 VOTOS
9°
PMDB
ELEITO
4.82%
297 VOTOS
9. 2020 Eleições e pandemia.
Em janeiro de 2020 todas as forças políticas buscavam viabilizar um projeto. Dinho, pastor da Igreja Batista, vinha conversando com alguns setores. O grupo de Doda costurava alianças, Armando tinha o seu pré-candidato, Lula Veículos, e na sociedade de modo geral existia a expectativa de que Doda pudesse concorrer ao cargo de prefeito.
Do outro lado do mundo, totalmente distante da pequena Camutanga, o mundo começava a receber noticias de um surto de um vírus CORONAVIRUS, até aquele momento, algo absolutamente subestimado, comparado a uma gripe ou um resfriado.
O vírus chegou até a Europa e começou a assustar de verdade, cenas de pessoas morrendo em casa, hospitais superlotados, caixões e mais caixões, centenas de mortos, tudo aquilo começou a assustar de verdade a todos. Em março o Brasil começou a sofrer com a pandemia, nossos hospitais começaram a lotar, pessoas começaram a morrer e o inevitável aconteceu, comercio fechado, igrejas, festas suspensas, eventos públicos, cenário apocalíptico, e o receio de que as eleições fossem transferidas para 2022 crescia.
No dia 02 de julho de 2020 fora promulgada a emenda 107/2020 alterando as datas das eleições.
Com isso o pleito que estava marcado para outubro ocorreu no dia 15 de novembro.
Doda seria o candidato, mas por estar impedido judicialmente, acabou lançando sua filha, Talita Fonseca, e o vice escolhido fora Toinho Trigueiro.
No decorrer da campanha o cenário fora se desenhando, além de uma forte rejeição ao prefeito Armando e sua administração, o seu candidato, Lula veículos não conseguia aglutinar apoiadores, e nem conseguia crescer. Seus atos de campanha eram decepcionantes, de pouca adesão popular, já os de Talita iam crescendo de acordo com o andamento da campanha.
No dia 29 de outubro o TRE-PE, através de Resolução n 372, proibiu todos os atos de campanha, sem exceção, caminhadas, carreatas, passeatas, etc. O que fez com que os candidatos investissem mais em propagandas digitais, através de suas paginas.
O candidato Dinho corria muito por fora, com um discurso mais “idealista”, e sem nenhum nome de peso lhe apoiando, o candidato não conseguia ter apoio significativo.
Na reta final, Talita abriu uma vantagem visível sobre os adversários, chegando em pesquisas a 62% da intenção de voto, contra 29% de Lula e 2,0 % de Dinho.
No dia das eleições nada de novo, o cenário desenhado durante a campanha era visível nas ruas, a maioria dos populares vestiam azul, cor do MDB em Camutanga, e de forma muito tímida os eleitores do PSB saiam às ruas.
No fim, deu o que se esperava, Talita teve uma vitória acachapante, fruto de trabalho gestado em 2013 por um grupo de pessoas, entre estes Ricardo Godoy e a minha mãe, a Vereadora Lucia Correia, e que fora ganhando corpo no decorrer dos anos.
Talita se sagrou a Prefeita Eleita mais jovem do país, com 23 anos de idade. Com uma votação de 3.614 votos, contra 1714 de Lula e 631 de Dinho.
Um fato triste para este que escreve, pela primeira vez em 16 anos, a Câmara Municipal não teria representação feminina. Minha Mãe, a vereadora Lucia Correia, obteve uma votação de 330 votos, sendo a sexta mais votada, mas pela regra acabou ficando de fora por apenas 02 votos.
OBSERVAÇÃO:
Em meados de 2021 o Vereador e ex-vice prefeito de Camutanga, Lenildo Correia, filho de um dos maiores nomes da politica local, Lucio Correia, viria a falecer vítima de complicações da COVID-19. Fato este que chocou os camutanguenses e foi um abalo na política. Lenildo vinha no seu 08 mandato de Vereador, além dos outros dois como vice e faleceu prematuramente. Em seu lugar, nessas coincidências de vida, assumiu a sua tia, Lúcia Correia, que tinha ficado na primeira suplência.
Camutanga, PE
100,00%
seções apuradas: 21 de 21
Prefeito
1.
Talita de Doda
MDB ELEITO
60,65%
3.614 votos
2.
Lula Veículos
PSB
28,76%
1.714 votos
3.
Dinho Parabólicas
PTC
10,59%
631 votos
Vereadores
1º Jesse de Romildo MDB ELEITO 549 9,30%
2º Gilmar Pereira PSB ELEITO 528 8,94%
3º Antonio da Venda MDB ELEITO 428 7,25%
4º Fernando de Vunda MDB ELEITO 399 6,76%
5º Silvio Pimentel MDB ELEITO 346 5,86%
6º Lenildo Correia MDB ELEITO 332 5,62%
7º Karlos Marone PL ELEITO 319 5,40%
8º Ricardo Almeida PSB ELEITO 283 4,79%
9º Maurecí de Leta PSB ELEITO 258 4,37%
10º Irmã Lucia MDB 330 5,59%
11º Marcos Camelo MDB 284 4,81%
12º Fia da Rua Nova PL 251 4,25%
13º Zinho da Saúde PSB 223 3,78%
14º Janete de Lula PSB 195 3,30%
15º Joao Andre PL 142 2,41%
16º Professor Orlando PSB 112 1,90%
17º Rei de Vunda MDB 64 1,08%
18º Tia Jó PSB 38 0,64%
19º Fuba PL 37 0,63%
20º Oliveira de Vunda PSB 34 0,58%
CONCLUSÃO.
As eleições mechem com a vida das pessoas de cidades pequenas como em nenhum outro lugar. Camutanga é uma cidade de grupos que se revessam no poder, que lutam pelos destinos da cidade, que lutam para colocar em prática ideias e projetos. Alguns foram decepcionantes, outros ineficientes. O fato é que está no DNA de cada morador da polis a politica, queira ele ou não. Aperfeiçoar o sistema não cabe ao munícipio, é matéria federal, mas se os munícipes fizerem sua parte e derem o exemplo de civilidade, democracia, republicanismo , já será um passo importante na luta pela mudança no modo de fazer politica, administrar o bem público e participar da vida pública. Oro a Deus para que viva para ver Camutanga melhor, desenvolvida econômica e socialmente, trazendo qualidade de vida para os cidadãos e cidadãs desta urbe.