Princípio da simplicidade na reforma tributária

20/07/2024 às 20:33

Resumo:


  • É necessário simplificar o sistema tributário brasileiro, que atualmente é extremamente complexo e demanda muito tempo dos contribuintes para cumprir suas obrigações.

  • Existe uma lista extensa de tributos e obrigações acessórias no Brasil, o que demonstra a necessidade urgente de reforma e simplificação do sistema.

  • O princípio da simplicidade na reforma tributária visa facilitar o cumprimento das obrigações dos contribuintes, tornando as leis mais claras e práticas.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE NA REFORMA TRIBUTÁRIA

Pablo Juan Estevam Morais

Roberto Rodrigues de Morais

07/2024

O emaranhado de normas a que estão obrigados a cumprir no ordenamento tributário brasileiro, tanto pelos empresários, mas principalmente pelos profissionais de contabilidade, torna-se necessário pensar, agir e modificar, via poder legislativo o sistema atual vigente, praticando o princípio da simplicidade incluído na reforma tributária, cuja legislação complementar está em fase de debate no Senado Federal, que relator diz que vai alterar o texto aprovado pela Câmara.

Ok. Mas é preciso fixar na simplificação do sistema, medida urgente que não se pode perder a oportunidade para legislar para modificar o status quo vigente.

É sabido que, para os contribuintes empresarial brasileiro possa cumprir as obrigações tributárias que lhe foram impostas pelo fisco, é necessário – segundo estudo publicado pelo Banco Mundial 1.501 horas para pagar impostos no Brasil.

É muito complexo o sistema tributário em vigor. Vale constatar que as principais leis tributárias foram promulgadas pelo regime militar (CTN, 1966, LEC, 1980, , PAT, 1972, DEC-LEI 1.025/1969 dos famigerados 20% sobre a dívida a títulos de encargos), tão combatido pelos que se dizem democráticos, mas prazerosamente utilizam dessa legislação – sem critica – por ser BOA PARA ARRECADAR!

Vamos exemplificar a complexidade do sistema atual com dois exemplos práticos:

1 - Lista de tributos (impostos, contribuições, taxas, contribuições de melhoria) existentes no Brasil, segundo o Portal Tributário:

  1. Adicional de Frete para Renovação da Marinha Mercante – AFRMM - Lei 10.893/2004

  2. Contribuição à Direção de Portos e Costas (DPC) - Lei 5.461/1968

  3. Contribuição à Comissão Coordenadora da Criação do Cavalo Nacional - CCCCN - art. 11 da Lei 7.291/1984

  4. Contribuição ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FNDCT - Lei 10.168/2000

  5. Contribuição ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), também chamado "Salário Educação" - Decreto 6.003/2006

  6. Contribuição ao Funrural - Lei 8.540/1992

  7. Contribuição ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) - Lei 2.613/1955

  8. Contribuição ao Seguro Acidente de Trabalho (SAT), atualmente com a denominação de Contribuição do Grau de Incidência de Incapacidade Laborativa decorrente dos Riscos Ambientais do Trabalho (GIIL-RAT)

  9. Contribuição ao Serviço Brasileiro de Apoio a Pequena Empresa (Sebrae) - Lei 8.029/1990

  10. Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado Comercial (SENAC) - Decreto-Lei 8.621/1946

  11. Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado dos Transportes (SENAT) - Lei 8.706/1993

  12. Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (SENAI) - Lei 4.048/1942

  13. Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado Rural (SENAR) - Lei 8.315/1991

  14. Contribuição ao Serviço Social da Indústria (SESI) - Lei 9.403/1946

  15. Contribuição ao Serviço Social do Comércio (SESC) - Lei 9.853/1946

  16. Contribuição ao Serviço Social do Cooperativismo (SESCOOP) - art. 9, I, da MP 1.715-2/1998

  17. Contribuição ao Serviço Social dos Transportes (SEST) - Lei 8.706/1993

  18. Contribuição Confederativa Laboral (dos empregados) - embora de aplicação facultativa a partir de nov/2017 (por força da Reforma Trabalhista), mantivemos esta contribuição no rol, em função de suas particularidades tributárias. Veja as diferenças entre a Contribuição Confederativa e o "imposto sindical"

  19. Contribuição Confederativa Patronal (das empresas) - embora de aplicação facultativa a partir de nov/2017 (por força da Reforma Trabalhista), mantivemos esta contribuição no rol, em função de suas particularidades tributárias. Veja as diferenças entre a Contribuição Confederativa e o "imposto sindical".

  20. Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico – CIDE Combustíveis - Lei 10.336/2001

  21. Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico – CIDE Remessas Exterior - Lei 10.168/2000

  22. Contribuição para a Assistência Social e Educacional aos Atletas Profissionais - FAAP - Decreto 6.297/2007

  23. Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública - Emenda Constitucional 39/2002

  24. Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional – CONDECINE - art. 32 da Medida Provisória 2228-1/2001 e Lei 10.454/2002

  25. Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública - art. 32 da Lei 11.652/2008

  26. Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB) - art. 8º da Lei 12.546/2011

  27. Contribuição Sindical Laboral - embora de aplicação facultativa a partir de nov/2017 (por força da Reforma Trabalhista), mantivemos esta contribuição (também chamada de "imposto sindical") no rol, em função de suas particularidades tributárias.

  28. Contribuição Sindical Patronal - embora de aplicação facultativa a partir de nov/2017 (por força da Reforma Trabalhista), mantivemos estas contribuições no rol, em função de suas particularidades tributárias.

  29. Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS)  

  30. CBS - Contribuição sobre Bens e Serviços

  31. Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL)  

  32. Contribuições aos Órgãos de Fiscalização Profissional (OAB, CRC, CREA, CRECI, CORE etc.)

  33. Contribuições de Melhoria: asfalto, calçamento, esgoto, rede de água, rede de esgoto etc.

  34. Fundo Aeroviário (FAER) - Decreto Lei 1.305/1974

  35. Fundo de Combate à Pobreza - art. 82 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias, instituído pela EC 31/2000

  36. Fundo Estadual de Equilíbrio Fiscal - FEEF - Convênio ICMS 42/2016

  37. Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (FISTEL) - Lei 5.070/1966 com novas disposições da Lei 9.472/1997

  38. Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) - Lei 5.107/1966

  39. Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST) - art. 6 da Lei 9.998/2000

  40. Fundo Especial de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das Atividades de Fiscalização (Fundaf) - art.6 do Decreto-Lei 1.437/1975 e art. 10 da IN SRF 180/2002

  41. Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel) - Lei 10.052/2000

  42. IBS - Imposto sobre Bens e Serviços

  43. IS - Imposto Seletivo

  44. Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)

  45. Imposto sobre a Exportação (IE)

  46. Imposto sobre a Importação (II)

  47. Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA)

  48. Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU)

  49. Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR)

  50. Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza (IR - pessoa física e jurídica)

  51. Imposto sobre Operações de Crédito (IOF)

  52. Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)

  53. Imposto sobre Transmissão Bens Inter-Vivos (ITBI)  

  54. Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD)  

  55. INSS ("Contribuição Previdenciária") de Autônomos e Empresários

  56. INSS ("Contribuição Previdenciária") de Empregados

  57. INSS ("Contribuição Previdenciária") Patronal sobre a Folha de Pagamento

  58. IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados)  

  59. Programa de Integração Social (PIS) e Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP)  

  60.  SPVAT - Seguro Obrigatório para Proteção de Vítimas de Acidentes de Trânsito - em substituição ao antigo DPVAT - veja porque entendemos que o SPVAT é tributo 

  61. Taxa de Autorização do Trabalho Estrangeiro  

  62. Taxa de Avaliação in loco das Instituições de Educação e Cursos de Graduação - Lei 10.870/2004

  63. Taxa de Avaliação da Conformidade - Lei 12.545/2011 - art. 13

  64. Taxa de Classificação, Inspeção e Fiscalização de produtos animais e vegetais ou de consumo nas atividades agropecuárias - Decreto-Lei 1.899/1981

  65. Taxa de Coleta de Lixo

  66. Taxa de Combate a Incêndios

  67. Taxa de Conservação e Limpeza Pública

  68. Taxa de Controle Administrativo de Incentivos Fiscais - TCIF - Lei 13.451/2017

  69. Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA - Lei 10.165/2000

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  70. Taxa de Controle e Fiscalização de Produtos Químicos - Lei 10.357/2001, art. 16

  71. Taxa de Emissão de Documentos (níveis municipais, estaduais e federais)

  72. Taxa de Fiscalização da Aviação Civil - TFAC - Lei 11.292/2006

  73. Taxa de Fiscalização da Agência Nacional de Águas – ANA - art. 13 e 14 da MP 437/2008

  74. Taxa de Fiscalização CVM (Comissão de Valores Mobiliários) - Lei 7.940/1989

  75. Taxa de Fiscalização de Sorteios, Brindes ou Concursos - art. 50 da MP 2.158-35/2001

  76. Taxa de Fiscalização de Vigilância Sanitária Lei 9.782/1999, art. 23

  77. Taxa de Fiscalização dos Produtos Controlados pelo Exército Brasileiro - TFPC - Lei 10.834/2003

  78. Taxa de Fiscalização dos Mercados de Seguro e Resseguro, de Capitalização e de Previdência Complementar Aberta - art. 48 a 59 da Lei 12.249/2010

  79. Taxa de Fiscalização e Controle da Previdência Complementar - TAFIC - Entidades Fechadas de Previdência Complementar - art. 12 da Lei 12.154/2009

  80. Taxa de Licenciamento Anual de Veículo - art. 130 da Lei 9.503/1997

  81. Taxa de Licenciamento, Controle e Fiscalização de Materiais Nucleares e Radioativos e suas instalações - Lei 9.765/1998

  82. Taxa de Licenciamento para Funcionamento e Alvará Municipal

  83. Taxa de Pesquisa Mineral DNPM - Portaria Ministerial 503/1999

  84. Taxa de Serviços - TS - Zona Franca de Manaus -  Lei 13.451/2017

  85. Taxa de Serviços Metrológicos - art. 11 da Lei 9.933/1999

  86. Taxa de Utilização de Selo de Controle - art. 13 da Lei 12.995/2014

  87. Taxas ao Conselho Nacional de Petróleo (CNP)

  88. Taxa de Outorga e Fiscalização - Energia Elétrica - art. 11, inciso I, e artigos 12 e 13, da Lei 9.427/1996

  89. Taxa de Outorga - Rádios Comunitárias  - art. 24 da Lei 9.612/1998 e nos art. 7 e 42 do Decreto 2.615/1998

  90. Taxa de Outorga - Serviços de Transportes Terrestres e Aquaviários - art. 77, incisos II e III, a art. 97, IV, da Lei 10.233/2001

  91. Taxas de Saúde Suplementar - ANS  - Lei 9.961/2000, art. 18

  92. Taxa de Utilização do SISCOMEX - art. 13 da IN 680/2006

  93. Taxas do Registro do Comércio (Juntas Comerciais)

  94. Taxas Judiciárias

  95. Taxas Processuais do Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE - art. 23 da Lei 12.529/2011

2 - Consultando o site da Receita Federal, no link DECLARAÇÕES vamos citar várias obrigações, muitas delas até desnecessárias pois podem ser verificadas pelo Fisco nos módulos do SPEED.

Eis a lista das ditas cujas:

DIRPF, DITR, DCTF, DCTF-Web, GEFIP, DASN-MEI, DEFIS, PGDASP, DEC. OP. CLIPTOMOEDAS, ABEX, DIR, DME, DMED, DOI, DBF, DECRED, DIF papel imune, DIMOB, CDP, DTTA, ECD, EFD-Reinf. Temos ainda a recém-criada DIRB, repudiadas pelos contadores, mas tendo que cumpri-la.

Algumas até já fora de uso, mas como retroagem a 5 anos, ficam abertas para os inadimplentes possa regularizar sua situação. Daí a necessidade de SIMPLIFICAÇÃO do Sistema Tributário Nacional.

Mas como, se a reforma já começa criando um DUPLA TRIBUTAÇÃO para o ano de 2026:

Será na CBS – substituta do PIS e da COFINS – que terá um TESTE inicial com aplicação da alíquota de 0,9% entre 01-01-2026 e 31-12-2026 que – durante esse período – poderá ser feita a compensação dos valores recolhidos à título de CBS com o valor da COFINS e do PIS no mesmo período.

Finalmente, a partir de 01-01-2027 a CBS será cobrada pela alíquota total, cujo percentual ainda será estabelecido pela futura Lei Complementar regulamentadora da EC 132.

Portanto, o princípio da simplicidade determina que tanto a criação de tributos, quanto a fiscalização das obrigações tributárias principais e acessórias, devem se pautar pela clareza e pela praticidade, ou seja: É essencial sempre facilitar o cumprimento dos deveres dos contribuintes, buscando ao máximo as formas menos onerosas e menos complexas possíveis de atuação.

É aguardar a Legislação decorrente da EC 132/2023 e conferir se o legislador prático atendeu o PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE, ou não.

Seria prudente o SENADO e novamente a CÂMARA – quando o prometido texto alterado da LC retorna aquela casa legislativa – que ouçam os órgãos de classe interessados.

Citamos a FENACON, além das confederações empresariais tais como CNI, CNC, CNS, CNT e outras que puderem se manifestar para realmente o PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE possa direcionar o legislador brasileiro nesse momento histórico da REFORMA TRIBUTÁRIA!

Sobre o autor
Roberto Rodrigues de Morais

Especialista em Direito Tributário. Consultor Tributário na DEEP CONSULTING. Ex-Consultor da COAD. Autor do livro online "Reduza dívidas previdenciárias".

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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