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Deolane Bezerra: entre a presunção de inocência e o julgamento midiático

09/09/2024 às 15:00
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O caso envolvendo a influencer Deolane Bezerra tem gerado grande repercussão, principalmente após a publicação de uma carta em que ela defende sua inocência. Deolane e sua mãe foram presas sob suspeita de envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro proveniente de jogos ilegais. A carta, divulgada no Instagram no dia 8 de setembro de 2024, expressa sua indignação com a falta de provas que justifiquem a prisão. O impacto dessa declaração, especialmente em um contexto de intensa cobertura midiática, levanta questões jurídicas e sociais importantes sobre o sistema de justiça brasileiro.


Carta de Deolane Bezerra

“Agradeço imensamente o carinho e o apoio de todos, tenham certeza que não irão se arrepender, afirmo com todo o respeito que tenho por vocês, sou inocente e não há uma prova sequer.”


Análise Jurídica e Social

Sob o ponto de vista jurídico, a carta de Deolane Bezerra traz à tona uma questão sensível: a presunção de inocência, garantida pela Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, inciso LVII, que determina que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. O uso da prisão preventiva, amplamente criticada neste caso, surge como uma medida cautelar que deveria ser aplicada com parcimônia. A prisão preventiva tem sido alvo de críticas não apenas por ser aplicada em situações onde ainda não há condenação definitiva, mas também por, muitas vezes, ser prolongada de maneira indevida, prejudicando os direitos constitucionais dos acusados.

O fato de Deolane Bezerra ser uma figura pública amplifica a atenção que o caso recebe. Muitas vezes, a mídia prioriza escândalos envolvendo celebridades, em detrimento de casos igualmente ou mais graves que não têm o mesmo apelo popular. A cobertura midiática nesse caso parece reforçar uma narrativa condenatória antes do julgamento, gerando um impacto social e psicológico significativo.


Exemplo Hipotético de Condenação

Suponhamos que uma pessoa comum seja acusada de lavagem de dinheiro e, após a investigação, fique comprovado o seu envolvimento. Nesse caso, a condenação resultaria em uma série de sanções, como perda de direitos civis, detenção e danos irreparáveis à reputação e à vida pessoal e profissional dessa pessoa. As consequências legais incluem a aplicação de penas privativas de liberdade, multas e, possivelmente, o bloqueio de bens. Além disso, a dificuldade em retomar a vida normal após o cumprimento da pena é um obstáculo considerável, especialmente em termos de reabilitação social.


Exemplo Hipotético de Absolvição

Agora, imagine que a pessoa, após ter sido investigada, seja absolvida por falta de provas. Nesse caso, além da sensação de alívio, essa absolvição não elimina os danos já causados à sua imagem. Em contrapartida, há possibilidades de reparação, como o direito à indenização por danos morais e materiais, especialmente se for comprovado o abuso do uso da prisão preventiva. No entanto, os ganhos pessoais de uma absolvição, como a recuperação da liberdade e da dignidade, muitas vezes são limitados pela memória social e midiática do caso.


Críticas à Prisão Preventiva

A prisão preventiva, aplicada sem uma sentença definitiva, tem sido uma prática recorrente no Brasil, muitas vezes utilizada de maneira abusiva. Esse tipo de prisão deveria ser uma medida excepcional, conforme previsto no artigo 312 do Código de Processo Penal. No entanto, é comum observar a detenção de pessoas por períodos prolongados, antes que o processo seja finalizado. Esse abuso resulta em prisões injustas, violando o princípio constitucional da presunção de inocência e a garantia do devido processo legal, conforme previsto no artigo 5º, inciso LIV, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


A Influência da Mídia

O caso de Deolane Bezerra ilustra como a mídia pode atuar de maneira desproporcional, cobrindo amplamente casos que envolvem figuras públicas, como influenciadores digitais, enquanto outros casos, que envolvem crimes de maior gravidade, muitas vezes passam despercebidos. O fato de Deolane ser uma celebridade intensifica a cobertura do caso, e as críticas à sua prisão preventiva podem refletir tanto o interesse midiático quanto a atenção pública para com essas personalidades. Isso levanta a questão: a exposição excessiva contribui para uma justiça mais equitativa, ou apenas distorce a percepção da sociedade sobre a gravidade dos crimes?


Morosidade da Justiça

É importante considerar também a morosidade do sistema de justiça, que afeta tanto os casos envolvendo figuras públicas quanto os que passam despercebidos. A demora na tramitação de processos pode deixar muitos investigados e condenados presos por tempo excessivo, sem que tenham tido o devido julgamento. Isso fere a garantia constitucional do devido processo legal e perpetua uma sensação de injustiça. No Brasil, há diversos casos de presos que aguardam julgamento por anos, em situação de vulnerabilidade, sem que o Estado lhes assegure a celeridade e o direito à ampla defesa.

Em suma, o caso de Deolane Bezerra evidencia as falhas e desafios do sistema jurídico brasileiro, especialmente no que diz respeito ao uso excessivo da prisão preventiva e à influência midiática sobre o curso da justiça.

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