Religião e Política nas Eleições Brasileiras

Resumo:


  • Candidatos nas eleições municipais no Brasil usam passagens bíblicas seletivamente para justificar propostas e atacar adversários.

  • O peso das comunidades religiosas influencia discursos políticos que conectam políticas públicas a valores bíblicos, desafiando a separação entre Igreja e Estado.

  • Líderes religiosos usam passagens bíblicas para influenciar a moralidade pública, levantando debates sobre questões como aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

As eleições municipais realizadas em 06 de outubro de 2024 no Brasil revelam um cenário onde a moralidade religiosa se mistura frequentemente com a política. Muitos candidatos recorrem à Bíblia para justificar suas propostas e atacar adversários, um fenômeno crescente que reflete a forte presença das crenças cristãs no país. O uso de passagens bíblicas, contudo, é muitas vezes seletivo, moldando interpretações que favorecem determinadas agendas políticas. Esse comportamento se afasta dos princípios bíblicos de justiça e igualdade, trazendo à tona o debate sobre o verdadeiro papel das Escrituras na política.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que estabelece o Estado laico, assegura a liberdade religiosa e impede que o governo favoreça qualquer religião. Mesmo assim, o peso das comunidades evangélicas e católicas impulsiona discursos que conectam políticas públicas a valores bíblicos. No Salmo 33,12 é dito: “Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor”, muitos candidatos encontram justificativa para governar sob “preceitos divinos”, ignorando a pluralidade religiosa do Brasil e questionando a separação entre Igreja e Estado.

L íderes religiosos mencionam frequentemente as chamadas “constituições bíblicas” para influenciar a moralidade pública, embora essas não possuam validade legal. Questões como o aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e ensino religioso são constantemente debatidas sob a ótica de passagens como Gênesis 1,27 sinaliza: Deus criou o homem à sua imagem e semelhança”, buscando limitar direitos civis em nome de interpretações religiosas.

A instrumentalização da Bíblia para fins políticos também leva à manipulação eleitoral. Candidatos, utilizando-se do medo de um “desvio moral”, citam Apocalipse 3,16: “Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca” para polarizar a sociedade em torno de uma visão conservadora. Esse tipo de retórica afasta aqueles que veem nos ensinamentos bíblicos uma mensagem inclusiva e de justiça social, criando divisões ainda mais profundas.

O s desafios jurídicos são evidentes quando a Bíblia é usada como ferramenta política. Em Mateus 22, 21 é revelado “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, Jesus faz uma clara distinção entre as esferas terrena e divina, o que entra em conflito com propostas que buscam influenciar o Estado laico. O STF já reiterou a laicidade do Brasil em várias ocasiões, destacando que a fé pessoal não pode determinar a criação de leis e políticas públicas.

A polarização religiosa nas eleições pode também agravar divisões sociais. Em Romanos 12,18 aponta “Se for possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens”, a Bíblia prega a coexistência pacífica, algo que muitas vezes é ignorado em campanhas que excluem grupos que não compartilham da fé cristã. A intolerância religiosa aumenta e prejudica o diálogo democrático essencial para o fortalecimento das instituições.

E m contrapartida, há quem busque uma interpretação bíblica progressista, promovendo a inclusão social e os direitos humanos. Textos como Isaías 1, 17 asseguram “Aprendei a fazer o bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido” são usados para defender pautas de justiça social e proteção ambiental. Essa visão sugere que a Bíblia pode, sim, ser uma ferramenta positiva no debate político, desde que usada de maneira inclusiva e responsável.

N o campo da ética, é preciso cautela para evitar a instrumentalização da fé. Em Mateus 7,15 é advertido “Acautelai-vos dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores”, Jesus adverte contra aqueles que utilizam a religião para enganar. Muitos candidatos se aproveitam da fé do eleitorado, sem verdadeiramente seguirem os valores cristãos, diluindo a fronteira entre Estado e religião.

E sse fenômeno não é exclusivo do Brasil. Em Provérbios 14,34 estabelece que “A justiça engrandece a nação, mas o pecado é a vergonha dos povos”, a Bíblia ressalta que as nações são fortalecidas por princípios justos, e essa reflexão também é válida em outros países onde a religião tem influência política, como os Estados Unidos. O desafio é encontrar um equilíbrio entre fé e Estado sem comprometer a democracia.

À medida que novas eleições se aproximam, o Brasil precisa encontrar um caminho em que a fé religiosa e a política possam coexistir de forma construtiva. O uso da Bíblia para fins eleitorais, quando manipulado, pode comprometer a essência dos ensinamentos de justiça, igualdade e amor ao próximo. Como nos lembra 1 Coríntios 13,13 é determinado que, “o maior destes é o amor”, e é esse princípio que deve nortear tanto a política quanto a religião em uma verdadeira democracia.

Sobre os autores
Carlos Daniel Targino da Silva

Correspondente Jurídico e Pesquisador

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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