O Fenômeno do "Fear of Missing Out" (FOMO), a falta de regulamentação para os criadores de conteúdo e a necessidade de seguir influencers

13/10/2024 às 01:30
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A ascensão das redes sociais e a popularização dos influenciadores digitais têm transformado radicalmente a maneira como as crianças e adolescentes interagem com o mundo ao seu redor. Esses jovens, que cresceram imersos no ambiente digital, são bombardeados diariamente por conteúdos que moldam suas opiniões, comportamentos e decisões de consumo. No entanto, a falta de regulamentação adequada sobre o que os influenciadores podem ou não publicar coloca em risco o desenvolvimento saudável dessa geração. Diante disso, é essencial analisar os efeitos da influência digital sobre esse público vulnerável e destacar a necessidade urgente de uma legislação mais robusta que proteja crianças e adolescentes.

No cenário digital contemporâneo, a influência de conteúdos promovidos por influenciadores digitais tem crescido de forma exponencial, alcançando tanto crianças e adolescentes quanto adultos. Esse ambiente online, que inclui desde redes sociais até plataformas de streaming, permanece em grande parte sem regulamentação adequada, especialmente no que diz respeito à publicidade de produtos e serviços de risco, como as apostas online.

 

A Influência dos Influenciadores: Benefícios e Malefícios

 

Os influenciadores digitais são vistos como modelos por muitos jovens, que frequentemente os seguem em busca de inspiração, dicas e tendências. Entre os benefícios dessa influência, podemos citar o fato de que muitos influenciadores promovem causas importantes, como saúde mental, sustentabilidade, inclusão social e bem-estar. Quando usados de forma positiva, esses conteúdos podem encorajar crianças e adolescentes a adotar comportamentos mais saudáveis e conscientes.

No entanto, nem todos os conteúdos gerados por influenciadores têm efeitos positivos. Há inúmeros casos de influenciadores promovendo estilos de vida superficiais, produtos prejudiciais ou até mesmo disseminando informações falsas. Crianças e adolescentes, por estarem em fase de desenvolvimento e com critérios de julgamento ainda em formação, são mais suscetíveis a absorverem essas influências de forma crítica. Isso pode levar à criação de expectativas irreais sobre a vida, aparência física, sucesso financeiro e outros aspectos, o que, em muitos casos, resulta em problemas de autoestima e ansiedade.

 

A Falta de Regulamentação: Consequências Diretas para Crianças e Adolescentes

Um dos maiores problemas enfrentados na relação entre influenciadores digitais e seu público jovem é a falta de regulamentação sobre o que eles podem publicar. Ao contrário de meios tradicionais de publicidade, onde existem leis claras sobre o tipo de conteúdo que pode ser exibido para menores de idade, o ambiente digital ainda é amplamente desregulado. Isso permite que os influenciadores promovam produtos e comportamentos sem qualquer restrição, muitas vezes colocando em risco o bem-estar das crianças e adolescentes. Atualmente, não há uma legislação específica que delimite a responsabilidade desses criadores de conteúdo, especialmente quando o público-alvo inclui crianças e adolescentes.

A Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) já chamou a atenção para a necessidade de regras mais rigorosas que regulem a publicidade disfarçada de recomendação pessoal. Muitas vezes, influenciadores promovem produtos sem deixar claro que estão sendo pagos para isso, o que confunde o público jovem, que não consegue distinguir entre opinião genuína e propaganda. Isso pode levar a um consumismo desenfreado, onde crianças e adolescentes pressionam seus pais a adquirirem produtos que não são essenciais ou, pior ainda, que podem prejudicar sua saúde física e mental.

 

Efeitos Psicológicos e Sociais da Influência Digital: O Poder dos Influenciadores sobre o Público Jovem

 

Os influenciadores digitais têm um alcance sem precedentes entre crianças e adolescentes. Esses criadores de conteúdo acumulam milhões de seguidores em plataformas como YouTube, Instagram, TikTok e Twitch, tornando-se figuras de confiança para seus jovens seguidores. Muitos influenciadores constroem sua audiência com base em uma estética de proximidade e autenticidade, o que torna sua influência sobre o comportamento do público ainda mais poderosa. O conteúdo que eles compartilham abrange uma vasta gama de tópicos, desde tutoriais de maquiagem e jogos online até opiniões sobre moda, alimentação e estilo de vida. Muitos jovens veem os influenciadores como amigos virtuais, cujas opiniões e escolhas de vida devem ser seguidas. No entanto, essa conexão emocional pode resultar em uma influência excessiva, onde os jovens adotam cegamente comportamentos e atitudes sem uma avaliação crítica.

Um estudo recente realizado pela Common Sense Media revelou que cerca de 40% das crianças entre 8 e 12 anos passam em média duas horas por dia consumindo conteúdo de influenciadores. Isso significa que esses jovens estão expostos a uma quantidade significativa de informações que podem impactar diretamente sua visão de mundo. A ausência de regulamentação nesse contexto é alarmante, pois os influenciadores muitas vezes não têm treinamento ou conhecimento especializado para entender as consequências de suas recomendações. Diante de todos esses desafios, a criação de uma legislação mais robusta para regular a atuação dos influenciadores digitais torna-se uma necessidade urgente. No Brasil, embora existam algumas diretrizes que regulam a publicidade infantil, elas ainda são insuficientes para lidar com a complexidade do ambiente digital.

A constante exposição ao conteúdo digital pode impactar diretamente o desenvolvimento emocional e social de jovens, especialmente adolescentes, que estão na fase de formação de sua identidade. Entre os efeitos psicológicos mais recorrentes, encontram-se o aumento da ansiedade e da depressão, especialmente quando os influenciadores promovem estilos de vida e aparências irreais. O chamado "FOMO" (Fear of Missing Out), ou medo de ficar de fora, também é uma consequência comum, levando jovens a se sentirem isolados ou inadequados em comparação com os padrões exibidos nas redes sociais.

 

O Fenômeno do FOMO e a Necessidade de Seguir Influencers

Introdução ao FOMO

 

O termo FOMO (Fear of Missing Out) pode ser traduzido como o "medo de ficar de fora" e refere-se à ansiedade social que muitas pessoas sentem quando acreditam que estão perdendo experiências, eventos ou oportunidades importantes que outros estão aproveitando. Esse fenômeno ganhou destaque com o advento das redes sociais e a popularização dos influenciadores digitais, que constantemente compartilham momentos de suas vidas, dando a impressão de que estão sempre participando de atividades incríveis e exclusivas. 

O FOMO não é um conceito novo, mas as redes sociais amplificaram seu impacto, tornando-o uma preocupação crescente entre psicólogos e especialistas em saúde mental.

 

A Psicologia do FOMO

O FOMO está profundamente enraizado em nossa psicologia e comportamento social. A necessidade de pertencimento e aceitação é uma característica fundamental dos seres humanos, e as redes sociais exacerbam essa necessidade, criando um ciclo de comparação e competição. Quando os indivíduos veem seus amigos ou influenciadores participando de eventos sociais, viajando para lugares exóticos ou adquirindo produtos de última geração, eles podem sentir que estão perdendo algo essencial. Essa sensação de perda pode gerar ansiedade, tristeza e até depressão.

Além disso, o FOMO está associado a uma constante busca por validação social. O número de "curtidas", "compartilhamentos" e "comentários" em postagens nas redes sociais pode ser percebido como um indicador de sucesso e popularidade. Para muitos, especialmente os jovens, a ausência de interação social online pode ser vista como uma rejeição ou falta de aceitação, intensificando ainda mais o medo de ficar de fora.

A Necessidade de Seguir Influenciadores

Os influenciadores digitais desempenham um papel central no fenômeno do FOMO. Eles são frequentemente vistos como modelos a serem seguidos, devido ao seu estilo de vida aparentemente glamoroso e suas inúmeras conquistas. Seguir influenciadores pode proporcionar uma sensação de conexão e pertencimento, especialmente para aqueles que se sentem isolados ou desconectados em suas vidas cotidianas. Essa necessidade de seguir influenciadores pode ser explicada por vários fatores:

Identificação e Aspiração: Muitos seguidores veem nos influenciadores uma versão idealizada de si mesmos. Eles aspiram alcançar os mesmos objetivos e viver experiências semelhantes. Isso cria um vínculo emocional forte, onde o seguidor sente que, ao acompanhar a vida do influenciador, está de alguma forma participando dessas experiências.

Validação Social: Seguir influenciadores que são amplamente reconhecidos e respeitados pode proporcionar uma forma de validação social. Compartilhar interesses ou apoiar as mesmas causas que essas figuras públicas pode reforçar a identidade social do seguidor e fortalecer seu senso de pertencimento.

Acesso a Informações e Oportunidades Exclusivas: Influenciadores frequentemente oferecem conteúdos exclusivos, dicas, produtos e oportunidades que não estão disponíveis para o público geral. Seguir esses indivíduos pode dar aos seguidores a sensação de terem acesso a um "clube" exclusivo, aumentando a percepção de que estão na vanguarda de tendências e experiências.

Efeitos Negativos do FOMO

Embora seguir influenciadores possa ter seus benefícios, os efeitos negativos do FOMO são significativos e não devem ser subestimados. A constante comparação com os outros pode levar a uma série de problemas psicológicos e sociais:

Ansiedade e Depressão: O FOMO pode causar altos níveis de ansiedade e depressão, especialmente quando os indivíduos sentem que suas vidas não são tão excitantes ou gratificantes quanto as dos influenciadores que seguem. Essa comparação constante pode levar à insatisfação crônica e à falta de autoestima.

Distorção da Realidade: Influenciadores tendem a compartilhar apenas os aspectos positivos de suas vidas, criando uma visão distorcida da realidade. Isso pode levar os seguidores a acreditarem que estão constantemente "atrás" ou "em falta", sem reconhecer que todos têm altos e baixos em suas vidas.

Comportamentos Compulsivos de Consumo: A pressão para se manter atualizado com as últimas tendências e produtos promovidos por influenciadores pode levar a comportamentos compulsivos de consumo. Isso não só pode causar problemas financeiros, mas também contribuir para um ciclo vicioso de insatisfação e desejo interminável por mais.

Estratégias para Combater o FOMO

Para mitigar os efeitos negativos do FOMO e promover um uso mais saudável das redes sociais, várias estratégias podem ser adotadas:

Educação Digital: Promover a alfabetização digital nas escolas e comunidades pode ajudar os jovens a desenvolverem uma visão crítica sobre o conteúdo que consomem nas redes sociais. Entender que as postagens nas redes sociais são muitas vezes idealizadas pode ajudar a reduzir o impacto do FOMO.

Limitação do Tempo de Tela: Estabelecer limites para o tempo gasto nas redes sociais pode reduzir a exposição ao conteúdo que provoca FOMO. Aplicativos de controle de tempo de tela podem ser ferramentas úteis para ajudar a gerenciar e limitar o uso das redes sociais.

Foco em Conexões Reais: Incentivar atividades offline e conexões reais com amigos e familiares pode ajudar a criar um equilíbrio saudável entre a vida online e offline. Participar de atividades sociais reais pode reduzir a sensação de perda associada ao FOMO.

Autoconsciência e Reflexão: Praticar a autoconsciência e a reflexão pode ajudar os indivíduos a reconhecerem os gatilhos do FOMO e a desenvolverem estratégias para lidar com eles. Técnicas de mindfulness e meditação podem ser particularmente úteis para cultivar um senso de contentamento e gratidão.

 

Propostas para a Regulamentação no Brasil

 

No Brasil, a regulamentação da atuação de influenciadores ainda é incipiente, mas há uma crescente demanda por leis que protejam os consumidores dos abusos cometidos no ambiente digital. Uma das propostas mais urgentes é a criação de uma lei específica para regular a publicidade feita por influenciadores, estabelecendo critérios claros sobre transparência, responsabilidade e limites quanto ao tipo de conteúdo que pode ser promovido.

Uma abordagem seria a criação de uma Agência Nacional de Publicidade Digital, responsável por monitorar e fiscalizar a atuação dos influenciadores. Essa agência poderia estabelecer diretrizes claras sobre a necessidade de identificar publicações patrocinadas e impor sanções para aqueles que não cumprirem as regras. Além disso, seria importante criar um código de conduta para os influenciadores, com princípios éticos que orientem sua atuação, especialmente quando o público-alvo inclui menores de idade.

 

Conclusão

 

A influência dos influenciadores digitais sobre crianças e adolescentes é um fenômeno que apresenta tanto oportunidades quanto desafios. Embora possam promover mensagens positivas e encorajar bons hábitos, muitos influenciadores também divulgam conteúdos prejudiciais ou manipulativos, o que exige uma regulamentação adequada. As crianças e adolescentes, como públicos vulneráveis, precisam de proteção contra abusos, especialmente no ambiente digital, onde a linha entre publicidade e conteúdo se torna cada vez mais tênue.

A ausência de regulamentação clara e eficaz no ambiente digital é um problema que afeta diferentes faixas etárias, desde crianças e adolescentes até adultos, especialmente quando o assunto envolve a promoção de serviços de risco, como as apostas online. A criação de leis mais rígidas que contemplem as realidades do marketing digital e da atuação dos influenciadores é essencial para garantir a proteção dos consumidores e evitar que grupos vulneráveis sejam explorados em um cenário cada vez mais tecnológico e conectado.

O papel das famílias, educadores e do Estado é fundamental para criar um ambiente digital mais seguro e saudável. A criação de uma legislação específica, aliada à educação digital nas escolas e à supervisão ativa dos pais, pode ajudar a mitigar os efeitos negativos da influência digital e proteger o desenvolvimento das crianças e adolescentes na era das redes sociais. A constante exposição ao conteúdo digital pode impactar diretamente o desenvolvimento emocional e social de jovens, especialmente adolescentes, que estão na fase de formação de sua identidade. Entre os efeitos psicológicos mais recorrentes, encontram-se o aumento da ansiedade e da depressão, especialmente quando os influenciadores promovem estilos de vida e aparências irreais. O chamado "FOMO" (Fear of Missing Out), ou medo de ficar de fora, também é uma consequência comum, levando jovens a se sentirem isolados ou inadequados em comparação com os padrões exibidos nas redes sociais.

Assim, é essencial que pais, educadores, plataformas digitais e legisladores trabalhem juntos para garantir que o ambiente digital seja um espaço seguro e positivo para o desenvolvimento saudável dos jovens. A criação de leis específicas e de um código de ética para influenciadores é um passo importante para mitigar os impactos negativos e proteger os interesses das crianças e adolescentes na era digital.

Sobre o autor
Silvio Moreira Alves Júnior

Advogado; Especialista em Direito Digital pela FASG - Faculdade Serra Geral; Especialista em Direito Penal e Processo Penal pela FASG - Faculdade Serra Geral; Especialista em Direito Penal pela Faculminas; Especialista em Compliance pela Faculminas; Especialista em Direito Civil pela Faculminas; Especialista em Direito Público pela Faculminas. Doutorando em Direito pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales – UCES

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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