O grande irmão: o príncipe contemporâneo de maquiavel

08/11/2024 às 17:57
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A peça que será relacionada com um dos assuntos trabalhados na matéria será 1984, um romance escrito pelo inglês George Orwell, uma das obras mais influentes do século XX. Ela narra um futuro relativamente distante e distópico em que o personagem principal, Winston Smith, encontra-se angustiado em um mundo feito de opressão absoluta, tendo em vista que, na Oceânia, país onde acontece a história, pensar livremente é um crime gravíssimo, pois o Grande Irmão está observando todos os cidadãos, visando um maior controle e a manutenção do domínio do Partido. Esse domínio afeta todas as esferas sociais, famílias em que os pais são denunciados pelos filhos, colegas de trabalho que entregam seu companheiros aos partidos e até mesmo cônjuges; ou seja, o maior bem é a manutenção do partido e a veneração ao Grande Irmão. A história se desenrola com uma revolta de Winston, no seu íntimo, juntamente com uma colega de trabalho chamada Júlia.

Como já foi retratado no título, o foco principal será no Grande Irmão - símbolo e maior representação do partido - e a sua relação e semelhança com as características que um príncipe deveria, segundo Maquiavel, possuir, como foi retratado no texto de Sadek. É evidente que o contexto entre essa distopia e o que viveu Maquiavel são completamentes distintos, porém, mesmo com tais diferenças, o Maquiavel foi sempre falou sobre estado, poder e sua manutenção, algo que o Grande Irmão deixar claro dominar com maestria, tornando-se evidente uma inspiração e uma semelhança de visão de mundo entre os dois.

Maquiavel veria o Grande Irmão como um homem de enorme virtú, pois, além de ter conseguido conquistar o poder ( a forma que conquistou não é revelada no livro) e ir se mantendo lá por muitos anos, ele consegue convencer a população do quão necessário ele é, dando quase um fim para sua oposição, conseguindo, dessa forma, um domínio da fortuna.

“ … A ordem tem um imperativo: deve ser construída pelos homens para se evitar o caos e a barbárie” SADEK, 2001, p.18. Nesse trecho do texto vê-se claramente a ideia do filósofo italiano de que a ordem não surge naturalmente e que cabe, portanto, ao homem construí-la, algo que é uma das principais ideias do Partido de 1984, sendo facilmente notada ao se ver como os cidadão percebem a importância dele para a sociedade, faz-se necessário, para eles, um poder forte para que possa surgir, de fato, uma ordem na sociedade e o Grande Irmão é importante justamente por ser a personificação desse poder forte e pode difundir essa ideia de que, sem ele e toda essa organização, a sociedade viveria num caos generalizado.

No capítulo XVIII do livro de Maquiavel, ele deixa mostra como deve ser o cumprimento de suas promessas e as atitudes morais por parte do princípe, podendo perceber outra semelhança com o déspota do romance, em que percebe-se várias mudanças em atitudes e promessas feitas pelo mesmo, porém, como defendido pelo filósofo, ele deve parecer sempre o mais virtuoso e confiável possível, visando uma boa relação com seus cidadãos, tendo isso em vista, pode-se perceber um departamento, chamado de “Departamento da Verdade” em que seus funcionários apagam antigas declarações, leis, decretos e notícias os quais foram de alguma forma contraditos por algo agora em vigor por parte do Grande Irmão, para que, dessa forma, ele seja capaz de voltar atrás naquilo que não seja benéfico e, concomitantemente, continuar visto como alguém com retidão de caráter e não uma figura contraditória e de falsas promessas. Outra coisa que, segundo Maquiavel no capítulo XXI, traz uma grande estima para o príncipe são raras e esplendorosas ações, algo que o Grande Irmão faz questão de ter ao anunciar altas na produção de certo bem ou uma vitória importante na guerra contra determinado país, mesmo que esses números sejam alterados e os dados sejam errôneos, ele faz questão de se exaltar essa virtude que o intelectual de virtú mostra ser importante. “ Não é necessário a um príncipe ter todas as qualidades mencionadas, mas é indispensável parecer tê-las.” SADEK, 2001, p. 39.

Outro ponto importante que Maquiavel defende no capítulo XXI de “O Príncipe” é o de que aqueles cidadãos que se destacassem em suas tarefas fossem premiados, o que parece ser contrário à atitude do Partido, tendo em vista que aqueles que pensassem demais e fizessem demais era torturados e sofriam uma espécie de “lavagem cerebral” para que se readequassem ao pensamento comum, porém, essa premiação defendida pelo filósofo italiano acontecia, não para o tipo de cidadão citado anteriormente, mas para cidadãos como é o exemplo do Parsons, um colega de trabalho de Winston que realizava todas suas tarefas, nutria grande veneração pelo Grande Irmão e educava seus filhos para isso também, sem nunca questionar da importância e/ou dos métodos utilizados pelo partidos, esse tipo de pessoa era premiado, para poder ser usado como exemplo e, dessa forma, sua atitude ser repetida por outros, ajudando na manutenção da ordem e do pode do Grande Irmão e do Partido, mostrando fortemente sua virtú, como dito anteriormente.

Maquiavel escreveu suas obras com o objetivo de auxiliar e, de certa forma, ensinar os políticos a exercer sua função, a ter mais virtú, um domínio da fortuna, ou seja, ter a habilidade de conquistar o poder e manter-se nele e isso é evidente no Grande Irmão, em que, por meio de atitudes do Partido, mudou a forma de pensar da população ao ponto de coisas que vemos como grande barbáries e medidas autoritárias serem vistas como algo normal e necessário, em que o maior da população é quase pleno e aqueles que não apoiam são impedidos de manifestar sua oposição, garantindo, dessa forma, uma base solidificada em que ele pode governar com facilidade, um forte apoio e sem grandes ameaças ao seu poder, o que era o grande objetivo dos conselhos de Maquiavel.

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