Direitos Autorais e Economia do Streaming: desafios e transformações

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Introdução

A revolução digital transformou a forma como consumimos música e outras formas de arte, e a ascensão da economia do streaming é um dos maiores marcos dessa transformação. A facilidade de acesso a milhões de faixas a qualquer momento redefiniu a experiência do usuário e alterou profundamente a dinâmica da indústria musical. No entanto, essa revolução trouxe desafios significativos para a proteção dos direitos autorais e para a remuneração justa dos criadores. Este ensaio explora as mudanças que a economia do streaming trouxe para o setor musical, os desafios enfrentados pelos artistas e as possíveis soluções para equilibrar inovação e justiça no mercado.

Direitos Autorais na Era do Streaming

Os direitos autorais continuam a ser o pilar central da proteção das criações artísticas. Eles garantem que os compositores, músicos e intérpretes sejam recompensados pelo uso de suas obras. Na era do streaming, plataformas como Spotify, Apple Music e Amazon Music pagam royalties aos detentores dos direitos autorais com base no número de execuções (streams) das músicas. Diferente dos modelos de venda direta, como CDs ou downloads digitais, o pagamento por streaming é recorrente e fragmentado, dependendo do volume de reproduções e da fatia de mercado que a obra ocupa no catálogo da plataforma.

Desafios na Economia do Streaming

Embora o streaming tenha democratizado o acesso à música, permitindo que milhões de usuários consumam conteúdo de forma instantânea, ele também trouxe desafios significativos. O modelo de remuneração baseado em centavos por cada stream, frequentemente menos de um centavo, cria uma grande disparidade entre artistas de alta popularidade e aqueles em fase de crescimento ou com uma base de fãs limitada. Essa estrutura de pagamento favorece os grandes sucessos comerciais, enquanto artistas independentes muitas vezes recebem retornos irrisórios, apesar de terem suas músicas amplamente disponíveis. Além disso, a concentração de poder nas mãos de grandes plataformas também influencia a maneira como a música é descoberta e promovida, com algoritmos favorecendo conteúdos populares, aumentando a pressão para que artistas “viralizem” suas obras.

Transformações na Indústria Musical

A economia do streaming forçou a indústria musical a se adaptar rapidamente. Em vez de se basear na venda de álbuns ou singles, o sucesso de um artista passou a ser medido em número de streams e seguidores nas plataformas. As gravadoras, por sua vez, focam em acordos que priorizam a presença digital de seus artistas, muitas vezes vinculando campanhas de marketing a tendências de streaming. Além disso, plataformas de streaming assumiram um papel fundamental como intermediárias entre o artista e o público, criando uma nova dinâmica na qual os músicos têm menos controle sobre como suas obras são distribuídas e monetizadas.

Essas mudanças também reformularam o relacionamento entre artistas e fãs. Enquanto o streaming permite uma conexão mais direta e acessível, a queda nos ganhos por cada reprodução impulsiona músicos a explorar novas fontes de receita, como shows ao vivo, merchandising, crowdfunding e acordos de licenciamento.

Novas Abordagens e Soluções

Diante dos desafios impostos pelo modelo de streaming, diversas alternativas têm sido exploradas para garantir a justiça financeira para os criadores. Uma dessas alternativas é a pressão por uma maior transparência na distribuição dos royalties, além da implementação de sistemas mais equitativos de remuneração, como o modelo de pagamento por usuário, no qual as assinaturas de streaming beneficiariam diretamente os artistas ouvidos por cada usuário, ao invés de serem distribuídas de forma agregada.

Além disso, muitos artistas estão buscando diversificar suas fontes de renda, apostando em plataformas de financiamento direto, como Patreon, ou em acordos de licenciamento para filmes, comerciais e jogos. O crescimento de iniciativas de distribuição independente também tem ganhado força, permitindo que músicos mantenham maior controle sobre suas obras e seus rendimentos.

Conclusão

A relação entre os direitos autorais e a economia do streaming é uma questão multifacetada, que reflete os desafios e as oportunidades da era digital. Embora o streaming tenha facilitado o acesso à música para milhões de pessoas, ele também criou novas barreiras financeiras e estruturais para os criadores. À medida que o setor evolui, será crucial buscar um equilíbrio entre a inovação tecnológica e a justa remuneração dos artistas. As soluções propostas — como novos modelos de remuneração e maior controle por parte dos criadores sobre suas obras — são passos importantes para assegurar que a economia do streaming continue a fomentar uma indústria musical sustentável e diversa, onde os direitos autorais sejam respeitados e a arte continue a florescer.

Referências

Kretschmer, M., & Mendis, D. (2020). The Impact of Streaming on Music Creators' Income: A Global Perspective. Journal of Media Law and Practice.

Marshall, L. (2019). Music as Intellectual Property: Economic and Legal Perspectives on the Music Industry. Routledge.

Mulligan, M. (2015). The Streaming Effect: Assessing the Impact of Streaming on the Music Industry. MIDiA Research.

Passman, D. S. (2021). All You Need to Know About the Music Business. Simon & Schuster.

Towse, R. (2019). Handbook of Cultural Economics. Edward Elgar Publishing.

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Sobre o autor
Antonio Evangelista de Souza Netto

Juiz de Direito de Entrância Final do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Pós-doutor em Direito pela Universidade de Salamanca - Espanha. Pós-doutor em Direito pela Universitá degli Studi di Messina - Itália. Doutor em Filosofia do Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP (2014). Mestre em Direito Empresarial pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP (2008). Coordenador do Núcleo de EAD da Escola da Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná - EMAP. Professor da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados - ENFAM. Professor da Escola da Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo - EMES. Professor da Escola da Magistratura do TJ/PR - EMAP.

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