A Regulação do Crédito Bancário no Brasil: Desafios, Soluções e Perspectivas Globais

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26/11/2024 às 15:53

Resumo:


  • O sistema bancário brasileiro desempenha um papel crucial na economia nacional, com o crédito bancário sendo fundamental para o acesso a recursos por indivíduos e empresas.

  • O Brasil enfrentou desafios recentes, como crises econômicas e a pandemia de COVID-19, que impactaram o mercado de crédito, levando a um aumento das taxas de inadimplência e à necessidade de novas regulamentações.

  • A regulação do crédito bancário no Brasil busca equilibrar a proteção ao consumidor com a facilitação do acesso ao crédito, abordando questões como transparência, taxas de juros elevadas e inclusão financeira.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

O sistema bancário brasileiro é um dos pilares fundamentais da economia nacional. Nele, o crédito bancário desempenha um papel crucial na dinâmica financeira, facilitando o acesso a recursos para indivíduos e empresas. A regulação do crédito, portanto, não é apenas um aspecto técnico ou administrativo, mas um mecanismo de controle essencial para garantir o equilíbrio entre a oferta e a demanda de crédito e proteger os direitos dos consumidores.

Nos últimos anos, o Brasil passou por diversas transformações econômicas que afetaram diretamente o mercado de crédito. A crise econômica de 2014, a recessão de 2015 e, mais recentemente, a pandemia de COVID-19, trouxeram à tona novos desafios para a regulação do crédito. O mercado de crédito bancário se viu diante de um aumento substancial das taxas de inadimplência e da necessidade de novas regulamentações para proteger os consumidores de práticas abusivas, enquanto ainda se buscava garantir o bom funcionamento das instituições financeiras.

O presente artigo tem como objetivo analisar a regulação do crédito bancário no Brasil, seus desafios, as oportunidades para o desenvolvimento do mercado e a proteção ao consumidor. Para isso, o artigo será estruturado em uma série de tópicos que vão desde uma visão geral do sistema bancário brasileiro até uma comparação com outros modelos internacionais de regulação, destacando as melhores práticas e os pontos que podem ser melhorados no Brasil.

Este estudo se propõe a explorar os principais mecanismos de crédito utilizados no país, as normas e legislações que regem esse mercado, e os desafios regulatórios enfrentados pelo setor financeiro. Além disso, serão analisadas as implicações das recentes inovações financeiras, como as fintechs, no modelo de regulação vigente, e como a transformação digital está mudando a forma como o crédito é oferecido aos consumidores.

O crédito bancário no Brasil é marcado por altos custos, taxas de juros elevadas e uma complexa estrutura regulatória que, por um lado, busca proteger os consumidores, mas, por outro, pode dificultar o acesso ao crédito para camadas da população de baixa renda. Neste contexto, será discutida a importância da transparência nas relações bancárias, da oferta de crédito acessível e das medidas de prevenção contra práticas abusivas, como a cobrança de taxas excessivas.

Por fim, o artigo abordará as comparações entre o sistema de regulação do crédito bancário no Brasil e outros países, com o intuito de identificar boas práticas e possíveis áreas de melhoria para o sistema nacional. A ideia é promover um debate acerca das oportunidades de aprimoramento da regulação no Brasil, focando principalmente no fortalecimento da proteção ao consumidor e na criação de um ambiente mais justo e acessível para todos os cidadãos.


2. O Sistema Bancário no Brasil

O sistema bancário brasileiro é composto por uma rede de instituições financeiras que operam no país, regulamentadas e supervisionadas principalmente pelo Banco Central do Brasil (Bacen) e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Essas instituições incluem bancos públicos e privados, cooperativas de crédito, caixas econômicas, financeiras e outras entidades que oferecem produtos e serviços bancários.

2.1 Histórico do Sistema Bancário Brasileiro

A história do sistema bancário brasileiro remonta ao século XIX, quando as primeiras instituições financeiras começaram a surgir, especialmente durante o período imperial. No entanto, foi a partir da década de 1960, com a criação do Banco Central do Brasil e a implementação do Sistema Financeiro Nacional (SFN), que o sistema bancário brasileiro se estruturou de forma mais sólida. O SFN foi criado pela Lei nº 4.595/1964, com o objetivo de regular o mercado financeiro e promover a estabilidade do sistema monetário nacional.

Ao longo das décadas seguintes, o Brasil passou por diversos ciclos econômicos, incluindo a hiperinflacão nos anos 80 e 90, o que levou à implementação de reformas monetárias e bancárias, como o Plano Real de 1994, que estabilizou a moeda e modernizou o sistema financeiro. O desenvolvimento do mercado de crédito no Brasil acompanhou essas mudanças, com a criação de novas modalidades de financiamento e crédito, e a ampliação do acesso ao sistema bancário, especialmente a partir dos anos 2000.

2.2 Principais Instituições Bancárias e suas Funções

O sistema bancário brasileiro é composto por diferentes tipos de instituições financeiras que desempenham papéis específicos dentro da economia. Os principais bancos do Brasil são os bancos comerciais, que têm como função a oferta de produtos de crédito, investimentos e serviços bancários básicos. Entre os maiores bancos comerciais do Brasil, estão o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Bradesco, a Itaú Unibanco e o Santander.

Além dos bancos comerciais, o Brasil conta com outras instituições financeiras, como as financeiras, que oferecem crédito pessoal e para o consumo, e as cooperativas de crédito, que operam com foco em grupos específicos de clientes e oferecem taxas de juros menores. As caixas econômicas, que são voltadas para a promoção de programas habitacionais e o financiamento de imóveis, também desempenham um papel importante no sistema bancário.

2.3 O Papel do Banco Central e a Regulação do Setor

O Banco Central do Brasil (Bacen) é o principal órgão responsável pela regulação e supervisão do sistema financeiro no país. Ele tem como função garantir a estabilidade do sistema bancário, controlar a inflação e promover a confiança no mercado financeiro. O Bacen exerce sua função regulatória por meio da criação de normas e diretrizes para as instituições financeiras, além de supervisionar suas atividades e garantir que operem de acordo com as regulamentações vigentes.

As normas do Bacen abrangem uma ampla gama de tópicos, desde o controle das taxas de juros até a regulamentação dos produtos financeiros oferecidos pelos bancos. Além disso, o Banco Central também é responsável pela implementação de políticas monetárias, como a definição da taxa Selic, que influencia diretamente as taxas de juros cobradas pelos bancos.


3. A Evolução da Regulação do Crédito Bancário no Brasil

A regulação do crédito bancário no Brasil passou por diversas transformações ao longo do tempo. Desde a criação do Sistema Financeiro Nacional (SFN), em 1964, a regulação tem sido constantemente adaptada para lidar com os desafios econômicos e financeiros do país.

3.1 A Criação do Sistema Financeiro Nacional (SFN)

Com a criação da Lei nº 4.595/1964, o Brasil estabeleceu a base para o Sistema Financeiro Nacional, que regulamenta as atividades bancárias e financeiras no país. O SFN teve como objetivo principal estruturar o mercado financeiro, promover a estabilidade da moeda e garantir o funcionamento eficiente das instituições financeiras. Essa lei também estabeleceu a criação do Banco Central do Brasil, que se tornaria o órgão regulador do sistema bancário.

3.2 Desafios Durante os Períodos de Crises Econômicas

O Brasil enfrentou diversas crises econômicas ao longo das últimas décadas, o que exigiu adaptações na regulação do crédito bancário. Durante o período de hiperinflação nos anos 80 e 90, o governo implementou medidas como o congelamento de preços e o controle das taxas de juros, mas a instabilidade econômica levou a uma série de reformas no setor bancário, incluindo a implementação do Plano Real, que estabilizou a moeda e gerou um novo ambiente para o mercado de crédito.

3.3 Reformas Monetárias e o Crédito Bancário

As reformas monetárias implementadas a partir da década de 1990 buscaram modernizar o sistema bancário e permitir um maior acesso ao crédito para a população. A implementação do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), em 2002, e a criação do Cadastro Positivo, em 2011, foram marcos importantes nesse processo, permitindo uma maior transparência nas transações financeiras e facilitando o acesso ao crédito.

3.4 A Regulação Contemporânea do Crédito Bancário

Nos últimos anos, o Banco Central tem trabalhado para aprimorar a regulação do crédito bancário, especialmente com relação à transparência nas operações e à proteção ao consumidor. A Lei nº 13.476/2017, que regula o crédito consignado, e a Lei nº 14.181/2021, que modifica o Código de Defesa do Consumidor (CDC) para estabelecer regras mais rigorosas para a oferta de crédito, são exemplos das mudanças que têm ocorrido para tornar o mercado de crédito mais seguro e acessível.


4. O Mercado de Crédito Bancário no Brasil: Produtos e Serviços

O mercado de crédito bancário no Brasil é vasto e diversificado, abrangendo uma série de produtos e serviços financeiros que atendem tanto a pessoas físicas quanto jurídicas. A oferta de crédito é fundamental para o crescimento da economia, uma vez que possibilita que os consumidores e as empresas financiem suas necessidades de consumo e investimentos. No entanto, a regulação desse mercado é crucial para evitar práticas predatórias e garantir que o crédito seja acessível, justo e transparente.

4.1 Produtos de Crédito Pessoal

Os produtos de crédito pessoal são uma das principais formas de financiamento oferecidas pelos bancos aos consumidores brasileiros. Entre os mais populares, destacam-se o crédito pessoal, o crédito consignado e o financiamento de veículos. O crédito pessoal é uma linha de crédito sem garantia que pode ser utilizada para diversos fins, como a compra de bens, o pagamento de dívidas ou o financiamento de emergências. Embora seja um produto amplamente acessível, ele apresenta taxas de juros elevadas, o que limita seu alcance para pessoas com baixa capacidade de pagamento.

Já o crédito consignado, que tem como garantia o desconto das parcelas diretamente na folha de pagamento do tomador do crédito, tem taxas de juros mais baixas, tornando-o uma opção mais atrativa para os consumidores. No entanto, a regulação desse tipo de crédito é complexa, e existe um risco de endividamento excessivo entre os consumidores, caso as parcelas se tornem um fardo financeiro.

4.2 Crédito Imobiliário

O crédito imobiliário tem se tornado cada vez mais relevante no Brasil, especialmente com o crescimento do mercado de imóveis nos últimos anos. O financiamento habitacional, principalmente por meio de programas do governo como o Minha Casa, Minha Vida, possibilita que milhões de brasileiros adquiram sua casa própria. No entanto, o financiamento imobiliário no Brasil também é marcado por taxas de juros elevadas e por longos prazos de pagamento, o que pode comprometer a capacidade de pagamento de uma parte significativa da população.

Além disso, o setor imobiliário brasileiro tem enfrentado desafios relacionados à alta carga tributária, à especulação imobiliária e à baixa oferta de imóveis populares, o que dificulta o acesso à casa própria para boa parte da população de baixa renda. A regulação do crédito imobiliário, portanto, deve ser cuidadosamente projetada para garantir que os consumidores não se vejam sobrecarregados com dívidas a longo prazo.

4.3 Crédito para o Setor Empresarial

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O crédito empresarial no Brasil também é uma área de grande relevância. Muitas empresas dependem do crédito bancário para financiar suas operações e expandir seus negócios. No entanto, as taxas de juros elevadas e as exigências de garantias dificultam o acesso de pequenas e médias empresas ao crédito, o que acaba limitando o crescimento do setor produtivo.

A regulação do crédito para empresas deve ser eficiente para garantir que os bancos não imponham condições desvantajosas para os tomadores de crédito, enquanto ainda mantêm a saúde financeira das instituições. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) é um dos principais agentes financeiros para o crédito empresarial no Brasil, oferecendo condições especiais de financiamento para as empresas. No entanto, as limitações de acesso e a burocracia muitas vezes são barreiras para muitas empresas, especialmente as de menor porte.

4.4 Crédito Rotativo e Empréstimos para Cartões de Crédito

O crédito rotativo, utilizado principalmente por meio dos cartões de crédito, é uma das formas de financiamento mais comuns no Brasil, mas também é uma das mais caras. Embora ofereça flexibilidade para os consumidores, o crédito rotativo frequentemente resulta em altos custos financeiros, devido às elevadas taxas de juros. A regulação dessa modalidade de crédito foi alterada nos últimos anos para tentar proteger os consumidores, com a limitação do uso do crédito rotativo e a exigência de que as instituições financeiras ofereçam alternativas de parcelamento.

No entanto, apesar das melhorias regulatórias, o crédito rotativo continua a ser uma das principais causas de endividamento no Brasil, especialmente para os consumidores com menos acesso a informações financeiras e com menor educação financeira.


5. A Regulação e a Proteção ao Consumidor no Crédito Bancário

A proteção ao consumidor é uma das principais preocupações da regulação do mercado de crédito bancário. No Brasil, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) é a principal legislação que visa proteger os direitos dos consumidores nas relações contratuais, incluindo aquelas que envolvem produtos e serviços bancários. O CDC estabelece regras claras sobre a transparência nas relações comerciais, o direito à informação adequada e a proteção contra práticas abusivas, como a cobrança de juros excessivos e a imposição de condições desvantajosas.

5.1 Taxas de Juros e a Proteção Contra a Cobrança Abusiva

As taxas de juros elevadas são uma característica marcante do mercado de crédito no Brasil. Embora a legislação tenha avançado em relação à regulação dessas taxas, a cobrança de juros abusivos continua a ser uma preocupação. A regulação das taxas de juros deve ser equilibrada, garantindo que os bancos possam cobrar um preço justo pelos seus serviços, ao mesmo tempo em que protejam os consumidores de práticas que possam levar ao endividamento excessivo.

A Lei da Usura, que proíbe a cobrança de juros exorbitantes, estabelece um limite para as taxas de juros cobradas em empréstimos e financiamentos. No entanto, a implementação dessa legislação pode ser difícil, já que muitas vezes as taxas de juros são disfarçadas em outros encargos e taxas, dificultando a percepção do consumidor sobre o real custo do crédito.

5.2 A Transparência nas Relações de Crédito

A transparência é um dos pilares da proteção ao consumidor no mercado bancário. A legislação exige que as instituições financeiras forneçam informações claras e compreensíveis sobre as condições dos empréstimos, como as taxas de juros, o Custo Efetivo Total (CET) e as penalidades em caso de inadimplência. No entanto, a complexidade dos produtos bancários e a falta de educação financeira entre os consumidores tornam difícil para muitos entenderem completamente os custos envolvidos.

A criação do Cadastro Positivo, que visa melhorar a pontuação de crédito dos consumidores com bom histórico financeiro, também é uma medida importante para aumentar a transparência nas relações bancárias, permitindo que os consumidores tenham acesso a melhores condições de crédito.

5.3 A Regulação do Crédito Consignado

O crédito consignado, que permite o desconto das parcelas diretamente da folha de pagamento do tomador do empréstimo, é uma das formas mais comuns de crédito no Brasil. Embora ofereça taxas de juros mais baixas, o crédito consignado pode ser problemático se não for bem regulado. A Lei nº 13.476/2017 trouxe uma série de modificações para tornar o crédito consignado mais seguro para os consumidores, limitando o valor das parcelas e estabelecendo regras mais claras sobre a concessão desse tipo de crédito.

No entanto, ainda existem desafios relacionados à oferta irresponsável de crédito consignado, especialmente para aposentados e pensionistas, que muitas vezes são pressionados a assumir dívidas que não conseguem pagar.


6. Desafios da Regulação do Crédito Bancário no Brasil

Apesar dos avanços na regulação do crédito bancário no Brasil, existem diversos desafios que precisam ser enfrentados para garantir um mercado mais justo e acessível para todos. Entre os principais desafios, destacam-se as altas taxas de juros, a baixa competitividade no setor bancário e as dificuldades enfrentadas pelas pequenas e médias empresas para acessar o crédito.

6.1 Taxas de Juros Elevadas e a Concentração Bancária

O Brasil possui um dos sistemas bancários com as taxas de juros mais altas do mundo, o que torna o crédito inacessível para uma parte significativa da população. A concentração do mercado bancário em um número reduzido de grandes bancos também é um fator que contribui para a elevação das taxas de juros. A falta de competitividade no setor bancário faz com que os consumidores tenham poucas opções de crédito com condições mais favoráveis.

6.2 Endividamento e Inadimplência

O endividamento excessivo da população brasileira é uma das principais consequências da alta taxa de juros e da oferta irresponsável de crédito. A inadimplência também é um problema crescente, com milhões de brasileiros enfrentando dificuldades para quitar suas dívidas. As políticas públicas de educação financeira e a regulação mais rigorosa do crédito são essenciais para combater esses problemas.


7. O Impacto das Inovações Tecnológicas no Mercado de Crédito

Nos últimos anos, as fintechs (empresas de tecnologia financeira) têm desempenhado um papel crescente no mercado de crédito bancário no Brasil. Essas empresas oferecem soluções inovadoras para a concessão de crédito, muitas vezes utilizando tecnologia de ponta para reduzir custos e melhorar a experiência do cliente.

7.1 As Fintechs e a Democratização do Crédito

As fintechs têm contribuído para democratizar o acesso ao crédito no Brasil, oferecendo produtos mais acessíveis e com taxas de juros mais baixas, especialmente para consumidores que não têm acesso ao sistema bancário tradicional. Ao utilizar inteligência artificial e análise de dados, as fintechs conseguem oferecer crédito de forma mais personalizada e eficiente, considerando o perfil financeiro de cada cliente.

7.2 Regulação das Fintechs e o Desafio da Inclusão Financeira

Embora as fintechs estejam contribuindo para a inclusão financeira, elas também enfrentam desafios relacionados à regulação. A falta de uma legislação específica para as fintech conseguem oferecer crédito de forma mais personalizada e eficiente, considerando o perfil financeiro de cada cliente.

7.2 Regulação das Fintechs e o Desafio da Inclusão Financeira

Embora as fintechs estejam contribuindo para a inclusão financeira, elas também enfrentam desafios relacionados à regulação. A falta de uma legislação específica para as fintech no Brasil gera incertezas e riscos tanto para os consumidores quanto para as próprias empresas. A regulação desse mercado precisa ser cuidadosamente elaborada para equilibrar a inovação e a proteção do consumidor.


8. A Regulação Internacional e a Comparação com Outras Jurisdições

Uma das principais questões no estudo do mercado de crédito bancário é entender como outros países abordam a regulação do setor e como isso pode ser comparado com o modelo brasileiro. A regulação internacional tem avançado no sentido de melhorar a transparência, a acessibilidade e a proteção ao consumidor, mas cada jurisdição adota uma abordagem única, com base em suas condições econômicas e sociais. A comparação das leis e políticas públicas em diferentes países pode trazer insights valiosos sobre o que funciona e o que precisa ser aprimorado no Brasil.

8.1 A Regulação do Crédito Bancário nos Estados Unidos

Nos Estados Unidos, a regulação do mercado de crédito bancário é complexa e envolve várias agências governamentais, incluindo o Federal Reserve, o Consumer Financial Protection Bureau (CFPB) e a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC). O CFPB foi criado em 2010, após a crise financeira global, com a missão de proteger os consumidores contra práticas financeiras abusivas. A legislação do país impõe regras rigorosas sobre a transparência nas transações financeiras, incluindo a obrigatoriedade de informar as taxas de juros e os custos totais dos empréstimos. Além disso, o Dodd-Frank Act e a Truth in Lending Act estabelecem uma série de disposições que buscam garantir a clareza nas relações bancárias e proteger os consumidores de dívidas impagáveis.

Nos Estados Unidos, o crédito bancário é altamente acessível, especialmente por meio de cartões de crédito e empréstimos pessoais. No entanto, a regulação também enfrenta desafios, como a questão dos juros altos e o aumento das dívidas de cartão de crédito, que têm levado a um número crescente de inadimplentes. Embora o sistema bancário seja amplamente regulado, há críticas quanto à complexidade da regulação e a falta de uniformidade nas políticas de crédito em estados diferentes.

8.2 A Regulação do Crédito Bancário na União Europeia

Na União Europeia, a regulação do crédito bancário é unificada através da Autoridade Bancária Europeia (EBA), que define normas de prudência e transparência aplicáveis a todos os países membros. A Diretiva de Créditos ao Consumo (Consumer Credit Directive) estabelece requisitos para a concessão de empréstimos e a divulgação de informações sobre produtos de crédito, com o objetivo de criar um mercado mais transparente e competitivo.

Além disso, a Diretiva sobre Moratória de Empréstimos e o Regulamento de Resolução Bancária são exemplos de iniciativas da União Europeia para lidar com crises financeiras e proteger os consumidores. A regulação da União Europeia também se destaca pela ênfase na proteção contra o endividamento excessivo, com limites claros para os juros cobrados em certos tipos de crédito. A Diretiva de Transparência exige que os credores divulguem de forma clara e compreensível as condições de empréstimos e financiamentos, incluindo taxas, comissões e encargos.

Embora a regulação europeia tenha avançado em termos de transparência e justiça no mercado de crédito, ela enfrenta desafios em relação à implementação uniforme entre os diferentes estados membros, o que gera disparidades nas condições de acesso ao crédito em diversos países da UE.

8.3 A Regulação do Crédito Bancário no Japão

O Japão adota uma abordagem diferente, com um foco considerável em inovações tecnológicas no mercado de crédito. A Financial Services Agency (FSA) do Japão regula o setor bancário e os produtos financeiros, incluindo os empréstimos bancários. O país tem um sistema de crédito altamente desenvolvido e eficiente, com um uso generalizado de tecnologia para análise de crédito, o que facilita a concessão de empréstimos e financiamentos. No entanto, o Japão enfrenta desafios relacionados ao envelhecimento da população, o que tem levado a um aumento das dívidas de aposentados e pensionistas.

O Japão também tem sido eficaz em estabelecer mecanismos de regulação para controlar os juros cobrados em crédito pessoal, evitando práticas predatórias, especialmente no que diz respeito ao crédito ao consumo. A Lei de Crédito ao Consumidor e a Lei de Empréstimos de Dinheiro são instrumentos que visam garantir a proteção dos consumidores, limitando as taxas de juros e as condições de financiamento.

8.4 A Regulação do Crédito Bancário na América Latina

Os países da América Latina possuem diferentes abordagens quanto à regulação do mercado de crédito bancário, com algumas nações mais avançadas e outras ainda em processo de reforma regulatória. Por exemplo, no México, o sistema bancário é regulado pela Comissão Nacional Bancária e de Valores (CNBV), que tem buscado melhorar a transparência e a inclusão financeira, além de reduzir os custos do crédito para a população.

No Brasil, a atuação do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tem sido central para a regulação do mercado bancário. Comparado a outros países da América Latina, o Brasil possui um sistema financeiro mais robusto, mas enfrenta desafios significativos relacionados às altas taxas de juros, à desigualdade no acesso ao crédito e ao endividamento das famílias.

8.5 Comparação e Lições para o Brasil

A comparação entre as jurisdições internacionais revela tanto boas práticas quanto desafios comuns. A regulação eficaz do crédito bancário exige um equilíbrio delicado entre a proteção ao consumidor e a manutenção da competitividade e sustentabilidade do sistema financeiro. No Brasil, as lições a serem aprendidas incluem:

  • Transparência: A importância de tornar as informações sobre as condições de crédito mais claras e acessíveis aos consumidores, como observado nas regulamentações dos EUA e da UE.

  • Limitação de Taxas de Juros: A regulação mais rígida das taxas de juros e a introdução de limites mais baixos para certos tipos de crédito, como é feito em muitos países da UE e no Japão.

  • Inclusão Financeira: O desenvolvimento de soluções inovadoras e tecnológicas para garantir o acesso ao crédito para uma maior parte da população, com base no exemplo das fintechs e do uso de análise de dados nos EUA e no Japão.

  • Prevenção ao Endividamento Excessivo: A criação de políticas para evitar o endividamento excessivo, como visto nas práticas de regulação do crédito consignado na União Europeia e no Japão, pode ser uma diretriz importante para o Brasil.

Sobre o autor
Silvio Moreira Alves Júnior

Advogado; Especialista em Direito Digital pela FASG - Faculdade Serra Geral; Especialista em Direito Penal e Processo Penal pela FASG - Faculdade Serra Geral; Especialista em Direito Penal pela Faculminas; Especialista em Compliance pela Faculminas; Especialista em Direito Civil pela Faculminas; Especialista em Direito Público pela Faculminas. Doutorando em Direito pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales – UCES

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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