A implementação do juiz de garantias no Brasil trazida pela Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime) despertou intenso debate jurídico e social. Esse instituto representa uma mudança significativa no sistema penal brasileiro, cujo objetivo é garantir maior imparcialidade na condução dos processos criminais. Para compreender sua relevância, é essencial analisar as funções atribuídas ao juiz de garantias, bem como os desafios e as perspectivas de sua aplicação.
O que é o juiz de garantias?
O juiz de garantias é uma inovação importante dentro do processo penal brasileiro, instituído com o objetivo de garantir maior imparcialidade no tratamento das investigações criminais. Ele é responsável por fiscalizar a legalidade das investigações durante a fase pré-processual, sendo uma figura distinta do juiz que, posteriormente, tomará as decisões sobre o mérito da causa.
"De acordo com a legislação aprovada em 2019, o juiz de garantias é um magistrado que tem a responsabilidade de salvaguardar os direitos individuais dos investigados e a legalidade da investigação criminal na fase de inquérito policial. Isso significa que a partir do oferecimento da denúncia, quando os investigados passam à condição de réu, essa responsabilidade passa a ser do juiz de instrução e julgamento, que propriamente julga os investigados."
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Além disso, o juiz de garantias também tem um papel fundamental na proteção dos direitos dos envolvidos na investigação. Sua atuação envolve a autorização de medidas cautelares, como interceptações telefônicas, quebras de sigilo, prisões preventivas e mandados de busca e apreensão. Nesse sentido, ele se torna um guardião da legalidade e da regularidade da investigação, garantindo que as provas sejam obtidas dentro dos parâmetros legais e respeitando os direitos constitucionais dos cidadãos. A implementação dessa figura no sistema processual brasileiro é uma tentativa de dar maior transparência às ações do Judiciário, assegurando que o processo penal seja conduzido de maneira mais justa e equânime.
Funções do juiz de garantias
As funções do juiz de garantias são essenciais para garantir que o processo penal se desenvolva de maneira justa e dentro da legalidade. Dentre as principais funções do juiz de garantias, destaca-se a supervisão das investigações, assegurando que as provas sejam obtidas dentro dos limites legais. O juiz de garantias é o responsável por autorizar medidas cautelares, como prisões preventivas, interceptações telefônicas e mandados de busca e apreensão. Sua atuação é essencial para garantir que as investigações sejam conduzidas sem abusos de poder, respeitando os direitos dos investigados e prevenindo arbitrariedades por parte das autoridades responsáveis pela apuração do fato.
Além disso, a atuação do juiz de garantias tem uma importância fundamental no que diz respeito à supervisão da legalidade e da regularidade das diligências investigativas. Por exemplo, quando o Ministério Público ou a polícia solicitam a realização de uma escuta telefônica ou a quebra de sigilo bancário de um investigado, é ao juiz de garantias que cabe avaliar se esses pedidos estão de acordo com a lei. Sua função de controle evita que provas sejam obtidas de maneira ilegal ou sem o devido respeito aos direitos fundamentais. Essa separação das funções judiciais, onde um magistrado fiscaliza a legalidade na fase investigatória e outro decide sobre o mérito no julgamento, tem um papel central na promoção da imparcialidade e na redução de potenciais conflitos de interesse no processo penal.
Benefícios do modelo
O maior benefício do modelo do juiz de garantias é a imparcialidade que ele introduz no processo penal. Ao separar as funções investigativas e de julgamento, o sistema garante que o magistrado responsável pela supervisão da investigação não tenha acesso às provas e elementos que serão usados no julgamento do caso, o que reduz substancialmente o risco de julgamentos parciais. Esse distanciamento entre as fases investigatória e decisória visa assegurar que o juiz que atuará no julgamento da causa tenha uma visão livre de qualquer influência decorrente de provas ou informações obtidas na fase anterior. Assim, o juiz de garantias contribui para um processo penal mais justo, pois as decisões são tomadas com base apenas no que foi demonstrado no decorrer do julgamento.
Além disso, a introdução do juiz de garantias fortalece a confiança da sociedade no sistema judicial. Em um Estado Democrático de Direito, a transparência e a confiança nas instituições judiciais são fundamentais para a manutenção da ordem social. A separação das funções, ao garantir maior equidade e imparcialidade, pode contribuir para a credibilidade do Judiciário, que se torna mais respeitado pela sociedade. Adicionalmente, o juiz de garantias também exerce uma função protetiva dos direitos fundamentais, uma vez que sua atuação visa impedir abusos de autoridade e garantir que as medidas cautelares sejam aplicadas de forma justa e com base em evidências legais.
Críticas e desafios
Embora a figura do juiz de garantias seja amplamente reconhecida como um avanço no processo penal, sua implementação enfrenta uma série de críticas e desafios. Entre as principais críticas está o impacto financeiro e estrutural da mudança, já que a implementação dessa figura exige a criação de novas varas judiciais e a alocação de recursos para viabilizar o funcionamento eficiente do modelo. Além disso, a introdução do juiz de garantias pode demandar uma reestruturação do sistema judiciário, o que implica custos adicionais para o governo e a necessidade de treinamento dos magistrados e servidores envolvidos. Esses desafios estruturais, embora significativos, não são insuperáveis e podem ser contornados com planejamento e investimentos adequados.
Outra crítica importante diz respeito ao possível atraso nos processos. Alguns afirmam que a introdução de uma nova etapa no processo penal, com a separação das funções de supervisão e julgamento, pode levar a um aumento no tempo necessário para a conclusão das investigações e do julgamento. Contudo, acredito que, a longo prazo, essa mudança pode contribuir para a agilização do processo, pois ela reduz a possibilidade de questionamentos sobre a imparcialidade do juiz e a legalidade das provas. Com isso, o modelo tende a promover um processo mais eficiente e menos sujeito a revisões e contestações, tornando o andamento processual mais célere e mais transparente.
Perspectivas futuras
Por fim, o juiz de garantias é uma ferramenta indispensável para o fortalecimento do sistema penal brasileiro, e acredito que, a longo prazo, ele trará avanços significativos na promoção da justiça. Embora a sua implementação ainda dependa de ajustes, adaptações e planejamento, estou convicto de que esse instituto contribuirá para a criação de um processo penal mais justo, transparente e imparcial. A adoção dessa figura não deve ser vista como um obstáculo, mas como uma oportunidade de aprimorar a justiça penal, assegurando que os direitos dos indivíduos sejam devidamente respeitados ao longo de todas as fases do processo.
Ademais, com o tempo, o modelo do juiz de garantias pode se consolidar como uma base sólida para um sistema penal mais equilibrado e eficiente. A separação das funções, que inicialmente pode gerar dificuldades operacionais, tende a contribuir para um Judiciário mais confiável, além de alinhar o processo penal a princípios constitucionais fundamentais, como o direito à imparcialidade e à ampla defesa. Portanto, defendo que a adoção do juiz de garantias representa um marco importante para o fortalecimento das garantias individuais e para o aprimoramento do sistema judiciário brasileiro, em sua busca por um processo mais justo e eficiente.