O mundo, atravessado por desigualdades e conflitos, clama por respostas que unam o humano e o transcendente. Entre as forças capazes de transformar a realidade, destacam-se o amor e a justiça, pilares que se complementam e se fortalecem mutuamente. Na Bíblia, o amor é a essência de toda virtude, enquanto na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a justiça é o alicerce da ordem social. A interseção desses valores oferece o caminho para a redenção humana, tanto no campo jurídico quanto no espiritual.
Na Bíblia, o amor não é apenas um sentimento, mas um mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22,39). Essa orientação não apenas inspira ações individuais, mas também deve moldar instituições. O amor ao próximo é a base da solidariedade, da dignidade e da busca pela equidade, valores indispensáveis para a justiça. Sem amor, a justiça corre o risco de se tornar mecânica e fria. Como lembra o apóstolo Paulo: “Ainda que eu tenha o dom de profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, se não tiver amor, nada serei” (1 Coríntios 13,2). O amor transforma a justiça em uma força restaurativa, que busca reparar e reconciliar, em vez de apenas punir.
A Constituição Cidadã de 1988 ecoa os princípios do amor e da justiça ao estabelecer a dignidade da pessoa humana como fundamento da República (art. 1º, III). Ao prever a erradicação da pobreza, a redução das desigualdades e a promoção do bem de todos (art. 3º), ela reconhece que a justiça só é plena quando é inclusiva e solidária. Leis como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Lei Maria da Penha exemplificam essa visão, protegendo os mais vulneráveis e promovendo a igualdade. Esses dispositivos legais refletem, em seu âmago, o mandamento bíblico de amar ao próximo, orientando o direito para a promoção da vida e da dignidade humana.
A justiça, por sua natureza, busca a ordem e a reparação. Já o amor tem o poder de humanizar e transformar essa busca, tornando-a sensível às dores humanas. Essa integração é exemplificada no profeta Amós: “Corra o juízo como as águas, e a justiça como um ribeiro perene” (Amós 5,24). Aqui, a justiça é comparada a um fluxo contínuo e purificador, alimentado pelo amor. No entanto, a prática jurídica muitas vezes carece dessa sensibilidade. Decisões judiciais que ignoram o impacto humano perpetuam injustiças. Por outro lado, quando o amor e a compaixão guiam as ações, a justiça deixa de ser apenas um conceito abstrato e torna-se um instrumento de reconciliação e esperança.
O amor e a justiça, quando unidos, são forças capazes de salvar o mundo. No campo jurídico, o amor inspira uma justiça mais humana e inclusiva. No campo religioso, a justiça dá forma concreta ao amor, traduzindo-o em ações que promovem o bem comum. Como ensina a Bíblia, “o maior destes é o amor” (1 Coríntios 13,13). Quando o amor guia nossas escolhas, ele eleva a justiça a um patamar superior, restaurando o que foi quebrado e promovendo a paz. A Carta Mãe de 1988 e as Sagradas Escrituras apontam para a mesma verdade: o futuro depende de uma justiça que inclua e de um amor que transforme.
Que sejamos, cada um de nós, instrumentos vivos dessa transformação, para que amor e justiça, juntos, possam salvar o mundo.