O Pentecostalismo no Brasil: Origem, Expansão e Impactos Sociais

13/12/2024 às 16:53
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O Pentecostalismo no Brasil: Origem, Expansão e Impactos Sociais

O pentecostalismo surgiu no Brasil em 1910, com a chegada dos missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren, que, após conhecerem o movimento nos Estados Unidos, fundaram a Missão da Fé Apostólica, atualmente a Assembleia de Deus. Este evento marcou o início de uma nova fase religiosa, com uma proposta de expandir a evangelização no país. A Assembleia de Deus, uma das maiores igrejas evangélicas do Brasil, conta com mais de 22 milhões de membros, segundo o Senado Federal (2023). Em outra parte do país, na região Sul, a Congregação Cristã foi fundada pelo italiano Louis Francescon, outro pioneiro do movimento pentecostal no Brasil, que rapidamente conquistou adeptos, especialmente em São Paulo e no Paraná (FRANCESCON, 1939).


A Origem do Pentecostalismo

A raiz do pentecostalismo remonta ao século XIX, dentro da Igreja Metodista, com o surgimento do Movimento de Santidade, também conhecido como Holiness Movement, que defendia a purificação da natureza carnal através da fé e do poder do Espírito Santo. Segundo Matos (2006), os primeiros pentecostais acreditavam que a evidência visível de um indivíduo batizado no Espírito Santo se dava por meio do dom de línguas e, mais tarde, pela cura de doenças. Esse movimento de purificação e regeneração dos pecados humanos por meio da fé gerou a base para o que seria o pentecostalismo moderno.

O movimento ganhou maior visibilidade em 1906, quando o pastor afro-americano William Joseph Seymour iniciou o Avivamento de Azusa Street, em Los Angeles, Califórnia. Seymour, um jovem negro que foi educado na escola bíblica de Charles Fox Parham, foi crucial para o crescimento do pentecostalismo ao pregar sobre o batismo no Espírito Santo, o dom de curas milagrosas, a glossolalia (falar em línguas) e a profecia. Apesar da segregação racial da época, Seymour se tornou um líder do movimento, que se espalhou rapidamente por todo os Estados Unidos e o mundo (SILVA, 2021).


As Três Ondas do Pentecostalismo no Brasil

A expansão do pentecostalismo no Brasil pode ser dividida em três fases principais: a primeira onda, o pentecostalismo clássico, começou com a fundação das primeiras igrejas pentecostais, como a Assembleia de Deus e a Congregação Cristã. Essas igrejas se caracterizavam pelo anticatolicismo e a ênfase no Espírito Santo, praticando um forte ascetismo e um sectarismo radical. A chegada de missionários, como os suecos Vingren e Berg, e Francescon, estabeleceu as bases do movimento pentecostal no país.

A segunda onda iniciou-se em 1950, com a chegada dos missionários norte-americanos Harold Williams e Raymond Boatright, que fundaram a Cruzada Nacional de Evangelização. Eles utilizaram o rádio como meio de comunicação para evangelizar, alcançando um grande número de fiéis em várias cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro. Nesse período, surgiram outras denominações pentecostais, como a Igreja Casa da Bênção e a Igreja Deus é Amor (MARIANO, 2014).

A terceira onda, conhecida como neopentecostalismo, surgiu na década de 1970 com a criação da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) no Rio de Janeiro em 1977. Esse movimento teve um impacto significativo no Brasil, principalmente entre as classes sociais mais baixas, e se destacou pelo uso de técnicas de marketing e administração empresarial, além da Teologia da Prosperidade. O neopentecostalismo prega que a fé é uma chave para alcançar a prosperidade material, associando a doação financeira à bênção divina (CARMO, 2016). Além disso, as igrejas neopentecostais se caracterizam pela utilização de mídias eletrônicas e pela criação de redes de apoio que visam oferecer soluções para os problemas diários de seus fiéis, como questões financeiras, emocionais e familiares (LOPES JÚNIOR, 2012).


O Impacto Social e Político do Neopentecostalismo

O neopentecostalismo, especialmente com a Igreja Universal do Reino de Deus, tem tido um papel significativo nas mudanças sociopolíticas do Brasil. A utilização da mídia, em especial após a compra da Rede Record de televisão pela IURD em 1989, permitiu uma massificação das suas mensagens. Essa disseminação tem sido associada a um processo de militarização da religião, com uma forte ênfase no combate espiritual ao "mal", e, por vezes, em uma retórica conservadora que pode ser vista como uma ameaça à laicidade do Estado (LEMOS, 2017).

A Igreja Universal e outras denominações neopentecostais têm também se aproveitado da vulnerabilidade das classes mais baixas, especialmente nas periferias, onde a falta de políticas públicas é evidente. A presença das igrejas nessas áreas, ao lado de uma estrutura hierárquica menos rígida em comparação com a Igreja Católica, tem atraído uma grande quantidade de novos fiéis, criando um novo tipo de socialização religiosa (CAROLINA, 2021).

Além disso, o neopentecostalismo tem gerado um maior acolhimento e solidariedade entre os membros, que, em muitos casos, enfrentam dificuldades socioeconômicas e de segurança. As igrejas proporcionam uma rede de apoio social que muitas vezes substitui o papel do Estado nessas comunidades.


O Papel da Igreja na Política

O impacto do pentecostalismo nas questões políticas do Brasil também é inegável. Nos últimos anos, observa-se uma crescente presença de líderes religiosos no cenário político, com a tentativa de fortalecer a ligação entre o movimento religioso e as pautas conservadoras. Isso tem gerado temores quanto a um possível monopólio religioso e ao crescimento de um perfil teocrático no país, como alertado por Diniz (2020). Em um país de forte tradição católica, o pentecostalismo, com suas formas dinâmicas de culto e ênfase na prosperidade, tem se consolidado como uma alternativa popular, especialmente entre as classes mais baixas.

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Conclusão

O pentecostalismo no Brasil, desde sua chegada no início do século XX, passou por diversas transformações, refletindo as mudanças sociais, políticas e culturais do país. As três ondas de expansão do movimento — clássico, de massificação e neopentecostal — mostram como a religião se adaptou aos tempos modernos, criando uma forte rede de apoio entre seus fiéis e desafiando a hegemonia do catolicismo. A utilização da mídia, o foco na Teologia da Prosperidade e a presença ativa nas periferias têm garantido ao pentecostalismo uma posição de destaque no cenário religioso e político brasileiro, moldando, assim, o futuro das práticas religiosas no país.


Referências

FRANCESCON, Louis. Circolare‘la luce si leve nelle tenebre’. [Editado por Alves, Leonardo Marcondes. Círculo de Cultura Bíblica, 2021]. Chicago, 1939. DOI 10.5281/zenodo.5196638. Disponível em: file:///D:/Dados/Downloads/Francescon.%20Circular.%201939.pdf. Acesso em: 2 maio 2024.

Comenda Missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren - Agraciados em 2023 - Órgãos do Parlamento, Senado Federal. Disponível em: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/conselhos/-/conselho/cmdg/agraciados/2023. Acesso em: 8 abr. 2024.

MATOS, Alderi Souza de. O movimento pentecostal: reflexões a propósito do seu primeiro centenário. 2006. Disponível em: https://cpaj.mackenzie.br/fileadmin/user_upload/2-O-movimento-pentecostal-reflex%C3%B5es-a-prop%C3%B3sito-do-seu-primeiro-centen%C3%A1rio-Alderi-Souza-de-Matos.pdf. Acesso em: 8 abr. 2024.

SILVA, Carolina Rocha. “A culpa é do Diabo”: as políticas da existência na encruzilhada entre neopentecostalismo, varejo de drogas ilícitas e terreiros em favelas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2021. Disponível em: https://www.bdtd.uerj.br:8443/bitstream/1/18593/2/Tese%20-%20Carolina%20Rocha%20Silva%20-%202021%20-%20Completa.pdf. Acesso em: 20 maio 2024.

MARIANO, Ricardo. Neopentecostais. Sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São Paulo: Edições Loyola, 2014.

CARMO, Fabiana Lima dos Santos do. Trajetória do pentecostalismo no Brasil até a presença mercadológica da IURD. 2016. Revista eletrônica de Teologia e Ciências das Religiões, Vitória-ES, v. 4, n. 2, jul.-dez, 2016, p. 124-143. Disponível em: file:///D:/Dados/Downloads/joseadriano,+10.+Fabiana+-+124+-143+.pdf. Acesso em: 4 abr. 2024.

LOPES JUNIOR, Orivaldo Pimentel. Multiplicação sem milagre. Revista de História.com.br, Rio de Janeiro, 1 dez. 2012. Disponível em: https://web.archive.org/web/20160413020818/http://rhbn.com.br/secao/artigos-revista/multiplicacao-sem-milagre. Acesso em: 10 abr. 2024.

LEMOS, Carolyne Santos. Teologia da prosperidade e sua expansão pelo mundo. Revista Eletrônica Espaço Teológico. ISSN 2177-952X. Vol. 11, n. 20, jul/dez, 2017, p. 80-96. Disponível em: file:///D:/Dados/Downloads/35992-Texto%20do%20artigo-99230-1-10-20180124.pdf. Acesso em: 20 abr. 2024.

SILVA, Carolina Rocha. “A culpa é do Diabo”: as políticas da existência na encruzilhada entre neopentecostalismo, varejo de drogas ilícitas e terreiros em favelas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2021. Disponível em: https://www.bdtd.uerj.br:8443/bitstream/1/18593/2/Tese%20-%20Carolina%20Rocha%20Silva%20-%202021%20-%20Completa.pdf. Acesso em: 20 maio 2024.

DINIZ, José Eustáquio, 2020. Motivos e consequências da aceleração da transição religiosa no Brasil. Disponível em: https://www.ecodebate.com.br/2020/01/29/motivos-e-consequencias-da-aceleracao-da-transicao-religiosa-no-brasil-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves. Acesso em: 11 abr. 2024.

Sobre o autor
Felipe Albino Schmitz

Acadêmico do curso de Direito, Universidade do Vale do Taquari - Univates.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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