Ao concluir a leitura do último lançamento do renomado historiador israelense Yuval Noah Harari, “Nexus – Uma breve história das redes de informação, da Idade da Pedra à Inteligência Artificial”, senti-me compelido a tecer algumas reflexões.
Trata-se de uma abordagem rica e atualizada, que nos brinda com uma retrospectiva evolutiva do passado, partindo dos rudimentares meios de comunicação — caçadores-coletores, escrita, prelos, rolos de pergaminho, telefone, telégrafo, Igreja Cristã, jornais, computadores, televisão, internet — e culminando, nos dias atuais, com a decantada e amplamente debatida inteligência artificial (I.A.).
É inquestionável a relevância desses recursos tecnológicos de comunicação, como a internet, na evolução dos povos, seja nos aspectos ideológicos, sociais, culturais, econômicos ou políticos, além de sua influência na globalização das informações.
Na minha obra “Primeira Crônica”, editada em 2010, assim como em outra intitulada “Passado, Presente, Futuro”, mais recente, destaquei a importância dos meios de comunicação, especialmente da internet, enfatizando seus aspectos positivos. Contudo, não deixei de alertar para os possíveis e prováveis malefícios que já se fazem presentes nas plataformas atuais.
Encerrei a já mencionada crônica com as seguintes indagações: como projetar o futuro? Qual o legado que vamos deixar para nossos filhos, netos e gerações futuras? Em que mundo eles irão viver?
À medida que avançava na leitura da obra de Harari, aquelas indagações voltaram a me atormentar ainda mais. São inegáveis os benefícios e avanços proporcionados pelos saltos tecnológicos da inteligência artificial. Contudo, não podemos ignorar os prováveis aspectos negativos que, sem sombra de dúvida, se farão presentes. Ainda não detenho conhecimento suficiente para uma análise mais profunda e confiável, mas antevejo a I.A. como detentora de superpoderes. Ela pode nos libertar ou nos escravizar, podendo até mesmo nos aniquilar.
Essas possibilidades e preocupações, como Harari destaca, se somam às questões climáticas, que vêm cobrando um preço altíssimo pelas inúmeras agressões sofridas pela natureza.
Fui despertado, no decorrer da leitura, para outra questão inquietante: a provável perda daquilo que consideramos mais sagrado para o ser humano — a privacidade. Concluí, sem dúvidas, que é necessário pensar em redes de informações equilibradas, capazes de controlar seu próprio poder por meio de mecanismos de “autocorreção”, como propõe Harari. Em última análise, é imprescindível uma regulamentação eficiente e cuidadosa, que maximize os benefícios e, ao mesmo tempo, iniba os malefícios, além de evitar outros desdobramentos indesejáveis. Imagine-se esse superpoder nas mãos de vilões motivados pela ganância ou pelo ódio, como ressalta Harari.
As plataformas onipotentes priorizam a ordem e as conveniências econômicas em detrimento da realidade. É incalculável o poder dessas plataformas ao utilizarem os recursos tecnológicos e algoritmos disponíveis para benefício próprio, especialmente no plano econômico e político.
Tudo o que fazemos deixa um rastro de dados, que são coletados e analisados com o objetivo de identificar padrões. Eis mais um alerta de Harari.
Peço que relevem os possíveis excessos em minhas preocupações e alertas. Antes de concluir, faço questão de sublinhar que não ignoro a importância dos avanços tecnológicos quando aplicados em prol do bem da humanidade.
Concluo este despretensioso comentário replicando o parágrafo com o qual Harari encerra sua primorosa obra:
"As decisões que todos nós tomarmos nos próximos anos determinarão se a convocação dessa inteligência estranha se demonstrará um erro terminal ou o início de um novo capítulo promissor na evolução da vida."