Por que a SELIC deve subir.

Uma análise jurídica

16/01/2025 às 17:48

Resumo:


  • A taxa SELIC é a principal taxa de juros da economia brasileira, utilizada para controlar a inflação e a atividade econômica.

  • O aumento da SELIC pode ser necessário para combater a inflação, garantir o equilíbrio financeiro e evitar uma crise de estagflação.

  • A alta da SELIC também está relacionada à responsabilidade fiscal, controle do endividamento público e à busca por um crescimento econômico sustentável.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

A taxa SELIC (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) é a principal taxa de juros da economia brasileira, definida pelo Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central. Sua função primária é controlar a inflação e a atividade econômica, sendo um dos principais instrumentos de política monetária utilizados pelo governo. Em momentos de pressão inflacionária ou de aquecimento excessivo da economia, pode ser necessário que a SELIC suba. Neste artigo, exploramos as razões pelas quais um aumento da SELIC é fundamental, sob uma perspectiva jurídica, com base em princípios constitucionais e as atribuições das autoridades monetárias.


1. Controle da Inflação: A Missão Constitucional do Banco Central

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 192, estabelece que o sistema financeiro nacional deve buscar a estabilidade do poder de compra da moeda, objetivo esse que se alinha diretamente com o controle da inflação. A inflação excessiva tem efeitos devastadores para a economia e a sociedade, prejudicando especialmente as camadas mais vulneráveis da população, uma vez que reduz o poder de compra do consumidor.

O aumento da SELIC pode ser uma resposta eficiente para combater a inflação. Isso ocorre porque o aumento da taxa de juros tende a reduzir a demanda agregada. Com o custo do crédito mais alto, empresas e consumidores tendem a adiar gastos e investimentos, o que resulta em uma desaceleração da atividade econômica e, consequentemente, uma redução das pressões inflacionárias.

A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF - Lei Complementar nº 101/2000), em seu artigo 4º, impõe que o governo busque políticas fiscais e monetárias que garantam a estabilidade econômica e a manutenção do equilíbrio das contas públicas. O controle da inflação, por meio da taxa de juros, é uma forma de garantir esse equilíbrio.


2. Equilíbrio entre Crescimento Econômico e Estabilidade Financeira

Embora o aumento da SELIC seja geralmente uma medida contracíclica, ele pode ser necessário em cenários de crescimento econômico exagerado, que coloca em risco a estabilidade financeira do país. A inflação elevada pode ser gerada por uma demanda excessiva no mercado, o que leva a um aumento nos preços. Ao subir a SELIC, o Banco Central atua para "arrefecer" essa demanda, preservando o equilíbrio financeiro e evitando uma crise de estagflação, onde a economia cresce lentamente enquanto a inflação sobe.

Segundo Mário Henrique Simonsen, economista e ex-ministro da Fazenda, o controle da inflação é uma questão fundamental para a confiança no sistema econômico de um país. "A inflação alta corrói a confiança da população, desorganiza a economia e dificulta a implementação de políticas públicas." Assim, para garantir a estabilidade e a confiança na economia, a SELIC deve ser ajustada conforme a situação inflacionária.


3. Responsabilidade Fiscal e as Consequências do Endividamento Público

A alta da inflação impacta diretamente a dívida pública. Quando a inflação está descontrolada, o custo da dívida do governo aumenta, já que o país precisa pagar mais para captar recursos. Em uma situação de inflação alta, a SELIC tende a subir para conter essa pressão.

A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que estabelece as metas fiscais para o ano seguinte, preconiza que o governo deve manter um controle rígido sobre sua dívida pública. Em um cenário de inflação elevada, aumentar a SELIC é uma forma de conter o crescimento desenfreado da dívida, evitando que o governo precise recorrer a financiamentos externos ou internos com juros elevados, o que impactaria a sustentabilidade das finanças públicas.


4. Prudência na Política Monetária: O Papel do Banco Central

De acordo com o artigo 4º da Lei nº 13.506/2017, que regula o Banco Central do Brasil, a política monetária deve ser conduzida de forma a garantir a estabilidade do sistema financeiro e a eficiência do sistema de pagamentos. Esse artigo reforça que o COPOM deve ser livre para tomar decisões independentes, buscando sempre atingir as metas de inflação estabelecidas. Quando a inflação se distancia da meta, uma alta da SELIC pode ser um instrumento necessário para restabelecer o equilíbrio.

A política monetária não visa apenas controlar a inflação, mas também proporcionar condições favoráveis ao crescimento econômico sustentável. Nesse sentido, o aumento da SELIC não é uma medida isolada, mas uma ferramenta para preservar o equilíbrio financeiro e garantir uma trajetória de crescimento de longo prazo.


5. Exemplos Práticos e Suporte Teórico

No Brasil, a elevação da SELIC foi utilizada como estratégia para combater a inflação em várias situações. Durante a década de 1990, após o Plano Real, a política de juros altos foi uma medida central para estabilizar a economia, combater a inflação e controlar as expectativas do mercado. Mais recentemente, no contexto da pandemia de COVID-19, a política monetária foi usada de maneira flexível para evitar uma recessão, mas com a recuperação econômica, o aumento da SELIC foi implementado novamente para controlar a inflação, como observado nas recentes decisões do COPOM.

O Banco Central do Brasil, em sua Carta ao Mercado, tem destacado que a política de juros mais altos é uma resposta necessária quando há risco de descontrole inflacionário, e esse aumento da taxa é crucial para manter as expectativas do mercado ancoradas, como forma de garantir a estabilidade financeira de médio e longo prazo.


Conclusão

Em suma, a elevação da SELIC se justifica não apenas pela necessidade de controlar a inflação, mas também pelo imperativo de garantir a estabilidade fiscal e a saúde financeira do país. A Constituição Federal, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a Lei do Banco Central conferem ao COPOM a responsabilidade de ajustar a política monetária de forma a equilibrar o crescimento econômico e a estabilidade financeira. Portanto, o aumento da SELIC é uma medida fundamental para assegurar que o país não sucumba à inflação descontrolada, protegendo o poder de compra da população e a confiança no sistema financeiro.

Assine a nossa newsletter! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos
Sobre o autor
Estêvão Zizzi

Advogado e escritor, Pós-graduado em direito do consumidor

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Leia seus artigos favoritos sem distrações, em qualquer lugar e como quiser

Assine o JusPlus e tenha recursos exclusivos

  • Baixe arquivos PDF: imprima ou leia depois
  • Navegue sem anúncios: concentre-se mais
  • Esteja na frente: descubra novas ferramentas
Economize 17%
Logo JusPlus
JusPlus
de R$
29,50
por

R$ 2,95

No primeiro mês

Cobrança mensal, cancele quando quiser
Assinar
Já é assinante? Faça login
Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Colabore
Publique seus artigos
Fique sempre informado! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos