O cenário diplomático atual revela uma disputa não apenas pela paz, mas pelo reconhecimento internacional de quem será o arquiteto do próximo capítulo nas relações entre Israel e Hamas. Enquanto o atual presidente Joe Biden usa os mecanismos de poder inerentes ao cargo para tentar consolidar um acordo, Donald Trump aproveita sua visibilidade pública para se reposicionar como uma figura essencial na política global. Essa disputa entre ambos vai além das negociações diplomáticas: é uma batalha por relevância política e pelo impacto na narrativa histórica.
Quais são os desafios do acordo?
Viabilizar um cessar-fogo entre Israel e Hamas, mesmo que temporário, envolve obstáculos estruturais e contextuais. Os desafios incluem:
1. Pressões internas e externas
Tanto Israel quanto Hamas enfrentam grupos internos resistentes à ideia de concessões. Em Israel, partidos de direita pressionam o governo para manter posições rígidas em relação à segurança e aos assentamentos. Já em Gaza, a liderança do Hamas precisa equilibrar a pressão de facções mais radicais que rejeitam qualquer diálogo com Israel.
Externamente, países como o Irã, que apoia o Hamas, e aliados de Israel, como os EUA e parte da Europa, complicam o equilíbrio das negociações. Cada ator internacional busca garantir que o acordo atenda a seus próprios interesses estratégicos.
2. Mediação multilateral
O papel de países como Catar, Egito e Turquia é crucial para criar pontes entre as partes, mas esses mesmos mediadores têm suas próprias agendas regionais. O sucesso do acordo depende de uma coordenação delicada e precisa, que evite sobrecarregar uma das partes e provoque desequilíbrios.
3. Garantias de cumprimento
Após anos de desconfiança e conflitos armados, estabelecer mecanismos confiáveis para o cumprimento do acordo é fundamental. Isso exige supervisão de terceiros neutros, como a ONU, algo que muitas vezes encontra resistência tanto de Israel quanto do Hamas.
Qual o papel de Biden e Trump?
Como presidente, Joe Biden carrega a responsabilidade de liderar as negociações diplomáticas com aliados e parceiros regionais em busca de um cessar-fogo entre Israel e Hamas. Sua estratégia se baseia em uma diplomacia tradicional, utilizando canais formais e a influência americana sobre Israel para garantir que qualquer acordo contemple os interesses de segurança do país. Além disso, Biden adota uma abordagem discreta, optando por negociações reservadas para evitar polarizações em um momento de política interna já fragilizada. Ele também busca apoio bipartidário, esforçando-se para demonstrar que sua política externa não apenas favorece Israel, mas também promove uma solução justa que possa unir democratas e republicanos em torno de um objetivo comum.
Donald Trump, por outro lado, aposta em seu histórico como negociador e ex-presidente. Durante seu mandato, ele consolidou os Acordos de Abraão, que normalizaram relações entre Israel e países árabes, como Emirados Árabes Unidos e Bahrein, e utiliza esse legado como base para sua estratégia atual. Trump tenta reforçar a ideia de que sua abordagem direta e transacional pode trazer resultados rápidos e eficazes. Ele também se direciona ao seu eleitorado, apresentando sua presença na diplomacia como um diferencial para uma possível candidatura em 2024, especialmente entre evangélicos americanos que têm forte apoio a Israel. Além disso, Trump mantém-se ativo publicamente, usando eventos e declarações estratégicas para se posicionar como uma alternativa mais firme e resoluta à administração Biden, buscando relevância no debate internacional.
Quem levará o crédito?
A disputa pelo crédito é, em essência, uma batalha de narrativas. Ambos os líderes têm objetivos claros com relação ao impacto do acordo:
Para Biden
Levar o crédito por um cessar-fogo reforça sua imagem como estadista global em um momento crítico. Ele busca mostrar que sua liderança pode unir aliados e adversários em torno de um objetivo comum, fortalecendo sua posição política interna, especialmente diante de um cenário de polarização e ataques republicanos.
Para Trump
Trump vê no cessar-fogo uma oportunidade de consolidar sua narrativa como um líder eficaz e indispensável. Ele busca apresentar-se como um negociador insubstituível, contrastando sua abordagem direta com a diplomacia tradicional de Biden, que ele frequentemente critica como "fraca". Esse crédito pode ser crucial para sua campanha presidencial.
Conforme o advogado Dr. João Valença, "o envolvimento direto de lideranças políticas em negociações internacionais desse porte também possui implicações jurídicas significativas. A supervisão de acordos como o cessar-fogo entre Israel e Hamas frequentemente envolve a conformidade com tratados internacionais, o direito humanitário e até mesmo mecanismos de responsabilização futura, em caso de descumprimento. É essencial que tais negociações considerem não apenas os interesses políticos, mas também as obrigações jurídicas das partes envolvidas para garantir a legitimidade e a sustentabilidade do acordo."
Conclusão
No final, a verdadeira importância da corrida entre Biden e Trump vai além da disputa política pessoal. O impacto de um cessar-fogo entre Israel e Hamas é crucial para reduzir o sofrimento humano na região e criar um ambiente mais estável no Oriente Médio. Apesar disso, a competição pelo crédito político revela como os líderes americanos estão profundamente conectados às dinâmicas globais, utilizando crises internacionais como palco para reforçar sua relevância.
A pergunta essencial que permanece é: quem, de fato, sairá como o “herói” dessa história? Enquanto os esforços continuam, o mais importante é que qualquer acordo seja eficaz, duradouro e priorize a segurança e os direitos das populações envolvidas no conflito.