Segundo Vincent de Fourny, representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), “os brasileiros leem, em média 1,8 livros por ano; os franceses, cerca de 7 livros”.
A mesma pesquisa esclarece que em muitas regiões existem pessoas que jamais leram um livro e, em outras, nem sequer o visualizaram.
Mesmo se comemorando, desde 1996, em mais de cem países o Dia Mundial do Livro, e a despeito de os governantes, com pose e pompa, saberem e dizerem que o livro é a chave do saber, do sucesso pessoal, da consciência cidadã, da cultura, da educação e do conhecimento, ele continua sendo um produto caro e raro à população carente do Brasil.
Ademais, apesar da propalada riqueza e potencialidade econômico-financeira deste país, o Brasil está bem abaixo de muitos países nos itens leitura, educação e alfabetização.
Na esteira desse descalabro, o periódico “Folha” registrou que a aversão dos brasileiros aos livros virou assunto da última edição da influente revista britânica “The Economist”.
Afirma-se na reportagem que a precariedade das bibliotecas públicas e o baixo índice de leitura constituem “motivo para vergonha nacional”.
Estatísticas de 2000 atestam que um quarto da população com 15 anos ou mais é composta de analfabetos funcionais.
Em termos de hábito de leitura, o Brasil, em um ranking de 30 países, é quase o lanterninha (último), pois ficou em 27° lugar, bem abaixo da vizinha e “rival” Argentina (18° lugar).
Para tristeza nossa, a compra de livros em 2004, por exemplo, foi inferior à de 1991, conquanto transcorridos treze longos anos e com o aumento vertiginoso da população e das escolas.
Por outro lado, o MEC, ao traçar o “Mapa do Analfabetismo”, através de estudo realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, considera a situação alarmante, pois registra o número lamentável de mais de 16 milhões de pessoas incapazes de ler e escrever pelo menos um simples bilhete e, se incluídas no conceito de analfabetas funcionais, o número ultrapassa os 33 milhões.
Para melhor compreender a realidade do assunto, atrevo-me a recomendar a leitura de “A formação da Leitura no Brasil” (Marisa Lajolo & Regina Zilberman, São Paulo, Ática, 1996), obra que estrutura seu argumento através da interação das visões histórica, analítica e teórica. Nela são mapeadas as múltiplas causas da escassez de leitura, como as precárias condições de profissionalização do mercado editorial brasileiro, a tardia introdução da imprensa no Brasil (graves dificuldades de circulação do meio impresso), a crônica falta de um projeto educacional, a insuficiência qualitativa e quantitativa dos professores e uma retrógrada pedagogia (ensino de letras que literalmente transforma a literatura numa monótona e quase sempre tediosa maneira de aprendizagem da língua).
O Brasil vive um impasse, um desafio, uma encruzilhada, uma imensa necessidade de mudança da vergonha nacional da leitura rarefeita à sua democratização, com o escopo de ultrapassar o âmbito restrito dos estudos literários, cujo eixo argumentativo se constrói a partir de práticas de leitura ampla, geral e irrestrita. Em síntese, abordagem interdisciplinar, num fenômeno da modernização, ou “elo indissociável entre a modernização e a difusão geral de hábitos de leitura”.
Enfim, segundo Paulo Francis, filósofo e jornalista brasileiro: “quem não lê não pensa e quem não pensa será sempre um servo”.