BRICS e a desdolarização: impacto nos EUA e um novo cenário geopolítico

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30/01/2025 às 10:05

Resumo:

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Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

9. O Papel da Tecnologia na Desdolarização: Inovações no Sistema Financeiro e o Futuro das Moedas Digitais

9.1 A Inovação Digital e os Novos Modelos de Pagamento

O avanço da tecnologia tem sido um fator crucial para a aceleração do processo de desdolarização, transformando a forma como as transações financeiras são realizadas. Nos últimos anos, observou-se o surgimento de novas soluções financeiras digitais que oferecem alternativas mais rápidas, seguras e econômicas para transações internacionais, sem a necessidade de recorrer ao dólar como intermediário. O desenvolvimento dessas tecnologias não apenas facilita a transição para moedas locais, mas também torna mais viável para países em desenvolvimento e economias emergentes reduzir a dependência da moeda norte-americana.

Os sistemas de pagamentos digitais, como o CIPS (China International Payment System) e o SPFS (Sistema de Transferência de Mensagens Financeiras da Rússia), são exemplos de plataformas que buscam eliminar a necessidade do SWIFT e reduzir a dominância do dólar nas transações internacionais. Essas inovações tecnológicas proporcionam um meio mais ágil e seguro para a realização de transações entre países e empresas, além de aumentar a independência financeira e fortalecer as economias locais. A crescente digitalização das finanças globais abre caminho para um sistema financeiro internacional mais descentralizado e plural, no qual o dólar perde parte de seu poder de influência.

9.2 O Crescimento das Moedas Digitais e a Desdolarização

Uma das inovações mais significativas no cenário da desdolarização tem sido o crescimento das moedas digitais, tanto em sua forma privada (como o Bitcoin) quanto em sua versão oficial e regulada pelos governos (como as moedas digitais dos bancos centrais - CBDCs, na sigla em inglês). As moedas digitais estão criando novos caminhos para transações financeiras transnacionais, com uma série de implicações para o domínio do dólar nas finanças globais.

O Bitcoin, por exemplo, foi inicialmente criado como uma alternativa ao sistema financeiro tradicional, com o objetivo de ser uma moeda descentralizada e global, independente dos controles dos bancos centrais e das políticas monetárias dos países. Com a popularização das criptomoedas, muitos países estão começando a reconhecer seu potencial para transações internacionais, especialmente em regiões onde a inflação ou a instabilidade cambial torna a moeda local menos confiável.

Além das criptomoedas privadas, os bancos centrais de vários países começaram a explorar a emissão de suas próprias moedas digitais, chamadas de CBDCs. Essas moedas digitais emitidas por autoridades monetárias são vistas como uma alternativa ao dólar para transações internacionais, pois oferecem as vantagens da moeda digital (rapidez, segurança e custo reduzido), mas mantêm o controle da autoridade monetária do país emissor. A China, por exemplo, tem avançado no desenvolvimento do yuan digital (e-CNY), com a intenção de utilizar a CBDC como uma moeda de troca preferencial em transações internacionais, especialmente no comércio com países do BRICS e outros parceiros comerciais.

O uso crescente das moedas digitais pode acelerar a desdolarização, uma vez que países poderão utilizar suas moedas digitais nacionais ou internacionais como meio de pagamento em transações globais, diminuindo a necessidade do dólar para facilitar o comércio entre nações.

9.3 Blockchain e a Descentralização das Transações Financeiras

Outro elemento tecnológico que está promovendo a desdolarização é a tecnologia blockchain, que permite a realização de transações financeiras de maneira descentralizada e transparente. O blockchain é a infraestrutura subjacente à maioria das criptomoedas e tem o potencial de transformar a forma como as transações financeiras são feitas globalmente, eliminando intermediários e reduzindo os custos associados.

A descentralização das transações financeiras oferece uma alternativa ao sistema financeiro tradicional, que tem sido dominado pelos Estados Unidos e pelo dólar. O blockchain pode permitir a criação de sistemas financeiros alternativos, onde a dependência de instituições financeiras ocidentais e da moeda americana diminui, ao mesmo tempo que proporciona mais liberdade e controle sobre as finanças aos países que participam dessas redes descentralizadas.

Além disso, a tecnologia blockchain pode ser utilizada para criar sistemas de pagamento entre países que não dependem de intermediários financeiros tradicionais, como bancos comerciais e sistemas de pagamento controlados por governos ou grandes instituições financeiras. Esses sistemas podem utilizar moedas locais ou outras criptomoedas como base para transações internacionais, o que pode enfraquecer ainda mais o papel do dólar no comércio global.

9.4 O Impacto das Fintechs e Inovações no Setor Bancário

As fintechs (empresas de tecnologia financeira) têm desempenhado um papel crescente na transformação do sistema financeiro global, oferecendo serviços financeiros inovadores que desafiam os modelos bancários tradicionais. Através de plataformas digitais e novas soluções de pagamento, as fintechs estão tornando mais fácil para os consumidores e empresas realizar transações internacionais sem a necessidade de intermediários tradicionais ou da utilização do dólar.

Essas inovações no setor bancário, como carteiras digitais, pagamentos instantâneos e sistemas de transferência de dinheiro baseados em blockchain, têm o potencial de redefinir o papel do dólar nas transações financeiras internacionais. As fintechs estão democratizando o acesso aos serviços financeiros, permitindo que empresas em países com economias emergentes se envolvam mais facilmente no comércio global, independentemente do uso do dólar.

Ao mesmo tempo, essas inovações também desafiam o poder dos bancos centrais e das grandes instituições financeiras, que até agora controlam a maior parte das transações financeiras internacionais. As soluções fintech podem impulsionar ainda mais a desdolarização, ao permitir que as transações entre países sejam realizadas em moedas locais ou criptomoedas, com custos mais baixos e maior eficiência.

9.5 A Criação de Novos Instrumentos Financeiros e a Estabilidade do Sistema Monetário Internacional

A tecnologia também possibilita a criação de novos instrumentos financeiros que podem contribuir para a desdolarização. Por exemplo, títulos soberanos emitidos em moedas locais ou moedas digitais podem se tornar uma forma alternativa de financiar economias sem depender do dólar. Além disso, novos contratos e acordos financeiros, baseados em contratos inteligentes e blockchain, podem reduzir a necessidade de moedas fortes e intermediários bancários.

Esses novos instrumentos podem ajudar a estabilizar os mercados financeiros, oferecendo alternativas ao uso do dólar em momentos de incerteza econômica. A diversificação de instrumentos financeiros e a redução da dependência do dólar permitirão que economias emergentes tenham maior controle sobre sua política monetária e financeira, tornando-se mais resilientes a choques externos e menos suscetíveis às políticas monetárias dos EUA.


10. Conclusão: O Futuro da Desdolarização e Suas Implicações no Sistema Financeiro Global

A desdolarização, embora ainda em estágios iniciais, já revela seu impacto significativo nas dinâmicas econômicas e financeiras globais. O movimento liderado pelos países do BRICS e por outras economias emergentes, visando reduzir sua dependência do dólar, é um reflexo das mudanças geopolíticas e econômicas que estão remodelando o cenário internacional. A desdolarização não apenas enfraquece a posição do dólar como moeda dominante no comércio e nas finanças globais, mas também desafia o sistema financeiro internacional baseado nas políticas monetárias e econômicas dos Estados Unidos.

Em termos de comércio internacional, a substituição do dólar por moedas locais ou alternativas, como o yuan chinês e o rublo russo, tem o potencial de criar novos blocos econômicos e estabelecer um sistema de pagamentos mais diversificado, no qual as economias emergentes ganham protagonismo. A redução da dependência do dólar nas transações comerciais pode permitir que países aumentem sua autonomia econômica e política, tornando-se menos vulneráveis à volatilidade das moedas globais e às sanções econômicas impostas pelas grandes potências.

Além disso, o crescente uso de tecnologias financeiras inovadoras, como as moedas digitais, blockchain e sistemas de pagamento alternativos, acelera ainda mais a transição para um sistema financeiro mais descentralizado. As inovações digitais estão tornando mais viável a realização de transações internacionais sem a necessidade do dólar, desafiando o domínio do sistema bancário tradicional e promovendo uma maior inclusão financeira.

Contudo, a desdolarização não está isenta de desafios. As economias que buscam reduzir sua dependência do dólar enfrentam obstáculos significativos, incluindo a resistência das instituições financeiras globais, a necessidade de construir novos sistemas de pagamento e a adaptação a um ambiente monetário mais fragmentado. O processo de transição para um novo sistema financeiro exigirá tempo, colaboração entre países e inovação constante no campo das tecnologias financeiras.

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Apesar disso, a tendência de desdolarização está se consolidando e promete remodelar a economia global nas próximas décadas. A mudança não apenas afetará o comércio e as finanças internacionais, mas também reconfigurará as relações geopolíticas, com economias emergentes assumindo um papel mais influente nos fóruns econômicos internacionais. A desdolarização, portanto, não é apenas um movimento econômico, mas uma reconfiguração do poder econômico global, que poderá levar a uma maior multipolaridade no sistema financeiro mundial.

Por fim, as implicações da desdolarização são vastas e complexas, afetando diretamente a política monetária, a geopolítica e o comércio internacional. À medida que o mundo se adapta a essas mudanças, será crucial monitorar a evolução das estratégias dos BRICS, o desenvolvimento de novas tecnologias financeiras e a reação das grandes potências, especialmente dos Estados Unidos, que ainda dominam os mercados financeiros globais. O futuro da desdolarização será, sem dúvida, um tema central nas discussões sobre o sistema financeiro global e suas transformações nos próximos anos.


11. Referências Bibliográficas

Armijo, L. E., & Roberts, C. (2014). The BRICS and Collective Financial Statecraft. Oxford University Press.
Este livro explora as estratégias financeiras coletivas adotadas pelos países do BRICS e como eles estão desafiando as estruturas de poder financeiras globais dominadas pelo Ocidente.

Eichengreen, B. (2011). Exorbitant Privilege: The Rise and Fall of the Dollar. Oxford University Press.
Eichengreen analisa a ascensão do dólar como moeda global de reserva e as implicações econômicas dessa dominação ao longo do tempo, além de discutir os desafios que o dólar enfrenta na era moderna.

Gallagher, K. (2020). The China Triangle. Oxford University Press.
Este livro aborda as dinâmicas econômicas da China no contexto global, incluindo a crescente influência do yuan e o papel da China no processo de desdolarização.

Gowan, P. (2018). The Global Gamble: Washington's Faustian Bid for World Dominance. Verso.
Gowan examina o impacto da hegemonia econômica dos EUA e as estratégias usadas pelos Estados Unidos para manter seu poder no sistema financeiro global, incluindo as sanções econômicas.

Helleiner, E. (2008). The Making of National Money. Cornell University Press.
Helleiner fornece uma análise sobre como os sistemas monetários nacionais se formaram ao longo do tempo e as implicações de mudanças no papel das moedas no sistema financeiro global.

Hudson, M. (2019). Super Imperialism: The Economic Strategy of American Empire. Pluto Press.
Hudson oferece uma análise crítica sobre como os Estados Unidos utilizaram o dólar e o sistema financeiro global para manter sua posição dominante no cenário econômico mundial.

Kindleberger, C. P. (1973). The World in Depression, 1929-1939. University of California Press.
Este livro clássico de Kindleberger oferece uma análise histórica da Grande Depressão e das dinâmicas econômicas globais, discutindo a importância do papel do dólar nas crises financeiras internacionais.

Krugman, P. (1984). International Trade Theory and Policy. MIT Press.
Krugman explora as teorias econômicas sobre comércio internacional, incluindo a influência das políticas monetárias e do dólar na economia global.

Otero-Iglesias, M. (2015). The Euro, The Yuan and The Dollar. Routledge.
Este trabalho investiga como o euro, o yuan e o dólar competem por uma maior participação no mercado financeiro global, com um foco particular nas dinâmicas de desdolarização.

Strange, S. (1988). States and Markets. Pinter.
Strange analisa a interação entre o poder dos Estados e os mercados globais, destacando como o sistema financeiro internacional foi moldado pela hegemonia do dólar.

Stiglitz, J. (2002). Globalization and Its Discontents. W.W. Norton & Company.
Stiglitz critica os efeitos da globalização liderada pelos EUA, incluindo o uso do dólar para exercer influência econômica e as consequências dessa abordagem para os países em desenvolvimento.

Tooze, A. (2021). Shutdown: How COVID Shook the World's Economy. Viking.
Tooze examina o impacto da pandemia de COVID-19 na economia global e discute como a crise acelerou mudanças no sistema financeiro, incluindo movimentos de desdolarização.

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Sobre o autor
Silvio Moreira Alves Júnior

Advogado Especialista; Especialista em Direito Digital pela FASG - Faculdade Serra Geral; Especialista em Direito Penal e Processo Penal pela FASG - Faculdade Serra Geral; Especialista em Direito Penal pela Faculminas; Especialista em Compliance pela Faculminas; Especialista em Direito Civil pela Faculminas; Especialista em Direito Público pela Faculminas. Doutorando em Direito pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales – UCES Escritor dos Livros: Lei do Marco Civil da Internet no Brasil Comentada: Lei nº 12.965/2014; Direito dos Animais: Noções Introdutórias; GUERRAS: Conflito, Poder e Justiça no Mundo Contemporâneo: UMA INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL; Justiça que Tarda: Entre a Espera e a Esperança: Um olhar sobre o sistema judiciário brasileiro e; Lições de Direito Canônico e Estudos Preliminares de Direito

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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