Resumo
O uso excessivo de telas por crianças e adolescentes pode trazer diversos prejuízos para o desenvolvimento físico e mental das crianças, e Desmurget (2021) em seu livro discorre sobre esse importante tema. O artigo possui por objetivo discorrer sobre o conteúdo da obra de Desmurget (2021), realizando para isso uma análise crítica e jurídica. Os resultados apontam que o excesso de exposição de crianças e adolescentes à dispositivos digitais traz inúmeros prejuízos, em especial cognitivos, alertando o Desmurget (2021) que devem os pais, educadores, profissionais de saúde e sociedade tomarem medidas para evitar e prevenir esses malefícios. Conclui-se que o livro de Michel Desmurget (2021) alerta para os os aspectos negativos do uso de telas por crianças e adolescentes, sendo uma leitura indispensável.
Palavras-chave: Desmurget. Dispositivos digitais. Exposição. Análise.
Sumário: Introdução. 1. Nativos digitais. 2. Análise crítica. 3. Análise jurídica. Conclusão. Referências.
Introdução
Na atualidade o uso de telas como smartphones e tablets é cada vez mais comum entre as crianças, mesmo as com menos idade. Ocorre que o excesso de telas traz diversos impactos no desenvolvimento infantil, em especial no desenvolvimento intelectual. O autor Michel Desmurget (2021) discorre em seu livro “A fábrica de cretinos digitais: os perigos das telas para nossas crianças” sobre esse relevante tema.
O artigo possui por objetivo realizar uma análise crítica e jurídica sobre a obra, e para isso abordará temas como o consumo recreativo do digital, os nascidos em tempos digitais, a influência negativa dos dispositivos digitais e a necessidade de prudência quanto ao uso de telas pelas crianças, todos assuntos abordados por Desmurget (2021) em seu livro.
A importância do tema se dá porque na atualidade o uso de dispositivos digitais excede em muito que pode ser considerado saudável, trazendo, nas palavras de Desmurget (2021), “um caráter nocivo”, em especial em crianças e adolescentes, com esse uso podendo trazer consequências negativas, como sono alterado, maturação cerebral afetada e impacto negativo sobre o desempenho escolar. Nesse âmbito, alertar pais, educadores e sociedade sobre os riscos do uso excessivo de dispositivos digitais revela-se uma necessidade, o que justifica a escolha do tema.
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Nativos digitais
Segundo Amaral (2022), o livro “A fábrica de cretinos digitais: o perigo das telas para nossas crianças”, escrito pelo neurocientista francês Michel Desmurget (2021), foi lançado em 2019, na França, com a tradução para o português sendo publicada no Brasil em 2021. Trata-se de uma obra escrita em linguagem clara e compreensível, mas com rigor científico e sólido embasamento em dados de pesquisas. Com caráter interdisciplinar, a obra é fundamentada no aporte de áreas como Neurociências, Sociologia, Psicologia, Educação, Medicina.
O autor se refere a nativos digitais como os jovens em que a tecnologia é sua língua materna. O autor alerta para a falácia existente de que esses jovens são rápidos, multifuncionais e sabem zapear com facilidade. Entretanto, Desmurget (2021) aponta que faltam provas da validade dessas informações, e afirma que essas gerações nascidas após a revolução digital traz problemáticas como falta de criatividade e inaptidão para o trabalho coletivo e inapta às experimentações.
Aqui o autor alerta para como os interesses políticos e comerciais tem garantido que essas falsas informações sejam trazidos como um “idílico retrato midiático” e que nas palavras de Desmurget (2021) “não passam de uma agradável ficção”, finalizando o primeiro capítulo de seu livro afirmando que os nativos digitais não existem.
Na segunda parte de sua obra, intitulada “Um incrível frenesi de telas recreativas” Desmurget (2021) afirma que com relação ao uso de tecnologias digitais pelas novas gerações, três questões devem ser exploradas: o que, quanto e quem? Com relação à primeira questão o autor afirma que “o digital constitui um manifesto progresso”. Com relação ao quanto, o autor aborda o problema fundamental do excesso, e já o quem, diz respeito a heterogeneidade do uso de telas, que varia entre as gerações, e segundo a idade, gênero e condição financeira.
O autor alerta ainda para a utilização precoce do digital e seus riscos, e de como o ambiente familiar pode atuar como um fator agravante, e afirma que a adoção de medidas como limitar o acesso e dar o exemplo, assim como estabelecer regras e reorientar as atividades são de extrema importância para limitar o uso de telas e assim minimizar seus malefícios, apontando ainda o autor para a importância de que tais limites não devem ser impostor, mais explicados e justificados.
Na terceira parte de seu livro Desmurget (2021) discorre sobre os impactos do uso excessivo de telas por crianças e adolescentes tanto no ambiente doméstico como no escolar, afirmando que entre os impactos negativos tem-se o menor desempenho escolar e intelectual, sendo portanto, alto o custo da pretensa revolução digital. O autor ainda alerta para o prejuízo com relação à interações humanas, à capacidade de concentração e ao uso da linguagem que o uso excessivo de tela traz. Para o autor, o sedentarismo é outra problemática trazida pelo uso excessivo de dispositivos digitais, assim como o aumento da violência.
No epílogo da obra Desmurget (2021) traz suas principais conclusões, como sobre as informações digitais nem sempre serem confiáveis, e que o uso de dispositivos digitais na atualidade excedeu em muito o excessivo, estando já incontrolável. O autor ainda conclui que o frenesi digital contemporâneo prejudica em muito o desenvolvimento intelectual, emocional e físico das crianças, e que a nocividade do uso de telas diminui o potencial do cérebro.
Desmurget (2021) finaliza sua obra afirmando que ante essa realidade, não podemos nos resignar e que a solução primária seja a restrição do tempo de uso de telas pelas crianças e adolescentes. Ainda traz regras que limitam o uso de dispositivos digitais e que segundo o autor, devem ser adotadas por pais e educadores.
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Análise crítica
Cabe aqui uma análise crítica sobre a obra de Michel Desmurget (2021). Importante salientar que o autor traz evidências e dados científicos sobre os fatos por ele alegados, ou seja, sobre os prejuízos que o uso excessivo de dispositivos digitais, não sendo, portanto, apenas sua opinião sobre o assunto. De fato, apesar de o autor em muitas partes de seu livro soar repetitiva, tem-se que os alertas nele contidos não se tratam de mero achismo, e sim de fatos e dados coletados, e que devem ser levados devidamente a sério.
A própria Sociedade Brasileira de Pediatria no Brasil alerta sobre os prejuízos físicos, emocionais e cognitivos do uso de dispositivos digitais por crianças e adolescentes, porém esses alertas, assim como os feitos por Desmurget (2021), não estão sendo devidamente levados a sério.
Crianças nas mais tenras idades são vistos com gaglets nas mãos, crianças nas escolas usam seus smartphones em horário de aula, adolescentes passam os dias isolados em seus quartos jogando, todas essas cenas são cada vez mais comuns no cotidiano de famílias e sociedades brasileiras e ao redor do mundo.
Todos esses aspectos e também os prejuízos desse uso de dispositivos digitais são abordados por Desmurget (2021) em seu livro, e ao que parece os alertas para os riscos desse uso, feitos pelo autor, não estão sendo levados devidamente a sério, mesmo o autor alertando para os efeitos prejudiciais da televisão sobre a saúde e a cognição.
A diminuição de QI de crianças e adolescentes com relação a seus pais, um fato devidamente documentado pelo autor, é um dado preocupante e que deve ser considerado. Assim, sugere-se a leitura dessa importante obra a todos.
3 Análise jurídica
De tudo o discorrido por Desmurget (2021) em sua obra, deve-se considerar que com relação à análise jurídica, não é novidade que a justiça, tanto de diversos países como do Brasil tem tido a necessidade de se envolver nessa questão do uso de dispositivos digitais por crianças e adolescentes. Como com relação à decisão tomada pela Suprema Corte dos Estados Unidos com relação a venda e aluguel e videogames violentos. No Brasil a proteção digital é uma das preocupações da justiça, e exemplo disso é a decisão recente de restringir o uso de celulares nas escolas, cuja lei foi sancionada pelo atual presidente.
Segundo a Agência Brasil (2025), a principal justificativa para essa lei é a proteção de crianças e adolescentes com relação aos impactos negativos das telas para a saúde mental, física e psíquica deles. Tal medida não é exclusividade brasileira, com países como França, Espanha, Grécia, Dinamarca, Itália e Holanda já possuindo legislações que restringem uso de celular em escolas.
Audiências públicas vêm ocorrendo no Brasil para discutir essa importante questão, e projetos de leis vem sendo criados, como o PL 2.628/2022, que busca proteger crianças e adolescentes em ambientes digitais. Trazer a devida proteção a crianças e adolescentes que estão em estágio de desenvolvimento humano e biopsicossocial decisivos para o seu desenvolvimento integral, deve ser uma preocupação do Estado e da sociedade, alerta Agência Senado (2024).
Assim, conclui-se que ainda que medidas venham sendo tomadas com relação ao uso excessivo de telas por crianças e adolescentes, inclusive em ambiente escolar, medidas mais efetivas devem ser buscadas para conter ou prevenir os malefícios do uso de dispositivos digitais por essas populações.
Conclusão
De tudo o analisado, conclui-se que a obra de Desmurget (2021) deve servir de alerta para todos, pais, educadores, profissionais de saúde e sociedade como um todo. A internet e as tecnologias digitais são uma realidade cada vez mais presente na vida de todos, inclusive de crianças e adolescentes, assim como os prejuízos desse uso, e o autor alerta e esclarece muito bem para os perigos do uso de telas por crianças.
Assim, sugere-se a leitura dessa importante obra, que deve servir de arcabouço para a saúde pública e a educação. O autor fez sua parte ao alertar sobre os perigos do uso excessivo de telas, agora cabe a todos buscar o uso mais equilibrado e consciente da tecnologia na educação e no cotidiano das crianças.
Abstract
Excessive screen time by children and adolescents can cause many harms to their physical and mental development, and Desmurget (2021) discusses this important topic in his book. The article aims to discuss the content of Desmurget's (2021) work, carrying out a critical and legal analysis. The results indicate that excessive exposure of children and adolescents to digital devices causes many harms, especially cognitive ones, and Desmurget (2021) warns that parents, educators, health professionals and society must take measures to avoid and prevent these harms. It is concluded that Michel Desmurget's (2021) book warns of the negative aspects of screen time by children and adolescents, and is essential reading.
Key words : Desmurget. Digital devices. Exposure. Analysis.
Referências
AGÊNCIA BRASIL. Especialistas apontam desafios para restrição de celular nas escolas. 2025. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2025-01/especialistas-apontam-desafios-para-restri%C3%A7%C3%A3o-de-celular-nas-escolas. Acesso em: 12 fev. 2025.
AGÊNCIA SENADO. Comissão alerta para proteção de crianças contra uso excessivo de telas. 2024. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2024/05/20/ccdd-debateu-protecao-de-criancas-contra-uso-excessivo-de-telas. Acesso em: 13 fev. 2025.
AMARAL, J. H. D.. QUÃO “DIGITAIS” SÃO OS “NATIVOS DIGITAIS”? LIMITES DO ENTUSIASMO EXCESSIVO COM A TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO. Educação em Revista, v. 38, p. e39582, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/edur/a/Fy7pHsPjppGqyrzgB8kxGwd/. Acesso em: 13 fev. 2025.
BECKER, D.; DONELLI, T. M. S.. “NEM SEMPRE FUNCIONA, MAS AJUDA”: PERCEPÇÕES PARENTAIS SOBRE A EXPOSIÇÃO DO BEBÊ ÀS TELAS. Psicologia em Estudo, v. 29, p. e54957, 2024. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pe/a/zLHd6DKCYLQrNjbFK9FPGPv/. Acesso em: 13 fev. 2025.
DESMURGET, M. A fábrica de cretinos digitais: os perigos das telas para nossas crianças. São Paulo: Vestigio, 2021. Tradução de Mauro Pinheiro.