A influência de Instituições e ideias gestadas a partir das Revoluções Liberais sobre a organização econômica, política e social das sociedades contemporâneas.

09/04/2025 às 20:22
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Resumo

Observar as relações da sociedade é um dos objetivos de estudo das Ciências Sociais. Compreender os processos históricos que transformaram e influenciam o nosso cotidiano é a nossa preocupação neste trabalho. É fato que as chamadas Revoluções Liberais do séc. XIX, a Revolução Industrial Inglesa e a Revolução Francesa, marcaram um momento histórico não só destes países, mas foram acontecimentos decisivos e marcantes tanto para os países ocidentais como para os mais diversos países de todos os continentes. Sua influência na vida social, política e econômica das pessoas foi tão profundo que, mesmo hoje, continuam suas idéias presentes nos mais diversos aspectos em nossa sociedade.

Palavras-chave: processos históricos, Revoluções Liberais, vida social.


INTRODUÇÃO

Sem dúvida as chamadas Revoluções Liberais do séc. XIX, a Revolução Industrial Inglesa e a Revolução Francesa, marcaram um momento histórico não só destes países, mas foram acontecimentos decisivos e marcantes tanto para os países ocidentais como para os mais diversos países de todos os continentes. Sua influência na vida social, política e econômica das pessoas foi tão profundo que, mesmo hoje, continuam suas idéias presentes nos mais diversos aspectos em nossa sociedade.

Para compreendermos a influência das Instituições e idéias gestadas a partir desta chamada “dupla revolução” sobre a organização econômica, política e social das sociedades contemporâneas apresentaremos separadamente as contribuições de cada uma destas revoluções liberais.

É fato que para compreendermos este duplo processo histórico, é fundamental entendermos que os mesmos precederam à queda do assim chamado ‘antigo regime’ e sua sociedade feudal, a superação da economia mercantilista pelo nascente sistema econômico capitalista e pela ascenção no domínio político - institucional de uma nova classe social governante, a burguesia. E é esta nova classe dominante com todas suas características e ideologias que entenderemos preliminarmente o ‘triunfo do capitalismo liberal burguês’ (HOBSBAWM, Eric J. A ERA DAS REVOLUÇÕES, Página 16).


AS REVOLUÇÕES LIBERAIS

Inicialmente começaremos pela revolução industrial ocorrida na Inglaterra, apontando a influência das Instituições e idéias inglesas sobre a organização, política e social nas sociedades contemporâneas. Antes é preciso entender que alguns aspectos são importantes para o acontecimento desta revolução específica na Inglaterra. A produção privada e o lucro privado já existiam na Inglaterra, o ambiente político era favorecido pela ascenção de uma monarquia protestante que via o lucro privado como uma preocupação do Estado.

Começaremos apontando o que é considerado uma das, se não a maior, contribuições da revolução industrial inglesa, o estabelecimento do ‘mercado econômico’ como mais do que uma simples idéia da economia, mas como uma verdadeira instituição social e ideológica, assim ‘o problema resume-se meramente em como colocar um mercado suficientemente vasto de maneira suficientemente rápida ao alcance dos homens de negócios’ (HOBSBAWM, Eric J. A ERA DAS REVOLUÇÕES, Página 70).

Esta Instituição começa a ditar as regras da sociedade e o Estado passa a ter como função principal do Estado, ou seja, de impor, manter e controlar um tipo de economia, neste caso, a nascente economia burguesa, o capitalismo.

A revolução industrial inglesa não foi um evento restrito ao seu período histórico, ao menos considerando os seus ideais, mas como uma etapa histórica que ainda fala e influência as sociedades contemporâneas. É na economia que sua fala se faz mais presente no nosso dia a dia, não só na vida dos cidadãos, mas principalmente pautando todas as ações governamentais.

A Inglaterra deu a idéia de que o Estado devia ser o grande abalizador da produção industrial, implantando políticas governamentais que tinham o objetivo de garantir a lucratividade dos empreendimentos privados, mesmo à custa do bem estar da maioria da população, política esta bem visível em todas as sociedades contemporâneas, em que as ações dos governos são majoritariamente focalizadas na ótica econômica e na preocupação do sucesso dos grandes investimentos privados em detrimento dos pequenos produtores rurais e pequenos negociantes, ‘o dinheiro não só fala como governava ‘(HOBSBAWM, Eric J. A ERA DAS REVOLUÇÕES, Página 55).

Um aspecto marcante da revolução industrial inglesa é o estabelecimento da “indústria” e da “fábrica” como idéias que distinguem a nova ordem econômica e a ascenção de novos dominantes, a classe burguesa. Estes termos significam, para esta nova classe, o verdadeiro progresso e o desejado desenvolvimento que só será alcançado com uma nova Instituição – a industrialização. São claros que tais idéias de progresso e desenvolvimento econômico – social são profundos no imaginário da sociedade contemporânea e se constituem o alicerce da gestão governamental.

Uma idéia relevante oriundo desta revolução é ‘a exploração da mão-de-obra, que mantinha sua renda em nível de subsistência, possibilitando aos ricos acumularem os lucros que financiavam a industrialização’ (HOBSBAWM, Eric J. A ERA DAS REVOLUÇÕES, Página 65). Este ponto é vital para compreendermos a mazelas da sociedade contemporânea, pois a exploração dos trabalhadores e a pouca, ou nenhuma, distribuição dos lucros é a fonte dos constantes movimentos grevistas e das reivindicações dos numerosos movimentos sociais.

Segundo HOBSBAWM, os capitalistas entediam que os problemas sociais oriundos da revolução não tinham nenhuma relevância caso não causassem transtornos à ordem social vigente, o que importava era o progresso econômico. É impressionante que esta postura ainda é característica das organizações políticas e econômicas das sociedades contemporâneas, que relevam as desigualdades sociais em prol de um ‘progresso econômico’ restritivo.

A busca por este tipo de progresso proporcionou o surgimento da indústria básica de bens de capital, onde a máxima era crer que ‘é evidente que nenhuma economia industrial pode-se desenvolver de um certo ponto se não possui uma adequada capacidade de bens de capital’ (HOBSBAWM, Eric J. A ERA DAS REVOLUÇÕES, Página 70). Esta instituição, a indústria de bens de capital, é essencialmente a idéia chave da produção industrial contemporânea, e do ponto de vista econômico e social revolucionou e ainda é fonte impulsionadora das transformações do mundo contemporâneo. Economicamente a indústria de bens de capital é considerada um indicador do ‘progresso econômico’ e prova da ‘modernidade’ da sociedade contemporânea. Socialmente este tipo de indústria é bastante influente no imaginário social da população, e o seu discurso da modernidade e industrialização ainda seduz as sociedades, que acabam aceitando as mais diversas mazelas sociais e as mais gritantes desigualdades econômicas em prol de uma idéia que é herança da revolução inglesa, indústria de bens de capital, levará as sociedades contemporâneas ao desenvolvimento econômico e social.

Este modelo de economia industrial proporcionou mudanças significativas na estrutura urbanística das cidades, pois a mobilização da mão-de-obra dos campos para as cidades levou ao inchaço das cidades e esvaziamento do campo e consequentemente uma desvalorização da produção agrícola familiar. Estas idéias do período da revolução industrial inglesa continuam bem visíveis nas sociedades contemporâneas, onde a mudança do fluxo político - econômico ocasionou profundas mudanças sociais, principalmente para a faixa mais carente da população.

Um outro aspecto fundamental para a compreensão da organização econômica, política e social das sociedades contemporâneas é o estabelecimento de uma idéia de ‘renda mínima’, que é fruto da revolução industrial Inglesa, paga ao operário para que ‘ele tivesse que trabalhar incansavelmente durante toda a semana’ (HOBSBAWM, Eric J. A ERA DAS REVOLUÇÕES, Página 80) para assim obter o seu sustento. Este aspecto é uma das maiores ‘maldições’ desta tão propagandeada ‘modernidade’ que a revolução industrial Inglesa nos deixou, sugando não só o tempo do trabalhador, mas sua vida, sua dignidade, sua existência na humanidade.

Ainda é surpreendente que as sociedades contemporâneas ainda briguem por políticas econômicas de ‘renda mínima’, onde deveria é se buscar avanços sociais e econômicos substanciais através de políticas progressistas, que envolvam o suprimento das necessidades de toda a população, não mais atrelando a política governamental ao puro desejo do negócio privado, fato este que se perpetua desde a revolução industrial Inglesa. Neste ponto, é importante destacar que com esta idéia de renda mínima se desenvolve para a institucionalização do trabalho assalariado ainda tão presente em nossas organizações políticas e econômicas da atualidade.

Depois de apontados uma das maiores influências das instituições e idéias da revolução industrial sobre a organização econômica, política e social das sociedades contemporâneas, é preciso entender a contribuição da revolução Francesa para esta mesma sociedade afim de que se possa entender de forma global a nossa atual realidade.

É certo que a revolução Francesa é um movimento essencialmente político e de efeitos que extrapolam a França e a Europa, influenciando política, econômica e socialmente praticamente quase todo o mundo, onde seus feitos ecoam profundamente pelos séculos chegando até a sociedade contemporânea, ‘a França forneceu o vocabulário e os temas da política liberal e radicalmente democrática para a maior parte do mundo’ (HOBSBAWM, Eric J. A ERA DAS REVOLUÇÕES, Página 84), por isso seus feitos marcam a revolução política da França como um dos grandes acontecimentos da humanidade.

A influência das Instituições e idéias surgidas com esta revolução sobre a organização econômica, política e social das sociedades contemporâneas são tão profundas e surpreendentes que chega ser difícil, aos olhos do ‘leigo’, acreditar que nossa sociedade vive política e socialmente sobre os alicerces colocados por esta singular etapa histórica. O conceito e o vocabulário de nacionalismo tão amplamente difundido nos mais diversos países é uma idéia - valor deixado como legado político para nós.

A idéia do ‘povo’ identificado como ‘a nação’ tão amplamente aceita em nossa época e tão estabelecida em nossa ideologia política, bem como tão influente no imaginário social é uma potente contribuição desta revolução política que difundiu também a moderna noção do termo ‘patriotismo’.

Ainda na influência política e social da desta revolução sobre nossa sociedade contemporânea, temos a ascenção política, social e econômica de uma nova classe dominante, a burguesia. É principalmente na esfera política e social que mais influência desta revolução encontra-se em nossa estrutura. O sucesso da burguesia com sua ‘forma política revolucionária burguesa francesa e de todas subseqüentes esta agora bem clara’ (HOBSBAWM, Eric J. A ERA DAS REVOLUÇÕES, Página 95). Esta dialética, onde a burguesia para satisfazer seus interesses se movimenta ora em apoio à classe mais pobre ou ora se alia aos conservadores na dominação destes, é sem dúvida, um quadro perfeito das idéias e instituições de diversos movimentos políticos contemporâneos e das mais variadas organizações e políticas governamentais contemporâneas.

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Os movimentos de ‘libertação’ social, de luta dos direitos civis e de diminuição das desigualdades sociais tão vivos e presentes na sociedade contemporânea é uma influência direta das idéias da revolução Francesa. Esta era eminentemente uma ação em massa na busca universal da liberdade universal.

O ecumenismo político brotado no movimento francês possibilitou o surgimento, no nosso período, de um sentimento de luta conjunta e global tão bem representados pelos inúmeros movimentos sociais pela luta política, econômica e social mais justa e que favoreça os mais necessitados.

Neste sentido, é importante destacar que foi dos franceses que se originou o moderno direito ao voto universal e é deles que se conhece ‘a primeira constituição genuinamente democrática proclamada por um Estado moderno’ (HOBSBAWM, Eric J. A ERA DAS REVOLUÇÕES, Página 104). A idéia francesa do voto universal possibilitou o desenvolvimento das instituições da democracia participativa Contemporâneas.

Uma outra contribuição francesa que influenciou as atuais organizações econômicas e sociais foi o sistema métrico, possibilitando o surgimento de novas relações comerciais e o desenvolvimento técnico-científico. É importante salientar que a França influenciou as instituições jurídicas do mundo contemporâneo de diversos países, bem como dela veio ‘o modelo de organização técnica e científica’, fatos estes que sem dúvida alguma foram marcantes não só para a política, a economia e a sociedade francesa, mas se tornaram exemplos para quase todo o mundo.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, compreende-se que a revolução Francesa e suas idéias abalaram as estruturas da época e estabeleceram os alicerces políticos da nossa sociedade contemporânea.

Assim, compreende-se que tanto a revolução industrial Inglesa e a revolução Francesa foram etapas históricas marcantes e fundamentais para compreender a sociedade contemporânea. Suas Instituições e suas idéias tornaram possível o aparecimento dos mais diversos atores econômicos, políticos e sociais que ainda hoje se movimentam na busca da realização dos seus ideais ou na manutenção dos seus interesses, num embate em uma esfera política que passaria a ser conhecida como o Estado moderno e o agora conhecido, Estado democrático racional – legal.


REFERÊNCIAS

OLIVEIRA. Roberto Cardoso de. 1998. O TRABALHO DO ANTROPÓLOGO/SÃO PAULO: Editora Unesp. 220. Pág.

DAMATTA. Roberto da. 2010. RELATIVIZANDO: UMA INTRODUÇÃO A ANTROPÓLOGIA SOCIAL/ SÃO PAULO: Editora Vozes. 256. Pág.

SISTEMA INTEGRADO DE TRANSPORTE – SIT EM SÃO LUIS, pesquisado em G:/Ciencias Sociais/Antropologia/Sistema Integrado de Transporte em São Luís – Wikipédia, a enciclopédia livre.htm acessado em 02/01/2012.

HOBSBAWM, Eric J. A ERA DAS REVOLUÇÕES. 1998.


Abstract

Observing the relationships within society is one of the objectives of the study of Social Sciences. Understanding the historical processes that transformed and influenced our daily lives is our concern in this work. It is a fact that the so-called Liberal Revolutions of the 19th century, the English Industrial Revolution and the French Revolution, marked a historical moment not only for these countries, but were also decisive and significant events for Western countries as well as for the most diverse countries on all continents. Their influence on people's social, political and economic lives was so profound that, even today, their ideas continue to be present in the most diverse aspects of our society.

Key Words: historical processes, Liberal Revolutions, social life.

Sobre o autor
Israel Pinheiro Rocha Costa

Administrador e Advogado - Universidade Estadual do Maranhão - UEMA. Aluno do do curso de Licenciatura em Ciências Sociais da Universidade FMU.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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