Sociedade e Cultura: Mídia digital, cultura do cancelamento e sociedade da hiperinformação

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06/05/2025 às 15:09

Resumo:


  • A mídia exerce influência na construção da identidade cultural e na formação da opinião pública, moldando valores, comportamentos e visões de mundo.

  • A sociedade da hiperinformação, caracterizada pelo excesso de dados e estímulos, gera desafios como desinformação, polarização e enfraquecimento das instituições democráticas.

  • A cultura do cancelamento, presente nas redes sociais, promove linchamentos virtuais e tensiona a liberdade de expressão, comprometendo o debate público democrático.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

VIII. Conclusão

A análise das interações entre mídia, cultura e democracia nos revela a profundidade e a complexidade dos efeitos que os meios de comunicação podem ter na sociedade contemporânea. A mídia, enquanto instrumento essencial de disseminação de informações, tem a capacidade de moldar a identidade cultural e a opinião pública, influenciando diretamente o funcionamento das instituições democráticas. No entanto, como vimos ao longo do estudo, esse poder também traz consigo grandes responsabilidades, uma vez que a manipulação da informação e a propagação de narrativas distorcidas podem comprometer a própria essência do debate democrático.

É evidente que a mídia não exerce um papel neutro no processo de construção da identidade cultural. As representações midiáticas de diferentes grupos sociais, etnias, gêneros e classes têm um impacto significativo sobre como esses grupos são percebidos e como eles se percebem dentro de suas respectivas sociedades. A forma como certos comportamentos e valores são retratados pela mídia contribui para a formação de estereótipos, reforçando desigualdades sociais e culturais. Ao mesmo tempo, a globalização das plataformas midiáticas tem levado à homogeneização das identidades culturais, fazendo com que práticas, valores e padrões globalmente dominantes sobreponham e, muitas vezes, apaguem as tradições locais e regionais. Isso é particularmente visível quando se observa a crescente uniformização das narrativas que circulam em plataformas digitais, muitas vezes em detrimento da diversidade cultural e das expressões autênticas de grupos marginalizados.

Por outro lado, a mídia digital, especialmente as redes sociais e os algoritmos que regem suas plataformas, tem promovido uma forma de personalização da experiência informativa que, ao mesmo tempo em que pode ser benéfica para o engajamento individual, também pode resultar em uma maior fragmentação do debate público. A criação de "bolhas de filtro" alimentadas por algoritmos pode reforçar visões de mundo preconcebidas e dificultar o encontro de diferentes perspectivas, minando a pluralidade e a vitalidade do discurso democrático. Além disso, o fenômeno da desinformação, exacerbado pelo uso indiscriminado de plataformas digitais, contribui para a polarização política, dificultando a construção de uma opinião pública bem-informada e comprometida com os valores democráticos fundamentais.

Em um contexto democrático, a mídia deveria atuar como um facilitador do debate público, proporcionando um espaço plural para a troca de ideias e o exame crítico das políticas públicas. No entanto, muitas vezes ela acaba sendo cooptada por interesses políticos e econômicos, que utilizam os meios de comunicação como ferramentas de manipulação, influenciando os resultados eleitorais e as decisões políticas de uma maneira que não reflete as reais necessidades da população. Esse cenário não apenas enfraquece as instituições democráticas, mas também compromete a confiança pública nas autoridades e na própria legitimidade dos processos políticos.

Outro aspecto crucial abordado ao longo deste estudo foi a crescente concentração da propriedade dos meios de comunicação em mãos de poucos conglomerados empresariais, o que representa uma ameaça à diversidade de vozes e à independência jornalística. Quando um número reduzido de entidades controla a maior parte da informação que circula, os cidadãos são privados de um acesso completo e plural às informações necessárias para a tomada de decisões informadas. A centralização da mídia, portanto, enfraquece o pluralismo, que é um dos pilares fundamentais de qualquer democracia saudável. A presença de múltiplas fontes de informação e a capacidade de cidadãos em acessar pontos de vista divergentes são condições essenciais para que uma sociedade possa fazer escolhas bem-informadas e robustecer suas instituições democráticas.

Em síntese, a relação entre mídia e democracia não é simples nem linear. A mídia possui o potencial de fortalecer as instituições democráticas ao promover o debate público, garantir a transparência e prestar contas aos cidadãos. Contudo, a centralização da mídia, a manipulação da informação e a proliferação de desinformação também representam riscos significativos para a democracia, tornando necessário um maior cuidado e uma ação mais eficaz na regulação da mídia e na educação midiática. A democratização da informação, a criação de plataformas mais transparentes e a promoção de uma mídia mais independente e plural são passos essenciais para assegurar que a mídia continue a desempenhar seu papel fundamental na democracia, sem comprometer a integridade dos processos políticos e a diversidade cultural.

Além disso, é imprescindível que a sociedade civil, as plataformas digitais e os governos atuem de forma coordenada para combater as ameaças da desinformação e da manipulação midiática. Para que a democracia se mantenha vibrante e funcional, é necessário que as pessoas estejam bem-informadas, dispostas a engajar-se em discussões construtivas e a considerar diversas perspectivas. A mídia tem um papel crucial nesse processo, e sua transformação em um canal mais responsável e democrático será um dos maiores desafios para as gerações futuras. O fortalecimento da mídia democrática exige um compromisso contínuo com a verdade, a ética e a pluralidade, elementos essenciais para a preservação da democracia e da dignidade humana em um mundo cada vez mais interconectado e digitalizado.


IX. Referências Bibliográficas

  1. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

    E ste livro aborda a transformação das sociedades modernas com a ascensão das redes de comunicação, incluindo a análise crítica dos efeitos das tecnologias de informação sobre as instituições democráticas.

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  2. HABERMAS, Jürgen. A Transformação Estrutural da Esfera Pública. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.

    H abermas discute como a mídia e a comunicação pública moldam o espaço democrático, oferecendo uma crítica sobre o papel da esfera pública na formação da opinião e no fortalecimento da democracia.

  3. BARBER, Benjamin R. A Jihad contra a McMundo: Implicações Culturais da Globalização. Rio de Janeiro: Record, 1996.

    O autor aborda os impactos da globalização cultural e o modo como a mídia globaliza identidades, padrões e valores, muitas vezes negligenciando a diversidade cultural.

  4. McCHESNEY, Robert W. The Political Economy of Media: Enduring Issues, Emerging Dilemmas. New York: Monthly Review Press, 2008.

    M cChesney explora as questões econômicas que influenciam o campo da mídia, abordando o controle corporativo sobre a informação e as implicações para a democracia.

  5. BAUDRILLARD, Jean. A Guerra do Golfo Não Aconteceu. São Paulo: Brasiliense, 1995.

    E ste texto examina como a mídia pode construir realidades alternativas, argumentando que, em algumas situações, a representação da guerra na mídia se torna mais relevante do que a própria guerra.

  6. CHOMSKY, Noam. Manufacturing Consent: The Political Economy of the Mass Media. New York: Pantheon Books, 1988.

    U ma obra fundamental que analisa como os meios de comunicação funcionam como instrumentos de controle e manipulação das massas em benefício de elites econômicas e políticas.

  7. LIPPMAN, Walter. Opinião Pública. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

    L ippmann investiga a construção da opinião pública, explorando como a mídia molda as crenças e as atitudes das pessoas, muitas vezes de maneira manipuladora.

  8. BENNETT, W. Lance; LIVINGSTONE, Sonia. The Sage Handbook of Media Studies. London: Sage Publications, 2007.

    E ste manual oferece uma ampla visão sobre os estudos de mídia, incluindo a interseção da mídia com a política, a cultura e a identidade.

  9. ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas: Reflexões sobre a Origem e a Difusão do Nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

    A nderson explora como as mídias nacionais ajudam a construir a ideia de nação, formando uma "comunidade imaginada" que liga as pessoas por meio de uma experiência compartilhada mediada pela mídia.

  10. SUSSMAN, David. The Culture of Fear: Why Americans Are Afraid of the Wrong Things. New York: The Free Press, 2005.

    S ussman examina a relação entre a mídia e a cultura do medo, mostrando como as representações midiáticas influenciam as preocupações públicas, criando uma percepção distorcida da realidade.

Sobre o autor
Silvio Moreira Alves Júnior

Advogado Especialista; Especialista em Direito Digital pela FASG - Faculdade Serra Geral; Especialista em Direito Penal e Processo Penal pela FASG - Faculdade Serra Geral; Especialista em Direito Penal pela Faculminas; Especialista em Compliance pela Faculminas; Especialista em Direito Civil pela Faculminas; Especialista em Direito Público pela Faculminas. Doutorando em Direito pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales – UCES Escritor dos Livros: Lei do Marco Civil da Internet no Brasil Comentada: Lei nº 12.965/2014; Direito dos Animais: Noções Introdutórias; GUERRAS: Conflito, Poder e Justiça no Mundo Contemporâneo: UMA INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL; Justiça que Tarda: Entre a Espera e a Esperança: Um olhar sobre o sistema judiciário brasileiro e; Lições de Direito Canônico e Estudos Preliminares de Direito

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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