O impacto das taxas de juros no agronegócio brasileiro.

Entre financiamento, competitividade e sustentabilidade produtiva

Leia nesta página:

Como os juros afetam o crédito e a inovação no agronegócio? Taxas elevadas reduzem competitividade e agravam riscos financeiros no setor agrícola.

Resumo: Este artigo analisa criticamente os impactos das taxas de juros, tanto internas quanto externas, sobre o desempenho do setor agrícola brasileiro. A pesquisa se concentra nos efeitos do encarecimento do crédito sobre a produção, na limitação de investimentos em inovação e nos reflexos negativos sobre a competitividade internacional. Considerando o papel estratégico do agronegócio na economia nacional, discute-se a urgência de políticas públicas mais adaptadas às realidades e vulnerabilidades do setor.


Introdução

O agronegócio representa aproximadamente um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, sendo peça-chave nas exportações e no abastecimento de empregos diretos e indiretos. Essa relevância, contudo, contrasta com a alta sensibilidade do setor às variações da taxa básica de juros (Selic) e às políticas monetárias de economias centrais, como Estados Unidos e China. Com grande parte das atividades financiadas via crédito, o custo dos empréstimos se torna um fator decisivo para a sustentabilidade econômica das propriedades rurais. Entre 2022 e 2025, o ciclo de alta da Selic evidenciou os efeitos adversos sobre o crédito, a adoção de tecnologias e a expansão produtiva no campo.


O Custo do Crédito e o Financiamento Rural

A elevação da taxa de juros impacta diretamente o custo do financiamento rural, sobretudo em operações de custeio e investimento. Pequenos, médios e grandes produtores dependem do crédito bancário para adquirir insumos, máquinas e financiar suas safras. Quando os juros aumentam, as prestações se tornam mais pesadas, comprometendo a rentabilidade e, em muitos casos, inviabilizando investimentos.

Relatórios do Banco Central indicam que a Selic foi mantida em patamar elevado entre 2023 e 2025 como resposta ao avanço inflacionário. Esse cenário restringiu a oferta de crédito rural. Segundo levantamento da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em 2024, mais de 60% dos produtores relataram dificuldades em acessar financiamento com taxas adequadas às suas capacidades operacionais.


Taxas de Juros e Inovação no Campo

O crédito rural também é um canal essencial para fomentar a inovação no campo. Tecnologias como agricultura de precisão, irrigação automatizada, uso de drones e genética vegetal exigem investimentos de longo prazo. Quando o custo do dinheiro é elevado, tais avanços tornam-se menos acessíveis, sobretudo para produtores que não possuem capital próprio.

Além disso, startups agrotecnológicas e empresas fornecedoras de insumos sofrem tanto com a retração da demanda quanto com o encarecimento de suas próprias linhas de crédito. A Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) tem defendido o uso de ferramentas alternativas, como fundos garantidores e consórcios setoriais, para viabilizar investimentos mesmo em contextos de juros elevados.


Efeitos Cambiais e Competitividade Internacional

Um aspecto frequentemente negligenciado da política monetária é seu reflexo sobre o câmbio. A elevação da Selic tende a atrair capital estrangeiro especulativo, o que valoriza a moeda nacional. Embora esse efeito possa ser positivo para o controle da inflação, ele prejudica as exportações ao tornar os produtos brasileiros mais caros no mercado internacional.

As commodities agrícolas brasileiras, como soja, milho, algodão e carnes, têm seus preços cotados em dólar. Assim, um real mais valorizado reduz os ganhos dos exportadores, comprometendo a margem de lucro e afetando a competitividade frente a países que subsidiam fortemente seus produtores, como Estados Unidos e membros da União Europeia.


Respostas Institucionais: Políticas Públicas e seus Limites

Frente aos desafios impostos pelas taxas de juros elevadas, o Estado brasileiro tem adotado mecanismos de apoio ao produtor, especialmente por meio do Plano Safra, que oferece crédito subsidiado. Apesar da intenção, o alcance desses recursos vem diminuindo. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) indicam que, em 2025, apenas 22% do total de crédito rural foi contratado via linhas subsidiadas, contra 35% em 2021.

O aumento dos casos de inadimplência e de pedidos de recuperação judicial no meio rural evidencia que as políticas públicas atuais não têm sido suficientes. Entidades representativas do setor apontam a necessidade de uma atuação mais coordenada, técnica e flexível, com foco em amortecer os efeitos dos ciclos monetários sobre a produção.


Caminhos Possíveis: Diversificação do Crédito e Sustentabilidade

Superar os entraves causados pelos juros elevados exige diversificação das fontes de financiamento. Entre as alternativas discutidas estão fundos de investimento vinculados a cadeias produtivas, parcerias público-privadas, sistemas de securitização de recebíveis e seguros agrícolas integrados.

Também ganha força a proposta de fortalecer o crédito verde, atrelando condições facilitadas à adoção de práticas sustentáveis. Essa abordagem pode atrair investimentos estrangeiros e aumentar a resiliência do setor frente às oscilações econômicas globais, sem comprometer os compromissos ambientais.


Considerações Finais

O setor agropecuário brasileiro, embora robusto, continua extremamente exposto às decisões de política monetária. O aumento da taxa de juros fragiliza sua estrutura de financiamento, restringe investimentos em inovação, afeta a competitividade internacional e acentua o risco de inadimplência.

As respostas institucionais, como o Plano Safra, têm sido positivas, mas insuficientes. A construção de um ambiente econômico mais estável e sensível às especificidades do campo passa por políticas públicas que aliem controle inflacionário a mecanismos de crédito acessível e estímulo à inovação. Somente assim será possível consolidar um modelo de crescimento sustentável para o agronegócio brasileiro.

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Referências

Cotações do Agro: confira os preços da soja, milho, sorgo, boi e outros produtos em Jataí nesta sexta - Pecuária & Agricultura Brasil. Disponível em: <https://pec.agr.br/2025/07/11/cotacoes-do-agro-confira-os-precos-da-soja-milho-sorgo-boi-e-outros-pr ...;

ALMEIDA, G. Plano Safra: juros altos elevam custo de soja e desafiam produtores, aponta consultor. Disponível em: <https://www.canalrural.com.br/agricultura/projeto-soja-brasil/plano-safra-juros-altos-elevam-custo-d ....

AGRÍCOLAS, N. Muita propaganda e pouco resultado: Juros altos e custeio caro promovem “desidratação tecnológica”. Disponível em: <https://www.noticiasagricolas.com.br/videos/agronegocio/403311-com-juros-altos-e-custeio-mais-caro-p ....

Plano Safra 2024/25 tem juros altos e recursos abaixo do esperado. Disponível em: <https://www.cnabrasil.org.br/noticias/plano-safra-2024-25-tem-juros-altos-e-recursos-abaixo-do-esperado>.

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