Formação de juristas leigos

20/07/2025 às 21:59
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Para as entidades que apoiam a organização dos trabalhadores, sobretudo, no meio rural, fica claro que que uma das formas mais frequentes de exploração e usurpação dos direitos dos trabalhadores é a cultura da ignorância. A simples defesa dos trabalhadores nas instâncias judiciárias não é suficiente para ajudá-los a alcançar o exercício da cidadania. É necessário socializar conhecimentos "desmitificando" o "monopólio" do "saber jurídico", preparando verdadeiros cidadãos, com pleno domínio dos seus direitos e obrigações, prontos para atuar efetivamente na sociedade.

Desde o início a Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais (AATR), promovia cursos pontuais e de curta duração para trabalhadores de base, lideranças sindicas e dirigentes de organizações populares. Esses cursos tiveram um papel importante no sentido de introduzir os trabalhadores ao conhecimento do direito.

No entanto, para atender à crescente demanda, a AATR concebeu o curso de Formação de Juristas Leigos. Seu objetivo foi contribuir para que lideranças comunitárias, dirigentes sindicais e assessores do movimento social adquiram maior segurança em relação ao direito e possam ser capacitados para o exercício mais eficiente da cidadania. É um programa que visa oferecer noções elementares de direito a militantes que possam atuar juntos a grupo de trabalhadores, vivendo nas mesmas comunidades onde eles vivem. Esclarecendo-lhes e invectivando-lhes defender os seus direitos e forjando na prática. Na experiência concreta, um novo direito insurgente, como fruto da necessidade dos trabalhadores.

O curso é ministrado em 08 (oito) etapas de 03 (três) a 04 (quatro) dias cada, distribuídas ao longo de um ano e meio. Entre uma etapa e outra, os estudantes recebem exercícios vinculados ao tema discutindo em cada etapa para serem desenvolvidos e monitorados pela AATR. Os temas, são discutidos com flexibilidade, tendo em vista a realidade e necessidade de cada região ou grupo de interessados, são ministrados - normalmente - em uma ordem que possibilite uma visão geral dos diversos ramos do direito.

Desde que o programa foi iniciado no final de 1992, oito turmas forma concluídas e outras estão em andamento. Ao final desta série 11 turmas estarão capacitadas, com cerca de 200 juristas leigos formados, provenientes de 82 municípios diferentes. Destes 78 estão na Bahia e 03 estão no Estado de Pernambuco e um em Sergipe.

Este programa vem sendo destacado como uma ação eficaz no sentido de apoiar e fortalecer o movimento popular a partir de seus próprios membros. Contribuindo para desmistificar a sacralidade do sistema judiciário do país e abrir caminhos para o exercício de uma verdadeira cidadania.

Por fim, é importante informar que este artigo foi escrito originalmente para o Jornal Tribuna Popular, Coluna Opinião, da Cidade de Macaranaú, estado do Ceará, Nordeste brasileiro, 20/11 a 11 de dezembro de 1988, a convite de um colaborador do Jornal presente ao evento de Direitos Humanos onde o Programa Juristas Leigos foi divulgado. A transcrição deste artigo justifica-se pela necessidade de preservar e difundir conhecimento com estudantes de graduação e pós-graduação.

Referências:

ROCHA, J.C. Formação de Jurístas Leigos. Maracanaú/Ceará: Jornal Tribuna Popular, 1998.

Sobre o autor
José Cláudio Rocha

Advogado (UFBA), Economista (UFBA), Analista e Desenvolvedor de sistemas (UNINASSAU) e professor pleno da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Professor na graduação (presencial e EAD) e pós-graduação (mestrado e doutorado) é pesquisador público e coordenador do Centro de Referência em Desenvolvimento e Humanidades da Universidade do Estado da Bahia (CRDH/UNEB), centro de pesquisa e instituto de tecnologia social, multiusuário e transdisciplinar, considerado estratégico para o desenvolvimento sustentável do Estado da Bahia. Tem pós-doutorado em Direito; Doutorado e mestrado em educação e especialização em diversas áreas como: Direito Digital (Faculeste); Administração Pública (UEFS); Ética, Capital Social e Desenvolvimento (INEAM/OEA); Gestão em Direitos Humanos (SEDH/PR) e Gestão de Projetos (UNIRIO). Atua como consultor para organizações públicas, privadas e não governamentais. Contato: [email protected]

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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