O declínio e queda dos Farialimers

29/08/2025 às 10:49
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Antes do colapso financeiro dos EUA que se propagou para a Europa, o presidente do FED costumava elogiar a exuberância irracional do mercado . A frase se tornou o ícone de uma era que chegaria ao fim em meados de 2007, sendo certo que Alan Greenspan nada fez para interromper a bolha do subprime enquanto ela crescia vertiginosamente.

Em São Paulo, a exuberância da criminalidade financeira finalmente começou a chegar ao fim em 28/08/2025. Mas é preciso dizer que ela foi inflada não pela bandidagem comum ou pelos operadores do mercado que forneciam serviços bancários ao PCC.

O problema paulista foi amplificado pelo jornalismo econômico paulista. Folha e Estadão sempre defenderam a Faria Lima, vocalizando a agenda do mercado como se ela fosse a única agenda política possível. Todas as iniciativas governamentais do PT que ameaçavam os lucros da Faria Lima eram considerados uma intromissão indevida do Estado inadmissível numa economia de mercado.

A cumplicidade entre o mercado financeiro e o Palácio dos Bandeirantes também ajudou a consolidar a exuberância da criminalidade financeira da Faria Lima. Nas ruas, nas páginas policiais dos jornais e nos programas de TV e canais de YouTube da extrema direita policialesca, PM sempre tratou o PCC como inimigo interno. Todavia, ao que parece as autoridades governamentais de São Paulo toleravam o lucrativo braço financeiro da organização criminosa enquanto ele se expandia sob aplausos do jornalismo econômico paulista.

Foi preciso o governo do PT agir com inteligência e a PF deflagrar uma imensa operação policial para que a bolha da criminalidade dos Farialimers fosse explodida. Isso criou uma situação engraçada. Folha e Estadão não podem atacar Lula, mas tentam de todas as maneiras salvar a imagem de Tarcísio de Freitas (governador que não fez nada para interromper a exuberância da criminalidade financeira da Faria Lima.

Tarcísio parece ter sentido o impacto da operação. Agora não é apenas a carreira política dele que está em risco. O comportamento dele e do secretário de segurança dele também estão sob escrutínio e podem acabar sendo investigados pela PF.

Guilherme Muraro Derrite, mais conhecido como Capitão Derrite, sempre defendeu publicamente o uso de violência policial extrema contra o PCC. Mas a verdade é que ele nunca sequer cogitou mandar viaturas da ROTA para enjaular Farialimers que prestavam serviços bancários à organização criminosa. Ao que parece, o secretário de segurança de Tarcísio de Freitas andava muito ocupado cuidando da construção de uma mansão milionária.

De onde veio o dinheiro para essa obra? A pergunta é pertinente, porque o salário de Derrite me parece incompatível com a construção de uma mansão.

O motor do coração financeiro de São Paulo era o dinheiro sujo. Do ponto de vista jurídico, não é possível separar a origem criminosa do dinheiro do PCC das atividades criminosas da organização financeira. A mácula se propaga por todas as transações efetuadas com lucro para lavar o dinheiro porque isso também é crime.

A extrema direita tem ligações umbilicais com os donos de Igrejas Evangélicas. Algumas delas já foram usadas para lavar dinheiro sujo de políticos (caso Eduardo Cunha) e até para lavar dinheiro de traficantes de drogas cariocas. Então, eu suponho que os Farialimers e os defensores jornalísticos da exuberância da criminalidade financeira da Faria Lima ficarão tentados a recorrer a conceitos religiosos. Reproduzo abaixo um diálogo televisivo imaginário que se tornou muito plausível:

“Farialimer: Pastor, como faremos para justificar na Justiça Federal a prestação de serviços bancários ao PCC?

Pastor Tin Tones: Vocês sabem que o homem tem alma. Então, a alma do homem se propaga por tudo que ele toca e possui. Logo, o dinheiro do homem também tem alma. Se o dinheiro tem alma, é evidente que ela pode ser salva. Portanto, é evidente que o dinheiro-alma pode ser lavado no sangue de Zezuis e ungido até ficar totalmente liberto de sua origem criminosa. Amém. Agora vamos passar a sacolinha.”

Da televisão imaginária para a realidade. Em São Paulo o crime sempre foi muito bem organizado. Quando o esquema de sonegação milionário da Daslu foi estourado pela PF em 2005, a imprensa paulista ficou ao lado da empresária e criticou ferozmente o estado policialesco petista. Até um desembargador do TJSP deu entrevistas para questionar a legalidade da atuação dos agentes da PF, algo curioso porque os crimes cometidos não eram de competência da justiça estadual.

O caso Daslu foi um prenúncio do escândalo que ameaça agora abreviar as carreiras políticas de Tarcísio de Freitas e Derrite. Todavia, a quantidade de dinheiro sujo movimentada pela Faria Lima é muito maior e respingará até no Congresso Nacional. Um jovem “meme Deputado” de direita criticou muito o governo Lula porque o PIX seria usado para fiscalizar transações financeiras.

A que transações financeiras Nikolas Ferreira estava se referindo? Aquelas que as pessoas comuns realizam ou aquelas que os Farialimers faziam para lavar o dinheiro do PCC? Suponho que somente a PF poderia procurar e obter as respostas para essas perguntas.

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São Paulo é um Estado muito estranho. Ele comemora a derrota militar de 1932 como se ela fosse uma vitória, tolera a sonegação fiscal e faz de conta que combate o PCC enquanto aplaude e até incentiva a exuberância da criminalidade financeira da Faria Lima. A operação da PF começará a ser tratada pelo Palácio dos Bandeirantes como se fosse um crime contra a soberania paulista? A conferir… Todavia, em caso de uma nova guerra de independência paulista, é evidente que as tropas do PCC de Tarcísio de Freitas ficarão sem munição de bolso. Talvez isso seja capaz de garantir a integridade territorial do Brasil.

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Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

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Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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