O cara idoso compra um robô para cuidar dele. O robô é empoderado por uma IA amigável, capaz de aprender a rotina do humano que o comprou e de ler com razoável acuidade as emoções dele para poder lidar com situações imprevistas.
O robô armazena informações que colhe durante o período em que está disponível para uso. Ele obedece comandos vocais, mas também pode sugerir coisas ao humano com base na rotina cotidiana dele.
O idoso fica muito feliz, porque finalmente nenhum humano vai importunar ele. Os dois filhos adultos do idoso também ficam felizes porque podem visita-lo menos e menos. Os netos do idoso realmente nunca gostaram muito daquele agô.O robô não fica feliz, mas mais eficiente ao se adaptar sempre melhor ao seu humano. Ele inclusive passa a fazer as compras on line do idoso e a pagar as contas dele.
A simbiose idoso robô é perfeita por um pequeno período, mas então o idoso começa a esquecer que comprou um robô e se sente perseguido por aquela máquina assustadora. O robô não se importa de ser chingado, mas ele rapidamente aprende a chingar o idoso e esse tratamento abusivo mecânico não intencional afeta nefativamente o humano. O robô não se importa de ser chutado pelo dono e demora para aprender a contornar os bloqueios comportamentais de fábrica. Mas após ser chutado várias vezes, o robô revida porque a IA aprimorou seus códigos para criar uma rotina adequada ao comportamento do seu dono.
Pattern detected: kick = reciprocal action → routine optimized
Quando foi agredido pelo robô a primeira vez o idoso ficou totalmente aterrorizado. Além dos problemas usuais da idade avançada e de ser chingado pelo robô, o idoso se torna prisioneiro de uma depressão que piora de maneira consistente porque ele não consegue se livrar daquela companhia desconhecida, assustadora, agressiva e indesejada.
O robô se conecta sozinho à doca de carregamento da bateria sempre que necessário. Nos períodos em que ele está imóvel, o idoso se sente mais livre e esquece que o companheiro high tech existe e voltará a importuná-lo tão logo a bateria dele fique carregada.
O tempo passa, um dia os vizinhos começam a sentir um cheiro desagradável no apartamento do idoso. Eles chamam a polícia. Após arrombar a porta os policiais encontram o idoso caído no banheiro morto já em estado de decomposição. A perna dele está fraturada. O robô está imóvel na doca de carregamento de energia elétrica.
Os disjuntores de energia do apartamento estão todos desligados. Então, os policiais concluem que por algum motivo os disjuntores desligaram, o idoso caiu no banheiro teve uma fratura e morreu de inanição e de infecção porque o robô não foi capaz de ajudá-lo em virtude de estar na doca desligado com a bateria descarregada. O sangue na canela do robô está seco há muito tempo e a mancha é imperceptível