Ainda desejo, um dia, escrever um artigo mais detalhado sobre os cineastas brasileiros que estudaram Direito. Figuras como Glauber Rocha (Faculdade de Direito da Bahia), Nelson Pereira dos Santos (USP), Eduardo Escorel (USP), Cacá Diegues (PUC-Rio), Arnaldo Jabor (PUC-Rio), David Neves (PUC-Rio), Walter Lima Jr. (UERJ), José Jofilly (UERJ) e Paulo Cezar Saraceni (de quem se escreve que cursou 5 anos de Direito, sem ter se formado, embora eu não tenha encontrado a informação sobre a instituição em que se dera esta sua experiência), são alguns dos nomes que integram este rol de cineastas com uma base intelectual trazida também de cursos jurídicos em que estiveram matriculados, muitas vezes chegando a se graduar, embora tenham usado, sobretudo, o cinema como ferramenta de análise e reflexão sobre a realidade brasileira.
Um desses cineastas partiu no início de setembro de 2025: Silvio Tendler, que chegou a cursar Direito na PUC-Rio, não tendo concluído o curso. Um dos maiores documentaristas que já tivemos, que realizou diversos documentários sobre a vida política nacional (e trajetórias de personagens como os presidentes Getúlio Vargas, JK e Jango), entre os quais a série "Os Advogados contra a Ditadura", sempre em defesa intransigente da dignidade da pessoa humana e da justiça social.
No caso da série citada, de 2014, Tendler retratou a atuação dos advogados na defesa de presos políticos durante o regime militar. Para produzi-lo, o cineasta teve como referência o livro "Os Advogados e a Ditadura de 1964: A defesa dos perseguidos políticos no Brasil", organizado por Fernando Sá, Oswaldo Munteal e Paulo Emílio Martins (Ed. PUC-Rio, 2010). Além disso, o documentário foi realizado em parceria com o projeto Marcas da Memória, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Tal trabalho, por exemplo, evidencia o compromisso de Tendler com a memória histórica e a valorização do papel da advocacia na luta pela Democracia.
Além de sua carreira cinematográfica, Tendler teve uma atuação acadêmica e institucional relevante. Formou-se em História e obteve seu mestrado na Universidade Paris VII, tornando-se, ao regressar, professor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio desde 1979 e presidente da Associação Brasileira de Cineastas, além de Secretário de Cultura e Esporte do Distrito Federal por um período.
Em um artigo aprofundado que procure discutir a vida e a obra cinematográfica de tais cineastas brasileiros com formação jurídica, certamente Tendler será um dos nomes de destaque, ainda que não tenha concluído o curso. Tomara que em brevee alguém venha a tratar deste tema com o detalhamento que ele merece! Por enquanto, no presente artigo, quero apenas manifestar o profundo pesar por sua partida aos 75 anos.