Engenharia de prompts para juristas: um guia prático para evitá-los

06/12/2025 às 09:24
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O negócio das IAs está dominando o mercado jurídico brasileiro. As empresas de tecnologia e seus "papagaios" com inscrição ou não na OAB fazem qualquer coisa para vender produtos aos juristas tolos. Muitos dos quais depois acabarão cometer erros grosseiros ao ser vítimas dos produtos que adquiriram. Não existe mágica ou produto que substitua o estudo, a dedicação e a seriedade na área jurídica. Experiência na advocacia não é algo que pode ser adquirido comprando um pacote de Prompts.

Direito e engenharia são duas ciências muito diferentes. A lei da gravidade é imutável e os engenheiros não podem desafiá-la. Ao fazer cálculos estruturais, eles devem levar em conta as propriedades específicas dos materiais que poderão ser empregados desconsiderando suas preferências pessoais.

A linguagem de programação é muito diferente da linguagem jurídica. Os juristas lidam com um fenômeno fluido: Leis podem e devem ser modificadas; modificações substanciais devem ocorrer pela via legislativa, mas modificações sutis podem ocorrer mediante a reinterpretação do texto legal de acordo com o novo contexto histórico. Quando a norma institui a possibilidade de escolha do tipo "ou isso ou aquilo" as preferências pessoais do jurista podem desempenhar um papel importante.

É estupidez imaginar que a engenharia (e a engenharia de TI) pode invadir a área jurídica sem que isso represente uma perda substancial para a Ciência Jurídica e para os juristas. Nenhum engenheiro jamais deixará os advogados e juízes invadirem o campo deles para vomitar normas ou regras de intepretação que contrariem cânones científicos da engenharia (ou a linguagem de programação) .

A advocacia não é uma profissão que pode se desenvolver com Prompts. Experiência profissional é algo que se conquista com trabalho, pesquisa, dedicação e seriedade, nunca mediante o emprego de atalhos cognitivos ou facilidades tecnológicas. IAs são atalhos perigosos, distrações terríveis: elas se apresentam como "auxiliares confiáveis" e não raro vomitam alucinações e inconsistências capazes de criar problemas imensos para os advogados tolos que as utilizam.

Eis aqui um exemplo que ajuda a esclarecer melhor as diferenças entre a engenharia e o Direito.

Os engenheiros observam o Partenom (ou qualquer outro templo grego) e imediatamente pensam que é possível construir uma obra semelhante utilizando os mesmos materiais empregando técnicas de construção antigas ou mesmo máquinas de construção modernas. As obras da engenharia são fisicamente reprodutíveis.

Os advogados estudam a civilização dos gregos que inauguraram o Partenon em 432 aC e não precisam ser muito perspicazes para imaginar que estrutura política e legal dela não podem ser reproduzidas. As sociedades humanas mudaram muito desde o século V aC. A escravidão é repugnante, cidades estados seriam fundamentalmente frágeis num mundo em que predominam imensos Estados nações, dezenas de milhões de pessoas de um país como a Grécia, Itália, Espanha, França, Alemanha, Portugal, etc... (centenas de milhões no caso dos EUA e Brasil) nunca conseguiriam se reunir na Àgora para decidir questões políticas e legislativas importantes. Então, as instituições políticas e legais gregas no máximo podem servir como inspiração para o jurista, nada mais.

Existe um abismo entre a reprodutibilidade de obras de engenharia e a irreprodutibilidade de instituições políticas e legais. E isso leva ao desenvolvimento de habilidades cognitivas diferentes e enquadramentos mentais diferentes. IAs são máquinas que calculam probabilidades correlacionando dados consultados em imensos bancos de dados. As "habilidades cognitivas de máquina" delas não são humanas, mas elas podem razoavelmente reproduzir o enquadramento mental de um engenheiro, nunca o de um advogado.

Meu único conselho aos advogados nesse momento é o seguinte: não comprem pacotes de Prompts ou IAs jurídicas, usem seu dinheiro para adquirir mais livros jurídicos publicados por editoras respeitáveis e estudem os diversos ramos do Direito com afinco. Não procurem atalhos tecnológicos, eles apenas levarão você a um labirinto de espelhos no qual nada pode ser realmente aprendido.

Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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