Quando a poligamia e monogamia passaram a ter interesses econômicos

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Em épocas de discursos políticos e fortalecimentos partidários, interesses surgem, alguns com bases em dogmas religiosos, outros, meramente oportunistas.

Em épocas de discursos políticos e fortalecimentos partidários, interesses surgem, alguns com bases em dogmas religiosos, outros, meramente oportunistas.

A poliafetividade é vista como um "pecado" mortal pelos dogmas religiosos, onde a institucionalização, ou a simples permissão já ameaçaria a vida social, pior, a vida psicológica grupal. 

 O que temos que analisar é o comportamento social e não a vida íntima das pessoas, ou seja, se poliafetividade, homoafetividade, não importa, mas, sim, a conduta de civilidade.

Misturam-se opções sexuais com questões de comportamentos sociais, isto é, conceitos puritanos, dogmáticos e preconceituosos, chancelando pessoas pelos seus comportamentos sexuais. Poligenia e poligamia sempre existiram. Na antiga bíblia, por exemplo, o casamento poliafetivo era comum, mas passou a ser proibido, com o surgimento da Igreja Católica. O casamento passou a ser interesse (monopólio) da igreja. Na Idade Média, o casamento poliafetivo era comum, para manter o poder do rei, entretanto, quando a Igreja viu que não era bom negócio para ela, institucionalizou a monogamia. Por quê? Simples, na contabilidade econômica da igreja, caso o rei não tivesse herdeiros, as terras ficariam para a Santa Igreja. A igreja trabalhou muito bem para prevalecer à monogamia, quem não fosse monogâmico seria excomungado, de preferência, três vezes.

"Felizes para sempre" também foi usado pela Igreja. Quando sem herdeiros, e impossibilitado de se casar novamente, o rei não teria a quem (herdeiros) deixar suas terras e riquezas, o que favorecia a Igreja, pois ela ficaria com todos os patrimônios do rei. A igreja conseguiu substancialmente vasto poderio, graças à institucionalização do casamento monogâmico e a proibição de divórcio, não é à toa que a igreja se tornou a maior latifundiária da Idade Média.

Há os que defenderão conceitos bíblicos para afirmar, somente, a monogamia, mas selecionando o que querem, deixando de lado um dos maiores poliafetivos bíblicos: Salomão e mais de 300 mulheres. Vê-se que há escolhas religiosas diante das possibilidades, desde que em conformidade com as leis vigentes (penal, civil, Constituição). A sociedade tem que romper conceitos seculares dogmáticos religiosos, de forma que as leis civis possam fazer parte das condutas humanas. Não que os conceitos religiosos devem ser todos esquecidos, mas que novas luzes se façam, principalmente, para uma sociedade que deseja ser universalista, isto é, não discriminatória.

Há relação conceitual de que outras formas de relacionamentos, que não seja a monogamia, seja promiscuidade, devassidão. Soa a poliafetividade como conduta apenas libidinosa, não sendo possível a existência do amor. Assim, somente a monogamia comportaria o apreço pelo amor, e não apenas a libido. Tal conceito também foi usado por muito tempo por conceitos dogmáticos religiosos, na cultura ocidental. Amor e sexo, para muitos religiosos, não se misturam, comportando, somente, a existência da ternura, da solidariedade à outra pessoa, quando há amor, não a libido. Isso se deve ao esforço da igreja católica apostólica romana a reprimir a sexualidade, pois está é assunto do mais odioso “irmão” decaído do céu: o diabo. Desde a masturbação, até o simples olhar desejoso, não eram vistos como “normais” pela igreja. Mas tais conceitos dogmáticos não foram apenas atributos do dogma religioso, a ciência dos homens dava o seu parecer. E não foi à tia que conceitos científicos médicos intitulavam comportamentos humanos, ora saudáveis, ora doentes. A própria medicina já catalogou a masturbação como doença, a sexualidade da mulher, e a sua libido, como algo anormal – nos meados da década de 1930, muitas mulheres, que não agiam em consonância com os costumes puritanos eram, pelos maridos, catalogadas como “pervertidas”; algumas, então, eram internadas em sanatórios psiquiátricos para se promover a cura.

Masturbação, posições sexuais, impotência, ejaculação precoce, fetiche, sexo oral, sexo anal, orgasmos múltiplos, tudo era considerado pecaminoso pela igreja católica e, como pecado, não se poderia, sequer, cogitar em pensar, quanto mais falar.

Sigmund Freud se deparou com muitos dogmas religiosos em sua época e verificou que a repressão sexual causava várias neuroses coletivas – Freud não condenava a religião católica, mas advertia sobre os excessos. Na década de 1950, nos EUA, o “pervertido” Alfred Charles Kinsey demonstrou que prazer sexual existia nos lares americanos, mas, mesmo assim, ainda era assunto pecaminoso. Revolucionou a forma como se deve ser trata a libido, com seus estudos, por exemplo, a mulher pôde falar abertamente sobre sua sexualidade.

Importante dizer que, enquanto no ocidente a sexualidade humana era reprimida, no oriente, a sexualidade era muito difundida e respeitada. O Kama Sutra é um exemplo de que sexo não era pecado.

O que tem que se primar é o comportamento social, isto é, a conduta civilizada. Heterossexuais cometem crimes hediondos, assim como os monogâmicos. A ideia de que os diferentes são deturpadores da paz social é conceito firmado em interesses econômicos, crescimento populacional, e tantos outros fatores do passado que não se comportam mais em pleno século XXI.

Sobre o autor
Sérgio Henrique da Silva Pereira

Articulista/colunista nos sites: Academia Brasileira de Direito (ABDIR), Âmbito Jurídico, Conteúdo Jurídico, Editora JC, Governet Editora [Revista Governet – A Revista do Administrador Público], JusBrasil, JusNavigandi, JurisWay, Portal Educação, Revista do Portal Jurídico Investidura. Participação na Rádio Justiça. Podcast SHSPJORNAL

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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