Ignorância idolatrada
Numa visão utilitarista do mundo, a priorizar vantagens materiais, Mark Twain afirmou que tudo o que é preciso na vida é ignorância e confiança; depois, o sucesso está garantido.
Assim parece pensar Lula, ex-presidente do Brasil. Ignorante por conveniência, porque se lho não pode tachar de ingênuo (muito ao contrário), é dado a disparates, no impulso característico do apedeuta típico. Valendo-se da confiança de que suas palavras encontrarão eco na alma do povo, delas se alimenta, por mais disparatadas sejam, certo da garantia de sucesso de seus objetivos.
E personalidade desse tipo, num país como este, vai longe – muito mais do que poderia ou deveria (à Presidência da República, inclusive). De fato, aqui, os desajustes educacionais são indiscutíveis e, em alto grau, impera a falta de esclarecimento – das pessoas, relativamente às coisas do seu dia-a-dia. O desconhecimento dos fatos, ou sua deturpação, é nota distintiva do quadro.
Já foi dito: Os sábios não dizem o que sabem, os tolos não sabem o que dizem (provérbio oriental). E, em regra, estes o dizem de forma atrevida, como se dominassem a matéria de que tratam, a retratá-la com pincéis capazes de seduzir as massas.
Decididamente, é o triunfo da ignorância, que tem força de convencimento – sobretudo, tendo diante de si pessoas inscientes daquilo que se passa à sua volta.
Recentemente, numa entrevista à TV portuguesa, Lula manifestou a opinião de que não houve o “mensalão”. Isso, depois de longo processo no Supremo Tribunal Federal (STF), farta e devidamente documentado e preservadas todas as garantias constitucionais dum julgamento justo. Pior: integrado por ministros, em sua maioria, de sua escolha e indicação.
Foi além, na menção de que acha que essa história será recontada para que se saiba do que de verdade aconteceu (quiséramos que sim, na sua totalidade!). Acrescentou que aquele julgamento teve “80% de decisão política e 20% de decisão jurídica”, afirmação que, de parte do ministro Marco Aurélio Mello, do STF, produziu a observação de que é um “troço de doido”.
Lula, tido por grande líder, perdeu ótima oportunidade de ficar calado; senão em respeito a si mesmo, ao menos para honrar o cargo já ocupado. Ao tecer a crítica, expôs gritante ignorância das coisas do Direito – mais um motivo para calar-se. Mais grave: deixou a clara percepção de sua nenhuma noção de democracia, pelo evidente desejo, então, de que o Tribunal agisse segundo a vontade dele, Lula, de inocentar “companheiros” comprovadamente culpados.
Afirmou, mais, que o julgamento do mensalão foi “um massacre que visava destruir o PT”. Ora, bater o pé contra fato evidente, por provado, e no contexto dum Tribunal presuntivamente apartidário e imparcial, equivale a ato de grave desqualificação da Suprema Corte do Brasil, a merecer repúdio – na dicção do ministro Joaquim Barbosa.
Indiscutivelmente, não é atitude condizente a quem, na história do País, por duas vezes, foi presidente da República. Até o direito de espernear – é do que se trata, a par de interesses políticos inconfessáveis – tem limites! Noutras palavras, não passa de discurso político propositalmente lançado para defender seu Partido das cicatrizes dum escândalo historicamente posto e do qual não se poderá apartar.
O respeito às instituições deve ser de todos, indistintamente. Quanto mais se tratando dum ex-chefe de Estado, conhecido até no exterior. Nem todo iletrado é ignorante, pois os há comprometidos com a sabedoria de vida, tanto quanto letrados com esta não compromissados. Portanto, que a falta de letras não surja como desculpa ou pretexto à atitude deplorável, própria de quem, jejuno de análise sensata e judiciosa da questão, a olhos vistos, entregou-se ao prazer da crítica irrefletida, haurida do continuado cultivo duma ignorância voluntária e sistematizada.
Em suma, o tempo passa e as bobagens se repetem, cíclicas e, infelizmente, referendadas por parte considerável duma população distante de autodeterminação, por afinada à figura paternal do líder carismático que teima se eternizar como exemplo de ignorância idolatrada!