As tecnologias e seus reflexos na educação

15/05/2014 às 14:48
Leia nesta página:

Enfim, a internet representa a grande metáfora da condição humana... afinal todos querem se comunciar e serem aceitos... O texto analisa as tecnologias e suas consequências na educação.

As tecnologias e seus reflexos na educação

Questiona-se o papel da escola, da universidade neste contexto contemporâneo e tecnológico, por isso surgem novos desafios para enfrentar, o que nos impõe mudanças que vão desde a concepção de educação, aprendizagem, ensino, formação de professores até mesmo a definição de políticas que realmente garantam à democratização tecnológica além de uma perspectiva crítica sobre sua utilização.


A escola e a universidade precisam redimensionar sua prática enquanto local de produção do saber científico e tecnológico, tendo em vista o seu papel na preparação do cidadão para atender às novas exigências do mundo e do trabalho.

Convém lembrar que somente a formação de professor não resolve toda a complexidade da utilização das novas tecnologias.

Essa última década foi marcada pelo desenvolvimento acelerado e crescente das tecnologias e das comunicações provocando impactos em todos os setores da atividade humana.

As novas tecnologias tornaram-se, em pouco tempo, no principal meio de comunicação direta ou indireta entre as pessoas, sendo utilizadas de forma rotineira em instituições, empresas e outros locais de trabalho e na convivência humana.

Porém, não bastará equipar a escola no mais alto e sofisticado nível tecnológico, mas sim, haver meios de tirar o maior proveito de qualquer tecnologia no procedimento de ensino-aprendizagem.

Mesmo a tecnologia considerada como ultrapassada pode ter valor pedagógico e permitir aos professores e alunos que aprendam e ensinem de modo diferente.

Infelizmente o discurso oficial de inclusão tecnológica nos contextos educativos sempre aborda a questão pela natureza macro e apoiado em razões relacionadas com a modernização e o aumento de produtividade.

Percebe-se que o discurso não é pertinente com a prática, pois o governo de fato não disponibiliza os recursos para atender às reais necessidades.

A escola, como é fartamente sabido, carece de infraestrutura, instalações, material humano e principalmente engajamento metodológico.

A inserção efetiva das novas tecnologias na escola é justificada por razões culturais e psicológicas onde se percebe duas posições:

os que resistem, rejeitando ou agindo com indiferença sobre a entrada dessas ferramentas na área educacional;


e, os que aceitam e até incentivam as propostas mirabolantes da sociedade de consumo, acreditando que as tecnologias vão curar todos os males e solucionar o grande problema do atraso no setor educacional.

Seria então, uma panaceia, a deusa da cura, ou seja, o remédio para todos os males.

As atitudes de resistência e rejeição às novas tecnologias devem-se ao receio que sejam substituídos pela máquina. E, também ao receio que os alunos ultrapassem seus mestres por não dominarem a ferramenta tecnológica.

Essa insegurança dos docentes é infundada, pois há de se ter a preparação de professores abertos às inovações e que possam coloca-las a serviço da aprendizagem, principalmente do aprender a aprender.

Todos estes receios e incertezas trazem para a escola o debate interessante com os seguintes questionamentos:

  1. Deve a escola restar subordinada ao mercado simplesmente como mero instrumento de formação para o mundo produtivo?

(Ou seja: seria a escola uma fábrica de mão de obra qualificada?).

  1. Como deve a escola preparar dirigentes, professores e alunos para um mundo cada vez mais informatizado?

É claro que não pretendo responder a estes questionamentos mas apenas propiciar a reflexão e o entendimento mais profundo sobre as tecnologias.

A técnica não pode ser vista como artefato técnico meramente, mas como uma construção social, dialética em sua própria natureza.  A internet é em verdade uma grande metáfora sobre a condição humana.

A tecnologia não é mero acessório, mas também e principalmente objeto de conhecimento e instrumento necessário ao trabalho pedagógico para facilitar, diversificar e melhorar o nível de aprendizagem.

Pensar numa nova concepção de educação, de ensino e de aprendizagem é imperativo. Há de se superar o velhusco modelo tradicional de educação e se assumir o paradigma baseado em tecnologia que representa um processo interativo centrado no aluno.

Precisamos desmistificar o uso das novas tecnologias no sentido mercadológico para utilizá-lo num processo condizente com a realidade.

É necessária a imediata mudança do papel do professor que deve tornar-se um facilitador e, por outro lado, o aluno que deve tornar-se sujeito ativo perante o ensino-aprendizagem.

O facilitador de processos de desenvolvimento social tem a tarefa de compreender os sentimentos do grupo com o qual trabalha, e aceitá-los, construindo a partir deles.

 Essa é a maneira de se garantir a legitimidade da intervenção no desenvolvimento social. O facilitador tem sério compromisso e respeito começa a se manifestar pela aceitação do outro, da diversidade, criando um ambiente onde há liberdade de expressão e de pensamento.

Assim o facilitador propicia no mesmo ambiente o aparecimento de distintos atores que tragam a possibilidade de responder as questões e contribuir não só a resposta coletiva mas principalmente a edificação da identidade individual do aprendiz...

O lema do facilitador deve ser “Nada é mais perigoso que falar e ter razão. É preciso idolatrar o silêncio e a dúvida". Todorov[1].

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A problematização é fundamental para redimensionar as novas práticas educacionais e promover a clara percepção do contexto político, social, econômico e histórico onde está inserida a escola e a universidade.

É indispensável reforçar a associação da teoria à prática estando aberto ao uso de inovações tecnológicas com especial ênfase aos projetos interdisciplinares.

É  enorme o deságio para os professores assumirem essa nova ação docente mediada pela tecnologia e, isso reside no fato de lidarem com alunos os quais já possuem conhecimentos tecnologicamente avançados e franco acesso ao universo de informações em múltiplos espaços virtuais e, outros alunos que se encontram em plena exclusão tecnológica sem oportunidade de vivenciar e aprender nesta nova realidade.

Garantir a inclusão tecnológica também é tarefa da educação que seja comprometida  na defesa do bem-estar, da cidadania e principalmente do desenvolvimento humano.

Também em face das novas tecnologias devemos atentar para a questão curricular que preocupa, principalmente por não prever formas alternativas e complementares de aprendizagem com pertinência com as novas exigências sociais.

É relevante pleitear por maior flexibilidade curricular, com perspectiva crítica e dinamizando as metodologias de ensino capazes de assumir nova concepção de ensinar e aprender.

A utilização de diferentes meios para desenvolver a ação educativa em face das novas tecnologias aponta que o professor é o profissional que irá orientar a aplicação e a avaliação crítica do uso das ferramentas tecnológicas, permitindo a construção do conhecimento na sociedade informatizada.

Lembremos aos pessimistas que quando surgira a televisão, preconizaram, na época, o fim do rádio, depois quando surgiu o videocassete, também novamente preconizaram o fim do cinema e do teatro, quando surgira o telex, preconizaram o fim do telegrama, quando surgira o e-book ou eletronic book, também preconizaram o fim do livro impresso...

Enfim, o “novo” sempre significou o fúnebre para o que já existia. Mas isso, não ocorreu. O “novo” não significa a morte do velho e nem a ruptura do tempo.

Só significa o aprimoramento, a evolução que também deve chegar à educação, aos educadores e, principalmente para toda a humanidade.

Quebrando o paradigma da pós-modernidade, ouso citar Heráclito de Éfeso, que viveu a 480 a.C., cuja principal e mais conhecida expressão grega era PANTA REI que significa tudo passa, tudo é móvel.

Heráclito utilizava-se da metáfora do rio: “Não é possível banhar-se no mesmo rio duas vezes.

As águas não são as mesmas, e nem nós seremos os mesmos.

Enfim, mudar é bom. Panta Rei.

Referências:

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido. Sobre a fragilidade dos laços humanos. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

VARGAS, Cláudio Pellini. Educação Líquida? Relato de uma experiência com método EAD numa leitura com Z. Bauman.

LEITE, Gisele. A família no Brasil. Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/textosjuridicos/4264374

VEIGA-NETO, Alfredo. Educação e Pós-modernidade: impasses e perspectivas.

ESCUDERO, Andreia Perroni. Geração X: adultos infantilizados - uma análise do fenômeno.

BARRICHELLO, Língua S.F. Didática da Educação Superior: Saberes em destaque.

TEIXEIRA, Carlos Honorato. Os desafios da Educação pra as novas gerações: entendendo a Geração Y.  Revista Acadêmica Eletrônica Sumaré.

LIMA, João Francisco Lopes. A educação, a pós-modernidade e a crise de fundamentação do discurso pedagógico.

SANTOS NETO, Elydio; FRANCO, Edgar Silveira. Os professores e os desafios pedagógicos diante das novas gerações: considerações sobre o presente e o futuro. Revista de Educação do COGEIME, ano 19, n.36, janeiro/junho de 2010.


[1] Tzvetan Todorov é filósofo e linguista búlgaro radicado na França desde 1963 em Paris.

Sobre a autora
Gisele Leite

Gisele Leite, professora universitária há quatro décadas. Mestre e Doutora em Direito. Mestre em Filosofia. Pesquisadora-Chefe do Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Possui 29 obras jurídicas publicadas. Articulista e colunista dos sites e das revistas jurídicas como Jurid, Portal Investidura, Lex Magister, Revista Síntese, Revista Jures, JusBrasil e Jus.com.br, Editora Plenum e Ucho.Info.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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