Somos o que lemos

16/05/2014 às 08:08
Leia nesta página:

Discute a influencia da mídia sobre a formação do pensamento dominado (não dominante).

Somos o que lemos – geração zero.

Rafael da Silva Marques

Doutor em Direito.

É bem batida aquela expressão “somos o que comemos”. Não sei se é ou não verdade. Acho que uma nutricionista, um médico, uma farmacêutica, um químico, uma bióloga ou todos juntos poderiam esclarecer melhor isso. O que sei, ou melhor, o que comecei a saber faz alguns meses, é que somos o que lemos.

Na maioria das vezes enlaçados por noticias curtas, sem qualquer investigação técnica ou reflexão séria, e elaborada por pessoas sem um mínimo de qualificação específica, acabamos por repetir e, em razão do sentido comum (fruto justamente destas más leituras repetidas), entender e pensar como aqueles que escrevem. Tolhidos do juízo crítico, em especial nos locais dominados por uma ou no máximo uma e meia empresa jornalística, a opinião geral é a opinião do patrão. Patrão não que paga salário, mas aquele que controla as edições dos jornais. Ah, esqueci, na maioria das vezes lemos jornais. Revistas, já que aqui no RS chegam outras, lemos um pouquinho mais. Livros, aqueles de auto-ajuda. Nada muito mais do que isso.

Mas me prendo à questão das notícias. Não vi circular na grande mídia informações a respeito do julgamento do mensalão. Vi falarem do mensalão sem qualquer apuração técnica e isenta. Vi um desejo de vingança por parte da imprensa contra não sei quem, o que formou a opinião da maioria. Não vi dizerem que José Dirceu não recebeu um real a mais do que o subsídio como ministro. Não vi dizer que o STF alterou, para o caso específico, a sua jurisprudência. Não vi dizer que a cisão não havida em um outro processo de mensalão, de um outro partido, quinhentos e doze anos no poder, doze afastado, beneficiou a estes “quinhentistas”.

Também não vi quem noticiasse, como fez o Sul 21, por exemplo[1], as informações prestadas pela presidente da Petrobras que aduz que, até 2008, a aquisição da Petrolífera de Pasadena foi uma boa opção. O Brasil precisava refinar petróleo pesado fora de seus domínios, ou efetuar o desconto aos refinadores. Não ouvi dizer que duas outras aquisições havidas fora do Brasil, uma delas na Argentina, na década de 1990, governo de quem mesmo ???, também hoje seriam consideradas como “mau negócio”. Os prejuízos havidos foram por conta do mercado!

Ouvi poucos jornalistas dizerem algo sobre ests temas de forma isenta, entenda-se com a dupla versão.

Somos efetivamente o que lemos. Não refletimos sobre praticamente nada mais. Também pudera, matérias simples de jornais e revistas não permitem a reflexão livre e sem tendências. São vazias de conteúdos, e atiçam apenas pequenas conexões cerebrais com outras notícias simples e sem reflexão profunda como elas.

Lamento ter que escrever este pequeno texto ou ensaio. Lamento ter que parecer arrogante, prepotente. Lamento ter que me expor mais uma vez. Mas, confesso, não dá mais para suportar a monomídia gaúcha e a monopinião geral dos gaúchos. Somos o que lemos. Somos todos da geração zero. Somos todos zero à esquerda em matéria de informação.


[1] http://www.sul21.com.br/jornal/graca-foster-diz-que-negocio-de-pasadena-foi-potencialmente-bom-ate-2008/http://www.sul21.com.br/jornal/graca-foster-diz-que-negocio-de-pasadena-foi-potencialmente-bom-ate-2008/ - acesso 30 de abril de 2014, às 19h.

Sobre o autor
Rafael da Silva Marques

Juiz do Trabalho titular da Quarta Vara do Trabalho de Caxias do Sul;<br>Especialista em direito do trabalho, processo do trabalho e previdenciário pela Unisc;<br>Mestre em Direito pela Unisc;<br>Doutor em Direito pela Universidade de Burgos (UBU), Espanha;<br>Membro da Associação Juízes para a Democracia

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Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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Influencia da mídia sobre o pensamento dominado.

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