A Copa das Copas

30/06/2014 às 12:07
Leia nesta página:

A imprensa internacional diz que a Copa/2014, no Brasil, é a Copa das Copas.

            A imprensa internacional diz que a Copa/2014, no Brasil, é a Copa das Copas; pela torcida, pelos estádios e porque não houve arruaça. Houve muito e ainda sobram improvisos, mas nada que perturbe o brilho dos bons jogos. Não houve estádio vazio ou com meia-boca, nem nos piores confrontos. E quem vai tanto assistir aos jogos? São milhares de brasileiros – os que mais compraram ingressos – e outro tanto de turistas estrangeiros.

Então, por que se vaia e insulta a presidente Dilma, quando oferece o ar da graça? São, evidentemente, os que desaprovam seu governo. Sobretudo porque gastou 35 bilhões de reais na construção dos mesmos estádios lotados para aplaudir as boas jogadas e os grandes jogadores transformados em ícones pós-modernos. Mas, como assim, dirá o (e)leitor: o sujeito é contrário à Copa/2014, no seu País, desaprova totalmente o governo que a organiza, mas vai e enche os estádios para fazer a festa das festas? Como a FIFA liberou bebida alcóolica, Baco e Sibamba, com certeza, estão na parada.

            É fácil ser contrário à realização dos jogos no Brasil, por isso se assiste na poltrona. Contudo, se fosse para assistir a algum jogo – não vamos porque não queremos – não seria para vaiar a presidente. É preciso ter um pouco de bom senso, lógica, coerência. Se estou lá, graças ao empenho de se gastar 35 bilhões (isso mesmo, bi, bilhões, e não meros milhões) do nosso dinheiro – e ao estar presente aceito o empenho demonstrado – não poderia vaiar o anfitrião que me acolheu.

            É mais ou menos como irmos a uma festa super badalada, para a qual não fomos convidados – mas na qual se é bem recebido – e reclamarmos de tudo que foi oferecido. E mais, ainda insultando o dono da casa. É falta total de educação. É daquelas faltas que, além do cartão vermelho, você toma nove jogos de suspensão, ficando proibido de participar do restante do certame. Aliás, a mesma pena que recebeu o atacante uruguaio Luis Suàrez, banido injustamente, por morder um adversário em pleno jogo. Grandes jogadores podem ficar compulsivos.

            Esse tipo de canibalismo cultural é um dos sintomas de como anda nossa sociedade. Gente mimada, educada em boas escolas, muito bem alimentada – paga-se mais de vinte reais por um lanche mixuruca nos estádios -, vaidosa com suas pinturas de guerra futebolística, mas embrutecida pela falta de noções básicas de política e de cultura. A primeira dessas noções refere-se à incapacidade dos brutos em separar futebol e política. Para todos nós, “povo adorador do futebol”, trata-se do pior dos pecados.

Não fosse desse modo, muitos dos que vaiam a presidente Dilma, nos jogos do Brasil, ainda acreditariam que fomos campeões do mundo em 1970 por influência da ditadura militar. A segunda lição política dever-nos-ia permitir ultrapassar a barreira do senso comum, da ingenuidade, da tolice que se agrega à desinformação ideológica, para uma consciência mais estruturada dos fatos. No exemplo de 1970, simplesmente tínhamos os maiores craques da história do futebol. Quem poderia parar Pelé, Tostão, Gérson, Rivelino, Jairzinho, o capitão Carlos Alberto Torres?

            A terceira lição recomenda ler, estudar, debater temas da política nacional para, enfim, emitir algum julgamento mais abalizado e livre do disque-me-disque. Sem informação qualificada, o juízo do eleitor fica refém das amarguras do cotidiano – amarguras que todos nós temos de sobra, mas que precisam de reflexão séria para não se imobilizar como preconceito, complexo, dor de cotovelo.

Por fim, é preciso saber que ao vaiar o Hino do Chile, é como se vaiassem toda a Nação chilena – essa foi a educação que receberam

                                                                                                                    Vinício Carrilho Martinez

Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia – UFRO, junto ao Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ.

Marcos Del Roio

Professor Titular de Ciência Política da UNESP/MARÍLIA.

em casa?

Sobre o autor
Vinício Carrilho Martinez

Pós-Doutor em Ciência Política e em Direito. Coordenador do Curso de Licenciatura em Pedagogia, da UFSCar. Professor Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Departamento de Educação- Ded/CECH. Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS/UFSCar Head of BRaS Research Group – Constitucional Studies and BRaS Academic Committee Member. Advogado (OAB/108390).

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Mais informações

o artigo é em co-autoria com Marcos Del Roio - Professor Titular de Ciência Política da UNESP/MARÍLIA.

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Publique seus artigos