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O "7 de setembro" e a "dependência ao Norte"

07/09/2014 às 13:57
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Um país é a sua cultura. O Brasil importa a cultura que consome e, portanto, não é um país e sim uma ficção.

Hoje o Brasil comemora sua independência. Apesar de não ser muito divulgada, a história é mais ou menos conhecida. Ao receber a ordem de D. João VI para retornar imediatamente a Portugal, D. Pedro I gritou “Independência ou morte”. Os soldados que o acompanhavam na província de São Paulo aderiram à independência, arrancando das suas fardas as plumas que representavam as cores da metrópole. Há 50 anos, porém, o 7 de setembro deixou de ser a data mais importante da História do Brasil.

Em 1º de abril de 1964, instigados e subornados pela CIA, os militares brasileiros deram um golpe de estado. Eles rasgaram a Constituição Federal de 1946, depuseram o presidente João Goulart e pouco tempo depois de assumir o poder, o marechal Castelo Branco assinou um Acordo Militar com os EUA, transformando as Forças Armadas Brasileiras em tropas auxiliares do Pentágono no Brasil. Foi assim que um século e meio depois, a “Independência ou morte” virou “Dependência ao Norte”.

Os reflexos daquele ato de traição à independência do Brasil e de submissão do nosso país aos EUA - ato este que foi deliberadamente praticado pelos militares em 1964 e reiterado durante o regime infame que eles implantaram no país - ainda se fazem sentir duas décadas depois do fim da ditadura. Apesar do que consta nos artigos 215 e seguintes da Constituição Federal de 1988, a nossa “Dependência ao Norte” é um fato corriqueiro e pode ser vista em qualquer sala de cinema ou loja de DVDs. O Brasil não produz os filmes que os brasileiros consomem, apenas importa a produção cultural tóxica made in USA .

A “Dependência ao Norte” é tão evidente em termos culturais que qualquer pessoa que admita e critique este fato é hostilizada de maneira virulenta. Os interesses econômicos consolidados dentro do país são evidentes. As empresas multinacionais e nacionais que importam, dublam, produzem legendas, distribuem e projetam filmes norte-americanos, que fazem propaganda dos mesmos e vendem os DVDs aqui imprimidos mandam no país e são capazes de fazer qualquer coisa para inibir a produção, difusão e comercialização da cultura brasileira. A independência cinematográfica do Brasil não interessa àqueles que vivem à custa da nossa submissão estética.

Por mais que as Forças Armadas Brasileiras desfilem hoje para demonstrar uma suposta independência do país, a função delas é assegurar a dependência cultural do Brasil em benefício daqueles que obrigam os brasileiros a consumir filmes norte-americanos e daqueles que produzem estes filmes na metrópole. Como garantidores do mercado em última instância, os soldados brasileiros não estão a serviço do Brasil, da cultura brasileira e da independência cultural do país ou do respeito ao disposto nos artigos 215 e seguintes da Constituição Federal de 1988. Os próprios soldados brasileiros são, aliás, ávidos consumidores dos filmes de Stallone, Schwarzenegger, Tom Cruise e outros. Alguns até demonstram em público e na internet seu orgulho em defender a “Dependência ao Norte”, como se isso fosse uma venerável tradição nacional.

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Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

advogado em Osasco (SP)

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