"Pensar dói, machuca, não consola nem conforta; no entanto, quanta liberdade e alegria ao gerar pensamento que corrói verdades canonizadas e empurra os seres para uma terceira margem, para o devir, sempre mutante, buliçoso, traquinas, alérgico ao mesmo ferrolho, a mesma chave..." (Daniel Lins, "O Último Copo", Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013, p. 239).
Dia 07 de fevereiro próximo, portanto daqui a cinco dias, completará um mês que, em Paris, o semanário Charlie Hebdo sofreu um ataque de terroristas fundamentalistas, no XI Distrito de Paris, supostamente, como forma de protesto mais uma vez contra a edição Sharía Hebdo, que em 2011 (data da publicação) já havia causado tumulto.
O atentado resultou em doze pessoas mortas, entre as quais Charb, Cabu, Honoré, Tignous e Wolinski (cartunistas do jornal) e mais cinco feridas gravemente. Das doze vítimas, onze morreram dentro da sede da editora e um do lado de fora. Duas vítimas eram policiais que faziam a segurança da sede do jornaleco.
Como disse, já em novembro de 2011, após publicar uma charge com o profetá Maomé ameaçando os leitores, intitulada Charia Hebdo, a publicação foi recebida como um insulto pelo mundo árabe, resultando em polêmica.
Logo em seguida o jornal foi vítima de um atentado, quando uma bomba incendiária foi lançada contra o escritório do semanário, sem no entanto deixar vítimas. O semanário contra-atacou com uma nova publicação, estampando um muçulmano beijando um cartunista do Charlie Hebdo, com a seguinte mensagem junto ao desenho: "O amor é mais forte que o ódio".
Nesta segunda investida, o Presidente francês, François Hollande, descreveu o ocorrido como "ataque terrorista de grande covardia". No dia seguinte ao ataque, os editores sobreviventes do Charlie Hebdo anunciaram que a publicação continuará a ser publicado de acordo com o horário habitual.
O Governo francês concedeu quase € 1 milhão para apoiar a revista. Já o Fundo de Imprensa Inovação Digital (francês: Fonds Google-AIPG pour l'Innovation Numérique de la presse), parcialmente financiado pela Google, doou € 250.000.[]
Pois bem.
Não gosto muito de falar sobre assuntos, digamos religiosos. Primeiro, porque sou agnóstico, fisicalista e ateu, convicto! (aqui vale a quase redundância). Segundo, pelo fato de compreender certos atos de terrorismo quando são praticados contra atos do terrorismo estatal (do Leviatã).
Ora, ser agnóstico e ateu em um País católico, evangélico, etc. e tal, já é um fardo pesadíssimo. Aqui pastor evangélico chuta imagem sagrada para os Católicos. Aqui, de vez em quando, padres católicos transam com uns meninos e umas meninas. Aqui, rabino furta gravata de “grife” (ou melhor, lá).
Portanto, dizer-se a favor de ataques terroristas é complicado, ainda mais "um homem da lei", como eu! Calma: não sou a favor de ataques terroristas, muito menos de mortes de inocentes, nada disso. Ocorre que também sou contra o terrorismo de Estado que, por exemplo, os Estados Unidos praticam há décadas, impunemente. E a Europa, de certa forma, também.
Os ataques dos árabes em França são reprováveis? Quem sou eu para respondê-lo? E os ataques periódicos de Israel aos territórios Palestinos ocorrentes desde a criação do Estado de Israel? E o massacre dos Yankees ao redor do mundo, contra quem pensa diferente deles (massacre econômico, bélico, etc.)? E a Base Naval da Baía de Guantánamo existe mesmo? Quem está lá? Qual a acusação que se lhes pesam? Como são tratados? Já foram julgados? Aliás, foram processados?
Vocês têm ideia de como são vistos os árabes em França, como são olhados nas ruas? Por que humilhá-los ainda mais, mesmo que em charges (que é uma forma divertida e legítima de expressão artística)?
E tem os radicais. Este é o problema! Os radicais que não admitem brincadeira com Maomé, Allah, e coisas e tais (coisas e tais no bom sentido, por favor...).
Mas, os caras são engraçados (aos chargistas franceses, refiro-me agora), o pasquim é satírico e querem fazer graça com tudo. Tudo bem. Que o façam. "Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós! Das lutas na tempestade. Dá que ouçamos tua voz!" Tudo bem: mas assumam as consequências. Ambos os lados, aliás. É o meu lema.
O que não dá é para aguentar xenofobia, preconceito e radicalismo. E morte! Vivamos e deixemos vivê-los! Deixem-me não acreditar em Allah, Deus... Deixem-me não dar a mínima para Jesus, Maomé, Moisés... E para os profetas em geral.
Aliás, profecia só acredito mesmo nas feitas no início de ano, e sobre o futebol, claro. Exemplo: meu clube, o glorioso Esporte Clube Bahia, duas vezes campeão brasileiro, subirá para a primeira divisão este ano de 2015 e o nosso rival baiano cairá para a terceira divisão: profecia, e das boas... Nome do profeta: Rômulo.
Precisam me matar por isso? Mas preciso, sendo agnóstico e ateu, e até chargista, sacanear com quem acredita? E sabendo que tem uns caras que são radicais! Que matam mesmo, explodem-se, levando um monte de gente junto, alguns que não tinham nada a ver com a coisa!
Não, Caetano, nada fora da nova ordem mundial. Pelo contrário: tudo dentro da sempre desordem planetária.[1]
Nota
[1] "Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial. (...) Eu não espero pelo dia em que todos os homens concordem. Apenas sei de diversas harmonias bonitas possíveis sem juízo final. Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial." (Fora de Ordem, de Caetano Veloso).