O ECA traz várias disposições sobre a proteção da criança e do adolescente em todos os sentidos, sendo dever tanto da família quanto de toda a sociedade e do poder público essa incumbência, conforme preceitua o seu artigo 4º. Contudo, apesar da Lei nº 8.069 estar em vigor desde outubro de 1990, ainda hoje há muitos casos de violação aos direitos destes indivíduos, como a prostituição infantil, tráfico de pessoas etc.. Por isso, o filme Anjos do Sol, do ano 2006, infelizmente, continua atualíssimo.
Este filme retrata a exploração sexual e o tráfico infantil, no qual os responsáveis se aproveitam da necessidade econômica e da ignorância das pessoas menos favorecidas para ludibriá-las com promessas de bem-aventuranças.
Nota-se que dificilmente os pais não procuram proporcionar o melhor para os seus filhos. Porém, em algumas localidades, como a descrita no filme, em muitas famílias, a seca, a pobreza, a falta de recursos, o descaso dos governos com relação às necessidades educacionais, sociais, econômicas, deixam o grupo familiar com a esperança voltada para um acontecimento extraordinário que transforme a situação e que os seus filhos possam ter uma vida diferente da que eles podem dar. Com isso, ficam bastante vulneráveis. Assim, não muito difícil, pais desinformados são vítimas de criminosos, são enganados por falsas promessas de sucesso, de melhoria no lar, na família. Isso foi o que aconteceu com o grupo familiar do filme. Os pais acreditaram que sua filha seria alcançada por um casal com mais condições financeiras. Desta forma, sua filha seria mais bem sucedida.
Esta é a história que relata o filme, dirigido por Rudi Lagemann, uma menina, Maria (Fernanda Carvalho), de 12 anos, de uma família pobre do interior da Bahia, que foi vendida por seu pai (Rui Manthur) a um aproveitador denominado Tadeu (Francisco Diaz). Este, por sua vez, revende-a a uma cafetina, Nazaré (Vera Holtz), que a leiloa. Neste leilão, em um arremate burlado, um fazendeiro chamado Lourenço (Otávio Augusto) arremata a menina para presentear a seu filho, de quinze anos, com o objetivo deste perder a sua virgindade com ela. Porém, ao chegar à cabana preparada para este fim, a menina resiste ao ato com o adolescente. O fazendeiro se revolta com esta atitude e decide enviar a menina para um bordel, num povoado de garimpeiros, no Amazonas, mas não antes de agredi-la e de abusá-la sexualmente na frente de seu filho.
É notória a forma que toma a menina para aqueles comerciantes, apenas uma mercadoria, transportada em um baú de um caminhão, para ser útil ao bel-prazer dos seus negociantes, quando não serve mais para os seus interesses é, simplesmente, descartada.
Chegando ao bordel, a menina é recebida por Seu Saraiva (Antônio Callado), o dono do local. Logo, este procura preparar Maria e Inês (Bianca Comparato), outra menina na mesma situação de Maria, para saciar seus clientes à noite, mas não antes de se saciar primeiro com Maria. Depois de vários abusos, durante várias noites, as duas meninas resolvem fugir, porém a fuga é frustrada e Inês é morta cruelmente por Saraiva. Depois de mais alguns dias de abusos, Maria se encoraja novamente e decide fugir outra vez, desta vez com êxito a empreitada ou pelo menos em parte, pois, ela dá de cara de novo com a prostituição ao encontrar-se com a cafetina Vera (Darlene Glória). Por isso decide fugir mais uma vez de carona em um caminhão. E o filme acaba com a menina trocando uma carona por sexo com o caminhoneiro.
Esta última cena denota a continuidade da vida infeliz de Maria. Pois, tirada da proteção dos pais aos doze anos, sem educação escolar suficiente para galgar melhores empregos, em uma terra desconhecida, não achando outra forma de se manter viva, mesmo alcançando a maioridade por meios fraudulentos proporcionados por Vera, já tendo sido inserida na prática da prostituição, agora ela é obrigada a seguir este caminho, a não ser que algo extraordinário, um milagre talvez, aconteça em sua vida, até porque a sociedade critica as atitudes dos comerciantes/criminosos, mas, na prática, é mais fácil apedrejar ou procurar de alguma forma se beneficiar da situação adversa que estender a mão para ajudar, pelo menos auxiliando as autoridades na fiscalização de tais práticas.