Em tempos de mensalão, petrolão, licitações viciadas do metrô, trensalão, Carf, HSBC e tantas outras falcatruas cleptocratas das bandas podres das classes dominantes (= donos do poder econômico, financeiro, político e administrativo), ainda que seja patético, oportuno se faz recordar que é na honra e na exemplaridade onde reside nossa missão cívica. Todos podemos ser pessoas honradas ou canalhas: é uma questão de escolha.
Como bem enfatiza Gomá Lanzón (2009, p. 261): "O espaço público [eu diria: cívico] está cimentado sobre a exemplaridade, esse é seu cenário mais genuíno e próprio. A política é a arte da exemplaridade". Para se cumprir esse mandamento, o funcionário e o político devem "predicar com o exemplo", porque, no âmbito moral, só o exemplo "predica" de modo convincente, não as promessas, os discursos, os quais, sem a força do exemplo (e da exemplaridade), carecem de convicção, caem no vazio (Gomá Lanzón: 2009, p. 265).
Nós somos, tendencialmente, como São Tomé, ou seja, costumamos acreditar apenas no que vemos com os próprios olhos. Para as promessas podemos dar uma chance. Mas não somos idiotas a ponto de nada fazermos quando, quem promete, não cumpre nada do que foi prometido (esse é o caso dos que disputam o poder político no Brasil há 20 anos: não tiraram o País do subdesenvolvimento). Há muitas empresas e partidos políticos que gastam milhões tentando "vender" uma boa imagem, rica de valores louváveis. Mas quem não incorpora os valores anunciados nas suas ações práticas cai em descrédito. As bandas podres do mundo do mercado capitalista cartelizado bem como os partidos e os políticos que não pensam em outra coisa que não seja o dinheiro e o poder estão com sua reputação na lona. São exemplos de mau-caráter, de desfaçatez e de cinismo.
O que predica são os exemplos. "Faça algo épico que fique gravado na memória das pessoas". Depois de enfatizar o valor desta frase, Caspian Woods (Vire a mesa: 23) narra a história de Ingvar Kamprad, fundador da Ikea (empresa sueca que vende móveis domésticos de baixo custo), que numa visita a uma das suas lojas no interior, não havendo lugar nos hotéis da cidade, dormiu no banco de trás de seu carro (e pediu que seus funcionários fizessem a mesma coisa nos seus respectivos carros).
Faça suas escolhas (na sua empresa, na sua vida política etc.): ser honrado ou ser um canalha? Tudo depende dos valores que você queira defender. Mas não basta escolher os valores. É indispensável que eles sejam incorporados em suas ações. Promessas sem ações são tão inférteis como um monge virtuoso. Não são os discursos que predicam, sim, as ações. Se você não coloca seus valores em prática, não pode esperar que os outros façam isso. Uma história predica muito mais que milhões gastos em propaganda. O Brasil continua subdesenvolvido e isso não é por força do acaso. A História ainda deve contar o quanto que as bandas podres das classes dominantes cleptocratas são responsáveis pelo nosso deplorável atraso.