O desafio de desenvolver um perfil de gestor inovador e protagonista na escola pública

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O artigo discute as informações de pesquisa feita em três escolas públicas localizadas no município de Sobral, Ce. Sobre o papel do gestor escolar como protagonista no uso de inovações e estratégias utilizando-se das ferramentas de gestão.

                                                                                 

RESUMO

O artigo discute as informações de pesquisa feita em três escolas públicas localizadas no município de Sobral, Ce. Sobre o papel do gestor escolar como protagonista no uso de inovações e estratégias utilizando-se das ferramentas de gestão como: motivação e conhecimento de práticas pedagógicas; ações voltadas para obtenção de resultados positivos; mobilização de professores e alunos por meio da criação de projetos orientados e assistidos. Fez-se um estudo da rotina diária dos gestores que dirigem as escolas comparando a planilha de atividades planejadas com os depoimentos sobre a rotina diária. Para os estudos que guiaram a investigação foram válidas as análises dos teóricos Medeiros (2007) Santos (2002) e Ribeiro (2005) entre outros. Como resultado principal observou-se que embora haja estrutura, projetos e conhecimento estratégico por parte dos gestores, existe uma rotina de compromissos externos em demasia que inibem a real possibilidade de gerir as escolas com métodos próprios, como protagonistas.

PALAVRAS-CHAVES

Educação. Gestão educacional. Estratégias  de gestão.

 

1 INTRODUÇÃO

Para conseguir realizar o que consideram uma boa administração, diretores e coordenadores escolares tentam cotidianamente adequar-se a uma estrutura organizacional, a normas burocráticas, a hierarquias de poder, a coações sistêmicas dos subsistemas representantes do estado. Nesta situação é comum acontecer que as ações pedagógicas passem a ser dominadas pela racionalidade instrumental, inibindo atos comunicativos e relações interpessoais necessárias ao bom relacionamento e ao comprometimento dos indivíduos.

Tal situação representa um grande desafio para gestores das escolas públicas, que buscam dar conta de diferentes "gestões": do espaço, dos recursos financeiros, de questões legais, da interação com a comunidade no entorno da escola e com a Secretaria de Educação, das relações interpessoais nos diversos segmentos - funcionários, professores, e famílias.

A observação das dificuldades enfrentadas por gestores, coordenadores e professores das escolas públicas do município de Sobral para alcançar resultados positivos, combater a infrequência dos alunos e ainda incentivá-los a não desistirem, mostra por outro lado que existe uma expectativa dos componentes do sistema por maior amparo, apoio e envolvimento dos gestores, principalmente na criação de estratégias pedagógicas e envolvimento na rotina diária da escola, motivando e impulsionando seus funcionários.

Uma das grandes dificuldades para responder esta expectativa está no tempo insuficiente para tantas atividades ao longo do expediente. Alguns gestores acabam confiando questões importantes como a prestação de contas a coordenadores, funcionários e professores. Tal situação muitas vezes é interpretada como falta de interesse e comprometimento ou omissão do gestor no que diz respeito aos trabalhos da escola, já que suas ações e opiniões surtiriam grande efeito positivo para os resultados da escola.

A criação e implementação de projetos e práticas pedagógicas inovadoras - uma metodologia de ensino diversificada, uso dos recursos tecnológicos, um método avaliativo mais adequado - implicam em saber usar as novas tecnologias, aplicar metodologia de ensino e aliar teorias e práticas inovadoras na educação, utilizar recursos tecnológicos como auxílio eficaz em sala de aula, despertar a utilização racional da tecnologia aliando não apenas os profissionais da escola, mas toda a comunidade escolar, incluindo todo o seu entorno.

Motivado pela perspectiva de uma educação de qualidade e mais próxima de bons resultados, o presente artigo discute a inserção de ferramentas de gestão e estratégias pedagógicas que alicercem positivamente a educação, considerando a figura do gestor como principal inovador e protagonista desta iniciativa.

2 FUNDAMENTOS E PROCEDIMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS

 

            A investigação feita para produzir este artigo priorizou fundamentos teóricos acerca da gestão educacional: o desafio da gestão na escola pública e a concepção sobre o perfil do gestor.

Quanto ao desafio da gestão começamops por lembrar que a educação é considerada a base para todo e qualquer ser racional que pela inquietude natural vê-se obrigado a buscar respostas aos seus anseios mais comuns e corriqueiros em busca da compreensão e da maneira mais concreta e sensata para resolução de seus conflitos e da sobrevivência em sociedade. Segundo Damasceno (2005, p.18)

Convém assinalar que a universalização do ensino público e a extensão da escolaridade gratuita, têm se constituído historicamente numa das mais importantes frentes de luta dos trabalhadores, e nisto há razões ponderáveis, tendo em vista que lutar por mais e melhor educação significa lutar pela elevação do valor da força de trabalho e consequentemente, por melhores condições de vida.

A sociedade hoje apresenta-se eclética e variada, porém ainda racista, egoísta e desigual; é nestes condições que persiste a luta pela igualdade, pelo conhecimento e por uma educação para todos e de qualidade. Segundo Demo (1996, p. 16)

Educação não é só ensinar, instruir, treinar, domesticar, é, sobretudo formar a autonomia do sujeito histórico competente, uma vez que, o educando não é o objetivo de ensino, mas sim sujeito do processo, parceiro de trabalho, trabalho este entre individualidade e solidariedade.

Diante de tais conceitos pode-se concluir que o processo educacional é movido principalmente pela união dos componentes da sociedade educacional: gestores, professores, funcionários e comunidade. O que se espera é que sejam profissionais integrados e conscientes do seu papel, no caso mais específico que os gestores estejam realmente preparados e motivados para liderar esse exército em prol da educação, como administrador, e como indutor de novas estratégias de gestão.

O que se observa hoje na maioria das escolas públicas do Brasil, em que o município de Sobral é um caso específico, é que muitos projetos são criados, escolas são reestruturadas, alunos e professores tentam adequar-se aos constantes programas experimentais que mesmo assim precisam ser finalizados com positividade de resultados. Como líder e mediador destas nuances o gestor precisa estabelecer as estratégias necessárias para o trabalho dar certo. Aí mora o problema: um gestor abarrotado de relatórios, licitações, reuniões e pouco tempo disponível para comandar a parte pedagógica da escola.

Sendo as escolas públicas parte de uma rede institucional muito maior, o Estado, e recebendo ordens que lhes são impostas, muitos gestores não possuem discernimento suficiente para lidar positivamente com a burocracia que lhe cerca. Segundo Medeiros (2007, p. 44)

Os trabalhos que analisam a escola pública em geral enfatizam o quanto ela se encontra destituída de poder para exercer suas funções mediadas comunicativamente representadas pelos três elementos constitutivos do mundo vivido: a personalidade, a sociedade e a cultura. A escola pública – organização social destinada a formação de homens livres, autônomos e críticos – encontra-se debilitada para atender a esta formação, seja pelas interferências da política educacional, seja pelos aspectos mais internos de sua organização e de seu funcionamento.

 Apesar das escolas públicas estarem diretamente ligadas ao Estado e dele dependerem para a realização de seus projetos, isto não impede que o gestor exerça suas funções com afinco, no que diz respeito às suas obrigações administrativas e pedagógicas. O que falta é uma melhor delimitação do tempo e de objetivos. Devido a concentração de tantas responsabilidades a maioria dos gestores costuma falhar nas atribuições pedagógicas, esquecendo muitas vezes do educador que é, pois conforme Medeiros (2007, p.171) a “ação pedagógica não se limita à sala de aula, ao professor e sua prática. Se assim fosse para o diretor exercer sua função pedagógica na escola teria que se anular como diretor e tornar-se professor”.

Na realidade os gestores muitas vezes não conseguem conciliar suas funções de gestor e educador e pela urgência das questões burocráticas acaba confiando parte de seu trabalho aos coordenadores e professores, acreditando na capacidade destes. Mesmo sabendo das dificuldades de uma escola, julga-se indispensável a presença e o poder decisório da figura do gestor, pois este necessita buscar novos métodos e investir no poder  de liderança que lhe foi dado e executar uma boa gestão.                                      

Quanto ao segundo fundamento, o perfil do gestor, tendo em vista a definição acima, o que se pode pensar é que a função de um gestor é meramente administrativa, pois de modo geral vincula-se tal conceito à pessoa responsável por gerir uma determinada instituição. O fato é que, em se tratando do gestor educacional, em meio às atribuições burocráticas está o papel de um educador, que jamais pode se desvincular da gestão educacional. Esta diz respeito a gerir uma instituição escolar desenvolvendo estratégias com a finalidade da democratização das relações. Conforme Ribeiro (2005, p. 29) “o conceito de gestão traz consigo a ideia de coordenação e de participação, ao invés de centralização e controle.”

Porém a administração escolar enquanto disciplina está engatinhando. Ainda utiliza-se bastante as práticas e teorias da administração de empresas. Embora excista posição diferente, pois conforme afirma Medeiros (2007, p.119)

Podemos até admitir que a teoria da administração escolar no Brasil não conseguiu, ainda, atingir sua maioridade teórica, mas não podemos afirmar que lhe falta corpus. Somos contrários à posição de Hora, pois reconhecemos avanços teóricos na área da administração escolar.

            É sob tal afirmação que são reconhecidas a existência e eficácia dos métodos inovadores da gestão educacional para compor um novo modelo de gestão.

Atualmente o perfil do gestor está bem diferente do que tínhamos há algumas décadas atrás. De modo geral, hoje o gestor é mais dinâmico e participativo. Conduz muitos projetos institucionais. A grande maioria encontra-se em processo de transição entre o desligamento com o antigo modelo de gestão e está se adaptando ao novo modelo de gestão democrática e participativa, mesmo sabendo das muitas questões formais e burocráticas. Conforme Santos (2002, p. 16) “Os gestores devem conscientizar-se de que seu papel na escola de hoje é muito mais de um líder que de um burocrata.”

No entanto, sabe-se também da grande dificuldade da maioria dos gestores em conciliar as atividades demandadas  por esse novo modelo de gestão com as questões burocráticas também necessárias para a eficácia dos resultados. Motivos pelos quais deu-se esta pesquisa, que procura inteirar-se das maneiras de gerir segundo as novas ferramentas gestacionais: motivação, inserção de novas tecnologias, postura pedagógica ativa, que ainda apresentam-se como um desafio para um modelo de gestão flexível, dinâmico e inovador.

Como a estrutura escolar está em constante transformação, existe a necessidade dos líderes escolares também enveredarem por este caminho. Hoje esta realidade é presente nas instituições escolares do país, com a inserção de escolas modelos e padronizadas, como por exemplo as escolas profissionais instituídas no Ceará,  que além de preocuparem-se com o ensino, também preocupam-se com a formação e a capacitação dos profissionais da educação, sejam professores e gestores.

Estes últimos principalmente a cada dia procuram aperfeiçoar suas habilidades administrativas e superar cada resultado positivo segundo a utilização das ferramentas de gestão. Como por exemplo: a comunicação, que facilita as relações interpessoais na instituição e a motivação que alicerça uma nova maneira de administrar sem que para isto seja necessário persuadir ou manipular.

Medeiros (2007, p. 141), acrescenta em sua obra que:

Pensar numa educação, numa administração comunicativa, é o mesmo que concebê-la como processo em que os indivíduos deixam de ser manipuláveis para serem sujeitos de sua própria prática, porque se tornam “autores” dos seus próprios sentidos.

                No caso dos gestores, apesar de saberem que existem novas maneiras de gerir uma instituição educacional através de técnicas e ferramentas de gestão, como a motivação, o conhecimento de novas práticas pedagógicas, é visível que pela exigência de rapidez dos resultados estas ações não sejam bem aplicadas, visto que alguns gestores ainda não conseguiram adaptar-se a este novo modelo de gestão. Necessitando para sua implementação, de um maior preparo, informação e treinamento, principalmente investimento em formação continuada de qualidade, visando a realidade de cada gestor para que sejam realmente utilizadas no cotidiano da escola.

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Categorias de análise

 

Dentre as diversas categorias empregadas durante o período da pesquisa e da elaboração, escolhemos duas categorias gerais como premissas importantes ao estudo em questão. Uma delas a Educação, visto que o seu alcance é considerado a mola propulsora na busca pelos melhores resultados, alvo em que todos os gestores devem estar concentrados e focados. A educação torna-se neste contexto o objetivo principal da pesquisa, tendo a figura do gestor como mediador e orientador para busca dos melhores resultados.

Outra categoria geral de análise diz respeito a uma das principais peças das instituições de ensino, os gestores. A pesquisa destaca a análise e utilização da Gestão Educacional, ferramenta sobre a qual todo gestor deveria estar inteirado e qualificado no que diz respeito aos seus pressupostos, adaptando suas escolas ao sistema vigente, alinhado ao que ele propõe que nada mais é do que qualidade de ensino, eficiência nos resultados e motivação para dar continuidade aos projetos, sempre tentando superar os resultados obtidos. Segundo Santos (2002, p. 2) “A nova escola requer gestores mais dinâmicos, criativos e capazes de interpretar as exigências de cada momento e de instaurar condições mais adequadas de trabalho.” A presença de gestores mais participativos na gestão pedagógica possibilitará benefícios maiores no que diz respeito à positividade dos resultados, principalmente como mediadores e parte integrante do processo.

A investigação agregou às categorias gerais uma categoria específica, as ferramentas de gestão que sugerem o desenvolvimento e criação de projetos fundamentados e acompanhados, desenvolvidos conforme as necessidades da escola e da comunidade local na qual a escola está inserida, sendo requerida a aplicabilidade das “boas” práticas de gestão: motivação, conhecimento de práticas pedagógicas, ações voltadas para obtenção de resultados positivos, articulação de professores e alunos, criação de projetos orientados e assistidos.

Os procedimentos da pesquisa

 

              Para fundamentar o estudo foram válidas as contribuições de Medeiros (2007), de Santos (2002) de Ribeiro (2005), dentre outros, que deram pistas para a análise das informações sobre as ações de gestão e foram fontes norteadoras para aferir os resultados. Através dos procedimentos de observação e de análise descreveram-se as atividades diárias dos gestores e o tempo gasto em cada atividade tendo em vista compreender a lógica e as exigências do próprio sistema. O estudo bibliográfico, traduzido nos artigos, livros que tratam de gestão e da análise dos projetos Políticos Pedagógicos disponíveis nas escolas, foi também de suma relevancia para a concretização das idéias, do conhecimento científico, tornando possível a observação mais concreta.

            Esta significou ir a campo usando a abordagem qualitativa e através da observação dos fatos na escola colher as informações necessárias; entrevistar e descrever as atividades desempenhadas pelos gestores ao longo de um dia de trabalho, para análise e proposição do objetivo almejado. A pesquisa empírica foi desenvolvida em escolas da rede pública municipal e estadual localizadas na cidade de Sobral tendo como foco a análise do papel do gestor, por meio de observação e de entrevistas semi-estruturadas e individuais  de modo a analisar a rotina do gestor segundo as inovações metodológicas indispensáveis a uma boa gestão. Observou-se três escolas da rede pública de Sobral, sendo duas delas da rede municipal e uma da rede estadual, com o propósito de registrar a rotina diária do gestor para a posterior análise.

Os quesitos propostos para o mapeamento das atividades dos gestores foram inseridos conforme a necessidade da pesquisa em saber quanto tempo é gasto em cada atividade. Descrição de cada atividade, discriminando o quê, porque, onde e com quem a atividade foi desempenhada; se relevante ou não para o bom desempenho da escola; objetivo da atividade; e por último a origem da atividade, se partiu do próprio gestor, se planejada ou imposta pela Secretaria da Educação.

 

3 a Rotina de Gestores de Escolas Públicas de Sobral

 

Características das escolas e dos gestores estudados

 

As escolas escolhidas para o estudo pertencem à rede pública, sendo duas da rede municipal de Sobral e uma da rede pública estadual. A princípio apresentam as mesmas funcionalidades, objetivos e estrutura física à exceção da especificidade da que pertence à rede estadual.

A rede pública municipal de Sobral conta com 41 escolas que se orientam pelo mesmo padrão de qualidade. Cada diretor tem forte contribuição na qualidade do ensino e o acompanhamento do aluno é feito de perto. O município também possui o apoio de vários programas e, conforme os dados cedidos pela prefeitura municipal de Sobral, foi investimento no ano de 2012 cerca de setenta  milhões de reais do Programa Escola Aprender Melhor, além das verbas do FUNDEB.

As ações são distribuidas em três vertentes: infraestrutura, valorização do professor e gestão focada em aprendizagem. O grande número de escolas e alunos dificulta um pouco o atendimento, mas o acompanhamento não deixa de ser realizado, pois precisa continuar mantendo o avanço do IDEB nas séries de foco como nos 5°anos do ensino fundamental.

A Escola de Ensino Infantil e Fundamental Maria do Carmo Andrade, do Bairro Pedrinhas, atende a um público de quase 300 alunos da comunidade. Apesar de possuir uma pequena estrutura física, a escola apresenta dez salas de aula, cantina, banheiros masculino e feminino, pátio, sala de informática equipada e atende a vários projetos, como Jornada Ampliada, que garante aos alunos aulas de dança, teatro e artes, e ainda o projeto Segundo Tempo e o Pró-Jovem.

Obedecendo à mesma estrutura funcional, a Escola de Ensino Infantil e Fundamental Raul Monte, localizada no Bairro Alto da Brasília, apresenta uma estrutura física maior, com cerca de 916 alunos, distribuídas em trinta e oito salas de aula, possuindo uma alta concentração de alunos por tratar-se de um dos maiores bairros de Sobral. As escolas públicas municipais de Sobral em regra apresentam as mesmas funcionalidades e buscam equilibrar suas atividades seguindo uma rotina comum por intermédio da Secretaria da Educação de Sobral, orientadas pela Escola de Formação Permanente do Magistério – ESFAPEM.

Já a rede pública Estadual conta com um sistema mais abrangente sob supervisão da 6ª CREDE, cuja área de abrangência conta com cerca de 20 Municípios. Somente em Sobral atende 22 escolas de ensino fundamenta II com 9°ano  ou 3°ano do ensino médio, tendo como foco as provas do ESPAECE e do ENEM. Por este motivo apresenta outra estrutura física e objetivos, por atender a exigências maiores, como a preparação para avaliações externas a nível federal, o SPAECE, Prova Brasil e mais a importante de todas o ENEM, que mede a qualidade de ensino a nível estadual. No entanto buscam atender as mesmas necessidades: a positividade de aprendizado dos seus alunos e a eficácia de seus sistemas.

A escola representada no quadro 3, da rede estadual de Sobral, identificada como escola “x”, segue preparando o final do Ensino Fundamental II e Ensino médio, do 9° ano ao 3° ano do Ensino Médio. Apresenta cerca de 1500 alunos distribuídos nos três turnos, com cerca 15 salas de aula; possui uma estrutura bem maior que as outras duas escolas mencionadas, abriga um grande contingente de alunos, obedece a um regime mais específico em que os métodos de intervenções são diferentes, porém possui os mesmos objetivos, que é a melhoria dos resultados da aprendizagem.

 A partir da observação da rotina cotidiana dos gestores destas escolas públicas busca-se investigar a respeito da inserção de novas técnicas e estratégias na escola, pelo Gestor, por meio da implementação de novos projetos, participação mais ativa e a reestruturação das atividades burocráticas de modo a solucionar ou minimizar a pesada rotina cotidiana para proporcionar sua maior participação na escola, impulsionando e apoiando a comunidade escolar.

Rotinas diárias dos gestores das escolas estudadas

O quadro 1 apresenta o Registro das atividades diárias da Gestora Francisca Joelma Xavier de Oliveira, da Escola de Ensino Infantil e Fundamental Maria do Carmo Andrade, Sobral, Ceará. É importante ressaltar que as atividades aqui expostas acontecem todos os dias, de segunda à sexta-feira.

 

Quadro 1–Registro das atividades cotidianas da Gestora Francisca Joelma Xavier de Oliveira

Hora

Descrição da atividade

(O quê, por quê, com quê)

Objetivo da Atividade

Origem da Atividade

7h às 8h

8h às 9h

9h às 9h30min

9h30min às 9h50min

9h50min às 10h

10h às 11h

* Mensal

** Mensal

- Acolhida dos alunos.

- Acompanhamento da frequência dos alunos/ visita às residências dos alunos faltosos.

- Acompanhamento em sala de aula/ Atendimento aos pais.

- Distribuição da Merenda.

- Apoio ao recreio.

- Organização de ofícios.

- Prestação de contas.

- Reunião com professores.

- Garantir uma boa acolhida aos membros da comunidade escolar.

- Evitar a infrequência e a queda do rendimento da escola.

- Dar apoio as atividades pedagógicas.

- Garantir um bom atendimento.

- Garantir o bom andamento do recreio.

- Atualizar atividades burocráticas.

-Garantir o cumprimento dos compromissos fiscais da escola.

- Planejamento de atividades pedagógicas.

- Gestor

- Gestor

- Gestor

- Gestor

- Gestor

- Gestor

-Gestor

-Gestor

Fonte: Gestora Francisca Joelma Xavier de Oliveira, da Escola de Ensino Infantil e Fundamental Maria do Carmo Andrade, Sobral, Ceará (2012).

As informações do quadro de atividades permite observar que já existe uma preocupação por parte dos gestores em criar seus próprios métodos de acompanhamento, participando ativamente do cotidiano escolar, no que diz respeito ao acompanhamento da frequência dos alunos, assim como preocupando-se com a infrequência dos mesmos e já em contrapartida inibindo a evasão escolar fazendo visitas à comunidade escolar.

Tendo em vista o que propõe este estudo, que é a evolução desse gestor a partir do conhecimento e utilização das ferramentas de gestão como apoio pedagógico, observa-se em relação a rotina pedagógica, proatividade do gestor como principal incentivador da permanência do aluno na escola.

O quadro 2 apresenta o registro das atividades diárias do Gestor Adrian Márcio de Souza, da Escola de Ensino Infantil e Fundamental Raul Monte.  As atividades expostas acontecem toda semana, apenas algumas se repetem diariamente.

Alguns gestores, para facilitar sua administração preferem designar diferentes dias da semana para cada atividade. Como observamos no quadro:

Quadro 2 - Registro das atividades cotidianas do Gestor Adrian Marcio de Souza

Hora

Descrição da atividade

(O quê, por quê, com quê)

Objetivo da Atividade

Origem da Atividade

7h às 8h

8h às 9h

9h às 9h10min

9h10min às 10h

10h às 11h

Terça/Quinta

*Quinzenal

* Mensal

** Mensal

- Controle da frequencia dos alunos.

- Acompanhamento geral.

-Intervalo.

- Organização de ofícios.

- Planejamento para o 5° tempo destinado aos alunos com necessidade de reforço.

- Encaminhamento para alunos faltosos e indisciplinados.

- Aplicação de avaliação (1° ao 5° ano).

- Providenciar dados estatísticos para Secretaria da Educação.

- Pagamentos e outros compromissos financeiros.

-Melhorar o desempenho escolar dos alunos.

- Apoio às salas de aula.

-Atividades burocráticas.

- Dedicar um tempo a mais para os alunos com baixo rendimento.

- Conversar com os responsáveis pelos alunos em relação à infrequência e indisciplina.

- Aferir o processo de aprendizagem e traçar novas estratégias.

-Solicitação da Secretaria da Educação do Município.

- Pagamento de água, luz, telefone, gás, internet e reparos.

-Secretaria

- Gestor

- Gestor

-Gestor, coordenador, professores

- Gestor

- Gestor e coordenador

-Gestor e Secretaria da escola

-Gestor

Fonte: Gestor Adrian Marcio de Souza da Escola de Ensino Infantil e Fundamental Raul Monte, Sobral, Ceará. (2012)  

A rotina diária do Gestor apresentada no quadro 2 não obstante demonstra o mesmo viés de gestão apresentado no quadro 1, ou seja, ambas fazem parte da rede pública de ensino municipal e por este motivo as metas e objetivos são os mesmos, diferenciando-se apenas na maneira de gerir cada escola.

O quadro 3 nos mostra as atividades cotidianas do gestor de uma escola da rede  estadual, tendo como referência a escola aqui assinalada como “x”. As atividades descritas acontecem semanalmente e mensalmente.

Quadro 3 - Registro das Atividades cotidianas do Gestor

Hora

Descrição da atividade

(O quê, por quê, com quê)

Objetivo da Atividade

Origem da Atividade

Segunda - feira

Terça - feira

Quarta - feira

Quinta - feira

Sexta - feira

*Mensal

** Mensal

*** Semanal

- Organizar quadro de infrequência.

- Acompanhamento de planejamentos.

-Intervenções a infrequência e alunos indisciplinados.

- Verificar aplicação do Diagnostico de leitura e escrita.

- Monitoramento das salas de aula.

-Reunião na 6ª CREDE.

-Reunião com o núcleo Gestor.

- Organizar aulas de reforço

- Verificar a relação de alunos evitando a evasão;

- Apoio no cumprimento do plano visando à melhoria dos resultados.

- Evitar infrequência e garantir a ordem na escola.

- Garantir a eficácia e aplicar intervenções se necessário.

- Acompanhar o bom andamento das aulas e detectar possíveis problemas.

- Informes e metas relevantes ao bimestre seguinte.

- Repasse de informações da 6ª CREDE, traçar planos de metas para a escola.

- Garantir resultados positivos e recuperar alunos com dificuldade de aprendizado.

-Gestor

-Gestor

-Gestor

-Gestor

- Gestor

SEDUC

- Gestor

- Gestor

Fonte: Gestora da Escola Estadual X do Município de Sobral-CE

No quadro 3 a rotina diária do Gestor apresenta uma visão mais geral, em que se tem uma planilha semanal, descrita apenas a atividade principal e suas atribuições mensais, segundo a demanda disponibilizada pela 6ª CREDE ou SEDUC. O gestor cumpre rigorosamente os instrumentais que lhes são enviados e fiscalizados pela 6ª CREDE, seja por meio do envio de relatórios online ou planilhas.

 

As planilhas e os depoimentos dos gestores

 

A partir dos quadros apresentados observa-se que, apesar de obedecerem ao mesmo regime institucional, os gestores das escolas municipais apresentados nos quadros 1 e 2 tentam, no seu dia-a-dia, inserir suas próprias estratégias de gestão, seguindo suas obrigações, porém procurando adequar as necessidades da escola e da comunidade ao seu tempo, utilizando-se para isto as ferramentas de gestão que lhes são próprias.

No caso da rotina demonstrada no quadro 1, a gestora procura dedicar parte do seu tempo a conversar com os pais para saber as dificuldades e a melhor maneira de ajudar seus filhos; utiliza-se para isto da comunicação, uma importante ferramenta de gestão, seguida ainda da motivação incitada para que os problemas sejam solucionados. Esses pais se sentiram muito mais motivados para ajudar seus filhos e estes por sua vez mais encorajados a melhorar sua situação escolar.

Já no que diz respeito à execução pontual das atividades descritas ao longo do dia, a gestora da Escola Ensino Infantil e Fundamental Maria do Carmo Andrade confessa sua dificuldade em concretizar a maioria das atividades. De acordo com Joelma Xavier

A gente tenta acompanhar toda essa rotina, mas é difícil viu? Como a cada dia aparece uma coisa diferente, uma reunião na Prefeitura ou ter que atender algum fornecedor novo ou editora, resolver algum problema, tudo tem que ser resolvido logo, isso impede um pouco, mas procuro atender a todos.

Segundo as palavras da gestora, nem tudo pode ser solucionado “sempre” como está descrito na rotina que ela mesma detalhou, porém tenta adequar-se a cada dia; embora a correria e as demandas externas a impeçam, a escola consegue alcançar seus objetivos.

Já no que diz respeito ao pedagógico, a mesma diz que seu foco é o ensino-aprendizagem com ênfase nos resultados, visto que tratam-se de alunos de nível médio e seu preparo tem como meta as futuras vagas nas Instituições de ensino superior, através do ENEM. No entanto,  apesar de gerir bem as finanças na escola, procura sempre acompanhar os professores no dia-a-dia escolar. É prioridade de sua gestão uma reunião mensal para acompanhamento do planejamento das atividades pedagógicas. A eficácia do acompanhamento nos projetos prova o que está demonstrado com a nota do ultimo IDEB da escola 7,1. Motivo de orgulho para toda comunidade das Pedrinhas.

A escola apresentada no quadro 2 obedece os mesmos critérios da gestora 1, difere apenas nos métodos utilizados. Conversando com o Gestor da Escola de Ensino Infantil e Fundamental Raul Monte, Adrian Marcio Souza, a respeito de suas atribuições diárias, se realmente consegue realizar como descrita, o mesmo afirmou:

Com toda certeza procuro seguir a risca o que está descrito na rotina, pois são normas que vem de cima, existe toda uma cobrança nas reuniões e do contrário, caso denunciado da falta de comprometimento, pode ser um fato para exoneração.

Observando as palavras do gestor da Escola de Ensino Infantil e Fundamental Raul Monte nota-se a intensa preocupação em seguir a risca a planilha de atividades, seja por razões óbvias ou realmente pelo seu compromisso com a administração pública. No que diz respeito ao pedagógico, a resposta foi a mesma. Assim como foi mostrado em sua descrição diária na rotina, há uma preocupação um pouco maior com o pedagógico, principalmente com a aprendizagem dos alunos, motivo pelo qual ele mesmo, gestor, habilita-se a dar reforço para os alunos quando não está resolvendo questões burocráticas.

Na Escola Estadual, cada funcionário, professor ou gestor é monitorado por uma rede bem mais ampla, onde cada departamento possui contato direto com a instituição responsável, no caso representado pela 6ª CREDE; cada gestor e professor está conectado a uma rede em que relatórios mensais, plano de ação são solicitados e avaliados, facilitando inclusive a intervenção do gestor que apenas cumpre o papel de cobrar aos demais os devidos relatórios; como a avaliação está a cargo da 6ª CREDE, fica ao gestor a tarefa de orientar e fiscalizar, como diz a Gestora da Escola Estadual “x”:

Somos apenas transmissores do que deve ser obrigatoriamente feito, seja o plano de ação mensal dos professores, como os relatórios da formação continuada, tudo é avaliado por eles, a mim cabe apenas orientar e acompanhar as atividades como descrevi, por isso procuro cumprir cada atividade lá descrita.

A Gestora deixa ver que o sistema existente nas Escolas Públicas Estaduais acrescenta eficácia a sua rotina, demonstrando ter tempo e apoio de sobra para a realização das demais atividades e projetos, inclusive de cunho pedagógico, através da construção de planos de ação e monitoramento para concretização de bons resultados.

 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A análise das informações mostra que os gestores seguem um plano de ação estratégico monitorado segundo um sistema instituído pela Secretaria da Educação de Sobral, no caso das Escolas Municipais, e pela 6ª CREDE, no caso das Escolas Estaduais, cumprindo as principais atribuições: coordenar a elaboração e implementação da Proposta Pedagógica e sua operacionalização através dos planos de ensino, articulando o currículo com as diretrizes da Secretaria; estimular e apoiar os projetos pedagógicos experimentais da escola; assegurar o alcance dos marcos de aprendizagem, definidos por ciclo e série, mediante o acompanhamento do progresso do aluno, identificando as necessidades de adoção de medidas de intervenção para sanar as dificuldades evidenciadas; garantir o cumprimento do calendário escolar; monitorando a prática dos professores (regentes e coordenadores pedagógicos); avaliar os resultados do processo de ensino e da aprendizagem, adotando, quando necessário, medidas de intervenção de modo a garantir a produtividade e positividade da escola.

O que se pode observar, no entanto, é que embora haja uma estrutura, projetos e conhecimento estratégico, além da rotina corrida existem compromissos externos em demasia: reuniões, burocracias em excesso impedindo a eficácia, inibindo, desencorajando, influenciando nitidamente na execução dos projetos implementados, impossibilitando a iniciativa dos gestores não obstante a real possibilidade de gerir suas respectivas escolas com métodos que lhes são próprios, como verdadeiros protagonistas e implementadores de projetos.

A pesquisa possibilitou conhecer a rotina diária de gestores e ter a real dimensão dos conflitos e desafios que são obrigados a enfrentar à frente da administração escolar. Entre os desafios estão a adequação ao sistema: a grande demanda burocrática, a atenção e intervenção simultanemente no pedagógico, a inovação e aperfeiçoamento das estratégias de gestão, principalmente no que diz respeito a escolha das ferramentas corretas e mais dinâmicas e ainda a permanente interação com todos os setores da escola. Tudo isto interligado com o desafio de produzir resultados positivos e satisfatórios.

Diante desta situação a prática mais importante é buscar juntamente com a equipe o sentido das atividades da escola. O próprio Gestor precisa examinar seu fazer, buscando nas ações corriqueiras uma forma de tornar a escola de aprender em uma escola de conviver, e valorizar o seu tempo burocrático e o social em conjunto com todos os que compõem. Organizar melhor seu tempo de trabalho, ensinando a contemplar as tarefas planejadas e as rotineiras para evitar que o dia-a-dia seja dedicado somente a resolver problemas. Esta possibilidade sugere um estudo a respeito das relações interpessoais na escola, como forma de se alcançar os resultados positivos e porque não dizer a excelência da gestão escolar.

Inúmeras são as questões a serem consideras de modo mais profundo como por exempo a parceria entre escola e família, intermediado pela figura do gestor, capaz de impulsionar a apreendizagem e o interesse nos alunos a partir de iniciativas simples como projetos que envolvam a família, um trabalho social através da educação a partir da criação de projetos, métodos e palestras de modo a aguçar a curiosidade dos pais e faze-los parceiros na luta por melhores resultados.

Uma outra forma seria através dos coordenadores, um acompanhamento mais personalizado, com a participação integral destes no pedagógico, não só verificando didáticas e planos mensais, mas assistindo efetivamente as aulas de seus professores, traçando novas estratégias e ampliando as possibilidades de aprendizagem, sendo um real parceiro do professor em sala de aula.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DAMASCENO, M. N. Tecendo Fios da Educação popular. Fortaleza: Editora UFC, 2005.

DEMO, P. Educar pela Pesquisa. Campinas/SP: Ed. Autores Associados, 1996.

MADERO, E. P. O papel do gestor escolar na motivação do aluno e do professor, 2010. Artigo disponível em<http://www.artigonal.com/educacao-online-artigos/o-papel-do-gestor-escolar-na-motivacao-do-aluno-e-do-professor 3351283.html> Acesso em 05 de novembro de 2012.                       

MEDEIROS, A. M. S. Administração Educacional e Racionalidade: o desafio pedagógico. Ijuí: Editora Unijuí, 2007.

RIBEIRO, A. I. M. Formação educacional do gestor: necessidades da ação coletiva e democrática. EM:  RIBEIRO, A. I. M. e  SANTOS, A. M. C. Formação do Gestor Educacional: necessidades de uma ação democrática. São Paulo, Editora Arte & Ciência, 2005.

SANTOS, C. R. Gestor Educacional de uma Escola em Mudança. São Paulo: Cengage Learning Editores, 2002.


Sobre os autores
Thalita Kelly Lira Andrade

Aluna do curso de Administração da Faculdade Luciano Feijão e do Curso de Especialização em Gestão Escolar da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA

José Edvar Costa de Araújo

Orientador. Professor Adjunto do Curso de Pedagogia da UVA. Doutor em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Mais informações

Artigo apresentado na Universidade Estadual de Vale do Acaraú-UVA, para obtenção de certificado latu-senso do curso de pós-graduação de Gestão educacional

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