Considerações sobre a Pesquisa-Ação

24/06/2015 às 16:44
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O presente artigo mostra e conceitua um novo instrumento de pesquisa científica, qual seja, a pesquisa-ação no qual o cientista está envolvido no problema que detectou e participa de sua solução.

Introdução:

O presente artigo mostra e conceitua um novo instrumento de pesquisa científica, qual seja, a pesquisa-ação no qual o cientista está envolvido no problema que detectou e participa de sua solução.

1.1 Generalidades:

A evolução humana é decorrente de vários fatores, porém, um deles, qual seja, o questionamento, é primordial, servindo como uma verdadeira alavanca que impulsiona os seres humanos a cada vez mais estudarem e descortinarem os infindáveis segredos do universo.

Deparamo-nos a todo momento com uma nova invenção, uma descoberta que aos poucos muda completamente a forma com que os homens vivem, ou seja, há rebatimentos em todos os campos da sua existência, istonos aspectos sociais, econômicos, políticos e até familiar .

A capacidade do ser humano em questionar tudo que o cerca o trouxe ao mundo de hoje que é bem diferente da maneira que se vivia nos séculos passados, a busca por territórios no século XVI deu lugar à conquista espacial, ou seja, a busca por territórios fora do planeta terra.

Khalid El Andalouss[1] em sua obra intitulada:" Pesquisas-Ações. Ciência. Desenvolvimento. Democracia", analisando o conhecimento humano nos ensina que:

Em diferentes épocas, a comunidade dos sábios tem pretendido explicar e dominar todos os mistérios do nosso universo. Em seu tempo, Galileu proclamou que a natureza escreve em linguagem matemática; depois, Descartes desenvolveu o pensamento racional, deixando vislumbrar a possibilidade de conhecer e dominar a natureza.

Os cientistas do século XIX e boa parte do século XX convenceram-se que a via aberta das ciências positivas permitirá à pessoa humana conhecer tudo e dominar tudo por intermédio do conhecimento e dos progressos que oferecem.

Muitas vozes se fizeram entender, ou ainda estão se fazendo, para mostrar em vários campos dos conhecimentos os limites dessa ambição.

A ciência hodierna tem aberto brechas que ultrapassam a simplificação dos fatos e a unicidade do método. Ela aborda questões de complexidade, razão cientifica, ética e utilidade social.

Willian Arntz[2] autor do livro: "Quem somos nós?" informa que para o ser humano ter chegado até seu modo de vida atual houve na base de todo o conhecimento o questionamento que fazemos acerca do mundo, ou seja, o conhecimento humano é calcado em perguntas, vejamos o texto do escritor:

[...]

A maioria das grandes descobertas e revelações caras à nossa sociedade foi produto de perguntas. Aqueles temas, aquelas respostas que estudamos na escola resultam de perguntas. As perguntas são as precursoras, a causa primária, em todos os ramos do conhecimento humano. O sábio indiano Ramana Maharshi declarou aos discípulos que o caminho para a iluminação pode ser resumido na frase: "quem sou eu"? O físico Niels Bohr perguntou: " como é possível um elétron ir de A para B sem jamais passar entre dois pontos?

Perguntas como essas despertam para o que não sabemos.E de fato são a única forma de chegar lá – ao outro lado do desconhecido.

Porque fazer uma grande pergunta? Perguntar é um convite à aventura, a uma viagem de descobrimento.

Pois bem, para responder ao questionamento o ser humano o estuda, promove pesquisas, observa, lê, experimenta e assim constrói o conhecimento que é transmitido.

O mestre Khalid El Andaloussi[3] nos traz um pertinente comentário sobre o tema acima quando afirma que:

A importância da pesquisa cientifica e, sobretudo, sua capacidade de transformar a sociedade são um fato relativamente na história da humanidade. Sem dúvida, o homem sempre procurou melhorar seu bem estar e acumular conhecimentos relativos às suas necessidades vitais (médica, alimentar, guerreira, pedagógica, etc,) para transmiti-los às gerações seguintes.

A história da humanidade é rica em nomes de personagens que consagram sua vida inteira ao desenvolvimento da ciência por meio de suas reflexões, observações e pesquisas. Seus trabalhos têm constituído a base do conhecimento e possibilitando ao homem um melhor domínio de seu entorno e seus meios de existência.

A pesquisa efetuada para se atingir o conhecimento pode ser dar de várias formas, todavia, hoje se procura fazer uma pesquisa científica para que as respostas às perguntas formuladas tenham embasamento sólido, ou seja, a comprovação dos raciocínios hipotéticos.

A propósito do tema a professora Rosilda Ferreira[4] leciona que :

[..] partirmos do pressuposto de que o conhecimento cientifico não pode estar relacionado a uma concepção exclusivista, baseada no modelo de validação experimental, nem tão pouco, em uma perspectiva completamente aberta em que nenhum padrão de normatividade ou regularidade seja colocado como critério de validação. É necessário, pois, o rigor teórico-metodológico e o estabelecimento de certos critérios de validação que, apesar de flexíveis e adequáveis a cada conjunto de ciências especificas, como por exemplo, a ciência da natureza e as ciências sociais [..]

Portanto, o cientista, através de métodos e instrumentos metodológicos procura estudar a realidade que o cerca e entendê-la, entretanto, o ponto crucial para o sucesso do estudo reside na escolha da metodologia a ser aplicada.

Há, nos diversos campos do conhecimento, uma gama de métodos que podem ser aplicados para se pesquisar, dentre eles, encontramos a pesquisa-ação.

1.2 Breve História:

A pesquisa-ação surgiu há aproximadamente cinqüenta anos, mais especificamente, nos Estados Unidos da América, durante a segunda guerra mundial, visto que o momento vivido pela citada nação exigia uma mudança de comportamento.

Com efeito, como é cediço, em momentos de extrema necessidade o ser humano deve se adaptar às novas condições, tal como, os americanos o fizeram durante a guerra, pois tiveram de conviver com a escassez de certos alimentos e mudar seus hábitos alimentares.

Hugues Dionne[5] em seu livro A Pesquisa Ação para o Desenvolvimento local nos informa:

A pesquisa-ação se desenvolveu para responder a problemas concretos. Nos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial, era preciso modificar profundamente certos comportamentos, [...]

A pesquisa-ação nasceu de uma vontade de eficácia. Como modificaro comportamentos humano de maneira eficaz?

O pesquisador americano Kurt Lewin (psicólogo da Alemanha emigrado para os Estados Unidos em 1933 e falecido em 1947, aos 57 anosde idade) tentou responder a essa questão.

[...]

Lewis mostrou de algum modo, como a ação é mais eficaz que o discurso para induzir modificações de certos comportamentos humanos. A mudança é mais efetiva quando os sujeitos estão fortemente implicados no processo" data-type="category">processo e quando sua participação é mais ativa. A pesquisa-ação pode, então, exercer um tipo de reeducação de comportamentos. À época, já se podia ver como a pesquisa-ação possuía um valor educativo e como se inseria em uma estratégia de ação social mais abrangente. A contribuição de Lewin é importante noplano prático e também o é no teórico.

[...]

Para o autor, o desenvolvimento da ciência acontece na ação e pela ação. A implicação do pesquisador, sua permanente presença no campo pesquisado, é central e no procedimento. A preocupação com a ação não deve fazer esquecer a relevância da teoria. [...] A pesquisa se assemelha ao homem de ação confrontado com as situações concretas e particulares; o pesquisador elabora seu questionamento (objeto, suporte teórico, problemática) no próprio coração da ação.

Com efeito, após o momento inicial, a pesquisa-ação vem se desenvolvendo e se aperfeiçoando.

Observemos, os diversos conceitos de pesquisa-ação para elaborarmos o nosso e informar como o mesmo se encaixa neste estudo.

1.3 Conceito:

A pesquisa-ação é um método de pesquisa social na qual o pesquisadordetecta um problema em seu meio socialou laboral e busca, junto com outros atores, sua solução. Vejamos algumas definições.

Vergara[6] constrói o seguinte conceito:"Pesquisa-ação é um tipo particular de pesquisa participante e de pesquisa aplicada que supõe intervenção participativa na realidade social. Quanto aos fins é, portanto, intervencionista".

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THIOLLENT[7]define a pesquisa-ação como sendo:

.

[...] um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

Hugues Dionne[8] define assim pesquisa-ação:

Conforme foi discutido, a pesquisa-ação é definida como prática que associa pesquisadores e atores em uma mesma estratégia de ação para modificar uma dada situação e uma estratégia de pesquisa para adquirir um conhecimento sistemático sobre a situação identificada.

[...]

A pesquisa-ação é então vista como principal contribuição para a dinâmica de tomada de decisão no processo de ação planejada. É esse aspecto "ação" que é valorizada na seguinte definição de pesquisa-ação:

A pesquisa-ação é principalmente uma modalidade de intervenção coletiva, inspirada nas técnicas de tomada de decisão, que associa atores e pesquisadores em procedimentos conjuntos de ação com vista a melhorar uma situação precisa, avaliada com base em conhecimentos sistemáticos de seu estado inicial e apreciada com base em uma formulação compartilhada de objetivos de mudança.

André Morin[9]assim entende a pesquisa-ação:

Trata-se de uma démarche de compreensão e de explicação da práxis dos grupos sociais, pela implicação dos próprios grupos, e com intenção de melhorar sua prática. No entanto tem ainda, a pesquisa-ação, objetivo emancipatório e transformador do discurso, das condutas e das relações sociais. Vai mais longe que a abordagem lewiniana e exige que os pesquisadores se impliquem como atores. Está sempre ligada a uma ação que a precede ou a engloba e que a enraíza em uma história ou contexto

Portanto, a pesquisa-ação é uma modalidade de pesquisa social na qualhá um dialogo entre o pesquisador e pesquisados que estão envolvido na solução de um problema detectado para, em seguida,montarem estratégias visando a solução da questão detectada.

Conclusão:

Diante do exposto, vemos que a pesquisa-ação pode e deve ser usada pelo cientista para eleborar usa análise de uma realidade em que está envolvido.

Referências:

ANDALOUSSI. Khalid El.Pesquisas-Ações. Ciência. Desenvolvimento. Democracia. Trad. Michel Thiollent.São Carlos:EdUFSar. 2004.

ARNTZ, Willian.: "Quem somos nós? A descoberta das infinitas possibilidades de alterar a realidade diária.Trad. Doralice Lima.Rio de Janeiro Prestigio Editorial.

DIONNE, Hugues.A Pesquisa Ação para o Desenvolvimento local. Trad. Michael Thiollent. Brasília: Liber, 2007.

FERREIRA, Rosilda Arruda. A Pesquisa Cientifica em Ciências Sociais: caracterização e procedimentos. Recife: UFPE. 1998.

MORIN. André. André. Pesquisa-ação integral e sistêmica: uma antropedagogia renovada. Rio de Janeiro. DP&A. 2004.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo: Cortez, 1996, p.14

VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de Pesquisa em Administração. São Paulo: Atlas, 2007.


[1]ANDALOUSSI. Khalid El.Pesquisas-Ações. Ciência. Desenvolvimento. Democracia. Trad. Michel Thiollent.São Carlos:EdUFSar. 2004.p.15

[2]ARNTZ, Willian.: "Quem somos nós? A descoberta das infinitas possibilidades de alterar a realidade diária.Trad. Doralice Lima.Rio de Janeiro Prestigio Editorial.2009. P.3..

[3] Op.cit. p.21.

[4] FERREIRA, Rosilda Arruda. A Pesquisa Cientifica em Ciências Sociais: caracterização e procedimentos. Recife: UFPE. 1998. p.16.

[5]DIONNE, Hugues.A Pesquisa Ação para o Desenvolvimento local. Trad. Michael Thiollent. Brasília: Liber, 2007, p. 26-27

[6] VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de Pesquisa em Administração. São Paulo: Atlas, 2007, p. 49.

[7] THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo: Cortez, 1996, p.14

[8] Op. Cit. P. 68.

[9] MORIN. André. André. Pesquisa-ação integral e sistêmica: uma antropedagogia renovada. Rio de Janeiro. DP&A. 2004.

Sobre o autor
Paulo Henrique Figueiredo

Graduado em direito pela Universidade Federal de Pernambuco (1988). Atualmente é Promotor de Justiça do Ministério Público de Pernambuco e Professor Assistente da Universidade Federal Rural de Pernambuco. É Mestre em Gestão Pública pela UFPE, e, doutorando pela Universidade del Museo Social Argentino -B. Aires-Argentina. <br><br><br>

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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