O TRISTE FIM DE MANECO E MANECA

13/07/2016 às 10:32

Resumo:


  • Maneco foi um jogador de futebol conhecido por suas fintas e dribles rápidos, tendo jogado no América do Rio de Janeiro e nas seleções carioca e brasileira de 1947.

  • Maneco suicidou-se em 22 de novembro de 1956, após enfrentar problemas financeiros e a ameaça de despejo de sua casa no Rio de Janeiro.

  • Maneca, contemporâneo de grandes nomes do futebol brasileiro, como Jair, Tesourinha e Zizinho, também cometeu suicídio, ingerindo cianeto de mercúrio em 1961, após receber a notícia da grave doença de sua mãe.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

OS FATOS NARRADOS SÃO ANALISADOS À LUZ DE CORRENTES DA MEDICINA LEGAL.

TRISTE FIM DE MANECO E MANECA

ROGÉRIO TADEU ROMANO

Além de bons jogadores Maneco e Maneca tiveram um triste fim: o suicídio.

Suicídio é a morte voluntária de si próprio.

Duas escolas buscam explicar a gênese do suicídio: a biológica ou psiquiátrica, e a sociológica. A primeira vê em todo suicida um alienado ou um anormal psíquico. A segunda encontra a verdadeira causa do suicídio nos fatores sociais e econômicos. Os médicos e psiquiatras perfilham a primeira doutrina; os sociólogos e juristas entendem por aderir a segunda corrente.

Nilton Sales ensinava, em tese de concurso(Contribuição ao estudo do suicídio no Rio de Janeiro) que “o suicídio ou é um resultante de perturbação mental, como nas doenças mentais, ou então é uma reação psíquica anormal, inadequada e despropositada em face do meio, apresentada por uma personalidade psicopática, ou então um portador de doença orgânica, como câncer, tuberculose, pneumonia etc.

Prefiro dizer que o suicídio é insondável.

A corrente sociológica, que foi chefiada, dentre outros por Durkheim, entende que o suicídio é fenômeno puramente social. Aliás, Caio Tácito(Suicídio e Homicídio no Rio de Janeiro, dezembro de 1939), filia-se a essa doutrina.

Maneco jogou no América do Rio de Janeiro, na seleção carioca e na seleção brasileira de 1947.

Ficou conhecido por jogar numa linha de ataque, chamada de “tico-tico no fubá”, integrada, por China, Maneco, Cesar, Lima e Jorginho.

Começou a jogar aos quinze anos e parou aos 28 anos de idade.

Tinha baixa estatura e era conhecido por suas fintas e dribles rápidos.

Suicidou-se em 22 de novembro de 1956, no Rio de Janeiro.

Assim se disse sobre o seu fim:

Quando ainda jogava futebol, Maneco comprou uma casa na rua da Prosperidade, numero 95, no Rio de Janeiro. Compra feita a prestação. Era um presente de Maneco para seus pais.  Com o passar dos anos o dinheiro foi acabando e as prestações foram ficando atrasadas. Quando começou a pensar no futuro, Maneco já devia um dinheirão. Apareceu, então, uma ação de reintegração de posse, impetrada pelo proprietário do imóvel., que corria na décima sétima Vara Cível. Atrás dela veio a ordem de despejo. Desesperado, Maneco arranjou veneno, misturou com uma cachaça forte, trancou-se no banheiro e se suicidou. Quando a irmã e os dois oficiais de justiça arrombaram a porta do banheiro, o Saci do Irajá estava morto. Ele não suportou a vergonha de perder a casa. A angústia do débito terminara.

Por sua vez, Maneca foi craque e jogou muita bola no Vasco da Gama e na Seleção brasileira, sendo contemporâneo de Jair, Tesourinha,  Ademir, Danilo, Heleno, Zizinho,  glorias do futebol brasileiro. Era jogador que tinha facilidade de atuar nos dois lados do campo e era meia de origem.

Revelado pelo Galícia Esporte Clube, jogou no Vitoria e  transferiu -se para o Vasco da Gama onde jogou no período de 1947 a 1955. Depois jogou no Bangu, em 1956, e encerrou a carreira em 1957, no mesmo Galícia.

Jogou na seleção brasileira de 1950, tendo sido vice-campeão mundial. Sofreu uma distensão muscular e ficou fora dos dois últimos jogos, contra a Espanha e o Uruguai.

Certo dia, no Rio de Janeiro, já com a carreira de jogador de futebol encerrada, cometeu suicídio tomando cianeto de mercúrio na casa da noiva Pena Ferreira. Levado em estado grave ao Hospital Miguel Couto não resistiu e morreu. Relata-se que,  em 28 de junho de 1961, Maneca(Manuel Marinho Alves), solteiro, 35 anos, comerciário, ex-jogador de futebol, durante a tarde, pouco após ter chegado em casa de sua noiva, ingeriu forte dose de um corrosivo. A noiva pediu ajuda ao porteiro do prédio do edifício, situado a Rua Sá Ferreira, 142, 201, para que fosse chamada uma ambulância do Pronto-Socorro do Lido. Maneca foi removido para que posto, de onde, após os primeiros cuidados, foi levado para o Hospital Miguel Couto, ficando lá internado. Numerosas pessoas acorreram ao hospital, mas o ex-jogador reconheceu apenas alguns amigos. Apurou a imprensa, à época, que o motivo que levou a decisão violenta de Maneca foi a notícia de que sua mãe estava gravemente enferma.

Maneco morreu na primeira hora do dia 14 de julho de 1961. Sua mãe, Albina Marinho Alves, dizia entre lágrimas: “Você não morreu, meu filho.... você está vivo”, abraçada a ex-colega de trabalho de seu filho, Ernani, quando o esquife de Maneca descia ao túmulo, no fim da tarde daquele 14 de julho de 1961.

Maneca morava, nos últimos dias de sua vida, em Copacabana, no Rio de Janeiro, levando uma vida aparentemente boa, cercado de amigos e namoradas. Parece não ter suportado a ausência de holofotes que se dirigem ao craque. Não vivia os problemas sociais de Maneco, mas não soube conviver com o ostracismo. Aliás, dizem que o jogador de futebol morre duas vezes: uma quando encerra sua vida profissional; outra com a morte física. Parece que seu problema era de ordem existencial.

Maneca teve um enterro simples, acompanhado por antigos jogadores como Orlando, Ernani, Barbosa, Haroldo, Eli e outros.

Para o túmulo,  Maneca levou o segredo de sua morte, pois jamais revelou o motivo de seu gesto. 

Sobre o autor
Rogério Tadeu Romano

Procurador Regional da República aposentado. Professor de Processo Penal e Direito Penal. Advogado.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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