Estudos de gênero e estudos Queer

20/01/2017 às 09:34
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O presente trabalho tem o objetivo de analisar os aspectos tratados pela Teoria Queer, onde o conceito de gênero e a referência às minorias citadas no presente trabalho se voltam para o contexto histórico abordado pela mesma.

RESUMO

O presente trabalho tem o objetivo de analisar os aspectos tratados pela Teoria Queer, onde o conceito de gênero e a referência às minorias citadas no presente trabalho se voltam para o contexto histórico abordado pela mesma, que surgiu em meio aos estudos culturais norte-americanos e correntes filosóficas, em fins da década de 1980. A Teoria Queer busca em sua essência refutar os parâmetros sociais sobre gênero/sexo da época ao acreditar que a ordem social seja sinônima para a heterossexualidade. A metodologia da pesquisa configura-se em bibliográfica, que através da problematização do tema abordado, traz uma análise sobre a contribuição de pesquisas já publicadas. A pesquisa gira em torno de temas polêmicos que tratam a respeito de uma minoria que anseia fervorosamente uma equiparação social devido aos preconceitos sofridos. Buscando ainda mostrar ao leitor que os problemas referentes a tais minorias não deixaram de ser uma preocupação social. Sabendo que as necessidades das pessoas mudam de acordo com o tempo em que vivem, a pesquisa encontra um de seus principais problemas exatamente a partir dessa mobilidade, na qual o objeto de preocupação social mudará sempre de acordo com a importância que a sociedade dá para aquele objeto, sendo então compatível aos seus novos valores.

Palavras-chave: Teoria; Minorias; Gênero; Sociedade.

  1. INTRODUÇÃO

A pesquisa gira em torno de assuntos polêmicos que tratam a respeito de uma minoria que luta na defesa de seus direitos, na busca de uma igualdade social. Estes eram frutos dos movimentos sociais, filosóficos e políticos que buscavam direitos igualitários e a libertação de padrões opressores entre homens e mulheres em meio aos estudos culturais norte-americanos que predominavam na época.
            Nesse contexto, surge por volta de 1980 a Teoria Queer, que busca sinalizar o binarismo social existente, hetero/homossexual, pois até então a sociedade considera a heterossexualidade como o mecanismo crucial para a organização da vida em sociedade. A partir deste postulado a Teoria Queer levanta críticas aos estudos sociológicos que vinham sendo realizados, na tentativa de desconstruir essa naturalização do ser heterossexual.

A revisão de literatura, em síntese, busca explanar o estudo da sexualidade- o questionamento de pressupostos- a partir da análise de legados de alguns dos teóricos queer. É importante frisar também que o termo Queer não tem uma tradução exata para o português   mas o sociólogo Steven Seidman afirma que o termo pode ser explicado como o estudo “daqueles conhecimentos e daquelas práticas sociais que organizam a ‘sociedade’ como um todo, sexualizando – heterossexualizando ou homossexualizando – corpos, desejos atos, identidades, relações sociais, conhecimentos, cultura e instituições sociais.” (SEIDMAN, 1996, p.13).

          Judith Butler afirma que: O gênero não deve ser meramente concebido como a inscrição cultural de significado num sexo previamente dado”, defende Butler (2010, p. 25), pois a mesma acredita que o gênero sexual está ligado ao indivíduo desempenhar o seu papel na sociedade, o que justificaria a falsa noção de estabilidade social a qual estão condicionados- onde a justificativa primordial é a reprodução. A partir do momento que Butler se põe contra esse pressuposto, o interesse dos estudos Queer por travestis, transexuais e homosexuais se tornou mais aprofundado e afirmou que as identidades são construídas através de experiências culturais, e não por possuir o gênero masculino ou feminino.

E é através dessa perspectiva de Butler que a identidade é construída através de experiências, que Preciado vem afirmar que: “O corpo é um texto socialmente construído, um arquivo orgânico da história da humanidade como história da produção-reprodução sexual, em que certos códigos se naturalizam, outros ficam ocultos e outros são sistematicamente eliminados ou tachados” (PRECIADO, 2002, p. 23, tradução Adriano Senkevics). Acreditando que as pessoas são moldadas a partir dos valores da sociedade em que vivem.

E é sabendo da mobilidade dos valores sociais que esta pesquisa se depara com seu problema de estudo, a mutabilidade das relações sociais no tempo, a mudança de foco em razão do que a sociedade considera problema social. E para que se torne possível a identificação desses problemas, a relação do Direito com a Sociologia faz-se estritamente necessária.

O presente trabalho tem como objetivo exaltar essa relação, pois o Direito deve acompanhar a evolução da sociedade e sanar seus eventuais conflitos a partir da observação que a Sociologia produz, a fim de garantir uma melhor organização social. Satisfazendo as urgências da vida, na medida em que elas ocorrem.

2  METODOLOGIA

Nesse estudo, buscou-se através de um bibliográfico a problematização do tema abordado, através de uma análise feita a partir de pesquisas já publicadas e suas contribuições. Nessa perspectiva, foi utilizada a proposta de Gil (2008, p.50) que diz que a pesquisa bibliográfica “é desenvolvida partir de material já elaborado, constituído de livros e artigos científicos”, subdividida nas seguintes etapas:

2.1 1ª Etapa- Fontes

Nesta primeira etapa, estão presentes as fontes utilizadas na fundamentação do trabalho:

  1. Foram utilizados três livros, onde dois tratam das questões sexuais e de gênero e um de métodos da pesquisa científica, quatro deles publicados no idioma português e dois em inglês, publicados no período de 2002 a 2010.
  2. Três artigos científicos sobre a temática, sendo dois acessados na base de dados Scielo, e um no banco de dados da UFCG, publicados no período de 2001 a 2010, aplicando-se para ambos o seguinte descritor: Teoria Queer.

2.2 2ª Etapa- Coleta de Dados

           

            Para a coleta de dados, as seguintes premissas foram seguidas:

  1. Uma rápida leitura do material, chamada de leitura exploratória, a fim de saber se o conteúdo era interessante para o trabalho.
  2. A leitura seletiva, caracterizada na seleção das partes que realmente interessam.
  3. Registro das informações extraídas, de acordo com a ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas- vigente.

2.3 3ª Etapa- Análise e Interpretação dos Resultados

            Nessa etapa houve a ordenação das informações contidas nas fontes, para que a leitura analítica possibilitasse a obtenção de respostas ao problema da pesquisa.

2.4 4ª Etapa- Discussão dos Resultados

Nessa etapa, a partir do referencial teórico foi discutida a temática do estudo.
 

  1. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O sujeito homossexual é produto do século XIX, mas isso não quer dizer que as relações homossexuais também são oriundas deste século, pois é remetido ao século somente o termo “homossexual”, já que, em épocas anteriores, as relações sexuais e amorosas entre pessoas do mesmo sexo eram consideradas sodomia.

A mudança do termo “sodomia” para “homossexualidade” foi produto do início da luta dessas minorias por espaço na sociedade, tornando essa questão um movimento social relevante. Hoje os movimentos de conscientização realizados pelas minorias sexuais estão cada vez mais visíveis. O que tem tornado mais explícito a apatia grupos conservadores para com seus movimentos. É perceptível a divisão da sociedade a respeito do assunto, de um lado ocorre à aceitação, por parte de alguns grupos, já do outro os grupos conservadores enfocam a retomada dos valores da família, configurando um significado moral as suas justificativas.

Michel Foucault considera que foi a repressão social do século XIX que instigou a análise da sexualidade, pelos mais diferentes pontos de vista, em diferentes campos de estudos. Foucault (1982, apud LÉON, 2010, p.59) considera que:

Não se trata, claro, de negar a existência desta repressão [...] A maneira pela qual, no século XIX, a sexualidade foi certamente reprimida,mas também trazida a luz, acentuada, analisada por através de técnicas como psicologia e a psiquiatria mostra claramente que não se trata de um simples questão de repressão. Trata-se, antes, de uma mudança na economia das condutas sexuais de nossa sociedade.

A sexualidade passa a ser nesse sentido, um dispositivo histórico de poder, já que homens e mulheres deveriam se enquadrar nos moldes da família patriarcal. E é nesse bojo de inquietude social que os movimentos feministas ganham força, propondo a igualdade nas relações entre homens e mulheres, uma mudança de valores. Apesar do movimento feminista também ser remetido ao século XIX, assim como a homossexualidade, não foi a partir do mesmo que o movimento foi iniciado, já que existem relatos mais antigos sobre movimentos feministas.

A análise da sexualidade descrita por Foucault, ganha na Teoria Queer um novo sentido, um termo denominado: “A heteronormatividade expressa às expectativas, as demandas e as obrigações sociais que derivam do pressuposto da heterossexualidade como natural e, portanto, fundamento da sociedade” (CHAMBERS, 2003; COHEN,2005, p.24, apud MISKOLCI, 2009, p.7). Onde os indivíduos devem organizar suas vidas a partir de um modelo considerado natural, o modelo heterossexual.

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Ao tratar da homossexualidade e das diferenças de gênero existentes em nossa sociedade, a Teoria Queer impõe segundo Richard Miskolci, dois grandes desafios às investigações sociológicas: perceber que nenhuma faceta da vida social pode ser compreendida sem um exame de como os significados sexuais se interseccionam com ela e, por fim, mas não por menos, o Queer impõe às ciências sociais a necessidade de rever seus pressupostos, de forma a focar no hegemônico como objeto de estudo e análise crítica (MISKOLCI, 2009).

               

  1. CONCLUSÕES

Surgida por influência dos estudos culturais norte-americanos, na década de 1980 a Teoria Queer foi fruto das observações da sociologia para com uma pequena parcela sociedade, composta por homossexuais e feministas. O surgimento da Teoria Queer, favoreceu os movimentos realizados por essa minoria para que conquistassem seu espaço na sociedade de forma igualitária, desconsiderando assim o postulado que acreditava que a heterossexualidade era sinônima de organização social.

Hoje, a sociologia ainda é coadjuvante nesse cenário, pois através de suas observações é possível compreender o encadeamento dos processos sociais ocasionados desde o surgimento da Teoria Queer, que até hoje produzem efeitos. Efeitos esses considerados positivos, já que alguns grupos da sociedade começaram a considerar tal qual a heterossexualidade, como natural as relações homoafetivas. E mesmo sabendo que as relações sociais mudam com o tempo, assim como seus valores a Teoria não perderá sua essência, tendo em vista que a mesma se dá a partir das necessidades da sociedade e do que a mesma considera como problemas sociais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: Feminismo e subversão da identidade. Tradução Renato Aguiar. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010

GIL, A.C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social.6º Ed. São Pauli: Atlas, 2008.

LÉON, Adriano Azevedo Gomes de. As Artes da Tirania: sexo, Foucault e Teoria Queer. Ariús, Campina Grande, v. 16, n. 1/2, p. 59, 2010.

LOURO, Guacira Lopes: TEORIA QUEER - UMA POLÍTICA PÓS-IDENTITÁRIA PARA A EDUCAÇÃO. 2001. Disponível em:
< http://www.scielo.br/pdf/ref/v9n2/8639.pdf> Acesso em: 14/10/15.

MISKOLCI, Richard. A Teoria Queer e a Sociologia: o desafio de uma analíticada normalização. Sociologias, Porto Alegre, ano 11, nº 21, jan./jun. 2009, p. 150-182. Disponível em:
< http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-45222009000100008&script=sci_arttext> Acesso em 14/10/2015.

PRECIADO, Beatriz. Manifesto Contra-sexual. Editora Opera Prima. Madri, 2002.

   

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