A inolvidável gratidão da Modernidade com as Universidades Medievais

24/05/2017 às 13:54
Leia nesta página:

As universidade medievais, até hoje, influenciam o modo de pensar do mundo ocidental. Nessa toada, o ensaio proposto ressalta a necessidade de se resgatar a memória e da importância intelectual dessas instituições.

As universidades do mundo ocidental, tal qual as contemplamos nos dias atuais, lança raízes no Medievo, trazendo consigo um espírito comprometido, principalmente, com a custódia dos valores filosóficos, científicos e, acima de tudo, religiosos. Por isso, vale lembrar sempre algumas ideias que ajudaram a decantar o rico catálogo intelectual da tradição judaico-cristã.

A origem – assim como o desenvolvimento, a consolidação e a sobrevivência das universidades – aconteceu, curiosamente, em razão das disputas engendradas pelo poder político, na figura do monarca, e pelo poder religioso da Igreja Católica, corporificada pelo Papa, muito forte e influente em toda a Idade Média.

Cabe ressaltar, no entanto, que talvez os idealizadores das universidades, no caso políticos e religiosos, então com propósitos eminentemente egoísticos com vistas à disputa pela hegemonia do poder temporal, de sorte que concebiam o conhecimento como meros instrumentos colocados à disposição de seus anseios, não vislumbrassem as consequências históricas de tais projetos.

Ou seja, ambos, interessados em manter e estender o âmbito de domínio entre os súditos e os fiéis, fomentaram a criação de universidades pela Europa, bem ao estilo das Corporações de Ofício, a fim de que, detendo o conhecimento, conseguissem, por óbvio, o poder político absoluto.

A reboque desse enfrentamento, a universidade se firmou como locus do binômio ensino-aprendizagem europeu, tornando, para aquele momento específico, uma verdadeira ilha de liberdade intelectual, em meio a um oceano de subjugação de toda espécie.

O nível tolerável de imunidade aos abusos da época, em certa medida, preservou o desenvolvimento humano e científico da influência obscura dos radicais religiosos e da interferência espúria dos monarcas inescrupulosos, de modo que proporcionou o impulso necessário para o Mundo Moderno que estava por nascer.

É dizer, o desenvolvimento cultural, político, científico e econômico a que se chegou na Idade Moderna, com o advento do Humanismo, do Renascimento, da Reforma Protestante, das Grandes Navegações e do Estado Moderno, é tributária, em larga escala, à criação das universidades medievais.

Oxford, Paris, Nápoles, Bolonha e Praga eram densos núcleos profícuos do conhecimento, dos quais irradiava pungentes saberes até então acumulados, e para os quais se dirigia toda uma elite intelectual, sendo fundamental para a formação da consciência europeia e – mais um pouco à frente – americana.

Com efeito, o modo de pensar e conceber o mundo e as instituições culturais foi e ainda continua sendo o reflexo do que foi acalentado no seio e na alma especulativa daquelas universidades.

Aliás, a efervescência especulativa vivida nas universidades europeias entre os séculos IV e XIII desmitifica a alcunha iluminista de “Idade das Trevas”, com que este período foi injustamente rotulado.

Foram elas, ao contrário, guardiãs e difusoras da memória e do acervo cultural lembrado, registrado e documentado desde a Antiguidade até a Idade Média. Essa vocação, deveras, é fruto da tradição teológica do Judaísmo e Cristianismo, os quais são considerados religiões de memória, haja vista que seus textos dogmáticos nos remetem a fatos e feitos de figuras memoráveis, ocorridos em tempos longínquos, mas que, graças à sua preservação, mediante registro documentado de profetas e discípulos, podemos a eles ter acesso.

Outrossim, as universidades daquela época ainda são, de forma inegável, responsáveis pelos avanços e conquistas humanos de que somos testemunhas, de modo que ainda se recorre constantemente a elas para colmatar lacunas e deficiências científicas, motivo pelo qual a discussão sobre sua importância nunca perde a atualidade. 

Sobre o autor
Marcos Antônio da Silva

Mestre em Direito pela Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Publique seus artigos