Capa da publicação O Nome da Rosa: análise crítica do filme
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O Nome da Rosa.

Análise crítica do filme

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O filme se concentra nos assassinatos de sete monges de maneiras estranhas e violentas, em sete dias e sete noites. Há uma disputa de como se deveria enxergar o “mundo” – nesse caso os assassinatos –, puxando para um sentido mais filosófico em si.

Resumo: A história se passa em um mosteiro na Itália Medieval, na Baixa Idade Média (Século XI ao XV). Neste período, ocorreram transformações em esferas econômicas, sociais, políticas e até religiosas, onde o movimento renascentista, que surgiu em Florença no século XIV, se propagou pela Itália e Europa. O filme se concentra nos assassinatos de sete monges de maneiras estranhas e violentas, em sete dias e sete noites. Não apenas aborda a violência física, como a sexual, onde mulheres vendiam seus corpos aos monges em troca de alimento. Há uma disputa de como se deveria enxergar o “mundo” – nesse caso os assassinatos –, puxando para um sentido mais filosófico em si, onde um lado defende a racionalidade humana, sendo o homem capaz de enfrentar o mundo usando sua técnica e a ciência, e de outro a religião, onde se acreditava que a razão humana era perversa. O objetivo central é a análise crítica do filme O Nome da Rosa, metodologia de revisão bibliográfica, pretendendo aprofundar-se no tema.

Palavras-chave: Riso, Repressão, Acesso ao Secreto, Idade Média.


INTRODUÇÃO

O Nome da Rosa é um filme de Jean Jacques Annaud, baseado no livro de mesmo nome de Umberto Eco. O suspense se situa no ano de 1327 depois de Cristo (século XI até o século XV), baixa idade média, na Itália, no início do período renascentista (período em que João XXII era o Papa), onde mortes misteriosas acontecem de maneiras imprevisíveis.

O objetivo central é a análise crítica do filme O Nome da Rosa, observando metodologia de revisão bibliográfica, pretendendo aprofundar-se no tema em questão.

Neste método, a seleção das bibliografias é importante devido à necessidade da escolha de livros, artigos, legislações atuais e de fonte confiável deste modo determinado à qualidade do trabalho. Na etapa de resultados e discussões é necessária a análise e coleta de dados para obter os resultados e elaborar com propriedade a conclusão.

A partir do século XI, a Europa sofreu várias transformações que levaram à crise do sistema feudal, sendo elas:

  • a) Crescimento demográfico e produção de um excedente agrícola que poderia ser comercializado.

  • b) Aumento das disputas por terras entre os nobres, motivados tanto pelo crescimento demográfico, quanto pelas novas possibilidades agrícolas.

  • c) Desenvolvimento de um pequeno comércio entre os feudos, o que fez com que se sentisse a necessidade do uso de moedas e da padronização de pesos e medidas.

  • d) Novas técnicas agrícolas aumentaram a produtividade das terras. Exemplos: o uso do cavalo como animal de tração, a produção e o consumo de hortaliças, e outros.

Durante este procedimento, o Papa convocou cristãos europeus para tomar Jerusalém – que era considerada a “Terra Santa” – dos muçulmanos. E assim, surgiram-se as Cruzadas, que duraram de 1095 até 1291.

Tais batalhas reabriram as rotas de comércio dos europeus com o Oriente, onde comerciantes buscavam especiarias e as vendiam por preços elevados na Europa.

Inicialmente, existiam várias rotas terrestres de comércio, porém, com os perigos encontrados na estrada e com a importunação dos senhores feudais para cobrar altos impostos para a liberação das mesmas, os comerciantes começaram a impulsionar feiras com o intuito de atrair compradores para um local mais benéfico, se organizando em guildas ou hansas (associações) para terem um maior capital, e diminuindo os riscos de deslocação.

Ao redor das feiras, ou junto aos castelos e mosteiros, os comerciantes fundaram os “burgos”, centros comerciais que deram origens às cidades. Quem morava nos burgos era considerado “burguês”, surgindo então, a burguesia. Surge o Capitalismo, colocando um fim no Feudalismo.

Segundo Sevcenko, 1985. p. 24 argumenta:

“Conforme verificamos, a nova camada burguesa, pretendendo impor-se socialmente, precisava combater a cultura medieval, no interior da qual ela aparecia somente como uma porção inferior e sem importância da população. Era, pois, necessário construir uma nova imagem da sociedade na qual, ela, a burguesia, ocupasse o centro e não as margens do corpo social”.

O Renascimento surgiu na Itália, no Século XIV, se consolidando no século XV e se estendendo até o século XVII por toda Europa. Foi um movimento cultural, econômico e político inspirado nos valores da Antiguidade Clássica e criado pelas modificações estruturais da sociedade. Deu início à Idade Moderna.

Entre as idades Média e Moderna, a Igreja estabeleceu uma perseguição contra aqueles que representavam uma ameaça à hegemonia do cristianismo católico. Para cumprir tal missão, designou a criação do Tribunal da Santa Inquisição, que determinava membros da Igreja para investigarem os possíveis suspeitos do crime de heresia.

Muitas vezes, mesmo sem um conjunto de provas convincentes, uma pessoa poderia ser acusada de transgredir o catolicismo e, com isso, obrigada a se apresentar a um tribunal. Geralmente, quando a confissão não era prontamente declarada, os condutores do processo estipulavam a prisão do acusado. Nesse momento, o possível herege era submetido a terríveis torturas que pretendiam facilitar a confissão de todos os crimes dos quais era acusado.

A cultura renascentista teve quatro características marcantes, a saber:

  1. Racionalismo – a razão era o único caminho para se chegar ao conhecimento, e que tudo podia ser explicado pela razão e pela ciência.

  2. Experimentalismo - todo conhecimento deveria ser demonstrado através da experiência científica.

  3. Individualismo - necessidade de o homem conhecer a si próprio, buscando afirmar a sua própria personalidade, mostrar seus talentos, atingir a fama e satisfazer suas ambições, através da concepção de que o direito individual estava acima do direito coletivo.

  4. Antropocentrismo - homem como a suprema criação de Deus e como centro do universo.

Com a resolução dos crimes através de castigos como torturas para alcançar condições ligadas ao diabo, e morte na fogueira para purificação, podemos observar a razão e o dogma da Igreja, onde neste filme, quem queria ter acesso à biblioteca secreta, onde havia obras raras e até manuscritos únicos (os quais a igreja proibia o acesso), terminava morto e com marcas roxas.

Entretanto, o objetivo de Umberto Eco pode ser mais relevante. Na ultima linha do livro apresenta a seguinte frase: "Stat rosa Pristina nomine, nomina nuda tenemus". Traduzida, "Da rosa fica apenas o nome, temos nomes vazios".

O sentido geral da obra seria de que a beleza do passado (flashbacks), agora desaparecido, sobra-se apenas os nomes. O nome "rosa" pode ser interpretado de várias maneiras, tais como o livro perdido de Aristóteles, a biblioteca secreta, ou a camponesa - mas o filme foca-se na última opção.

Segundo Fueman, 2011, argumenta:

“o autor Eco, “Desde a publicação de O Nome da Rosa" tenho recebido várias cartas de leitores que querem saber o significado da expressão latina em hexâmetro ao final, e por que esse hexâmetro inspirou o título do livro. Eu respondo que o verso é de “De mundi contemptu” de Bernard de Morlay, um beneditino do século XII, cujo poema é uma variação do "ubi sunt servanda" (mais conhecido mais tarde por Villon do "Mais ou sont les neiges d´antan"). Mas paraos topos de sempre (o grande passado, as cidades outrora famosas, as princesas encantadoras: tudo desapareceu no vazio), Bernard acrescenta que todas essas coisas partiriam (somente, ou pelo menos) permanecendo os nomes puros por trás deles. Eu me lembro que Abelardo usou o exemplo da frase "nulla est rosa" para demonstrar como a linguagem pode falar tanto do inexistente como do destruído. E, tendo dito isto, deixo ao leitor para chegar a suas próprias conclusões”.


1. Visão Geral

Segundo Witte, 2011, argumenta:

“Tendo chegado ao final de minha vida de pecador, meus cabelos agora brancos, preparo-me para deixar aqui meu testemunho dos maravilhosos e dos terríveis eventos que testemunhei na juventude, no final do ano de 1327. Que Deus me conceda sabedoria e graça, para ser um cronista fiel dos acontecimentos ocorridos num remoto mosteiro no obscuro norte da Itália. Um mosteiro cujo nome parece mesmo agora clemente e prudente omitir. (Locução inicial do filme O Nome da Rosa).”

No filme, um monge franciscano Willian de Baskerville (Sean Connery) – também chamado ao longo do filme de Irmão Guilherme - e seu noviço aprendiz Adso de Melk (Christian Slater) chegam ao convento que se localiza ao norte da Itália. Nesse convento estavam ocorrendo estranhas mortes onde as pessoas eram encontradas com a língua e os dedos roxos.

Segundo Roberson Marcomini, 2011:

“O Nome da Rosa pode ser interpretado como tendo um caráter filosófico, quase metafísico, já que nele também se busca a verdade, a explicação, a solução do mistério, a partir de um novo método de investigação. E Guilherme de Bascerville, o frade fransciscano detetive, é também o filósofo, que investiga, examina, interroga, duvida, questiona e, por fim, com seu método empírico e analítico, desvenda o mistério, ainda que para isso seja pago um alto preço”.

O monge Willian não acreditava que aquelas mortes ocorriam devido a fatos ligados ao demônio, portanto preferia buscar os fatos, e analisar as circunstâncias como faziam os filósofos gregos – mostrando que valoriza a racionalidade humana, usando os princípios lógicos propostos por Aristóteles (a busca do racional através de investigações; "A dúvida é inimiga da fé!") – antes da chegada do temido inquisidor Bernardo Gui (F. Murray Abraham).

O filme inicia com um narrador idoso, narrando um fato ocorrido a algum tempo e seu discurso apresenta várias antíteses. A antítese é uma figura de linguagem caracterizada pela oposição devida os relatos dos acontecimentos serem terríveis e muito fantasiosos / sobrenaturais ao mesmo tempo.

Nesta época, a igreja católica buscava uma imagem de santidade, um mosteiro onde existia um mistério terrível e obscuro não era bem visto. No intento para o telespectador do filme, o mistério é o motivo principal para querer acompanhar até o final e saber o que realmente ocorreu.

Na chegada de Willian e de Adso houve uma cerimônia dos monges do mosteiro para recebê-los, lavando-lhes as mãos como um símbolo que deixava as impurezas fora do convento, e, após, foram levados a seu quarto, fechando-se os portões em seguida. Abade e Malaquias conversam a respeito do temor das investigações do tribunal da inquisição, onde usavam métodos violentos ou castigos para ter respostas, e a fogueira para purificação.

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Abade (Michael Lonsdale) e Malaquias (Volker Pretchel) perguntam a Jorge (Feodor Chaliapin Jr.) - o idoso cego responsável pela biblioteca - falou para os mais jovens resolverem. A atitude de Jorge foi antiquada, parecendo não gostar de mudanças ou novas concepções.

Willian e seu aprendiz observavam os fatos e o local com atenção, e o aprendiz estava desconfortável com seus instintos neste local. Seu mestre lhe ensina a enfraquecer seus instintos e prestar atenção ao analisar tudo ao redor dos fatos (os relatos, o local do ocorrido, o que é verdadeiro e o que não é possível).

O monge Willian observa um corvo no cemitério – raciocinando que tal espécie de pássaro só aparece quando existem corpos recentes -, e vai pesquisar a respeito, descobrindo a morte de um irmão em um acidente recentemente, irmão Adelmo. Abade demostra-se feliz pela presença do Willian e deseja que resolva o caso antes da inquisição, tal ação do Abade expressa sua confiança no monge para tal tarefa. Para aliviar o desconforto provocado por esta situação misteriosa nos monges que ali viviam, Willian percebe que encontrou alguém para ajudá-lo nas investigações.

A cena do abate ao porco, junto com a menção à inquisição parece realçar o fato que a inquisição é extremamente violenta para resolver os casos - as imagens do sangue, dos grunhidos do animal enfatizam a crueldade destas investigações.

William e seus pupilos foram à igreja e lá encontraram Ubertino (William Hickey) deitado à frente de uma santa. William o apresenta a Adso, e diz que seu livro não é bem visto pelo palácio papal.

Ubertino diz que o demônio está rondando ali e jogando jovens belos pela janela – aqui observamos que os mais velhos não racionalizam, arranjando uma explicação para tudo advindo do sobrenatural.

Mestre e pupilo conversam a respeito do mistério, onde deparam-se com a cena onde restos são jogados para os famintos. A igreja recebe doações do povo, e retribui jogando os restos aos famintos. Observando o local onde caem os restos, existe a torre que o monge se suicidou e concluem que não houve suicídio nenhum.

Enquanto faziam a refeição Abade cita Willian, e diz que ele foi útil no passado. Adso o questiona e o mestre desconversa, mostrando um certo desconforto em relação a isto.

Algumas imagens de um monge lendo para o ancião aparecem, algo como o conhecimento traz dor para quem o tem, Venâncio (Urs Althaus) aprece lendo em uma sala, sozinho e gargalhando, e logo após o monge Berengário (Michael Habeck, o monge albino, se auto flagela por alguma transgressão. Adso tem pesadelos com os conhecimentos demonstrados pelo mestre.

Na missa, um monge grita sobre uma desgraça: um homem, Venâncio, fora encontrado de cabeça para baixo em um caldeirão com sangue. William quer investigar as mortes e anciões acreditam no apocalipse e dogmas da igreja. Ao analisar o corpo, observam arsênicos e pensam que poderia ter relação com a morte do rapaz. Os dois rapazes mortos trabalhavam no escritório.

A próxima cena acontece em um santuário com imagens assustadoras, quando de repente passa Salvatore (Ron Perlman), um monge corcunda, gritando penitenziagite. Willian o questiona porque diz isso e Salvatore desconversa, fazendo o mestre crer que possa ter algo por trás disso.

O mestre então explica que a palavra significa “a união dos que acreditam na pobreza de cristo”, e que os Franciscanos também creem nisso, mas os Dolcinetes queriam a aceitação da pobreza por todos. Com isso deduzem que Salvatore não está relacionado com as mortes.

Mestre e pupilo investigam o caldeirão e pegadas na neve, criando hipótese de alguém ter carregado o corpo, já que as pegadas eram profundas. Na biblioteca, com a chegada dos dois, o bibliotecário fecha uma porta. William pede para ver a área de trabalho dos rapazes falecidos, e para isso retira um óculos – lentes de aumento com aros gêmeos – que era moderno para a época, causando espanto em todos: “Olhos de vidro em aros-gêmeos!”. Ao observar os pergaminhos, verifica três figuras: um burro ensinando a Escritura aos bispos, o Papa como raposa e o abade como macaco. O burro significa ausência de inteligência / ignorância, a raposa significa desonestidade da igreja, e o macaco significa o homem corrompido por seus vícios.

Benengar se assusta com um rato e os outros irmãos riem, irmão Jorge se enfurece com o riso porque monges não riem. Irmão Jorge fala que nada nas escrituras diz que ele riu então conclui que rir é pecado (“Um monge não deve rir! Só os tolos riem à toa! (…) O riso é um evento demoníaco que deforma as linhas do rosto e faz os homens parecerem macacos”; "O riso mata o temor e sem o temor não pode haver fé!").

Willian diz que nada nas escrituras fala que ele não riu, até os santos fazem brincadeiras, mas não convence Jorge, que acaba com a conversa.

Aqui se observa que Jorge utiliza falácias e argumentos fracos para reforçar no que acredita. Mestre e pupilo acreditam que na torre pode haver algum mistério e observaram que existiam poucos livros na biblioteca.

Willian e Adso estão andando perto do estábulo e alguém joga um bloco de concreto neles, Adso descobre que foi Salvatore. Remigio (Helmut Qualtinger) diz que o corcunda é inocente e que o passado dele não está ligado a estes crimes.

Após, Adso e seu mestre vão à biblioteca, pois acreditam que ela está relacionada aos crimes, Berengário estava lendo lá, se assustou com barulho e saiu. Eles vão até a mesa que estava o tradutor grego antes de morrer, e encontram um papel com cheiro de limão, aproximam de uma vela e encontram símbolos do zodíaco, os quais acreditam ser uma localização. Berengário joga uma ferramenta neles e sai correndo, eles o vão atrás, mas o perdem, e então se separam. Adso entra em um galpão, Remigio entra e chama alguém usando as palavras: “Apareça vagabunda!”, não encontra e vai embora. A garota (Valentina Vargas), que estava sendo procurada por Remigio sai de esconderijo e inicia sexualmente Adso. Berengário entra onde trabalha o farmacêutico e esconde o livro.

Salvatore está no cemitério aponto de comer um rato e conta a William que Adelmo entregou um pergaminho ao tradutor grego. Após a moça sair, Adso encontra um coração e vai em direção de seu mestre achando que descobriu algo. Seu mestre diz que pelo tamanho, é um coração de boi dado a moça em troca de favores sexuais, método usado quando tratava-se de um homem feio, mas se fosse um homem bonito (referindo-se a Adso) não precisaria do coração. A referência da beleza usada aqui é uma ironia, pois está relacionada com feiura e com o que o personagem pensa.

Adso conta ao mestre da camponesa, mesmo o mestre parecendo já saber. Adso pergunta se o mestre já se apaixonou, mas monges fazem voto de castidade. Adso demostra preocupação com a camponesa e aparenta estar apaixonado. Mestre e pupilo procuram Berengário, liga ele a chave do mistério vai à biblioteca onde encontra Malaquias, que não fornece nenhuma informação.

Irmãos franciscanos chegam ao local e temem a presença do demônio, falando da crença de Ubertino. O Boticário procura William e mostra Berengário em uma banheira com ervas para dor, na necropsia encontraram tinta na língua e nos dedos.

Willian mostra ao abade as letras em grego que diz que não saber do que se trata, logo após aproxima a folha de um candelabro (único candelabro no mosteiro que era de Berengário).

Então William faz retrospectiva dos acontecimentos e chega a algumas conclusões, como ter na biblioteca livros perigosos, Berengário ter paixão por belos jovens, Adelmo quis ler um dos livros, Berengário mostrou a Adelmo como encontrar, a chave estava no pergaminho do abade, Berengário ofereceu ajuda para pegar em troca de carícias, Adelmo cede e com remorso entrega o pergaminho a Venâncio, angustiado, o belo Adelmo se suicida.

Em relação a isso, vê-se a forma que a Igreja enxergava a mulher, o sexo feminino, que fora influenciada pelas ideias de Aristóteles, quando Ubertino relata para Willian e Adso sobre a primeira vítima – Adelmo – dizendo: “Havia alguma coisa de feminino, alguma coisa de diabólico no jovem que morreu. Ele tinha os olhos de uma moça buscando uma relação com o demônio”.

Os escritos de Aristóteles, em sua maioria, eram proibidos na época, sendo inclusive o Segundo livro da Poética de Aristóteles a causa das mortes ocorridas no mosteiro, onde os três belos jovens foram mortos pelo envenenamento de suas páginas.

O abade anuncia o fim das investigações e avisa da chegada de Bernardo Gui, o Grão-Inquisidor, conhecido antigo de Willian. Willian se reúne com monges e pede algumas providencias onde alguns se irritam. Willian já conhece Bernardo e alguém diz ninguém salva-lo se enfrenta-lo outra vez.

Adso vai ver a camponesa, observa a miséria, sujeira e agradece por ser franciscano. Em uma celebração religiosa Adso vê o bibliotecário sair de uma portinha e se juntar aos demais irmãos, crê que é a porta que procuravam anteriormente.

Quando anoitece, Willian e Adso seguem a pista do bibliotecário e entram numa sala que contém um altar com figuras esqueléticas, optando pela mais assustadora, que era a chave para uma abertura embaixo do altar. Essa abertura levava até a biblioteca, onde encontraram vários livros escondidos por serem proibidos.

Willian percebe que tais livros estão escondidos por englobarem um conhecimento diferente dos da Igreja, trazendo dúvida aos fiéis. Conclui-se então que os monges queriam preservar os dogmas cristãos.

Os inquisidores chegaram, viram o corcunda com a camponesa, que se entregou por uma galinha preta e especularam que se tratava de rituais satânicos, condenando-os. Willian não disse nada mesmo sabendo que era mentira, pois já tinha tido um embate com Gui e ele é muito poderoso.

Malaquias encontra com Remigio e fala para ele fugir, pois o corcunda confessou o passado herege dos dois. Adso fala que seu mestre não se importa com as pessoas por não interferir na audiência, mas o mestre fala que tenta encontrar os fatos, e assim mostra misericórdia.

Bernardo traz Salvatore, a camponesa e Remigio, onde faz Salvatore confessar outra vez, o qual fala em língua diversa, então faz Remigio confessar que queimou coisa da igreja e matou padre e bispos.

Adso implora a virgem Maria que salve a camponesa, Gui condena os três, a camponesa por bruxaria, o corcunda por seu passado herege e Remigio por não se arrepender as heresias, Gui é o juiz e o júri. Diante os espectadores, Malaquias cai, podendo-se observar manchas roxas em sua língua e dedos, dando-se a entender que o enigma ainda não terminara, e, portanto, Gui acusa Willian pelas mortes.

Willian e Adso vão para a porta do espelho e conseguem entrar. Eles encontram Jorge dentro da sala, pedem o livro que o ancião disse que nunca foi escrito, colocam luvas para pega-lo, mas estão sem as lupas, então pedem ao noviço, mas não permite que leia as páginas envenenadas sem luva.

O ancião foge com o livro, come os cantos envenenados e joga o lampião em cima dos livros. Acendem-se as fogueiras, no momento em que a fogueira da jovem iria ser acesa, veem o fogo na torre e saem correndo. Na torre, o aprendiz foge e o mestre sai depois, salvando alguns livros. Jorge morre queimado, e Bernardo Gui foge.

Na cena seguinte, mostra os dois indo embora do mosteiro, Adso encontra-se com a camponesa, mas a deixa para seguir seu caminho, e apesar de tudo, nunca soube o nome dela, por isso o título não sabe o nome da moça e rosa simboliza o fato de ser mulher, terminando com Adso ancião lembrando de seu mestre.

1.1 ANÁLISE FILOSÓFICA

O filme acontece na Idade Média, época em que a Igreja Católica era dona de um poder maior que o de estado. A Igreja conseguia influenciar a sociedade da maneira como ela quisesse, e assim decidiu pelo controle do conhecimento.

Segundo Witte, 2011, argumenta:

“O nome da Rosa sugere um ambiente no qual as contradições, oposições, querelas e inquisições, no início do século XIV, justificam ações humanas, as virtudes e os crimes dos personagens, monges copistas de uma abadia cuja maior riqueza é o conhecimento de sua biblioteca. Para os personagens, a discussão entre o essencial e o particular, o espiritual e a realidade material, o poder secular e a insurreição, os conceitos e as palavras que entranham pelo mundo numa teia de inter-relações das mais conflituosas. A representação, a palavra e o texto escrito passam a ter uma importância vital na organização da abadia, gestando o microcosmo do narrador”.

Tal controle era fundamental para a conservação do poder da Igreja, porque assim ela poderia continuar a alienar o povo. Qualquer ação contrária ao imposto pela Igreja era julgada e punida pela Santa Inquisição – representada no filme pelo personagem Bernardo Gui, que apesar de estar no filme de uma forma “fictícia”, realmente existiu e fora um inquisidor em seu período de vida terrena também –, uma espécie de tribunal com o objetivo de punir os hereges.

A eclosão em que se concentrou o filme é uma série de assassinatos que trouxeram uma atmosfera negativa ao ambiente espiritual do mosteiro; sequência esta que fora denominada por alguns como “obra do diabo”.

Dessa sucessão de assassinatos, pode-se concluir uma análise o contexto histórico. Os dogmas da Igreja eram irrefutáveis, tinham a crença de que a fé não poderia se dominar pela razão e, portanto, condenaram o diabo como autor das temíveis mortes,

No momento em que Willian e Adso chegam ao mosteiro, o monge começa a analisar a situação de uma maneira intelectual, usando o cérebro ao invés do senso comum, tomando uma postura mais racional que os demais monges, e procurando solucionar o fato pelo uso da razão ao invés da fé.

Na missa matinal, quando um monge entra gritando: “aconteceu uma calamidade”, se referindo a Venâncio, que fora encontrado de cabeça para baixo num caldeirão, Uberino vocifera que isso se tratava de uma das profecias do Apocalipse, mostrando que os mais velhos são fielmente cegos aos dogmas impostos pela Igreja. Pode-se observar, que depois da manifestação de Uberino, os demais se mostram desesperados, aflitos, e ficam à volta do monge, acreditando em suas palavras.

Quando Salvatore aparece gritando “Penitenziagite” (ou penitencia-te), em uma língua não conhecida, Willian explica que tal palavra se refere ao grito dos Dolcenetes, que foram inspirados pelos Franciscanos, mas foram considerados hereges pela Igreja Católica. Portanto, conclui-se que Salvatore era um herege.

Há um certo momento no filme que Willian tira de sua sacola alguns instrumentos de cunho científico, e, ao ouvir passos em sua direção, os esconde, deixando a impressão de que a ciência é um tabu no mosteiro, ressalvando mais uma vez que os dogmas religiosos têm mais importância do que o que se for comprovado cientificamente.

Sobre a biblioteca, proibida pela maioria dos monges, esta somente o era pelo seu acervo de livros sagrados e profanos, onde existia um saber pagão que poderia ameaçar a doutrina cristã – dentre os autores se encontrava Aristóteles, filósofo que acredita que a razão era a característica mais importante do homem, e que tivera a maioria de seus escritos proibidos na época, tanto que o Segundo livro da Poética, de Aristóteles, era o causador das mortes ocorridas no mosteiro, onde as vítimas eram envenenadas por suas páginas.

Em um momento do filme, há divergência entre Willian e Jorge, onde o último diz: “Um monge não deve rir! Só os tolos riem à toa! (...) O riso é um evento demoníaco que deforma as linhas do rosto e faz os homens parecerem macacos”. Então Willian se manifesta dizendo que: “Aristóteles dedicou o Segundo livro da Poética à comédia como instrumento da verdade”.

Mais tarde, quando Jorge é questionado da causa de tanto pavor pela obra por Willian, este alega que: “Porque é de Aristóteles” e ainda, “O riso mata o temor, e sem o temor não pode haver fé”, demonstrando sua fé-cega.

Adso, em um momento, se refere a Willian dizendo: “O mestre se fiava em Aristóteles, nos filósofos gregos e em sua notável inteligência lógica”. Nessa época medieval, tudo o que viesse a ser ensinado deveria colaborar com a prosperidade da doutrina, tendo que ser compatível com a fé.

O único com total permissão para consultá-los era o bibliotecário, e este só o era porque ficou responsável por decidir quais livros poderiam ser estudados, e quais não; pois a dúvida era considerada inimiga da fé, duvidar é dar início à busca do saber. O filme em si mostra uma realidade onde a ideologia aristotélica afronta os dogmas religiosos por conta de seu racionalismo.

Outra característica de Willian que faz lembrar de Aristóteles é sua capacidade de debater temas enquanto caminhava, coisa que os “peripatéticos” (ou “os que passeiam”), discípulos de Aristóteles, seguidores da Escola Peripatética (círculo filosófico da Grécia Antiga que seguia os ensinamentos de Aristóteles), tinham como hábito.

2.2 O PROBLEMA DO RISO

O problema, no filme, gira em torno do livro “A poética” de Aristóteles onde o assunto é a comedia e o riso. Para Aristóteles o riso era pertencente ao homem e na época de 373 D.C. a igreja aparentemente era contra o riso dos monges, na idade média a igreja discutia a licitude do riso.

Veem-se os dois extremos o martírio e o riso, havia defensores dos dois opostos e cada lado tinham seus argumentos. No filme, observando as atitudes do monge Jorge ele faz de tudo para ocultar o riso e com isso utilizava argumentos duvidosos e que poderia desacreditar a igreja, o riso seria contrário ao temor e prejudica a fé. Também se observa no filme a corrente que acredita no riso, que o riso faz parte da essência, assim como o raciocínio e nas mudanças da vida.

Na cena deste filme que estão na biblioteca os monges começam a rir quando outro monge se assusta com um rato, imediatamente o monge Jorge fala algo em torno de não deviam rir, lembrem-se de regras e princípios (monges deviam se privar de conversas pelo voto do silêncio).

No século XII, havia discussões a favor do riso (grande movimento intelectual). Até usavam o cômico para propagar mensagens cristas, o riso era usado para satirizar os pecadores ou algo condenável.

No filme, Jorge, que não admitia o riso, começava a aterrorizar os que queriam o conhecimento do riso e, ao ser indagado por Wiliam, que utilizou o argumento do Franciscano Guilherme de Baskerville, que diz que “rir é próprio do homem”, Jorge desconversa e fala que na bíblia “ele não ri” e alguns outros argumentos fracos que não pode sustentar interrompendo abruptamente a conversa.

O mosteiro, para conservar antigas tradições e se afastar do demônio, os monges que ali viviam deviam trabalhar, meditar, jejuar,..., tudo feito com muita dedicação e com isso não haveria tempo para brincadeira.

Adelmo (o primeiro rapaz a morrer), em suas figuras, fazia figuras que induziam ao riso, os contrários ao riso diziam que Jesus em suas escrituras não levou ninguém ao riso e nenhum santo que foi torturado ou submetido a severos castigos poderia fazer ironias, apenas se resignavam a dor.

A meditação e a reza leva a verdade o riso e a brincadeira não, o riso leva a dúvida. Aristóteles dizia que o homem é necessariamente bom, o meio o qual vive o contamina.

No filme o que mais assusta o monge naquele livro que protegia é que, além do riso, o livro traz conteúdo filosófico. Existiam vários outros livros cômicos e ele protegia com tanto afinco e por isso ele escolheu aquele livro, justamente pela união da filosofia com o cômico.

Para o velho monge o riso não é bom, chega a ser profano, pois rindo, deixamos à mostra nosso medos e as crenças, então, coloca-se em dúvida a fé. Vê-se também que o riso questiona os dogmas e autoridade impostada, devendo-se evitar rir. Muitos pensavam que o riso não fazia parte da vida do religioso, sempre de expressão fechada, nunca poderia rir.

O rir, a ironia isenta o homem do temor pelo demônio, pode diminuir a autoridade de Deus. Observa-se que as religiões partem do pressuposto do temor e que o riso quebra ou afrouxa essa ligação e deixa o ser humano mais vulneráveis as tentações do demônio.

Segundo Goés, pag. 223, argumenta:

“Se, na tradição filosófica o homem é um ser que ri, ou melhor, o único que ri, fazendo uma transposição para o plano teológico, podemos concluir que, sendo ele a imagem de Deus, o riso só pode ser um “atributo” divino”. Mais à frente no tempo o riso era visto como algo sem pudor ou idolatria”.

A corrente que acredita que o rir é do próprio homem, Aristóteles dizia que a natureza da pessoa somente a ela compete e de maneira que lhe representar mais favoravelmente, então, neste caso se conclui que se a pessoa consegue sorrir então rir é para a pessoa.

Aristóteles também diferencia o homem de outros animais através do riso, pois o homem pode rir e os amimais não, que o ato de rir é próprio do homem e conclui que se você ri então é uma pessoa.

Segundo Goés, pag. 232, argumenta:

“Em síntese, para esses autores, o riso é uma qualidade que pertence exclusivamente ao homem. O morrer, por exemplo, não é algo que pertence só à espécie humana. Entretanto, os animais, que têm o instinto de conservação jamais poderão formular a proposição “Sócrates é mortal”. Só o homem tem consciência da morte, iminente e necessária no contexto da condição humana. Semelhantemente, o riso seria um modo de mostrar a contínua vulnerabilidade da vida por aquele que traz consigo a iminência da morte. É um modo de proteção da vida, mesmo considerando a inevitabilidade da morte; do contrário, a ideia de morrer seria sempre horrível”.

Sobre os autores
Luciana Sparsa Menegasso

UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga, Acadêmico de Direito

Giovanni Nato Souza

Acadêmico de Direito, UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga

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Trabalho orientado por: Paulo Eduardo De Mattos Stipp, Professor Especialista, UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga.

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